16/02/2008

Propriedade Privada e Pena de Morte

Como sabemos, o nível de conhecimento dos católicos em geral sobre a doutrina da Igreja Católica está diminuindo numa rapidez incrível. Isso não chega a ser uma surpresa para quem acompanha a grande crise da Igreja, sobretudo depois do Concílio Vaticano II. O que era, no século XIX e no início do século XX uma preocupação dos papas, se torna hoje uma realidade inquestionável.

Só para citar um exemplo, o Papa São Pio X, na encíclica SACRORUM ANTISTITUM (1 de setembro de 1910), diz dos sermões e homilias dos padres modernistas de então: “Procuram lisonjear os ouvintes ‘que são movidos pelo prurido de novidade’, contanto que mantenham as igrejas cheias, embora as almas não sejam curadas por permanecerem vazias. Por isso não falam nunca do pecado, nunca dos novíssimos, nunca de outras verdades gravíssimas que poderiam abalar a salvação, mas falam somente ‘com palavras de bajulação’; e isso o fazem também com eloqüência mais de tribunal do que de apóstolos, mais profana do que sagrada, atraindo para eles aplausos; esses já haviam sido condenados por São Jerônimo, quando escreveu: ‘Quando tu ensinas em assembléia, seja suscitado não o aplauso do povo, mas o arrependimento; teu louvor sejam as lágrimas dos ouvintes’.” [ênfases minhas]

Lembremos de um dito popular antigo: “Padre santo, povo piedoso. Padre piedoso, povo bom. Padre bom, povo aceitável. Padre aceitável, povo tíbio. Padre tíbio, povo ruim. Padre ruim, povo corrupto. Padre corrupto, povo péssimo”.

Vocês podem escolher em qual desses níveis acima nos encontramos. Daí, o povo católico estar à mercê de todo tipo de confusão.

Há duas discussões recentes no blog do Reinaldo de Azevedo, que são questões a respeito das quais a Doutrina Católica tem uma posição muito clara. Elas ilustram a situação de desconhecimento em que nos encontramos.

Uma delas se refere ao quinto mandamento (Não matar) e a outra ao sétimo mandamento da Lei de Deus (Não roubar).

Em resumo, a questão sobre o quinto mandamento surgiu quando Reinaldo Azevedo saúda a morte de um terrorista árabe sanguinário e seus críticos logo lembram que ele, como católico, não devia saudar a morte de ninguém. Ele explica sua posição assim (cito de memória): “A morte de só homem nos diminui a todos. A morte de um sanguinário nos eleva a todos. Isso não nos desobriga de rezar pela alma dele.”

Ele está certo! Dentre as situações em que não há violação do quinto mandamento há a legítima defesa e a pena de morte (também a guerra santa). Sim, irmãos católicos, a Igreja apóia a pena de morte. Leiam o Catecismo em vigor, itens 2265 e 2267. A pena de morte deve ser aplicada exatamente em criminosos sanguinários, “se essa for a única via praticável para defender eficazmente a vida humana contra o agressor injusto”, com diz o catecismo.

Só para lembrar aos esquecidos católicos, houve uma época em que parte da cristandade, sob influência herética, condenou, contra as afirmações da Igreja, a guerra e a pena de morte como coisas más em si. Estávamos então em pleno renascimento (o verdadeiro) medieval, nos séculos XII e XIII. Quem defendia essas idéias eram os cátaros, seita herética que quase destruiu toda a humanidade, não fosse a reação armada articulada pela Igreja. Isso nos deixa uma lição muito importante: idéias têm conseqüências.[1] Atenção: os verdadeiros ancestrais dos pacifistas modernos são os cátaros. Não tenham dúvidas disso.

A outra questão surgiu quando Reinaldo Azevedo comenta sobre o padre que está estimulando a invasão de terras pelo MST. Ele comenta que a CNBB não apoiou o tal padre e que reafirmou que a Igreja defende o direito de propriedade. Sim, irmãos católicos, a Igreja determina o respeito à propriedade privada, por mais que os padres comunistas modernos nos afirmem o contrário. Leiam os comentários ao sétimo mandamento do Catecismo em vigor, itens 2408 e 2409.

É claro que apenas ouvindo as homilias dos padres modernos, ou mesmo, lendo os comentários bíblicos nas edições modernas das Sagradas Escrituras[2], teremos a certeza de que todos os profetas do Antigo Testamento, Jesus Cristo e os apóstolos foram todos comunistas e pacifistas desde criancinha.

[1] A propósito, há um livro extraordinário de Richard Weaver com este título. Eu traduzi a introdução desse livro e o postei aqui no blog.
[2] Ver, Exegese de uma exegese bíblica.

12 comentários:

Anônimo disse...

Professor,

Li o artigo do reinaldo,mas fiquei na dúvida à época.

a questao e a seguinte. a Igreja defende a pena de morte. isto é certo.

mas a morte do terrorista é uma pena de morte ?

nao deveria ter havido um julgamento previo ?

alexandre

Unknown disse...

Justiça seja feita, se esse desumano fosse julgado no "braziu", ele seria absolvido e ainda processaria os acusadores de calúnia e difamação. Justiça nesse caso, só a divina.

Anônimo disse...

mas se eh pena nao deve haver julgamento previo ????

Antonio Emilio Angueth de Araujo disse...

Caros Alexandre e anônimo,

Terrorista está, por definição, em guerra permanente. Então, se ele é preso pelo adversário, para que lhe seja aplicada a pena de morte, ele deve ser julgado.

Agora, se ele é morto na batalha (que é permanente para o terrorista e para eu adversário) então aí se trata de guerra justa (Ver Catecismo Romano, III Parte, Cap6, item II[5]).

Antônio Emílio Angueth de Araújo

Unknown disse...

Antônio,

tem alguma publicação do Catecismo em vigor na internet?

Anônimo disse...

Agora o Reinaldo é defensor de pesquisas com embriões humanos. Bom, amanhã cancelo minha assinatura da Veja. Só tinha assinado mesmo porque ele havia se mudado pra lá...

Anônimo disse...

Vc vai cancelar a assinatura da Veja pq o reinaldo não defende integralmente a doutrina da igreja ?????

Vc está querendo muito dos jornalistas de hj em dia.

Já ter um Reinaldo e um Olavo é um alento

Anônimo disse...

Aqui é novamente o anônimo das 20:48. Respondo ao que me respondeu, o anônimo das 07:13.

Vou cancelar a assinatura da Veja porque o Reinaldo agora defende a coisificação e o extermínio de embriões humanos. Já é motivo suficiente, não? Imagine os milhões de embriões que serão mortos. Como a posição dele em nada difere da revista, eu não vou financiar a propaganda dos que querem matar embriões.

Antonio Emilio Angueth de Araujo disse...

Caros,

Eu rezo todos os dias por Olavo, Reinaldo e Orlando Fedeli.

Olavo e Reinaldo nunca poderão defender integralmente a Igreja, pois, são católicos liberais. Não exijamos deles o que eles não podem dar. E o que eles podem dar já é muito, num país em decomposição moral e intelectual. Rezemos por eles. Eles são imprescindíveis para o Brasil.

Se vocês quiserem ler sobre o que o liberalismo fez com a Igreja, sugiro Do Liberalismo à Apostasia, de Mons. Marcel Lefebvre, e Liberalism Is a Sin, de D. Felix Sarda Y Salvany.

Quando um dos dois pisa no tomate, o que devemos fazer? Devemos refletir muito, pois se eles tem uma mente tão brilhante e ainda assim pisa no tomate, imaginem nós que somos apenas homens comuns. Devemos refletir sobre o que os fizeram deslizar e aprender com isso.

Mais uma vez: rezemos por eles.

Antônio Emílio A. de Araújo.

Anônimo disse...

Professor,

O mandamento "Não matarás" perdeu completamentamente seu significado. Antes de significar não matar corpos, ele significou, não matar almas. Essa compreensão é que nos faz entender a aplicação da pena de morte no AT, até mesmo em momentos próximos ao recebimento dos mandamentos. E na Inquisição, onde protegia-se a vida espiritual de uma vida meramente carnal. Como dizia Santo Agostinho; " Qua morte pior à para alma que a liberdade do erro? "

O mesmo se aplica ao mandamento "Não furtar". Também roubamos quando tiramos um bem espiritual de nosso próximo. Quase todos os mandamentos tem um aspecto espiritual, antes de possuir um aspecto material. Infelizmente hoje, os significados dos mandamentos , estão estritamente ligados ao materialismo.

Terroristas e traficantes, são almas mortas, eles matam almas e corpos. Vivem apenas uma vida material, por isso a pena de morte no caso deles, é justa e necessária.

O Estado deveria proteger a alma de seus cidadãos, mas isto tornou-se assunto religioso. Quem poupa os lobos, mata as ovelhas, já dizia Victor Hugo. Fique com DEUS.

Anônimo disse...

Caro professor Angueth,lendo os comentários dos amigos deste blog maravilhoso,há o seguinte comentário do sr. Gederson:

" Gederson disse...
Professor,

O mandamento "Não matarás" perdeu completamentamente seu significado. Antes de significar não matar corpos, ele significou, não matar almas. Essa compreensão é que nos faz entender a aplicação da pena de morte no AT, até mesmo em momentos próximos ao recebimento dos mandamentos. E na Inquisição, onde protegia-se a vida espiritual de uma vida meramente carnal. Como dizia Santo Agostinho; " Qua morte pior à para alma que a liberdade do erro? "

O mesmo se aplica ao mandamento "Não furtar". Também roubamos quando tiramos um bem espiritual de nosso próximo. Quase todos os mandamentos tem um aspecto espiritual, antes de possuir um aspecto material. Infelizmente hoje, os significados dos mandamentos , estão estritamente ligados ao materialismo.

Terroristas e traficantes, são almas mortas, eles matam almas e corpos. Vivem apenas uma vida material, por isso a pena de morte no caso deles, é justa e necessária.

O Estado deveria proteger a alma de seus cidadãos, mas isto tornou-se assunto religioso. Quem poupa os lobos, mata as ovelhas, já dizia Victor Hugo. Fique com DEUS.

13:38"

Confessso que não havia atinado acerca deste fato-caso seja verdadeiro,é claro,à luz do Cristianismo e/ou do Antigo Testamento-,ou seja,de que os mandamentos citados tratam do aspecto espiritual,e não material!!!

É isso mesmo,caro professor Angueth?

Agradeço eventual resposta,pois sei que para um estudioso o tempo é sempre exíguo!

Um abraço!!!

KIRK

JBM disse...

Caríssimos colegas leitores: 1. Assino a Veja, na falta de publicação melhor com relação aos temas que aborda. Também li,na época, o comentário do Reinaldo Azevedo. 2. Com todas as vênias, agora ele não se mostra apenas um "católico liberal", e, sim, uma pessoa que se contradiz: isto porque na recente morte de Gaddafi, agora ele acha que foi uma barbárie e se fechou ao respeitoso comentário que fiz nesse sentido (pela primeira e última vez, aliás, porquanto nunca comentei em nenhum outro blog a não ser este, do Prof. Anguet, onde fui caridosamente acolhido) e quando fui fazê-lo, ainda que observando rigorosamente as normas da revista, "não dei sorte", pois, além de ter o nome e o e-mail no site (aí sim, com desrespeito às regras da própria revista, junto com esses dados não foi publicado o comentário!!!Tive que ceder a uma segunda intervenção, desta feita apenas para pedir, fosse retirada a identificação, no que foi prontamente atendido, mas sem qualquer palavra para explicar o ocorrido. Talvez a escolha da política (incluida a "pequena política", de fatos sem nenhuma relevância para o país) como tema do blog do Reinaldo também tenha contribuído para a "pisada no tomate" de vez em quando --- como aliás, acontece comigo e com bastante, ainda que não desejada, frequencia. De qualquer forma, como dito pelo Prof. Anguet, merece ele muita consideração e respeito pelas valiosas opiniões que expressa, sendo a maioria delas correta e pertinente; pena que a escolha tenha sido a política, tanto a legítima, quanto a menos nobre do dia a dia do nosso País. "pisadas no tomate, sim; mas falta de coerência, sem justificativa é outra história. De todo modo, como foi dito, é um dos homens imprescindíveis ao país e à recuperação moral do Brasil.
Fraternalmente, JBM