03/05/2008

Sábios ignorantes

George Gilder

O novo livro de David Berlinsky descreve como a ciência tem se tornado atualmente a religião dominante da intelligentsia. O nome mais adequado a essa nova religião – que se baseia no ateísmo e no materialismo – é “cientificismo”, pois suas alegações religiosas ultrapassam muito seu conteúdo científico.[1]

O cientificismo reflete a tendência dos cientistas de se tornarem o que Ortega y Gasset chamou de “bárbaros da especialização”. O saber muito sobre uma só coisa lhes dá a confiança de pontificar sobre outros assuntos nos quais suas especialidades são irrelevantes, ou de inflar seus pequenos remendos de especialização na direção de “grandes teorias unificadas”.[2] Sabendo cada vez mais sobre cada vez menos, eles finalmente ascendem aos canais de TV, tagarelando sobre qualquer coisa e sobre todas as coisas. George Clooney ou Carl Sagan, Al Gore ou James Watson – atores, políticos, cientistas – quem os consegue distinguir, no seu balbuciar de relativismo moral e escatologia anticapitalista?

A ideologia superficial desse tipo de gente é o alvo do livro de Berlinsky. Um Ph.D. de Princeton, judeu secular, ex-fellow do Institute de Hautes Etudes Scientifiques in France – agora membro do Discovery Institute, fundado por mim – Berlinski domina uma gama de disciplinas científicas e filosóficas que o projetam muito além do campo dos bárbaros orteguianos. Autor polivalente de cintilantes obras em matemática e lógica, ele tem escrito, nos últimos anos, incandescentes ensaios em biologia, física, psicologia e matemática na revista Commentary que têm provocado uma enxurrada de respostas embasbacadas na seção de cartas (As respostas de Berlinsky são criminosamente letais).

The Devil´s Delusion (algo como O Delírio do Demônio) é um trabalho incendiário e ruidoso de polêmica erudita, único em sua sofisticação e autoridade científica. Em vez de criticar a ciência desde fora, Berlinsky condena seu ateísmo desde dentro. Recusando-se a ceder ante as credenciais do cientificismo, ele argumenta incisivamente que o fetiche anti-Deus da ciência moderna tem levado muitos cientistas à loucura do niilismo, o que também prejudica seu trabalho científico.[3]

Detalhando o registro de massacres horrendos cometidos por agressivos ateus durante o século XX, Berlinsky observa “o que qualquer um capaz de ler as fontes alemãs já sabia: uma sinistra corrente de influência corre desde a teoria da evolução de Darwin até a política de extermínio de Hitler”. Um argumento implícito fundamenta todos esses horrores: (A) “Se Deus não existe, então tudo é permitido”; (B) “Se a ciência é verdadeira, então Deus não existe”; (C) “Se a ciência é verdadeira, então tudo é permitido”. Como mostra Berlinsky, essas proposições levaram previsivelmente (Dostoevsky e Nietzsche previram isso, afinal) ao Holocausto.[4]

Ao contrário, nota Berlinski, Christopher Hitchens (God Is Not Great[5]) parece por a culpa dos excessos de Hitler no Vaticano, e Sam Harris (Letter to a Christian Nation[6]) chega quase a culpar os judeus por esses excessos: Harris acusa “sua [dos judeus] recusa em assimilar (e) sua cultura religiosa (que é) tão desagregadora ... e conflitante com as percepções civilizadoras da modernidade quanto qualquer outra religião.” Para Sam Harris, em Santa Bárbara, “percepções civilizadoras da modernidade” são evidentes nas praias repletas de palmeiras, nos cafés e teatros locais e no doce aroma do iluminismo que impregna o ar refrescante, mas Berlinsky, com razão, pergunta-se se homens que usam o ateísmo para atenuar o anti-semitismo pode servir de guia confiável para influências civilizadoras.

Depois de demonstrar a obtusidade moral da ciência atéia, The Devil´s Delusion prossegue criticando suas limitações debilitantes mesmo como meio explicativo da realidade física. Ignorando a estrutura hierárquica do universo, com o conceito precedendo o concreto, o algoritmo precedendo o computador, a palavra DNA precedendo a carne, e a teoria precedendo o experimento, a ciência tem cegado a si própria para o indispensável papel da fé para todos os tipos de conhecimento. Na visão de Berlinsky, há um ponto de convergência crucial entre as leis físicas e as leis morais: “Em ambos os casos não sabemos porque as leis são verdadeiras mas podemos sentir que a questão esconde um profundo mistério.” A ciência, como assevera Berlinsky, “está, em todas a áreas, saturadas de fé.”

A fé que é necessária ao trabalho científico, contudo, está corrompida por um ateísmo complacente que afasta a ciência da realidade de suas próprias e necessárias suposições religiosas e hierárquicas. A ciência não abriga, de forma alguma, a idéia de “como o mundo ordenado física, moral, mental, estética e socialmente em que vivemos pode ter surgido da efervescente anarquia do mundo das partículas sub-atômicas.” O chamado “modelo padrão” parece suprir “tantas partículas elementares quando os fundos de pesquisa aplicados para encontrá-las”, ao mesmo tempo em que oferece escasso apoio à suposição reducionista de que o mundo é mais bem compreendido pelo processo de atomização cada vez mais agudo.

Além do reducionismo, a ciência oferece pelo menos 7 teorias incompatíveis sobre a realidade: a teoria quântica, focalizada em elementos sub-atômicos; a teoria da relatividade, abarcando todo o universo; a teoria das cordas, que procura a grande unificação em infinitésimos multidimensionais; a termodinâmica, com sua seta do tempo e a declinante entropia; a evolução, com sua grandiosa ascensão materialista; a biologia molecular, com seus códigos genéticos descendentes; e o conceito de entrelaçamento macro-quântico, que liga entidades quânticas espalhadas pelo cosmos além do espaço e tempo convencionais. Cada teoria oferece impressionantes insigths a respeito de alguns domínios limitados, mas fracassa em harmonizá-los com as regiões vizinhas.

Erodindo a coerência de todo o conjunto está o caráter autodestrutivo do materialismo subjacente: uma teoria que nega a significância das teorias e dos teoristas. Refutando prontamente a si mesma está a idéia de que idéias são meros epifenômenos de sistemas físicos (cérebros) que se formam a partir de processos aleatórios.

Todos os sistemas físicos incompatíveis da ciência moderna repousam, em última análise, sobre a lógica matemática. Assim, a descoberta matemática mais importante do século XX fez picadinhos de todo o materialismo ateísta: a inexorável incompletude gödeliana da matemática. Tal como Kurt Gödel, Alan Turing, Alonzo Church e Gregory Chaitin provaram que a lógica matemática, seja expressa em termos de algoritmos computacionais, seja em termos de equações diferenciais, se fundamenta, em última análise, em premissas externas a si mesma. Em outras palavras, a fé é importantíssima para a lógica matemática e para a lógica computacional, que são, por sua vez, esquemas conceituais abstratos de nenhuma forma redutíveis ao dogma materialista.

Para aparentemente desviar a atenção desse vergonhoso paradoxo do ateísmo, alguns cientistas têm se agarrado a um conjunto de risíveis quimeras. Richard Dawkins, por exemplo, aceita a idéia de um “megaverso”, uma estupenda “Paisagem” de infinitos universos paralelos que explicaria as absurdas improbabilidades do materialismo darwinista, pela suposição de que nosso próprio universo é apenas um de um arranjo infinito. Como comentou o físico Leonard Susskind: “Os físicos e cosmologistas estão começando a considerar nossos 10 bilhões de anos luz como algo infinitesimal que é parte de um megaverso estupendo.” O Prêmio Nobel Steven Weinberg resume o argumento, numa transparente tautologia disfarçada de ciência: “Qualquer cientista que estuda a natureza deve viver numa parte da paisagem onde os parâmetros físicos assumem valores adequados para o aparecimento da vida e sua evolução, até o surgimento de cientistas.” Os outros parâmetros são supostamente válidos nos outros universos que não abrigam vida.

Contrária a qualquer evidência empírica, sem nenhum apoio lógico e contra o senso comum, essa estupenda circularidade é chamada de Princípio Antrópico e é considerada uma explicação superior à idéia de Deus. Tal como Dawkins afirma: “É melhor muitos universos do que um deus.” Berlinsky conclui que a preferência de Dawkins pela “Paisagem e pelo Princípio Antrópico representa o relativismo moral aplicado à Física.”

Para evitar o fracasso da infiniversal “Paisagem”, Dawkins termina com o que ele chama de “artimanha final do Boeing 747”. Berlinsky explica tanto a decolagem como a queda:

O apelo ao Boeing 747 tem o objetivo de evocar um sarcasmo jocoso atribuído ao astrofísico Fred Hoyle. A emergência espontânea da vida na terra, observou Hoyle, é tão provável quanto o é a construção de um Boeing 747 pela ação de um tornado que atingisse um ferro velho. Apesar de ser ateu, Hoyle era cético a respeito da teoria da evolução de Darwin ... Como a metáfora do ferro velho expressa com rara economia a impossibilidade do aparecimento espontâneo da vida – essa impossibilidade é aparente em virtualmente qualquer tentativa de cálculo – isso tem sido um constante aborrecimento para Dawkins. Mas Dawkins afirma que se um tornado não pode criar vida, então Deus não pode ter criado o Universo ... A artimanha final do Boeing 747, escreve Dawkins, ‘se aproxima de uma prova de que Deus não existe’. Vocês entenderam?

Como tais absurdas circularidades são cridas e respeitadas por pessoas sérias? Berlinsky conclui que “a disposição dos físicos de explorarem, em pensamento, tais estratégias devem sugerir a um psicanalista perspicaz não tanto um desejo de descobrir uma nova, mas a de evitar, uma velha idéia.” Mas a idéia de um Deus num universo hierárquico é essencial ao pensamento coerente ou para uma cultura edificante de qualquer tipo. Uma cultura que não aspira ao divino, se torna obcecada com a fascinação do mal, desvairando-se em frivolidades, na depravação e no bestial. Sem o sentido de transcendência, a ciência acaba perseguindo o reducionismo trivial, da próxima partícula ou dimensão da corda ao, cada vez mais obscuro, argumento para a animalidade do homem ou para a infinitesimalidade do universo.

A comunidade científica permanece inconsciente desses problemas principalmente por causa de sua estreiteza de horizontes de sua atitude defensiva, protegida pela insignificância da “revisão pelos pares” e pela imunidade à crítica desde fora. “A ciência alega que não necessita de crítica por ser supremamente autocrítica,” escreve Berlinsky. “Um sistema assim concebido sempre trabalha para a satisfação de quem o concebeu”.

O público tende a concordar com isso por causa da alegada relação entre a ciência moderna e a engenharia e a tecnologia. Voltemos então ao 747. Dawkins e seu aliado, Daniel Dennett, declaram que não existem crentes devotos em aviões. Qualquer um que viaje pelo ar, eles dizem, confia sua vida à validade e confiabilidade da ciência moderna. Poucos viajantes encontrariam consolo se, olhando de relance para a cabine dos pilotos, eles os vissem rezando em vez de observando os instrumentos.

Por se basearem no design inteligente e na engenharia “top-down”, contudo, os cientistas que possibilitaram a existência dos aviões não têm nada em comum como o materialismo ateu e o relativismo moral de Dawkins e Dennett. As equações de Navier-Stokes, a ciência dos materiais, a física de estado sólido, a química molecular, o projeto de computadores, dentre uma lista de disciplinas realmente científicas, são expressões não de um processo aleatório “bottom-up”, mas de um planejamento hierárquico em que as idéias e esquemas precedem sua construção física. Na maior parte da história da ciência, de Michael Faraday a Enrico Fermi, seus protagonistas eram mestres da tecnologia do seu tempo. Eles construíam os dispositivos que testavam seus conceitos e estruturavam suas teorias. A ciência e a engenharia são disciplinas cognatas.

Começando com Einstein, contudo, os cientistas alcançaram um papel de gurus filosóficos e profetas teológicos. Somente Einstein e Richard Feynman foram capazes de cumprir sua missão. À procura de grandes teorias, essencialmente teologias, que pudessem unificar todos os esquemas conflitantes da física, mesmo Einstein e Feynman chegaram a reconhecer a futilidade dessa busca. Mas seus sucessores continuaram a busca em círculos tautológicos cada vez menores, chegando, ao final, nos círculos darwinianos da sobrevivência dos mais aptos como a explicação de tudo. Concretizando as abstrações matemáticas e forçando suas equações a extremos que não podem ser sustentados num universo gödeliano, as grandes teorias científicas perderam todo o contato com os fundamentos da realidade da engenharia.

The Devil’s Delusion é um trabalho prometéico que remove os escombros da ciência e cultura modernas. Ele liberta o conservadorismo de sua escravidão a um cientificismo espúrio e estabelece os fundamentos para o realinhamento dos verdadeiros cientistas, dentre os quais há muitos amigos potenciais. Bill Buckley, em seus últimos dias, declarou: “O livro de Berlinsky é todo ele atraente: é dogmático, profundo, brilhantemente polêmico, divertido, e claro, vastamente erudito. Eu o parabenizo por isso.” Buckley estava certo, como sempre. É o livro definitivo do novo milênio.




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[1] A tradução e publicação deste artigo, neste blog, têm a permissão da National Review. O artigo foi publicado na edição de 5 de maio de 2008. (N. do T.)

[2] O trecho de La Rebelión de las Masas a que se refere o autor é: “Pero esto crea una casta de hombres sobremanera extraños. El investigador que ha descubierto un nuevo hecho de la naturaleza tiene por fuerza que sentir una impresión de dominio y seguridad en su persona. Con cierta aparente justicia, se considerará como 'un hombre que sabe'. Y, en efecto, en él se da un pedazo de algo que junto con otros pedazos no existentes en él constituyen verdaderamente el saber. Ésta es la situación íntima del especialista, que en los primeros años de este siglo ha llegado a su más frenética exageración. El especialista "sabe" muy bien su mínimo rincón de universo; pero ignora de raíz todo el resto. He aquí un precioso ejemplar de este extraño hombre nuevo que he intentado, por una y otra de sus vertientes y haces, definir. He dicho que era una configuración humana sin par en toda la historia. El especialista nos sirve para concretar enérgicamente la especie y hacernos ver todo el radicalismo de su novedad. Porque antes los hombres podían dividirse, sencillamente, en sabios e ignorantes, en más o menos sabios y más o menos ignorantes. Pero el especialista no puede ser subsumido bajo ninguna de esas dos categorías. No es un sabio, porque ignora formalmente cuanto no entra en su especialidad; pero tampoco es un ignorante, porque es aún hombre de ciencia y conoce muy bien su porciúncula de universo! Habremos de decir que es un sabio ignorante, cosa sobremanera grave, pues significa que es un señor el cual se comportará en todas las cuestiones que ignora, no como un ignorante, sino con toda la petulancia de quien en su cuestión especial es un sabio.” (N. do T.)

[3] Que o afastamento de Deus nos leva à loucura é um tema recorrente em toda a tradição católica, a começar pela Escritura Sagrada. O livro Sabedoria afirma que foi a loucura que fez com que “pelos bens visíveis não chegaram a conhecer aquele que é, nem considerando as suas obras, reconheceram quem era o Artífice.” (Sb 13,1). Quem queira algo mais extenso não pode deixar de ler a encíclica de Leão XIII intitulada Aeterni Patris. (N. do T.)

[4] Apenas para fazer justiça, não podemos esquecer de Victor Frankl que disse essas eloqüentes palavras: “Não foram apenas alguns ministérios de Berlim que inventaram as câmaras de gás de Maidanek, Auschwitz, Treblinka: elas foram preparadas nos escritórios e salas de aula de cientistas e filósofos niilistas, entre os quais se contavam e contam alguns pensadores anglo-saxônicos laureados com o Prêmio Nobel. É que, se a vida humana não passa do insignificante produto acidental de umas moléculas de proteína, pouco importa que um psicopata seja eliminado como inútil e que ao psicopata se acrescentem mais uns quantos povos inferiores: tudo isto não é senão raciocínio lógico e conseqüente.” Em “Rorty e os Animais”, O Imbecil Coletivo, de Olavo de Carvalho, nota 1. (N. do T.)

[5] Deus Não É Grande, Ediouro, 2007 (N. do T.)

[6] Carta a uma Nação Cristã, Companhia das Letras, 2007. (N. do T.)

20/04/2008

Lições das Missas dominicais pós-Vaticano II – Parte IV

Ante conspéctum géntium reveláti justítiam suam, allelúia, allelúia, allelúia.”

Estamos no “4º domingo depois da Páscoa”, segundo o calendário tradicional da Igreja e no “5º domingo da Páscoa” no calendário do CVII. O Evangelho da Missa nova é (Jo. 14, 1-12) e o da Missa Tridentina é (Jo. 16, 5-14). Ambos são marcados pela pergunta que os apóstolos faziam a Jesus: “Quo vadis?” [Para onde ides?].

Numa passagem Jesus declara: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”. Diz ainda aos apóstolos palavras misteriosas e, contudo, cheias de esperança: “Vou preparar um lugar para vós e, quando eu tiver ido preparar-vos um lugar, voltarei e vos levarei comigo, a fim de que, onde eu estiver, estejais também vós.”

Na outra passagem, ele fala coisas misteriosas e elevadas sobre Espírito Santo: “Digo-vos, porém, a verdade: é bom para vós que eu vá; porque se eu não for, não virá a vós o Consolador; mas se eu for, vo-lo enviarei. (...) Quando vier, porém, aquele Espírito de verdade, ensinar-vos-á toda a verdade.”

Respondido, mesmo que misteriosamente, o “Quo vadis?”, nos assalta ainda outra pergunta: o que temos de fazer para merecer aquele lugar que está sendo preparado para nós? “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” responde a pergunta. A leitura da carta de São Tiago (Missa Tridentina) tenta nos explicar mais prontamente o que significa trilhar esse Caminho: “Seja todo homem, pronto para ouvir, ponderado para falar e custoso para enraivecer. (...) Rejeitai toda impureza e excesso de malícia, e recebei com docilidade a palavra em vós implantada, que pode salvar as vossas almas.”

A Páscoa é exatamente isso: a Ressurreição, a permanência por curto período de Jesus entre nós e depois a Ascensão e a vinda do Espírito Santo. Para nós resta o Caminho, cujo mapa foi confiado à Igreja, construída sobre Petrus.

Bem, mas o que nos ensina o Semanário Litúrgico-Catequético O Domingo, de 20/04/2008? Na sua parte catequética, há dois textos. Comentarei um deles, “Documento de Aparecida: O seguimento de Jesus de Nazaré”, de Pe. Benedito Ferraro.

Pelo título, esperaríamos um ensinamento de como seguir Jesus, uma exegese dos textos da Missa, uma explicação do que seja o Caminho, a Verdade e a Vida. Nós, o rebanho, esperaríamos uma orientação do que fazer para trilharmos o Caminho e encontrar a Verdade e a Vida, e depois de nossa morte, estarmos entre aqueles que ouviriam “voltarei e vos levarei comigo”. Toda a tradição da Igreja está repleta de ensinamentos desse tipo. Todos os grandes Santos, Confessores e Doutores da Igreja nos ensinaram isso, não só com suas obras, mas com suas vidas, muitas delas martirizadas.

Assim, o título do artigo de Pe. Ferraro nos enche de esperança. Pelo primeiro parágrafo, ainda mantemos a esperança. O final do segundo parágrafo, citando mártires do continente latino-americano e caribenho, já nos leva a pensar que a coisa vai desandar.

O terceiro, e último parágrafo, destrói toda a nossa esperança. De fato, indignação é o que nos assalta. Diz o Pe. Ferraro: “Hoje, somos convidados a atualizar essa ação evangelizadora e libertadora de Jesus, apoiando as lutas dos sem-terra, dos sem-teto, dos desempregados – abandonados pelo mercado, pelo Estado e, muitas vezes, pela própria Igreja – e solidarizando-nos com os rostos sofredores do povo da rua, dos migrantes, dos doentes, dos dependentes químicos e dos presos.”

É claro que quem interpreta dessa forma a “ação libertadora e evangelizadora de Jesus” já se tornou apóstata há muito tempo. Quem aprovou esse tal Documento de Aparecida também se tornou apóstata, claro. A gente não pode nem dizer: Pe. Ferraro, largue a batina, pois padre o senhor não é! Mas, esses padres comunistas já largaram a batina há tempos.

Segundo esses apóstatas, vocês sabem, Jesus veio ao mundo e sofreu morte de cruz, apenas para dar terra aos sem-terra, teto aos sem-teto e emprego aos desempregados.

Conseqüentemente, Ele quer que façamos isso também. Esse é o Caminho, para se atingir a Verdade e a Vida. Ou seja, o nosso Evangelho deve ser o Capital, de Marx e nosso apóstolo o João Pedro Stedeli.

Que o Sacrifício de Jesus nos livre dessas palavras vindas diretas da boca do demônio!

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13/04/2008

Lições das Missas dominicais pós-Vaticano II – Parte III

Jesu, mitis et húmilis corde,
Fac cor nostrum secúndum Cor tuum
.”



O Evangelho deste domingo, da Missa nova, é o que Jesus se coloca com o Bom Pastor de suas ovelhas (Jo. 10, 1-10). Nosso Senhor nos alerta para “aqueles que vieram antes de mim são ladrões e assaltantes, mas as ovelhas não os escutaram” . Ele está nos orientando para não escutar os maus pastores de ovelhas que nos quer “roubar, matar e destruir”. Ele fala certamente não dos bens materiais, mas dos espirituais. Os maus pastores nos roubam a alma, roubando nossa consciência, nossa vontade e, finalmente, nossa fé, evitando assim que tenhamos “vida em abundância”.

É dentro desse quadro que comento hoje, brevemente, os dois artigos que se encontram no semanário litúrgico-catequético O Domingo, de 30-3-2008, sob os títulos “Eu Sou a Porta”, de Pe. José Bortoloni, e “Documento de Aparecida”, de Carlos Francisco Signorelli, presidente do CNLB (Conselho Nacional do Laicato do Brasil).

O primeiro artigo faz um breve comentário do Evangelho e descobre nele pérolas insuspeitas. Vejamos o texto.

Por isso Jesus se declara a porta. Mas ele (sic!) é a porta do redil, onde estão as ovelhas, símbolo do povo. Entrar por essa porta significa aproximar-se do povo para, de algum modo, liderá-lo e conduzi-lo. O evangelho (sic!) deste dia, portanto, apresenta sobretudo as condições para exercer a liderança não apenas religiosa, mas também política”.

O fato de um padre escrever ele (em minúsculas) para se referir a Jesus e evangelho (em minúsculas) para se referir ao ensinamento d’Ele, já diz muito sobre esse pastor de ovelhas. Agora, que tal o que o padre acha “sobretudo” importante no Evangelho? O padre acha sobretudo importante a mensagem de liderança política de Jesus. Note que essa impressão sobre Jesus era a que tinha d’Ele Judas Escariotes. Esse traidor de Nosso Senhor o traiu exatamente quando ele percebeu que ele ia se entregar para morrer por nós. Aí Judas percebeu que Jesus não ia libertar o povo de Israel do jugo do Império Romano e que Seu Reino não era deste mundo. Com ódio do líder que não era, absolutamente, político, mas espiritual (líder que iria nos dar a vida plena), ele O traiu vergonhosamente por trinta dinheiros. E, claro, depois se enforcou.

Daí para frente o texto aplica as palavras de Jesus às lideranças políticas. Por exemplo, quando Jesus chama de “ladrões e assaltantes” os maus pastores, o padre quer entender que Jesus está censurando os maus líderes políticos. Depois acrescenta: “Felizmente, muitos cristãos já descobriram que a fé política faz parte de sua vocação cristã”. Padre, Deus me livre de ter fé política, seja lá o que isso for. Minha vocação cristã (que é graça de Deus e não mérito meu) não inclui fé política, coisa mais esquisita sobre a qual eu nada sei. Mas, sendo a CNBB uma grande aliada histórica do PT, eu suspeito de que entendi o que o senhor, padre, está falando. Acho que entendi, padre, que o senhor está pregando fé no PT. E isso, padre, se for verdade, mostra bem que tipo de pastor o senhor é.

Padre, quem sou eu para lhe dar conselhos, mas considere, toda vez que o senhor for falar sobre o Evangelho de João, ler os comentários que fez, sobre esse Evangelho, Santo Agostinho. Se o senhor não souber latim, clique aqui para uma versão em inglês de todos os comentário. A passagem do Evangelho de hoje, está comentada, pelo grande Bispo de Hipona, aqui. Veja aí padre o que é um comentário católico às palavras que Ele (com letra maiúscula) nos deixou.

Passemos ao outro texto, o do senhor Carlos Francisco Signorelli. Ele comenta o Documento de Aparecida em seu item 3, “Situação Econômica, Política e Cultural”. Se o senhor Signorelli fosse padre, eu esperaria que o comentário fosse marxista, pois sabemos que os padres brasileiros, com honrosas exceções, são todos partidários da Teologia da Libertação, que é aquela teoria de que Jesus foi um marxista avant la lettre. Sendo o senhor Francisco um leigo, presidente de um tal de Conselho Nacional do Laicato do Brasil, eu esperaria algo mais inteligente. O leigo católico pode e deve ser mais inteligente do que padre marxista.

Contudo, o que se vê no texto é um submarxismo vexamoso. Dele nada se aproveita. Deixo apenas um exemplo do subtexto do senhor Francisco: “Estamos em processo agudo de globalização, que, privilegiando o lucro, segue uma dinâmica de concentração do poder e da riqueza em mãos de poucos. (...) Eles [os pobres] são os ‘supérfluos’, os ‘descartáveis’, as ‘massas sobrantes’. Eles são os ‘sem cidadania’.” Bingo!. Temos agora o MSC. O que será que eles vão invadir? Thomas Sowell usa um termo para caracterizar esse discurso esquerdizante: cultura do ressentimento.

Ora, senhor Francisco, vá pregar o seu submarxismo de botequim em outro lugar! O senhor acha que isso é cristianismo? Se o senhor quiser saber o que a verdadeira Igreja pensa dos problemas sociais, deveria ler os documentos papais sobre o assunto. Algumas encíclicas papais lhe fariam bem. Tente algo como: Sapientiae Christianae, Libertas, Rerum Novarum, só para citar três encíclicas de Leão XIII. Se o senhor quiser ler alguns livros para fazer uma crítica consistente do capitalismo, tente Liberalism is a Sin de Don Felix Sarda y Salvany e Do Liberalismo à Apostasia de Mons. Marcel Lefebvre. Com algum esforço, o último livro poderá inclusive lhe explicar a origem de suas idéias deformadas da realidade. Leia também, se não for demais, The Servile State, de Hilaire Belloc.

Que Deus nos livre dos maus pastores e sempre oriente nossos ouvidos às palavras do Bom Pastor!

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06/04/2008

O mal, os católicos e a Veja

Na edição desta semana (Edição 2055, 9 de abril de 2008), a reportagem de capa da Veja é: O mal – Uma investigação filosófica, psicológica, religiosa e histórica sobre as origens da perversidade humana.

O título é assaz pretensioso para uma reportagem de 4 míseras páginas. Entendo que, por razões mercadológicas, a revista limite suas reportagens. Mas que ela então limite também seus títulos.

A reportagem se concentra nos casos de maldade contra crianças, mas não consegue esconder seu anti-americanismo notório ao ajuntar num mesmo parágrafo o que ela chama de “infame caso de tortura em Abu Ghraib” e o Tribunal de Nuremberg, “que julgou líderes nazistas, não aceitava a obediência a ‘ordens superiores’ como justificativa para crimes de guerra”. Que maneira mais sutil de igualar a invasão do Iraque à invasão hitlerista da Europa!

A investigação histórica mencionada no título fica relegada a uns quadros que aparecem ao pé de três das quatro páginas da reportagem, com o título Um Enigma Profundo: os principais marcos na história do pensamento sobre o mal.

A primeira frase do primeiro quadro (O mal na religião) é um pouco ambígua: “Todas as religiões compreendem alguma força de desordem ou destruição – o Mal”. Meu “Aurélio” me diz que compreender pode significar “conter em si, constar de, abranger, incorporar, englobar, incluir” e também “alcançar com a inteligência, atinar com, perceber, entender”.

Desconfio, e logo digo a razão, que a Veja quer dizer que “todas as grandes religiões” contêm em si, incorporam, incluem, “alguma força de desordem ou destruição” como explicação para a origem do mal do mundo. Falo isso porque tenho a convicção que todos que, atualmente, não são católicos conhecedores da tradição da Igreja, tendem para uma forma ou outra de Gnose. A Gnose é uma antiqüíssima idéia de que há, no mundo, a ação, ou a guerra de dois deuses: o do Bem e o do Mal. Acho assim, mais provável a explicação gnóstica do verbo compreender usado pela Veja.

Hoje em dia, as pessoas professam a gnose sem o saber. Existe uma bibliografia enorme a respeito, começando pelo Adversus haereses de Santo Irineu, onde o autor dá nome à coisa, a descreve nos mínimos detalhes e depois apresenta argumentos contrários á gnose. É um livro obrigatório para a compreensão da doutrina gnóstica.

Mas, atenção: a gnose é apenas uma das várias tentativas que o homem inventou para explicar a presença do mal no mundo. Existem outras que menciono mais abaixo. A Veja identifica a origem das idéias gnósticas (sem dar o nome à coisa) no Zoroastrismo que, diz a revista, “pode ter influído sobre o judaísmo e o cristianismo”. Logo depois, fala sobre o Gênesis, como a sugerir uma certa continuidade do Zoroastrismo. Menciona a serpente de Éden e nos avisa que “o Satã do Antigo Testamento ainda não é exatamente um opositor malévolo de Deus”. O “ainda” da frase é totalmente gnóstico, pois, para nós católicos, o demônio nunca foi opositor de Deus. Ele é apenas um ser criado e só atua quando Deus assim o permite. O demônio só é um opositor de Deus na Gnose, onde ele assume o estatuto de criador. Para o católico, não há opositor a Deus, mas apenas quem não aceita Seus desígnios. Deus é o Ser Supremo: “Eu sou Aquele que sou”.

A revista cita ainda Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino sem lhes dar a devida importância, como dois dos que tentaram explicar a presença do mal no mundo. Cita ainda Leibniz, Darwin, Aristóteles, Maquiavel, Kant, Nietzche, Arendt. Como fechamento da parte histórica, cita a neurociência e o mapeamento cerebral dos psicopatas.

A neurociência, usando a autoridade que a ciência adquiriu no último século de dar palpite em tudo, tenta reduzir todos os valores morais à pura química cerebral. Seria útil ler A Neurociêcia Refuta o Livre-Arbítrio e A Neurociência Refuta a Ética. Não é pouco significativo que a Veja tenha terminado a seção sobre “os marcos na história do pensamento sobre o mal” com a referência à neurociência. A idéia é mesmo que a ciência vá resolver o problema do Mal no homem. Isso já não é gnose, mas o mais irredutível materialismo adicionado a quantidades industriais de soberba.

O que dizer da historinha que a Veja nos conta. Bem, além do que eu já disse, digo ainda que ela é mais significativa pelo que ela não nos conta. Fico aqui apenas com o mais significativo evento que ocorreu na História da Humanidade em relação à organização institucional das forças do mal contra a civilização humana. Trata-se da heresia que foi chamada de Albigense, ou a heresia dos cátaros. Esse foi um movimento herético medieval que quase triunfou e se assim tivesse acontecido, a civilização teria perecido. Não mencionar um evento de tais proporções numa história dos marcos sobre o mal é não entender a essência do mal. É comum que quem não entende a essência do mal fique abestalhado com a sua diversidade: “Qual é o teu nome. Ele respondeu: Legião!” (Lc. 8,30). Mas para compreender a essência do mal é preciso ter a graça do “discernimento dos espíritos” de que nos fala São Paulo (I Cor. 12, 10). E quem de nós tem essa graça atualmente?

30/03/2008

Lições das Missas dominicais pós-Vaticano II – Parte II

Exsultáte, Justi, in Dómino:rectos decet collaudátio.”



Comento hoje, brevemente, dois artigos que se encontram no semanário litúrgico-catequético O Domingo, de 30-3-2008, sob os títulos “Abrir portas e janelas”, de Pe. Nilo Luza, e “Documento de Aparecida”, de Pe. Benedito Ferraro.

Ambos os artigos falam do Documento de Aparecida. Ambos fazem propaganda do Concílio Vaticano II. Sim, fazem propaganda! Apenas isso.

1. “Abrir as portas e janelas”

O forte apelo feito pelo Documento de Aparecida é nesta linha: sair das quatro paredes do templo e ir à sociedade (...). É preciso escancarar portas e janelas e permitir uma interação entre as pessoas ‘de dentro’ e as ‘de fora’. Somente com esse intercâmbio a Igreja pode chegar com sua mensagem e aprender o que a sociedade tem para oferecer.” [ênfases minhas]

Pe. Luza fala aqui da atividade missionária da Igreja. Veja que entendimento peculiar tem esse padre da atividade missionária. A Igreja vai, através do “intercâmbio”, à sociedade para “aprender o que a sociedade tem para oferecer”.

Bem, o Pe. Luza não deve ter lido o Evangelho do dia (Jo. 20, 19-31), pois nele Jesus diz aos discípulos: “Como o Pai me enviou, também eu vos envio. Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, eles lhe serão perdoados; a quem os não perdoardes, eles lhes serão retidos.”

Caso o padre já tenha se esquecido dos outros Evangelhos, não custa ajudá-lo a lembrar.
No Evangelho de Marcos (Mc. 16, 15-16), Jesus diz aos apóstolos: “Ide por todo o mundo, pregai o Evangelho a toda a criatura. O que crer e for batizado, será salvo; o que, porém, não crer, será condenado.” Em Lucas (Lc. 24, 46-47) se lê: “e disse-lhe Jesus: Assim está escrito, e assim era necessário que o Cristo padecesse e ressuscitasse dos mortos ao terceiro dia, e que em seu nome se pregasse a penitência e a remissão dos pecados a todas as Nações, começando por Jerusalém.”

Em nenhum lugar Jesus sugere aos apóstolos que aprendam com o mundo, que façam intercâmbio com o mundo, que se abram as portas e janelas do templo ao mundo. A atividade missionária só pode se basear nas palavras do Cristo ou não será uma atividade missionária. Então o que o missionário deve fazer é pregar as palavras do Deus Trino, pregar a penitência e a remissão dos pecados e quem, como o Pe. Luza, tiver recebido o sacramento da Ordem, perdoar os pecados.

Fora disso, o resto é balela ou, pior, heresia. Não é demais lembrar que o príncipe do mundo é o demônio. Fechemos portanto as portas e janelas do templo, e do nosso coração, ao mundo.

Fala ainda o Pe. Luza: “Acreditamos que a V Conferência Geral do Celam tenha sido novo pentecostes, em que a Igreja da América Latina se deixou inundar pelo Espírito Santo.”[ênfases minhas]

Bem, aqui o Pe. Luza ou está falando metaforicamente, ou devem ter ocorrido coisas nessa conferência episcopal que ainda não nos contaram. Mas como é possível falar de Pentecostes metaforicamente? Só vejo uma possibilidade: só fala metaforicamente sobre um novo pentecostes quem acredita que o Pentecostes foi apenas metafórico. Bem, mas se assim se fala está se cometendo, creio eu, um pecado contra o Espírito Santo. Deus me livre pensar isso de Pe. Luza!

2. “Documento de Aparecida”

Aqui o Pe. Benedito nos ensina que tal documento, seguindo uma linha ininterrupta desde o Concílio Vaticano II, passando por Medellín, Puebla e Santo Domingo, “demonstra um modo original de exercício da colegialidade no mundo.”

Para quem fica matutando o que seria essa tal de colegialidade dentro da Igreja, Pe. Benedito cita diretamente o documento: “Este método nos permite articular, de modo sistemático, a perspectiva cristã de ver a realidade; a assunção de critérios que provém da fé e da razão para o seu discernimento e valorização com o sentido crítico; e, em conseqüência, a projeção do agir como os discípulos missionários de Jesus Cristo.”

Entenderam agora, caros leitores? Ainda não? Bem, eu também não entendi. Mas continuo lendo o Pe. Benedito. “Esse método, surgido da ação católica no século passado, permite às pessoas ser sujeitos co-responsáveis e agir em conjunto de forma inteligente, planejada e perseverantemente executada.” Ainda bem que esse método surgiu no século passado (leia-se depois do Vaticano II), pois antes, as pessoas não eram sujeitos responsáveis e não agiam em conjunto de forma inteligente, planejada e perseverante. Santo Deus, quanta bobagem!

Mas continuo lendo: “[Esse método] acolhe as contribuições advindas da ciência moderna. À luz da palavra de Deus e da tradição da Igreja, busca uma aproximação respeitável da realidade vivida no continente e indica os passos necessários para que a missão colabore na vida dos povos latino-americanos e do caribe.” Aqui, Pe Benedito fala da ciência moderna acolhida pelo método da colegialidade. Eu não sei do que ele está falando. Será que ele fala que a Igreja acolhe os remédios, os telefones celulares, a tomografia computadorizada etc.? Ou será que ele fala que a Igreja do Vaticano II acolhe a teoria da evolução, as concepções materialistas das ciências físicas, as pesquisas com células-tronco etc.? O que isso tem a ver com a atividade missionária, seja aqui na América Latina ou em qualquer outro lugar? Ainda estamos pregando a penitência e a remissão do pecado, ou o século XX mudou isso também? E, a propósito, de que tradição da Igreja o Pe. Benedito fala? A do século passado ou a de Jesus e de sua Igreja?

Fiquemos, então, com essas lições dominicais da Igreja do Vaticano II, onde ser missionário é se abrir ao mundo e seus valores e até flertar com a ciência moderna, seja lá o que isso queira dizer.

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16/03/2008

Traduções de Thomas Sowell

Finalmente consegui atualizar, aí do lado, os links aos artigos de Thomas Sowell que traduzi no Mídia Sem Máscara. Pretendo, de agora em diante, manter a lista atualizada. Essa lista já conta com mais de cem artigos (ver meu artigo no MSM, Uma nota sobre Thomas Sowell) traduzidos ao longo de quase três anos.

16/02/2008

Propriedade Privada e Pena de Morte

Como sabemos, o nível de conhecimento dos católicos em geral sobre a doutrina da Igreja Católica está diminuindo numa rapidez incrível. Isso não chega a ser uma surpresa para quem acompanha a grande crise da Igreja, sobretudo depois do Concílio Vaticano II. O que era, no século XIX e no início do século XX uma preocupação dos papas, se torna hoje uma realidade inquestionável.

Só para citar um exemplo, o Papa São Pio X, na encíclica SACRORUM ANTISTITUM (1 de setembro de 1910), diz dos sermões e homilias dos padres modernistas de então: “Procuram lisonjear os ouvintes ‘que são movidos pelo prurido de novidade’, contanto que mantenham as igrejas cheias, embora as almas não sejam curadas por permanecerem vazias. Por isso não falam nunca do pecado, nunca dos novíssimos, nunca de outras verdades gravíssimas que poderiam abalar a salvação, mas falam somente ‘com palavras de bajulação’; e isso o fazem também com eloqüência mais de tribunal do que de apóstolos, mais profana do que sagrada, atraindo para eles aplausos; esses já haviam sido condenados por São Jerônimo, quando escreveu: ‘Quando tu ensinas em assembléia, seja suscitado não o aplauso do povo, mas o arrependimento; teu louvor sejam as lágrimas dos ouvintes’.” [ênfases minhas]

Lembremos de um dito popular antigo: “Padre santo, povo piedoso. Padre piedoso, povo bom. Padre bom, povo aceitável. Padre aceitável, povo tíbio. Padre tíbio, povo ruim. Padre ruim, povo corrupto. Padre corrupto, povo péssimo”.

Vocês podem escolher em qual desses níveis acima nos encontramos. Daí, o povo católico estar à mercê de todo tipo de confusão.

Há duas discussões recentes no blog do Reinaldo de Azevedo, que são questões a respeito das quais a Doutrina Católica tem uma posição muito clara. Elas ilustram a situação de desconhecimento em que nos encontramos.

Uma delas se refere ao quinto mandamento (Não matar) e a outra ao sétimo mandamento da Lei de Deus (Não roubar).

Em resumo, a questão sobre o quinto mandamento surgiu quando Reinaldo Azevedo saúda a morte de um terrorista árabe sanguinário e seus críticos logo lembram que ele, como católico, não devia saudar a morte de ninguém. Ele explica sua posição assim (cito de memória): “A morte de só homem nos diminui a todos. A morte de um sanguinário nos eleva a todos. Isso não nos desobriga de rezar pela alma dele.”

Ele está certo! Dentre as situações em que não há violação do quinto mandamento há a legítima defesa e a pena de morte (também a guerra santa). Sim, irmãos católicos, a Igreja apóia a pena de morte. Leiam o Catecismo em vigor, itens 2265 e 2267. A pena de morte deve ser aplicada exatamente em criminosos sanguinários, “se essa for a única via praticável para defender eficazmente a vida humana contra o agressor injusto”, com diz o catecismo.

Só para lembrar aos esquecidos católicos, houve uma época em que parte da cristandade, sob influência herética, condenou, contra as afirmações da Igreja, a guerra e a pena de morte como coisas más em si. Estávamos então em pleno renascimento (o verdadeiro) medieval, nos séculos XII e XIII. Quem defendia essas idéias eram os cátaros, seita herética que quase destruiu toda a humanidade, não fosse a reação armada articulada pela Igreja. Isso nos deixa uma lição muito importante: idéias têm conseqüências.[1] Atenção: os verdadeiros ancestrais dos pacifistas modernos são os cátaros. Não tenham dúvidas disso.

A outra questão surgiu quando Reinaldo Azevedo comenta sobre o padre que está estimulando a invasão de terras pelo MST. Ele comenta que a CNBB não apoiou o tal padre e que reafirmou que a Igreja defende o direito de propriedade. Sim, irmãos católicos, a Igreja determina o respeito à propriedade privada, por mais que os padres comunistas modernos nos afirmem o contrário. Leiam os comentários ao sétimo mandamento do Catecismo em vigor, itens 2408 e 2409.

É claro que apenas ouvindo as homilias dos padres modernos, ou mesmo, lendo os comentários bíblicos nas edições modernas das Sagradas Escrituras[2], teremos a certeza de que todos os profetas do Antigo Testamento, Jesus Cristo e os apóstolos foram todos comunistas e pacifistas desde criancinha.

[1] A propósito, há um livro extraordinário de Richard Weaver com este título. Eu traduzi a introdução desse livro e o postei aqui no blog.
[2] Ver, Exegese de uma exegese bíblica.

14/02/2008

Artigo meu no Mídia Sem Máscara

Saiu hoje (14/02) artigo meu no MSM. Para acessá-lo clique aqui.

08/02/2008

Lições das Missas Dominicais pós-Concílio Vaticano II

Primeira lição

Narro a seguir, o que encontrei no folheto da Missa do dia (1/07/2007) [Paróquia de Nossa Senhora das Dores], comemoração de São Pedro, São Paulo e do dia do Papa. Na última página, há uma seção "Para sua Reflexão" que traz um texto surpreendente. Reproduzo a primeira parte e os absurdos que ela contém:

"Pedro e Paulo representam duas dimensões da vocação apostólica, diferentes mas complementares. As duas foram necessárias, para que pudéssemos comemorar hoje os fundadores da Igreja universal. Esta complementaridade dos carismas de Pedro e de Paulo continua atual na Igreja hoje: a responsabilidade institucional e a criatividade missionária. Pode até provocar tensões, por exemplo, uma teologia ‘romana’ versus uma teologia latino-americana. Mas é uma tensão fecunda."
Cabem aqui várias observações. A primeira terá de ser sobre a malícia do texto. Ele declara, primeiramente que há uma teologia regional, rebaixando terrivelmente todo o edifício desta Ciência Divina (veja a segunda lição abaixo). Depois, diz que a Igreja da América Latina se opõe (uma VERSUS a outra) à Roma. Se isso não é apostasia, eu não sei o que seja ... Além disso, compara essa discordância entre a Igreja daqui e a de Roma (como se houvesse várias Igrejas e não só a de Cristo) com a tensão entre Pedro e Paulo, que versava sobre a evangelização dos judeus e a dos gentios. Quem estaria do lado de Paulo e quem estaria do lado de Pedro? Qual seria a “teologia dos gentios” e qual a “teologia dos judeus”.O objetivo do texto é, claramente, preparar o caminho para um eventual confronto com a Santa Sé sobre o Motu Próprio. A dupla linguagem e a fingida delicadeza esconde a raça de víboras atuante e muito viva. A seguir, outro texto dominical, esclarece ainda mais a situação.


Segunda lição

O texto que comento abaixo aparece na última página do semanário litúrgico-catequético O Domingo, de 29-7-2007, sob o título “V Conferência do CELAM: 14. Temas da Teologia da Libertação”. O autor do texto é Pe. Antônio Manzatto.

Comento o texto, parágrafo por parágrafo.

“O trabalho da teologia da libertação é um trabalho teológico, isto é, o de pensar racionalmente a fé com base no contexto em que ela se insere. Marcada pela situação latino-americana e pela racionalidade, a teologia da libertação desenvolve de maneira criativa os principais temas do universo teológico e, assim, contribui para o desenvolvimento da Igreja, da teologia e da sociedade.”
Há no texto uma definição de teologia: “pensar racionalmente a fé com base no contexto em que ela se insere”. Como não sou teólogo, recorro a alguém que entende do assunto muito mais que eu e o Pe. Manzatto. Vamos ver o que tem a dizer Santo Tomás de Aquino sobre o assunto. A Suma Teológica[1], livro que o santo escreveu para “expor o que se refere à religião cristã do modo mais apropriado à formação dos iniciantes”, ataca logo de início a questão da Doutrina Sagrada (como Santo Tomás se referia à Teologia), o que ela é e qual o seu alcance. Nada como tomar um livro para “iniciantes” para aprender algo fundamental. No artigo 7 da Questão 1 da Suma, santo Tomás analisa se Deus é o sujeito dessa ciência (Doutrina Sagrada). Duas objeções são apresentadas: 1) Toda a ciência, segundo os Primeiros Analíticos de Aristóteles, pressupõe o conhecimento de seu sujeito. “Como, segundo João Damasceno ‘é-nos impossível dizer de Deus o que ele é’, logo, Deus não é o sujeito desta ciência.”; 2) Pela multiplicidade de coisas de que trata a Sagrada Escritura, e o fato de que “tudo que se trata numa ciência está compreendido em seu sujeito,” assim, Deus não é o sujeito desta ciência. Depois das objeções, sempre há duas partes na argumentação tomista: o “sed contra”, em sentido contrário, e o “respondeo”, respondo. Ao final do “respondeo” Tomás de Aquino refuta as duas objeções iniciais. Vamos ao texto.

“EM SENTIDO CONTRÁRIO, o sujeito de uma ciência é aquilo de que se fala nessa ciência. Ora, na ciência sagrada fala-se de Deus: daí seu nome teologia, discurso sobre Deus. Logo, Deus é o sujeito dessa ciência.

“RESPONDO. Deus é o sujeito desta ciência. Entre o sujeito de uma ciência e a própria ciência, existe a mesma relação que entre o objeto e uma potência ou um habitus. Ora, designa-se propriamente como objeto de uma potência ou de um habitus aquilo sob cuja razão todas as coisas se referem a esta potência ou a este habitus. Por exemplo: o homem e a pedra se referem à vista como coloridos; uma vez que a cor é o objeto próprio da vista. Ora, na doutrina sagrada, tudo é tratado sob a razão de Deus, ou porque se trata do próprio Deus ou de algo que a Ele se refere como o seu princípio ou a seu fim. Segue-se então que Deus é verdadeiramente o sujeito desta ciência. – O que aliás também se manifesta pelos princípios desta ciência: os artigos de fé, que se referem a Deus. Ora, o sujeito dos princípios e da totalidade da ciência é o mesmo, pois a ciência está contida virtualmente em seus princípios.

“Alguns, no entanto, considerando as coisas de que trata esta ciência, e não a razão sob a qual as examina, indicaram seu sujeito de modo diferente. Fala de ‘coisas’ e de ‘sinais’; ou ‘das obras da reparação’, ou do ‘Cristo total’, isto é, a cabeça e os membros. Tudo isso é tratado nesta ciência, mas sempre com relação a Deus.

“QUANTO AO 1º [primeira objeção], portanto, deve-se dizer que embora não possamos saber de Deus quem Ele é; contudo, nesta doutrina, utilizamos, em vez de uma definição para tratar do que se refere a Deus, os efeitos que Ele produz na ordem da natureza ou da graça. Assim como em certas ciências filosóficas se demonstram verdades relativas a uma causa a partir de seus efeitos, assumindo o efeito em lugar da definição dessa causa.

“QUANTO AO 2º, deve-se afirmar que tudo o mais de que esta doutrina sagrada trata está compreendido no próprio Deus; não como partes, espécies ou acidentes, mas como a Ele se ordenando de algum modo.”

Vê-se então que falar de uma teologia “dependente do contexto em que ela se insere” é o mesmo, para Santo Tomás, que falar de uma Física ou Química, dependente do contexto em que elas se inserem. Assim, teologia da libertação é como uma Física latino-americana ou como uma Medicina francesa. Como se os artigos de fé, que são os princípios dessa Ciência, tivessem de ser climatizados toda vez que fossem colocados em prática. Como se “os efeitos que Ele produz na ordem da natureza ou da graça” tivessem alguma dependência econômica, geográfica ou política.

“[Na teologia da libertação] Deus é compreendido como o defensor e protetor dos pobres, identificando-se com eles, e não com o poder estabelecido e repressor. Sua vontade é o estabelecimento do direito e da justiça no mundo, e não o simples desenvolvimento do culto. Cristo, o seu enviado, compreendido na perspectiva da prática de Jesus de Nazaré, é o libertador dos pobres porque instaura o reino de Deus, o governo de Deus, segundo os mesmos princípios do direito e da justiça.”

É um truque conhecido da teologia da libertação a confusão proposital entre o pobre e o pecador. Para essa “teologia” Jesus veio nos salvar da pobreza e não nos redimir do pecado. Ela faz isso para conseguir a impossível mistura do cristianismo com o marxismo. Além disso, a idéia de que Jesus, com sua vinda, instaura o reino de Deus neste mundo é, no mínimo, panteísmo. É claro que o reino de Deus não é deste mundo e é claro que ele não é para todos. No evangelho de João, no capítulo 3, vemos nos versículos de 3 a 5: "Jesus replicou-lhe: Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer de novo não poderá ver o Reino de Deus. Nicodemos perguntou-lhe: Como pode um homem renascer, sendo velho? Porventura pode tornar a entrar no seio de sua mãe e nascer pela segunda vez? Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo: quem não renascer da água e do Espírito não poderá entrar no Reino de Deus. "

Parece que Pe. Manzatto ou não leu ou já se esqueceu do capítulo 3 do livro do Gênesis. Toda a utopia do paraíso terrestre é desfeita por Deus. Disse Deus a Adão: “Porque ouviste a voz de tua mulher e comeste do fruto da árvore que eu te havia proibido comer, maldita seja a terra por tua causa. Tirarás dela com trabalhos penosos o teu sustento todos os dias de tua vida. Ela te produzirá espinhos e abrolhos, e tu comerás a erva da terra. Comerás o teu pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra de que foste tirado; porque és pó, e pó te hás de tornar.”

Somos seres caídos e nossa Queda tem uma espantosa conseqüência prática. Tudo que fizermos por aqui será imperfeito e muitíssimo difícil. Padre, espero que o sr. não considere isso somente uma metáfora.

“A Igreja, por sua vez, continuadora da missão de Jesus, assumindo a opção preferencial pelos pobres, trabalha para o estabelecimento da comunhão entre todos os seres humanos e deles com Deus, formando o ambiente comunitário que é sinal do reino em que todos são irmãos, restaurados na dignidade humana de filhos e filhas de Deus.”
Algumas verdades e uma mentira. Nem todos serão filhos de Deus. Esse é o velho erro, tantas vezes denunciado, de entender que o sangue de Cristo foi derramado pela salvação de todos e não de muitos (pro multis). [QUI POR VOBIS ET PRO MULTIS EFFUNDETUR IN REMISSONEM PECCATORUM]. Aliás, o papa já mandou se traduzir “pro multis” como “por muitos” na Oração Eucarística (ler aqui)

“A vida concreta das pessoas – incluindo aquilo que diz respeito à organização do mundo – é vista como caminho para Deus. A luta contra o mal passa, por um lado, pela solidariedade para com os sofredores e, por outro, pela superação do pecado, que não é apenas individual, mas também estrutural. Por isso a conversão do coração não é suficiente para o estabelecimento do mundo novo, mas é necessário igualmente a conversão das estruturas sociais. A luta pela justiça – também em seus desdobramentos políticos – é compreendida como compromisso de superação do pecado para a instauração do mundo novo: a sociedade fraterna e solidária será sinal do reino definitivo.”
Aqui o texto chega ao seu final, desnudando todo o blá-blá-blá inicial. Esses “teólogos” de meia tigela querem mesmo é tomar o poder temporal. Conversão de estruturas? Pecado institucional? Será esta a tal Igreja santa e pecadora? Esses teólogos da libertação são todos marxistas enrustidos e maliciosos. Reino definitivo? Aqui, na terra? Reino imanente de Deus? Só se entendermos a Queda do Paraíso como metáfora sem conseqüências práticas.

Essa baboseira está longe da Tradição Católica e é por isso que esses lobos estão uivando contra Bento XVI. Vade retro satanás!

Para terminar, nada como citar o Papa Bento XVI, que na Encíclica SPE SALVI, recentemente publicada, que explica direitinho, para quem quiser entender, como o cristianismo muda o mundo, em sentido autêntico (as ênfases são minhas).

O cristianismo não tinha trazido uma mensagem sócio-revolucionária semelhante à de Espártaco que tinha fracassado após lutas cruentas. Jesus não era Espártaco, não era um guerreiro em luta por uma libertação política, como Barrabás ou Bar-Kochba. Aquilo que Jesus – Ele mesmo morto na cruz – tinha trazido era algo de totalmente distinto: o encontro com o Senhor de todos os senhores, o encontro com o Deus vivo e, deste modo, o encontro com uma esperança que era mais forte do que os sofrimentos da escravatura e, por isso mesmo, transformava a partir de dentro a vida e o mundo. A novidade do que tinha acontecido revela-se, com a máxima evidência, na Carta de São Paulo a Filémon. Trata-se de uma carta, muito pessoal, que Paulo escreve no cárcere e entrega ao escravo fugitivo Onésimo para o seu patrão – precisamente Filémon. É verdade, Paulo envia de novo o escravo para o seu patrão, de quem tinha fugido, e fá-lo não impondo, mas suplicando: « Venho pedir-te por Onésimo, meu filho, que gerei na prisão [...]. De novo to enviei e tu torna a recebê-lo, como às minhas entranhas [...]. Talvez ele se tenha apartado de ti por algum tempo, para que tu o recobrasses para sempre, não já como escravo, mas, em vez de escravo, como irmão muito amado » (Flm 10-16). Os homens que, segundo o próprio estado civil, se relacionam entre si como patrões e escravos, quando se tornaram membros da única Igreja passaram as ser entre si irmãos e irmãs – assim se tratavam os cristãos mutuamente. Em virtude do Baptismo, tinham sido regenerados, tinham bebido do mesmo Espírito e recebiam conjuntamente, um ao lado do outro, o Corpo do Senhor. Apesar de as estruturas externas permanecerem as mesmas, isto transformava a sociedade a partir de dentro. Se a Carta aos Hebreus diz que os cristãos não têm aqui neste mundo uma morada permanente, mas procuram a futura (cf. Heb 11, 13-14; Fil 3,20), isto não significa de modo algum adiar para uma perspectiva futura: a sociedade presente é reconhecida pelos cristãos como uma sociedade imprópria; eles pertencem a uma sociedade nova, rumo à qual caminham e que, na sua peregrinação, é antecipada.



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[1] Uso aqui a tradução da Suma publicada pelas Edições Loyola, vol. 1, 2001.

04/02/2008

Margaret Sanger: o mal encarnado

Ted Flynn


Nota introdutória: Em tempos de DVD da CNBB com as “Católicas pelo Direito de Decidir” dando seu depoimento, é sempre bom lembrar de onde essas “católicas” vieram. A mãe delas não é a Nossa Senhora, mas Margaret Sanger. Os ancestrais remotos dessa turma são os cátaros e albigenses dos séculos XI, XII e XII e seu inimigo mortal, tanto naquela época, como nesta em que vivemos é a Igreja Católica. Por isso, todo o episódio do DVD da CNBB é lastimável. Agora, um pouquinho de história.



Para muitos americanos, o nome Planned Parenthood significa responsabilidade e até mesmo valores familiares. Ela foi fundada em 1915, por Margaret Sanger, com o nome de American Birth Control League. O nome foi mudado, por razões de relações públicas, para Planned Parethood Federation of America em 1942, e um braço internacional foi também criado. Elasha Drogin, em cuja biografia de Sanger a chama de Pai da Moderna Sociedade, descreve a influência de Sanger.

“A influência da International Planned Parenthood Federation[1] de Margaret Sanger no mundo contemporâneo é tão grande que se pode dizer que seus slogans e valores se tornaram exatamente os da moderna civilização ocidental e constituem a moral que domina o resto do mundo. Em 1900, a sociedade mundial teria considerado os valores de Margaret Sanger e da Planned Parenthood nada mais que uma forma desprezível de utopismo. Se um cidadão em 1900 soubesse, pelo viajante de uma maquina do tempo, que em exatos 75 anos, dispositivos e produtos químicos contraceptivos seriam coisas normais, aspectos da vida aprovados socialmente e que o aborto tinha uma aceitação mundial como método reserva caso os contraceptivos falhassem, nosso cidadão de 1900 perderia imediatamente a consciência. Se, depois de recobrada a consciência, disséssemos a ele que em 1973 diversas formas de promiscuidade e pornografia seriam aceitas por quase todo mundo como um resultado da efetividade da contracepção mecânica e química, cujas complicações seriam resolvidas pelo aborto, esterilização cirúrgica, drogas e hysterectomia, é de se imaginar se nosso cidadão de 1900 conseguiria sobreviver.” Se a ele fosse contado que o mundo iria ceifar partes do feto e que o presidente dos EUA assinaria uma lei legalizando isso, em seu primeiro dia de mandato, e com grande orgulho, como fez presidente Clinton, ele não acreditaria. Se ele soubesse que o senado americano aprovaria um aborto por nascimento parcial (infanticídio) que esmaga a cabeça do bebê para que ele possa ser retirado do útero, aquele viajante do tempo não acreditaria que você estivesse falando dos EUA. O aborto foi legalizado nos EUA em 1973, sob circunstâncias fraudulentas no mais alto nível. Se isso fosse contado a um cidadão americano em 1900, em 1930, em 1950 ou mesmo em 1975, ele não acreditaria que isso pudesse acontecer. Como líder do Free World, os EUA tem exportado essa filosofia aos quatro cantos do mundo. Desde 1973, houve mais de 40 milhões de abortos cirúrgicos e mais centenas de milhões de abortos devidos a pílulas contraceptivas, que são abortivas. Pode-se argumentar que Margaret Sanger tenha sido a pessoa mais influente do mundo se você considera suas conquistas, sem levar em conta a questão do bem e do mal como um critério. Poder-se-ia defender fortemente que ela é uma das principais portadoras do mal no mundo. Mao, Lênin, Stalin, Hitler são pequenas pragas comparadas ao papel de Sanger, que está sempre se expandindo. Sua influência é a política doméstica e externa norte-americana.

Sanger, que morreu em 1966, foi uma revolucionária socialista e uma ativista anti-cristã que recebeu grandes verbas de fundações que apoiaram seu trabalho. Pessoalmente, ela era sexualmente promíscua e envolvida com práticas ocultistas. Uma biógrafa, a ela simpática, disse que ela se tornava “furiosamente anticristã à medida que envelhecia”. Margaret Higgins Sanger era a sexta de onze irmãos de Corning, New York. Ela escreveu em sua autobiografia My Fight for Birth Control, “Não consigo contemplar minha infância com alegria”. Seu pai exibia uma atitude anticatólica enquanto vivia numa comunidade irlandesa e era casado com uma irlandesa. Apesar de batizada católica, ela abandonou a Igreja em sua juventude.

O foco central de suas atividades era conseguir que o governo americano endossasse e promovesse seu trabalho. Sanger depôs perante diversas comissões parlamentares “advogando a votação de leis liberando os contraceptivos” e lutando pela “incorporação do controle reprodutivo em programas estaduais como uma forma de planejamento social.”

A biógrafa de Sanger, Ellen Chesler, admite que “sem uma preocupação aparente com os potenciais abusos”, Sanger apoiava iniciativas de governos estaduais que, nas décadas de 1920 e 1930, visavam à esterilização de indivíduos com supostas deficiências hereditárias, tais como retardo ou insanidade mental. Uma dessas leis autorizando a esterilizarão involuntária de internos de instituições estaduais no estado de Virgínia foi revogada pela Suprema Corte americana em 1927.

Desde o início, a clara intenção do projeto de controle de natalidade não era dar aos indivíduos o direto de tomar decisões na privacidade de seus lares, mas o de dar ao governo o poder de regular e controlar a espécie humana. Essa é a filosofia que funciona em benefício de regimes totalitários, quer comunista, nazista ou fascista. Com esse poder, alguns dos primeiros slogans do movimento de controle de natalidade eram assustadores: “Mais crianças para os saudáveis, menos para os doentes, esse é o principal objetivo do controle de natalidade,” e “Controle de natalidade: para criar uma raça de puros-sangues.” Em seu próprio livro, The Pivot of Civilization, Sanger inclui referências a se eliminar “sementes humanas” e esterilizar “raças geneticamente inferiores”.

Contudo, o governo dos EUA não seria o primeiro a implementar as políticas de Sanger numa escala maciça e brutal. Essa tarefa foi deixada primeiramente para o Terceiro Reich de Adolf Hitler. George Grant notou que Sanger se tornou intimamente associada a cientistas e teóricos que ajudaram a construir o programa de “purificação racial” da Alemanha nazista. Ela tinha abertamente endossado os programas inicias de eutanásia, esterilização e infanticídio do Reich. Ela publicou diversos artigos no The Birth Control Review que continha a retórica hitlerista da supremacia ariana. Ela inclusive convidou Dr. Ernst Rudin, diretor do Programa Médico Experimental Nazista, para escrever artigos para o The Review. Mas Sanger recuou de seu apoio aos programas nazistas quando os terríveis detalhes vieram à tona. Ela não se preocupava com o que estava sendo feito, mas a percepção que o público estava tendo de suas associações era preocupante.

As maiores conquistas do movimento de controle de natalidade aconteceram nos EUA nas décadas de 1960 e 1970, quando Sanger já se aproximava da morte. Um ano antes de sua morte, em 1965, a Suprema Corte americana, no caso Griswold v. Connecticut, derrubou uma lei que proibia a contracepção e criou o direito constitucional à privacidade. Esse caso foi apoiado pela ACLU (American Civil Liberties Union)[2] e pela Planned Parenthood. A Caixa de Pandora foi aberta e não há mais volta.

Em 1972, a Suprema Corte avançou no caso Baird v. Eisenstat e, um ano depois, utilizando-se o chamado direito à privacidade, legalizou o aborto generalizado na decisão do caso Roe v. Wade. Esses casos foram, em parte, financiados da Fundação Playboy, um braço da empresa que publica a revista Playboy. A Playboy foi um fundador importante da Planned Parethood. O envolvimento da Playboy no financiamento de tais causas levanta sérias dúvidas sobre se o aborto e o “planejamento familiar” não objetivariam, de fato, encorajar a promiscuidade sexual e eliminar a responsabilidade pessoal. Na realidade, algumas feministas admitem que a Playboy apoiou os movimentos pró-aborto para manter as mulheres atrativas e disponíveis para os homens. De um professado desejo de simplesmente disponibilizar os mecanismos de controle de natalidade às pessoas na privacidade de seus lares, o movimento evoluiu para uma campanha, com apoio governamental e com dinheiro dos contribuintes, que tenta forçar o “planejamento familiar” a todos por meio de clínicas nas comunidades e nas escolas públicas.

Desde 1970, dos Family Planning Sevices e do Population Research Act, a própria Planned Parenthood tem recebido centenas de milhões de dólares do contribuinte americano. Em 1992, um ano em que mais de 1,9 milhões de mulheres receberam serviços contraceptivos nas clínicas da Planned Parenthood, essa organização recebeu mais de US$200 milhões. Não parece fazer diferença se o governo é democrata ou republicano. Durante doze anos de administrações republicanas pró-vida, o financiamento da Planned Parethood triplicou. Uma análise do financiamento da Planned Parethood no período de 18 meses, nos anos 1993-1994, mostrou que a ajuda governamental subiu a US$ 238,2 milhões, 34 por cento do total de arrecadação da organização. Mas o que a Planned Parethood recebe do tesouro americano, por meio das agências governamentais tais como a AID (Agency for International Development), assim como do Fundo para as Populações da ONU e de outros grupos e instituições, chega a bilhões de dólares. Ninguém sabe o montante exato, uma vez que o dinheiro chega de várias agências há vários anos.

A agenda de controle de natalidade atual tem um pedigree indistinto. Suas raízes podem ser encontradas no nascimento da Planned Parenthood. Em janeiro de 1932, Sanger fez um discurso na New History Society, em Nova York. Esse discurso foi subseqüentemente publicado num artigo que resumia os propósitos de Sanger para o futuro da nação. Dentre suas sugestões estava a proposição de uma reunião do “Parlamento das Populações” para dirigir e controlar a população por meio de taxas de nascimento e imigração. Sanger acreditava que aqueles identificados como deficientes não deveriam se reproduzir. Suas visões refletem uma insidiosa filosofia, desprovida de qualquer tipo de consciência moral. Um tipo de visão secular e utilitária da sociedade tal como essa leva inevitavelmente à justificação do uso de seres humanos para quaisquer propósitos. A fim de promover sua agenda, Sanger abriu uma clínica de controle de natalidade numa comunidade de imigrantes recém-chegados. A comunidade incluía italianos, hispânicos e descentes de judeus.

Em 1939, Sanger criou um programa para a eliminação de segmentos da população que ela julgava de raça inferior, pessoas de ancestrais negros. Ela expressava a convicção de que os negros eram os menos inteligentes e “adequados” de toda a população. Para fazer propaganda de seus serviços de controle de natalidade, ele utilizava os membros do clero negro. Sanger dizia que os ministros negros eram os melhores para convencer seus seguidores dos méritos do controle de natalidade.

Os escritos de Sanger descrevem pessoas de grupos religiosos, tais como os católicos, como membros dispensáveis da sociedade. Seu antagonismo virulento em relação à Igreja Católica foi muito pronunciado durante toda a sua vida, pois esta era o grande obstáculo institucional aos seus planos. Ela freqüentemente se referia ao cristianismo como tirânico e expressava seu desejo de livrar o mundo da fé cristã. Não surpreende o fato de que Sanger sentisse uma grande atração pela Teosofia. As idéias de Sanger pareciam completamente estranhas que não era acostumado à retórica dos defensores do controle de natalidade. Ainda hoje, uma atitude similar em relação à dispensabilidade dos seres humanos é prevalecente em grupos feministas e ambientalistas. Poucos nesses grupos têm a consciência da fonte original desse pensamento.



Trecho do capítulo 17 (Roots of Feminism and the Most Influential Woman of the 20th Century) do livro Hope of the Wicked: Master Plan to Rule the World, de Ted Flynn

____________________________________________________________________
[1] Ver, A IPPF em perguntas e respostas. (N. do T.)

[2] Ver, por exemplo, Débeis sinais de esperança e Leviandade política – parte III. (N. do T.)

30/01/2008

Lembrando de Lepanto: uma batalha que não foi esquecida

Michael Novak


O futuro autor de Don Quixote, Miguel de Cervantes, serviu em uma das galeras no que ele chamou de uma das maiores batalhas marítimas da História e a mais importante daquele tempo para a segurança da Europa. Os turcos tinham conseguido formar uma enorme frota para a invasão da Itália. As preparações começaram com muitos meses de antecedência. Era o ano de 1571, quando aquela frota se articulou próximo a um porto na Grécia, não muito longe do porto de Lepanto.

Por mais de um ano, o Papa Pio V havia tentado alertar as grandes potências da Europa para a ameaça iminente. Mas a Inglaterra, a França e os poderes regionais que depois se tornaram a Alemanha estavam preocupados com os tumultos da Reforma.

Somente Dom João da Áustria, o filho bastardo do rei da Espanha, foi sensível ao perigo. Apesar de sua pouca idade, apesar de suas modestas finanças, Dom João emitiu apelos veementes e conseguiu formar uma robusta frota, equipada com modernos equipamentos de guerra, inventados no Ocidente e rapidamente produzidos em massa por nascentes indústrias navais, componentes do que mais tarde veio a ser conhecido como o “Capitalismo Ocidental”. Ele congregou embarcações de Veneza e Gênova, da Espanha, e de Malta. Num ataque preventivo deliberado, abençoado pelo papa, essa pequena frota velejou a fim pegar de surpresa a armada turca, antes de ela deixar as águas da Grécia.

Os venezianos, no flanco esquerdo da linha de batalha, foram especialmente contundentes. Pouco tempo antes, os turcos tinham atacado e causado tanta destruição em um porto numa ilha mantida pelos venezianos (e outros) que o comandante veneziano, Marcantonio Bragadino apelou por uma trégua. Os turcos prometeram a ele e a seus comandados uma retirada segura – e, então, tomaram-lhe como prisioneiro, surraram-lhe, cortaram-lhe o nariz e as orelhas, colocando nele um colar, o mandaram latir como um cachorro em frente aos seus comandados. Numa pequena jaula, ele foi suspenso no mastro da galera, de modo a que todos nas embarcações e em terra pudessem vê-lo. Então, desceram a jaula e ele foi esfolado cruelmente, sua pele foi cuidadosamente retirada de seu corpo enquanto ele morria (a pele foi, mais tarde, preenchida com palha e mandada a Constantinopla como troféu). Milhares de venezianos e outros foram assassinados no local, ou levados como escravos nas galeras turcas ou para os haréns turcos.

Mas outros indivíduos das embarcações cristãs estavam também raivosos. Por décadas, os turcos tinham usado sua quase supremacia no Mediterrâneo para empreender constantes ataques às comunidades cristãs próximas ao mar e para raptar tanto jovens mulheres e homens para seus haréns, quanto homens fortes para trabalharem em suas galeras.

De fato, muitos escravos dos que remavam na frota turca que orgulhosa e confiantemente se adentrava no Golfo de Lepanto eram cristãos capturados dessas e de outras formas. Esses escravos passavam fome, eram surrados, viviam em meio a seus excrementos, e eram mantidos fortes o suficiente para manejar os grande remos aos quais eles eram acorrentados. Furiosamente, sob o deck, alguns desses escravos lutavam para se libertar das correntes, quando a batalha começou. Finalmente, alguns conseguiram e subiram para o convés, rodando suas correntes e causando grande desordem aos mussulmanos já engajados na batalha.

As duas maiores forças navais jamais reunidas – 280 navios na armada turca, aproximadamente 212 do lado cristão – se avistaram numa ensolarada manhã de 7 de outubro. Tão confiante estava o almirante turco, Ali Pasha, que ele velejou orgulhosamente até o centro de sua armada, trazendo com ele, em navios que o seguiam, toda a sua fortuna, e até parte de seu harém.

Os historiadores nos contam que um desânimo atingiu toda a Europa. Poucos tinham esperança de que a frota cristã pudesse evitar a maldição que parecia pairar sobre a Itália. O papa tinha recomendado a todos para rezar o rosário diariamente pelas corajosas tripulações das galeras cristãs. O rosário é uma oração simples que pode ser feita em quase qualquer lugar, e já tinha alcançado certa popularidade dentre as pessoas simples. Com cada dezena de Ave Maria, medita-se sobre diferentes eventos da vida de Jesus. As contas deslizam pelos dedos tão regularmente quanto o sangue no corpo, tão regularmente quanto as batidas do coração e a respiração dos pulmões.

Para resumir uma longa história, Dom João apontou sua própria galera para o coração da armada turca, diretamente em direção às velas coloridas da galera de Ali Pasha, com sua grande e verde bandeira em que estava escrito, em ouro, o nome de Allah 28000 vezes. O navio veneziano velejou furiosamente contra a ala direita turca, e com a ajuda dos revoltados escravos, destruiu aquela ala. Seis dos maiores navios cristãos estavam equipados com uma plataforma, elevada acima dos níveis normais, em que uma linha de canhões devastadores estava montada. Os disparos desses novos canhões foram contundentes, e dentro de minutos, dezenas de navios turcos foram afundados. O mar, testemunhas disseram, ficou coberto de marinheiros desorientados, turbantes flutuantes, pedaços de madeira e vela.

A paixão em defender sua própria civilização contra brutais invasores também fortaleceu os músculos daqueles engajados na luta sangrenta face-a-face, quando dois navios se emparelhavam. Mas foi principalmente o novo poder de fogo da frota cristã, que era menor, que fez a diferença. Com seu novo poder de fogo, a frota cristã rapidamente afundou galera após galera até que, depois de poucas horas, o centro de comando turco também desabou, como se tivesse sido cortado ao meio por uma faca fumegante. A galera do almirante foi capturada, junto a mais 240 navios turcos. Somente no outro flanco, alguns navios cristãos hesitaram, aproximaram-se do inimigo não muito determinados, e assim estimularam deserções de outras embarcações. Mesmo que atos de heroísmo tivessem lá acontecidos, um número de navios turcos foi capaz de escapar.

A vitória cristã foi muito mais completa do que alguém pudesse sonhar. A vitória pareceu a muitos miraculosa, e ela foi imediatamente atribuída a Nossa Senhora do Rosário – logo chamada por um novo nome, Nossa Senhora da Vitória. Por toda a Europa, nas cidades e vilarejos, os sinos das igrejas tocaram continuamente quando as notícias da vitória chegaram. Desde então, 7 de outubro tem sido celebrado como um dia de festa pela Igreja Católica.

Grandes salões de palácios no sul da Europa passaram a ostentar imensas pinturas celebrando o episódio dessa batalha épica. Toda a Europa, os historiadores recontam, respirou profundamente aliviada e grata. Foi como se uma nuvem opressiva tivesse sido deslocada, alguém escreveu. G.K. Chesterton escreveu um extraordinário poema épico sobre o grande evento, uma peça magnífica para se ler para as crianças – e mesmo para adultos maduros.

Como Osama bin Laden e outros freqüentemente citam essas batalhas, pelas quais ele ainda está buscando vingança, não é inoportuno para o Ocidente, mantê-las na lembrança. Juntamente com a data de 7 de outubro de 1571 – a grande vitória de Jan Sobieski sobre os turcos próximo aos portões de Viena em 11-12 de setembro de 1683 – merece ser lembrada. Mas houve outras grandes batalhas – algumas vitórias e algumas derrotas – nesse período de mil anos que ainda vive na memória, ou deveria viver.




Fonte: National Review on line

18/12/2007

Mensagem de Natal de 2007

Uma leitora anônima acaba de colocar um comentário na mensagem de Natal que postei neste blog em 2006. Diz ela:

“não entendo nada, mas aqui vai uma perguntinha: porque nós andamos por aqui sem saber o que estamos a fazer? não sabemos de nada, não entendemos nada,e esse tal de cristo ,nunca aparece por aqui para que agente possa dar-lhe um bom dia perguntar se ele está bem lá onde ele anda. deixou agente sozinhos por aqui e quer que agente esteja sempre rezar gostaria muito de uma explicação. vós que sabeis de tudo explique. obrigada”

A ironia da leitora trai seu mais profundo desespero e é a esse desespero que eu quero responder. A resposta será a mensagem do Natal 2007 aos leitores deste blog. O texto da mensagem é de C.S. Lewis e é parte do capítulo 5 de seu extraordinário “Mero Cristianismo”, edições Quadrante. Atente bem leitora para os últimos parágrafos deste belíssimo texto de Lewis. Recomendo também o texto de Gustavo Corção intitulado Se Ele não tivesse vindo.

“Cristo levou a cabo a rendição e a humilhação perfeitas: perfeitas porque era Deus, rendição e humilhação porque era homem. Ora, a fé cristã diz-nos que, se de alguma forma participarmos da humilhação e dos sofrimentos de Cristo, participaremos também da sua vitória sobre a morte e encontraremos, após o fim dos nossos dias, uma vida nova na qual nos tornaremos criaturas perfeitas e perfeitamente felizes.

“Isto significa algo muito mais importante do que simplesmente tentarmos seguir os ensinamentos de Jesus. As pessoas perguntam muitas vezes quando acontecerá o ‘próximo passo’ na evolução, o passo em direção a alguma coisa para além do humano. Mas, do ponto de vista cristão, esse passo já foi dado. Em Cristo, surgiu uma nova espécie de homem, e resta agora que o novo tipo de vida que se iniciou com Ele nos seja transmitido.

“Há três coisas que fazem a vida de Cristo chegar até nós: o Batismo, a Fé e esse mistério que diferentes grupos cristãos designam com nomes diferentes – a Sagrada Comunhão, a Missa, a Ceia do Senhor.

“Quanto a mim, confesso que não consigo entender por que precisamente essas três coisas – o Batismo, a Fé e a Sagrada Comunhão – deveriam ser os canais de propagação da nova vida; como aliás, se não mo tivessem explicado, também não teria compreendido nuca a conexão que há entre determinado prazer físico e o aparecimento de um novo ser humano sobre a terra.

“Mas não pense o leitor que eu esteja afirmando que o Batismo, a Fé e a Sagrada Comunhão são meios que venham a substituir os seus esforços pessoais por imitar Cristo. Você recebeu a vida natural dos seus pais, mas isso não significa que continuará a dispor dela se não fizer nada por preservá-la; pode perdê-la por negligência ou lançá-la for apelo suicídio. Tem de alimentá-la e cuidar dela, sem nunca perder de vista que não é você quem dá essa vida a si próprio, mas apenas conserva algo que lhe foi entregue por outras pessoas. Da mesma forma, um cristão pode vir a perder a vida de Cristo que lhe foi dada, e tem de esforçar-se por preservá-la, sem nunca esquecer que nem sequer o melhor cristão do mundo tem essa vida por si mesmo; apenas alimenta ou protege uma vida que nunca poderia ter adquirido graças aos seus próprios esforços.

“Por isso, o cristão está numa situação diferente da de outros homens que também se esforçam por ser bons. Estes esperam agradar a Deus, se é que ele existe, pelo seu bom comportamento; e, se pensam que Ele não existe, esperam pelo menos merecer a aprovação dos homens bons. Já o cristão reconhece que todo o bem que faz procede da vida de Cristo que traz dentro de si. Sabe que Deus não nos ama por sermos bons, mas que nos fará bons porque nos ama.

“Quero deixar bem claro que, quando os cristãos dizem que a vida de Cristo está neles, não se referem apenas a alguma operação mental ou moral. Quando proclamam que estão ‘em Cristo’ ou que Cristo está ‘neles’, não querem dizer simplesmente que pensam em Cristo ou procuram imitá-lo. Querem dizer que Cristo está ‘realmente’ atuando através deles; que toda a massa dos cristãos é o organismo físico através do qual Cristo atua; que eles são – nós somos – os dedos de Cristo e os seus músculos, as células do seu corpo.”

“Bem, na verdade os cristãos crêem que Ele desembarcará uma segunda vez com todo o seu poderio; só não sabemos quando. Mas podemos muito bem adivinhar por que está atrasando sua vinda; é que deseja dar-nos a oportunidade de aderir livremente a Ele.

“Sim, Deus voltará em triunfo. Só não sei se as pessoas que exigem dEle uma intervenção aberta e direta no nosso mundo realmente compreendem o que isso significará, quando acontecer. Porque, quando acontecer, significará o fim do mundo. No momento em que o autor de uma peça de teatro sobe ao palco, é porque a peça terminou.

“Hoje, agora, este momento: esta é a hora para escolhermos o lado certo. Deus ainda se mantém oculto justamente para nos dar essa oportunidade. Não o fará para sempre. Devemos aceitá-lo ou rejeitá-lo.”

Que o Altíssimo nos faça merecedores dessa nova vida que seu Divino Filho veio nos trazer. É o que eu desejo a todos os leitores deste blog.

15/12/2007

Os baby boomers devem uma desculpa aos nossos jovens

Dennis Prager


Vivemos em um tempo em que grupos pedem desculpas a outros grupos. Gostaria de adicionar mais um caso desses. A geração baby boomer[1] precisa pedir desculpas, especialmente aos jovens, pelos seus muitos pecados. Aqui vai uma lista parcial:

Primeiramente, e talvez principalmente, pedimos desculpa por termos roubado de vocês a infância.

Nós, baby boomers, tivemos provavelmente a mais inocente das infâncias que a história conheceu. Crescemos sem necessidades materiais, em um dos mais decentes lugares no mundo, com uma mídia que preservava nossa inocência sexual e outras inocências, em escolas que geralmente nos ensinavam bem, e brincávamos da forma mais inocente, menino com menina e menino com menino. Nossa geração impediu vocês de tudo isso. E mesmo conscientes da ameaça de uma guerra nuclear contra a União Soviética, poucos de nós estávamos temerosos por nossas vidas como hoje estão vocês com os perigos, de que convencemos vocês, sobre ser fumantes passivos, sobre o aquecimento global e sobre a AIDS entre os heterossexuais, só para mencionar uns poucos temores mortais exagerados que infligimos em vocês.

Nossa geração criou dois slogans verdadeiramente idiotas que terminaram roubando suas infâncias.

Um deles dizia, “Não acredite em ninguém acima dos 30 anos”. Nossa atitude infantil em relação à autoridade fez um grande mal a vocês. Por causa disso, muitos baby boomers decidiram não se tornar adultos, e isso teve conseqüências desastrosas em suas vidas. Isso retirou de vocês uma das maiores necessidades de suas vidas – os adultos. Isso, por sua vez, retirou de vocês algo tão importante quanto o amor – a autoridade de seus pais e de outros adultos. Com pequena autoridade dos pais, você foi deixado com sua insegurança pessoal, com poucas proteções e com um senso de ordem diminuído em suas vidas. E transferimos essa negação da autoridade para virtualmente todas as autoridades, de professores à polícia.

O outro slogan cujas horríveis conseqüências nós, baby boomers, deixamos de herança para vocês foi, “Faça amor, não faça guerra”. Nossos pais libertaram o mundo de um dos mais perigosos e imensamente cruéis regimes assassinos instalados na Alemanha e Japão – somente graças à guerra. Mas ao invés de concluirmos que a guerra fez um grande bem moral, nós cantávamos idiotamente letras insanas como “Dê uma chance à paz”, como se isso pudesse enfrentar um dos mais monstruosos males do mundo. Assim, ensinamos a vocês a fazer amor e não a guerra. E logramos êxito.

Fizemos de vocês indivíduos anti-guerra e quase completamente sexualizados em suas vidas. Dissemos a vocês que fazer sexo era muito bom, até mesmo na adolescência, e que as únicas coisas com que se preocupar eram as doenças sexualmente transmissíveis e a gravidez. E se vocês se engravidassem, nós nos asseguramos que vocês pudessem extinguir a vida que carregavam na barriga tão facilmente e sem culpa quanto possível.

Começamos por ensinar a vocês sobre sexualidade e homossexualidade no primário e ensinamos como usar caminhas em bananas. É verdade que não crescemos aprendendo essas coisas – certamente nossas escolas nunca nos ensinaram tais coisas – mas isso por causa, tal o considerávamos, daqueles ridículos, senão conservadores, anos 1950 e 1960. Desprezávamos nossos pais por acreditarem que “Father Knows Best”, “Leave It to Beaver” e “Superman” – com o slogan “verdade, justiça e american way” – eram coisas boas para os jovens assistirem. Então substituímos isso tudo pelos entorpecentes shows da MTV de três segundos de imagens saturadas de sexo. Desculpem-nos.

Também fizemos vocês mais fracos. Fizemos o possível para assegurar que vocês não sentissem nada doloroso. Algumas vezes mudamos resultados de jogos se um time estava ganhando de um placar muito grande; abolimos o dodgeball para que ninguém sofresse se fosse eliminado muito cedo do jogo; dávamos troféus a todos vocês que tivessem jogado basebol, não importando que você e seu time tivesse jogado mal, para que vocês não sofressem vendo somente o outro time ganhar o prêmio. Muito disso foi graças ao movimento auto-estima-sem-fazer-por-onde, que em nossa quase infinita falta de sabedoria nós infligimos em vocês. Desculpem-nos por isso também.

Também nos desculpamos por quase arruinarmos tantas escolas e universidades. Apesar de somas de dinheiro sem precedentes que os EUA gastavam em educação, a maioria de vocês tiveram uma educação muito inferior àquela que tivemos, com apenas uma fração do custo. Mas considerávamos nossos professores uns idiotas (eles tinham, afinal, mais de 30 anos) que se concentravam na leitura, na arte de escrever e na aritmética (e história, música e arte). Tínhamos a certeza que tínhamos razão e portanto nos concentramos em questões sexuais, e ensinamos a vocês sobre a paz, o aquecimento global e os horrores do fumo. O fato de que poucos secundaristas graduados conseguem identificar Mozart, muito menos foram expostos à sua música, é muito menos significante para muitos baby boomers do que nosso conhecimento dos alegados perigos enfrentados pelos fumantes passivos. Muitos de vocês não conseguem identificar também Stalin, e nos desculpamos por isso, também. Mas, olhe, nós nos asseguramos de que vocês assistiram o filme do Al Gore.

E uma real desculpa àqueles de vocês se viciaram em drogas. Apesar da escolha em usar drogas é sua responsabilidade, foi nossa geração que as romantizou e as fez uma coisa “legal”. “Expansão da mente” era a nossa expressão. Mas elas não expandiram as mentes, elas as destruíram. Desculpem.

E jovens mulheres, nós pedimos desculpas especialmente a vocês. Muitos de nós, baby boomers, compramos a idéia feminista de que casar e formar família com um homem era muito menos satisfatório que o sucesso na carreira e que o próprio casamento é “sexista” e “patriarcal”. Então, àquelas de vocês mulheres que têm uma carreira de sucesso e não se casaram, nós sinceramente pedimos desculpas. É que muitas carreiras terminaram não sendo tão satisfatórias quanto prometemos.

Assim, nós realmente arrasamos, e, o que é ainda mais extraordinário, poucos de nós mudamos de idéia. Muitos ficam mais sábios com a idade. Mas não aqueles de nós baby boomers que ainda acreditamos nessas coisas. Claro, muitos de nós nunca compramos essas horríveis idéias que tanto feriram vocês e nosso país, e alguns de nós crescemos. Mas muitos de nós ainda falamos, pensamos, nos vestimos e amaldiçoamos da mesma forma que fazíamos nos anos 1960 e 1970. E estamos ainda lutando contra o que consideramos o Eixo do Mal: o racismo americano, o sexismo e o imperialismo.

Mas, para aqueles de nós que conhecemos o estrago que os baby boomers, como um todo, fizeram a vocês, nossas mais sinceras desculpas.



[1] Geração que nasceu no pós-guerra até meados da década de 1960. (N. do T.)


Publicado por Townhall.com

03/12/2007

Americanos, eis aqui seus candidatos democratas à presidência

Dennis Prager



Se você deseja conhecer em que os candidatos democratas à presidência e o Partido Democrata acreditam, os debates, não raro ridicularizados como intelectualmente inconseqüentes, revelam muito. O problema é que a mídia quase nunca publica as mais importantes afirmações feitas pelos candidatos. Eis aqui, então, algumas dessas afirmações, tomadas do mais recente debate, seguidas de um comentário sobre seu significado.

Joseph Biden, sobre como ele trataria a Rússia: “Quem entre nós vai pegar o telefone e imediatamente falar com Putin e dizê-lo para se retirar da Geórgia, pois [presidente] Saakashivili está realmente encrencado.”

O senador Biden, diz que pegaria o telefone e diria ao presidente russo para se “retirar” um país vizinho. Uma das principais críticas dos democratas à administração Bush não é exatamente que ela tem feito uma “diplomacia de cowboy”? E qual a resposta que o senador Biden esperaria de Putin? “Sim, presidente Biden, seja feita a vossa vontade”. E são eles que dizem que o presidente Bush está desligado da realidade.

John Edwards, sobre a fome nos EUA: “Trinta e cinco milhões de americanos passaram forme, ano passado … O tema desta eleição será as 35 milhões de pessoas que passam fome todos os anos.”

Não há nenhuma verdade nessa acusação contra os EUA. O único fundamento para isso é um Relatório do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) dizendo que 35 milhões de americanos experimentaram uma “insegurança alimentar domiciliar” em 2006. Esse termo não significa, enfatiza o USDA, fome, mas ser forçado a reduzir a “variedade da dieta” ou comer “uns poucos alimentos básicos” em vários períodos do ano. Se um país pudesse processar alguém por difamação, os EUA deveriam abrir um processo contra o Sr. Edwards.

Barack Obama, sobre conceder a carteira de motoristas a imigrantes ilegais: “Quando fui senador por Illinois, votei para que os estrangeiros ilegais fossem treinados, conseguissem uma carteira, conseguissem um seguro saúde, tudo em nome da segurança pública. Essa era minha intenção.”

Obama, sobre não conceder a carteira de motoristas a imigrantes ilegais: “Não estou propondo que isso seja feito. O que estou dizendo é que não podemos – [interrompido por risadas]. Não, não, não, não, veja, eu já disse que eu apoio a nossa idéia de tratar a segurança pública e a concessão de carteiras de motorista em nível estadual, o que pode dar resultados. Mas o que também digo, Wolf [Blitzer], é que se continuarmos sendo distraídos por esse problema não teremos como resolvê-lo”

Qual é exatamente a posição do senador Obama sobre conceder a carteira a imigrantes ilegais? Claramente, ele é a favor e contra. Mas, ainda mais importante, ele é contra ser distraído por isso.
Dennis Kucinich, sobre conceder carteiras de motorista a imigrantes ilegais: “Discuto sua descrição das pessoas como sendo imigrantes ilegais. Em primeiro lugar, não há seres humanos ilegais.”

Quem disse algo sobre “seres humanos ilegais”? “Imigrante ilegal” descreve o status de imigração de alguém, não sua humanidade. Tal afirmação confunde o discurso público.

Hillary Clinton (discursando no Paquistão), sobre a ligação entre a democracia num país islâmico e a segurança americana: “Há uma clara conexão entre um regime democrático e a elevada segurança dos EUA.”

Não é isso precisamente o que o presidente Bush tem dito por anos sobre o Iraque? E não é exatamente essa idéia que os democratas tem desprezado?

Bill Richardson, sobre estratégia militar no Iraque não estar funcionando: “Não devíamos estar falando sobre o número de mortos. A morte de um americano já é excessiva.”

Ao analisar o sucesso de uma mudança de tática militar, um homem que pretende ser o comandante-em-chefe diz que “não devíamos estar falando sobre o número de mortos.” E por quê? Porque “a morte de um americano já é excessiva.” Se alguém tivesse perguntado ao Gov. Richardson sobre se uma nova política de tráfego, que reduzissem grandemente as fatalidades do trânsito, estivesse dando certo, ele responderia, “Não devíamos estar falando sobre o número mortos ... a morte de um americano já é excessiva.”

Obama, sobre o mesmo tema (Blitzer: “Colocarei a mesma questão para o senhor: A estratégia do General Petraeus está funcionando?”): “Não há dúvidas de que porque enviamos tropas ao Iraque -- mais tropas americanas ao Iraque, que estão fazendo um magnífico trabalho e uma diferença em certas localidades. Mas a estratégia geral é um fracasso, pois não temos visto uma mudança de comportamento dos líderes políticos iraquianos. E essa é a essência do que deveríamos estar tentando fazer no Iraque.”

A “essência” do que as tropas fazem em guerra é vencer o inimigo. O que “uma mudança de comportamento dos líderes políticos iraquianos” tem a ver com a questão a respeito do aumento de tropas estar funcionando?

Clinton, sobre se ela explorará, na eleição, o fato de ser mulher: (Campbell Brown: “Senadora Clinton, a senhora visitou sua alma mater recentemente, Wellesley College, e disse lá que sua experiência a preparou para competir em qualquer ‘clube de meninos’ da política presidencial. Ao mesmo tempo, sua campanha tem acusado esses ‘clubes de meninos’ de estarem exagerando seus ataques contra a senhora. E então seu marido recentemente veio em sua defesa dizendo que os ‘meninos’ estão se tornando agressivos com a senhora e alguns têm sugerido que a senhora, que a sua campanha, que seu marido estão explorando o gênero como uma questão política durante a campanha presidencial. O que está realmente acontecendo?”): “Bem, eu não estou explorando nada, absolutamente. Não estou usando, como alguns dizem, the gender card ....”

À luz da questão, deixarei ao leitor a determinação da credibilidade da negação.

Richardison, sobre se ele retiraria do Iraque todas as empresas contratadas pelo governo (“O senhor sabe que senador Obama disse que retiraria todas as empresas privadas contratadas, se ele fosse presidente. Mas sabendo quão sobrecarregados nossos militares estão, o senhor acha essa uma solução prática?”): “Sim. Eu retiraria os contratados.”

A quem, então, o senador Obama e o governador Richardson entregariam a reconstrução do Iraque?

Obama, sobre a elevação a alíquota de imposto de segurança social dos americanos: “O que podemos fazer é apenas ajustar a faixa máxima do imposto ... Entenda que somente 6% dos americanos ganham mais de US$ 97.000 por ano, apenas 6% não pertencem á classe média – são a classe rica.”

Segundo o senador Obama, uma família de quatro pessoas cujo rendimento bruto anual é de US$ 96.000 é rico. Todos os americanos deveriam entender a quem os democratas consideram “rico”, quando eles falam de aumentar os impostos para “os ricos”.

Clinton, Obama e Edward, sobre o aborto como questão de privacidade (“Senadora Clinton, seria uma condição sine qua non para a senhora que todos que a senhora nomear para a Suprema Corte compartilhe suas idéias sobre o aborto?”):

Clinton: “Bem, eles teriam de compartilhar minhas idéias sobre privacidade, e penso que isso está ligado [ao aborto]. Privacidade, em minha opinião, faz parte de nossa Constituição.”

Obama: “Eu não nomearia alguém que não acreditasse no direito à privacidade.”

Edwards: “Eu insistiria que eles reconhecessem o direito à privacidade e reconhecesse Roe v. Wade como lei.”

Vale a pena observar que muitos acadêmicos esquerdistas pró-escolha, tal como o prof. da Faculdade de Direito de Harvard, Laurence Tribe, têm falado de Roe v. Wade usando o direito à privacidade para legalizar o aborto por meio da jurisprudência. Há argumentos racionais para que se evite que toda mulher que cometa o aborto seja criminalizada, mas o argumento de que matar um ser humano na fase uterina é somente uma questão de privacidade não é um deles.

Obama, sobre os EUA ensinar os islâmicos a amar ou a odiar os EUA: “Não vamos apenas liderar militarmente; vamos liderar por meio da construção de escolas no Oriente Médio que ensine matemática e ciência, ao invés de ódio aos americanos.”

Outro democrata que acredita que o anti-americanismo no mundo islâmico é culpa dos americanos, e que ele pode, portanto, ser desfeito pela construção de escolas lá. E é o presidente Bush que é acusado de estar “desligado da realidade.”

Clinton, sobre como os americanos deveriam agir: “Vamos reunir os melhores que temos nos EUA e começar a agir como americanos novamente, a fim de resolvermos nossos problemas e fazer a diferença.”

A senadora Clinton usa esta frase – “Vamos começar a agir como americanos de novo” – repetidamente. Se essa é alguma frase em código para as esquerdas, tudo bem. Mas o restante de nós não sabe o que ela significa. Quando os americanos pararam de agir como americanos? E o que significa mesmo “agir como um americano”?

Essas são algumas das palavras e pensamentos, de somente um debate, daqueles que almejam a nomeação do Partido Democrata como candidato à presidência dos Estados Unidos.

É importante também observar que, como em outros debates prévios, nenhum pré-candidato democrata jamais mencionou o terror “jihadista” ou “islâmico”.

E um deles pode muito bem ser o próximo presidente dos Estados Unidos.

Publicado por Townhall.com

17/11/2007

Caro sen. Dodd: Educação não é uma resposta para todos os problemas

Dennis Prager


No debate entre os candidatos presidenciais democratas na última semana[1], eles foram instados a comentar questões sobre educação. Este foi o comentário do senador de Connecticut, Chris Dodd:

“Sempre me fazem esta pergunta. ‘Qual é a questão mais importante de todas’. Eu sempre respondo que é a educação, porque ela é a resposta para qualquer outro problema com o qual nos confrontamos hoje.”

Nem é preciso dizer que nenhum outro candidato contra-argumentou, e é provável que a maioria dos senadores, todos os democratas e muitos republicanos, concordaria com esse sentimento.

Mas o sentimento não está somente errado, ele é destrutivo.

Há, claro, ligações entre educação e sucesso profissional, entre educação e a habilidade de ler e escrever. E obviamente precisamos de pessoas bem educadas para sermos capazes de competir com outros países. Mas, pelo menos há algumas poucas gerações no Ocidente, não há nenhuma ligação entre educação superior e decência humana.

Ponto final.

Esse é um dos muitos mitos em que crêem as pessoas instruídas da sociedade ocidental (que as pessoas nascem boas é outro mito). Mas não há uma única sombra de evidência para apoiar tal afirmação.

De fato, os registros dos últimos cem anos –a respeito da ligação entre a educação superior e a bondade – mostram uma conexão inversa. Em termos simples, os portadores de diploma universitário na sociedade ocidental têm maior probabilidade de possuir horríveis valores morais e de apoiar crueldades em massa do que os menos educados.

Os dois grandes males do século XX – o fascismo e o comunismo – foram freqüentemente liderados por indivíduos instruídos. E o comunismo foi apoiado, no Ocidente, quase exclusivamente por intelectuais. Você quase tinha de ser intelectual para apoiar os assassinos em massa Lênin, Stalin e Mao.

Peça a qualquer pessoa instruída para identificar o nível educacional dos assassinos nazistas que conceberam os einsatzgruppen, as unidades assassinas móveis que massacravam judeus e dissidentes antinazistas antes da invenção das câmaras de gás. Uma aposta segura é a de que grande parte responderia que a maioria dos membros dos einsatzgruppen era de baixo nível educacional. De fato, contudo, dos quatro einsatzgruppen enviados à Rússia, por exemplo, “Três dos quatro comandantes tinham um doutorado, e o quarto tinha um duplo Ph.D.” (HolocaustResearchProject.org). Dentre esses assassinos em massa “se incluíam muitos oficiais de alta patente, intelectuais e advogados. Otto Ohlendorf, que comandou o Einsatzgruppe D, tinha graus acadêmicos de três universidades e um doutorado em jurisprudência” ("The Einsatzgruppen Reports," Holocaust Library, 1989).

Segundo o Prof. Michael Mann – cujo livro, “Facistas”, publicado pela Cambridge University Press em 2004, foi declarado pela American Historical Review “de longe o melhor estudo comparativo dos fascismos entre-guerras” – “todos os movimentos fascistas no período entre-guerras atraíram desproporcionalmente os instruídos, ‘os estudantes secundaristas e universitários e o estrato mais altamente educado da classe média’.”

Se muitos graduam nas universidades ocidentais com bons valores morais, isso é a despeito, raramente por causa, da educação universitária.

Mesmo assim, apesar da evidência do fracasso moral da educação superior, muitos esquerdistas negam a ligação entre valores imorais e educação superior e continuam a perpetuar o mito da educação como a solução dos problemas sociais.

Eles assim o fazem por várias razões.

Primeiramente, a universidade é para o esquerdista secular o que a igreja é para o cristão ou a yeshiva (academia Talmúdica) é para o religioso judeu – um lugar sagrado e o epicentro de seus valores.

Em segundo lugar, é por meio do controle da educação superior (e da mídia) que os valores esquerdistas são mais efetivamente comunicados à próxima geração. Mesmo a mídia tem uma maior diversidade ideológica do que as universidades ocidentais, que transmitem quase exclusivamente a visão de mundo esquerdista.

Em terceiro lugar, a educação secular esquerdista é o melhor antídoto ao sistema de valores judaico-cristão, coisa que a esquerda mais teme.

E há uma quarta razão que faria um senador democrata, em particular, dizer que a educação é a “resposta para todos os problemas”. Os sindicatos de professores e a Associação Nacional de Educação doam grandes somas ao Partido Democrata.

Há, claro, uma forma de educação que pode, realmente, resolver a maioria dos problemas sociais: educação moral. Ela consistiria no ensino aos jovens do que é bom e do que é mal, de como desenvolver a integridade pessoal e de como foram as vidas dos melhores indivíduos da História.

Mas pouco ou nada disso é feito, hoje, nas escolas. “Bom” e “mal” são termos raramente usados, e são usualmente desprezados como “maniqueístas”. Integridade pessoal é essencialmente definida como assumir posições esquerdistas em questões sociais tais como aquecimento global, casamento entre pessoas de mesmo sexo e redistribuição de renda. E os melhores americanos – aqueles que construíram as fundações de nossa liberdade – têm sido difamados como vilões, proprietários de escravos e racistas.

Então, senador Dodd, a educação como a que presentemente existe, não é uma resposta para todos os problemas da sociedade. De fato, ela é, tanto ou mais, a fonte de muitos deles.

Publicado por Townhall.com

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[1] Artigo escrito em 06/11/2007. (N. do T.)