29/01/2019
Ministra Damares e a Teoria da Evolução
23/01/2019
O deslocamento da função magisterial depois do Concílio Vaticano II, por Romano Amerio - Parte VII
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VII – Do antigo Magistério ao novo e a unidade das heresias
32. Na Suma Teológica, a dispersão do um no múltiplo, no que
concerne à verdade, é bem delimitado e reconhecido: “Por onde devemos dizer,
que o objeto da infidelidade é a verdade primeira, como aquilo de que ela se
afasta; mas o seu objeto formal, como aquilo para o que se converte; é a
ciência falsa que ela segue, e por este lado se lhe diversificam as espécies.
Portanto, assim como a caridade é uma só, a que se une ao sumo bem; mas
diversos os vícios a ela opostos não só por buscarem bens temporais diversos,
afastando-se do sumo bem, mas, além disso, por causa das relações diversas
desordenadas, para com Deus; assim também é a fé uma virtude só, por unir-se à
verdade primeira única, ao passo que as espécies de infidelidade são muitas,
por seguirem os infiéis opiniões falsas diversas” (S. Th IIa IIae Q.10, Art. 5,
ad.1).
33. Mas hoje, aqueles que negam os artigos da fé professados
nas manhãs de domingo não se acusam mais em confissão! Ontem havia os arianos,
os donatistas, os sabelianos; em seguida os luteranos, os calvinistas, os
valdenses. Hoje, os hereges permanecem católicos (como os católicos) porque não
há mais o temor da contradição, o pudor de distinguir as coisas católicas das
não católicas. A contradição é uma coisa profunda; é mesmo a coisa mais
profunda do ser. O princípio da contradição é um dos primeiros princípios, e é
a coisa mais profunda do ser, pois está na relação mais estreita com o ser. Se
o ser é profundo, pois é o primeiro princípio, sua contradição, sua oposição é
igualmente profunda. Quando estamos em tal ordem de reflexão, estamos em níveis
profundos; não podemos ir mais fundo. Assim, dever-se-ia prestar atenção à
contradição, dever-se-ia teme-la, se horrorizar. Hoje em dia, a contradição não
aterroriza; vamos ao seu encontro, acolhemo-la, abraçamo-la. Tudo é o seu
contrário e os não-católicos são também católicos.
34. Santo Agostinho distingue três conceitos no ato da fé: “credere Deo, credere Deum, credere in Deum”.
Em relação a esses três aspectos do ato da fé cristã, como se situam, hoje, os
teólogos que controlam a opinião geral? Parece-me que o conceito que se
desvanece é aquele de Deus como coisa crida, credere Deum, isto é, que Deus,
como matéria de fé, se dissolve. Ao contrário, mesmo os teólogos modernos
sustentam o crer em Deus, isto é, confiar-se, por um movimento do espírito, à
vontade de Deus. Portanto, aqui o aspecto confiante da fé sobrevive, conceito este
mais próximo da ideia que os luteranos têm da fé “crendo nos aproximamos de
Deus”, como diz Santo Tomás de Aquino na Suma (S. Th. II-II, Q.2, a.2) “da fé
se encarrega a caridade”[1].
Mas se não creio Deus, não posso crer em Deus. De fato, se não creio na
existência de Deus, tal qual anunciado no símbolo Niceo-Constantinopolitano,
como poderia crer na força de sua Autoridade?
35. A decadência da Autoridade superior, na qual entretanto
todos devem crer, tem conduzido ao deslocamento da autoridade didática da
Igreja que, da Hierarquia do Magistério, é transferida à massa dos teólogos. É
a dissolução da Autoridade, pois crendo-a a fé é especificada, já que o motivo
da fé é “crer no que Deus disse”. De fato, se duvidamos da existência
providencial da Autoridade, não poderemos crer que as Sagradas Escrituras nela
se originam. E, de fato, hoje em dia as Sagradas Escrituras são lidas como um
gênero literário, análogas àquelas das tradições islâmicas, hinduístas, judias,
que não são mais que tradições humanas. Deus não são delas a causa; no máximo,
seu fruto, sua consequência. Todos os teólogos creem o que eles creem
unicamente em relação ao que suas argumentações ou suas opiniões autorizam a
crer: aí está toda sua autoridade. Não é mais a autoridade sobrenatural que se
revela e que leva a crer além da razão, mas uma autoridade argumentativa,
ponderada, cientificamente demonstrável.
36. Uma questão na Suma de Santo Tomás (S. Th. IIa IIae,
q.5, a.3) pergunta se um herege, que nega um artigo da fé, pode ter uma fé esclarecida
sobre os outros artigos. A resposta é negativa, pois os artigos da fé são cridos,
pois que revelados por Deus e o homem não pode discernir um artigo do outro e
não pode rejeitar um e aceitar os outros, pois se ele assim procede, ele já
renegou o princípio da fé: todos os artigos da fé são cridos, “pois que revelados”.
Se se exclui um, pretende-se que este não é revelado e o princípio geral da fé,
que não está em nós, mas fora de nós, é lesado. Santo Tomás ensina constantemente
que a causa formal da fé é precisamente a veracidade de Deus.
37. Hoje o homem deseja crer somente naquilo que compreende:
a fé lança aqui suas raízes nos homens e os arrebata para onde eles devem
estar, em Deus, em Jesus Cristo, no Verbo revelador, como lembra o Apóstolo: “Se
te vanglorias, fica sabendo que não és tu que sustenta a raiz, mas a raiz a ti”
(Rom. 11, 18). Geralmente a significação do ato de fé é negligenciado. “Crer”
parece ser uma atitude psicológica arbitrária. De fato, “crer” supõe a imolação
do princípio supremo do homem: não poderíamos fazer maior sacrifício.
Sacrificar os sentidos é certamente meritório, mas sacrificar a inteligência,
que é a parte mais elevada do homem, isto é uma ação quase inacreditável:
somente se pode realiza-la por força da graça.
38. A arrogância da razão privada se manifesta na pretensão
de escolher: “Nesta coisa eu não creio, pois ela não parece nem razoável nem
possível, naquela outra, ao contrário, eu creio porque a considero razoável e
possível”. O herege se explica, como cada palavra, pela etimologia. “Heresia” é
uma palavra de origem grega, airùmai, que significa “eu tomo”. A heresia é uma “eleição”
das coisas a crer. Essa eleição se faz sobre a base do critério individual, enquanto
que os artigos da fé são todos cridos porque revelados, e isto é tudo!
39. O papel da teologia é de esclarecer e de bem articular o
que nós cremos. Por exemplo, se cremos na Imaculada Conceição, a teologia deve
explicar o conceito de “concepção”, ela deve, assim, trazer uma variedade de
esclarecimentos sobre todas as partes do dogma para que ele seja revelado na
sua totalidade e na sua profundidade. Ao contrário, os teólogos novidadeiros,
aqueles da nova evangelização, se fundamentam no princípio de que o que cremos
deve ser inteligível, deve ser racional, e para procurar esse elemento de
inteligibilidade, eles negam a substância da fé. De fato, pretender compreender
alguma coisa sobre o dogma da Imaculada Conceição é uma heresia. Compreender alguma
coisa, que é de si sobre-inteligível, não é possível. Se você pretende
compreendê-la, se pretende resolvê-la, você é um herege: você nega a ordem
sobrenatural, nega a ordem da fé.
20/01/2019
Comunhão de Lula na prisão e um livro de presente
19/01/2019
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