A IGREJA Católica ocidental conhece a festa da Invenção da Santa Cruz, celebrada no quinto e sexto século, em memória da célebre aparição do sinal da Cruz, na batalha da ponte Mílvia, que deu a vitória ao imperador Constantino sobre seu competidor Maxêncio, e a festa da Invenção do Santo Lenho, pela Imperatriz Santa Helena. A liturgia dos nossos dias, porém, reserva o dia 3 de Maio à celebração da Invenção da Santa Cruz e à Aparição maravilhosa na batalha acima referida, dando-lhe o título: Festa da Invenção da Santa Cruz. O dia 14 de Setembro, dia da Festa da Exaltação da Santa Cruz, comemora o glorioso fato da reconquista da Santa Cruz das mãos dos Persas.
Chosroes II, rei da Pérsia, pegara em armas contra o império
oriental romano (610), sob o pretexto de querer vingar as crueldades que o
imperador Phocas tinha praticado contra o imperador Maurício. Phocas
desapareceu e teve por sucessor Heráclio, governador da África. Este fez
proposta de paz a Chosroes, que este rejeitou. Uma cidade após outra caiu em
poder dos Persas, sem que Heráclio lhes pudesse tolher os passos. Senhor de
Jerusalém, Chosroes praticou as maiores atrocidades contra sacerdotes e
religiosos, reduziu à cinza as igrejas, e entre outras preciosidades, levou
também a parte do Santo Lenho, que Santa Helena tinha deixado na cidade Santa.
Heráclio pela segunda vez pediu a paz. O rei bárbaro
respondeu-lhe com arrogância e orgulho: "Os Romanos não terão paz,
enquanto não adorarem o sol, em vez de um homem crucificado". Vendo assim
frustrados todos os esforços, Heráclio pôs toda confiança em Deus e em 622
marchou contra a Pérsia. Vitorioso no primeiro encontro, na Armênia, no ano
seguinte o exército cristão conquistou Gaza, queimou o templo, junto com a
estátua de Chosroes, que nele se achava. Chosroes mesmo foi assassinado pelo
próprio filho, com o qual Heráclio celebrou a paz. Uma das primeiras condições
desta paz foi a restituição do Santo Lenho, o qual Heráclio levou em triunfo
para Constantinopla.
Uma vez livre do jugo dos Persas, Heráclio resolveu a solene
trasladação do Santo Lenho para Jerusalém. Na primavera do ano de 629, com
grande comitiva, foi a Cidade Santa, levando consigo a preciosa relíquia.
Festas extraordinárias prepararam-se na Palestina. Em procissão soleníssima foi
levada a Santa Cruz, para ser depositada na igreja do Santo Sepulcro, no monte
Calvário. O Imperador tinha reservado para si a honra de a carregar. Chegada a
procissão à porta da cidade que conduz ao Gólgota, Heráclio, como retido por
forças invisíveis, não pôde dar mais um passo adiante. O patriarca Zacarias,
que se achava ao lado do Imperador, levantou os olhos ao céu e como por
inspiração divina, disse-lhe: "Senhor! Lembrai-vos de que Jesus Cristo era
pobre, quando vós andais vestido de púrpura; Jesus Cristo levava uma coroa de
espinhos, quando na vossa cabeça vejo brilhar uma coroa preciosíssima; Jesus
Cristo andava descalço, quando vós usais calçado finíssimo". Heráclio com
humildade aceitou o aviso do patriarca. Sem demora tirou a coroa, trocou o
manto imperial por uma túnica pobre, substituindo o rico calçado por sandálias
e, tomando de novo o Santo Lenho, sem dificuldade alguma o levou até a última
estação. Lá chegado, todo o povo se acercou da grande relíquia, venerando-a com
muita fé. Muitos doentes recuperaram a saúde.
Para todos, o dia 14 de Setembro de 629 foi um dia de triunfo
e da mais pura alegria. Deus ainda o glorificou por milagres, dando a saúde a
muitos enfermos.
Fonte: Na Luz Perpétua, Pe. João Batista Lehmann, Editora
Lar Católico, 1950.
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