Blog – Depois do
ataque à organização social e política, à moral e à inteligência, se vê que
este ataque é realmente descomunal. Surge, então, quase naturalmente, a pergunta:
a Igreja resistirá a este ataque?
Belloc - Podemos
fazer a esse respeito, de forma clara, uma afirmação de fundamental
importância: uma de duas coisas deve acontecer, um de dois resultados deve se
tornar definitivo e generalizado no mundo moderno. Ou a Igreja Católica (agora,
rapidamente se tornando o único lugar onde as tradições da civilização são
compreendidas e defendidas) será reduzida por seus inimigos modernos à
impotência política, à insignificância numérica, e, sob o ponto de vista da apreciação
pública, ao silêncio; ou a Igreja Católica reagirá, neste caso como no passado,
mais fortemente contra seus inimigos do que estes são capazes de reagir contra
ela; recuperará e estenderá sua autoridade, e reassumirá, uma vez mais, a
liderança da civilização que ela construiu, e assim recuperará e resgatará o
mundo. Numa palavra, ou nós (do lado da Fé) nos tornamos uma ilha pequena e
perseguida da humanidade, ou seremos capazes de clamar, ao final da luta, o
antigo grito Christus Imperat.
Blog – Mas este
primeiro cenário não significará a destruição da Igreja?
Belloc – Muito se
pode dizer deste primeiro cenário. A Igreja não desaparecerá, pois a Igreja não
é uma coisa mortal; é tão somente uma instituição entre os homens que não está
sujeita à lei universal da mortalidade. Portanto, dizemos, não que a Igreja possa
ser varrida da face da terra, mas que pode ser reduzida a um pequeno grupo,
quase esquecido em meio a um vasto número de seus oponentes, e desprezada como
uma coisa vencida.
Blog – O senhor
pode avançar um pouco a análise do primeiro cenário, em que a Igreja será,
então, reduzida a um pequeno número?
Belloc – Com o
risco de me alongar um pouco na descrição, quanto ao primeiro cenário (o
definhamento da influência católica, a redução de nosso número e valor político
ao nível da extinção) há de ser notada uma crescente ignorância do mundo a
nosso respeito, além da perda daquelas faculdades pelas quais os homens
poderiam apreciar o que significa o catolicismo e se servir disto para a
própria salvação. O nível cultural, inclusive o sentido de passado, afunda
visivelmente. A cada década o nível está mais baixo do que na precedente. Com
esse declínio, a tradição está se rompendo e derretendo como neve ao final do
inverno. Grandes blocos se desprendem vez por outra, derretem e desaparecem. Em
nossa própria geração, a supremacia dos clássicos se foi. Encontramos homens de
influência, de todas as tendências, que esqueceram de onde viemos; homens para
quem o grego e o latim, as línguas fundamentais de nossa civilização, são
incompreensíveis, ou, na melhor das hipóteses, curiosidades.
Blog – Perdemos a
possibilidade de resgatar nossa herança cultural...
Belloc – Sim,
exatamente. E com isso, o espírito da fé ancestral foi, em grande parte
arruinado. Arruinado certamente para grande parte dos homens, todos admitirão.
Isto é tão verdadeiro que uma maioria (devo dizer uma ampla maioria) já não
sabe mais o que significa a palavra fé. Para a maioria dos homens que a ouvem
(em conexão com a religião), ela significa ou aceitação cega, ou afirmações
irracionais, de lendas que a experiência comum rejeita, ou um hábito meramente
herdado de imagens mentais que nunca foram testadas e que ao primeiro toque de
realidade se dissolvem como sonhos que são. Todo o vasto corpo de apologética,
toda a ciência da Teologia (a rainha exaltada acima de qualquer outra ciência)
cessaram de existir, para a massa dos homens modernos. A simples menção dos
títulos das várias obras que tratam desses assuntos causa um efeito de irrealidade
e insignificância. Chegamos já a este
estranho estágio – em que o corpo católico entende seus oponentes, mas seus
oponentes não entendem a Igreja Católica.
Blog – A Igreja
já passou por algo parecido...
Belloc – Sim, foi
no quarto ou quinto século. Os pagãos, especialmente os educados e instruídos,
cujo número então diminuía permanentemente, conheciam muito bem as altas
tradições a que se ligavam e compreendiam (apesar de odiarem) aquela nova
coisa, a Igreja, que crescera no meio deles e estava prestes a descartá-los.
Mas os católicos, que estavam para suplantar os pagãos, entendiam cada vez
menos a mente pagã, negligenciavam suas grandes obras artísticas e consideravam
demônios seus deuses. Assim hoje, a antiga religião é respeitada, mas ignorada.
Blog – Poderíamos
dizer então que estamos sendo sobrepujados por um novo paganismo.
Belloc – Sim. O
futuro provável é um futuro pagão, e um futuro pagão com uma nova e repulsiva
forma de paganismo: poderoso e onipresente com toda a sua repulsividade.
Blog – Sobre o
segundo cenário: a Igreja reagirá?
Blog – Então estamos
agora num momento grandioso?
Belloc - Estamos
agora na presença da questão mais momentosa que já se apresentou à mente do
homem. Assim, estamos numa encruzilhada, da qual o futuro de nossa raça
dependerá.
Blog – O blog
agradece vossa disponibilidade e esta longa entrevista.
Belloc – You are welcome!
2 comentários:
Professor, gostaria de lhe pedir a gentileza de encaminhar ao Sr. Belloc umas dúvidas, na esperança de que sejam merecedoras da atenção dele. Ei-las.
1. Sr. Belloc, A Igreja reagiu de uma forma contra os mouros e de outra contra os Protestantes. A partir destes dois extremos houve uma terceira via, como o senhor mesmo nos ensina, na reação ao Iluminismo, que não foi tão bem sucedida, mas por fatores alheios ao nosso desejo. Qual é, sem sua opinião e em acordo com nossos tempos, a reação que teria lugar no segundo cenário? Uma destas três ou uma quarta via? De que forma seria implementada? Pelo poder político, cultural ou bélico?
2. Os dois cenários são incompatíveis entre si, compreendi corretamente? Quero dizer, se pequena a Igreja verá o fim de uma cultura e de uma civilização, que será também seu fim de alguma forma. Mas para reagir terá que ser grande em fiéis e poder político? Ou estes momentos podem se encadear no tempo histórico, novamente, como no passado, no início da Igreja?
3. Ainda, senhor Belloc, como o senhor percebe, a partir das idéias expostas em sua entrevista, um acontecimento como a JMJ? Parte do Primeiro Cenário ou do Segundo ou de ambos, em acordo com a primeira e segunda perguntas acima?
Sou antecipadamente grato por qualquer ajuda. Fraternalmente, N.
Talvez para que aconteça a recuperação da Igreja Católica, seja necessário uma grande tragédia, como tantas vezes aconteceu ao longo da história. Será uma guerra, ou uma gigantesca crise econômica?
Robson di Cola
Postar um comentário