Acabei de reler o "Todos os Caminhos Levam a Roma" marcando as
partes que mais gostei. A escolha dos textos foi muito feliz. Fiquei imaginando
o grande apologista literário, Chesterton defensor fidei,
esgrimindo com grande desenvoltura - apesar do peso - ao redor de uma magnífica
Catedral Gótica, cujas torres representariam os principais temas defendidos nos
ensaios: a juventude, a complexidade, a verdade, a unicidade e a perfeição
(ou completude) da Igreja.
Sobre a juventude da Igreja, realmente nada se compara ao Introibo
ad altare Dei. Para além disso, cito dois trechos do primeiro ensaio que eu
gostei muito; um pela atualidade e o outro pela beleza. O primeiro se aplica
muito bem àqueles lugares onde a verdadeira Igreja ainda está viva hoje em
dia:
Eu a tenho chamado pela expressão convencional
"antiga religião". Mas ela não é uma antiga religião; é uma religião
que se recusa a envelhecer. Neste momento da história, ela é uma religião muito
jovem. Muito especialmente, uma religião de jovens.
O segundo eu transcrevo em inglês para ressaltar o domínio de Chesterton
da língua inglesa e o desafio para os seus tradutores. A repetição de uma
palavra no original soa melhor que a diversificação da tradução:
I cannot
understand how this unearthly freshness in something so old can possibly
be explained except on a supposition that it is indeed unearthly
(Não consigo entender como esse frescor etéreo em algo tão antigo pode ser
possivelmente explicado, exceto pela suposição de que este algo seja um frescor
sobrenatural).
Do ensaio "A Defesa da Complexidade", eu grifei uma passagem
com a qual eu me identifiquei completamente:
E, enquanto isso, qualquer camponês católico, ao
segurar uma pequena conta do Rosário em seus dedos, pode estar consciente, não
de uma eternidade, mas de um complexo, quase um conflito, de eternidades; como,
por exemplo, nas relações de Nosso Senhor e Nossa Senhora, nas da paternidade e
da infância de Deus, nas da maternidade e da infância de Maria. Pensamentos
desse tipo têm, num sentido sobrenatural, algo análogo ao sexo; eles dão cria.
São férteis e se multiplicam; e não há fim para eles.
Eu só acrescentaria: e nos dão uma alegria sobrenatural!
Dos dois ensaios "A História de uma Meia-Verdade", eu marquei
o primeiro parágrafo todo, mas não vou reproduzi-lo. Escolhi outros dois
trechos menores. O primeiro lembra uma aula do curso de filosofia do Olavo:
(...) e, com certeza, a Igreja é muito mais
interessada nos homens que em movimentos. O mais miserável dos homens é
imortal, e o mais poderoso dos
movimentos é temporal, para não dizer temporário.
O segundo também!:
Os moralistas protestantes aboliram o
confessionário e a psicanálise restabeleceu o confessionário, com cada um de
seus alegados perigos e nenhuma de suas admitidas salvaguardas.
No próximo ensaio, Chesterton nos mostra que a Igreja é incomparável:
Num sentido, podemos dizer que não há algo como uma
religião budista ou mesmo uma religião muçulmana. Noutro sentido, podemos dizer
que se estas são religiões, então o cristianismo não é uma religião. Com
efeito, esta última sugestão, embora mais ou menos simbólica, aproxima-se da
verdade sobre a matéria. Pois a verdade é - usando sua expressão favorita em
sua frase anterior - verdadeira e realmente "única". O
cristianismo não é uma religião, é uma Igreja. (...) Ela corresponde a
uma combinação de coisas que são, não obstante, uma coisa; e esta coisa é
realmente uma. Há só uma espécie e há somente um exemplar.
Por fim, o fim do livro, o fechamento com chave de ouro. Para
abrigar todas as verdades juntas - estas coisinhas vigorosas e repelentes (se
não estamos preparados para recebê-las) - só um lugar perfeito:
Mas a Igreja não é um movimento e sim
um lugar de encontro, um lugar de encontro para todas as verdades do mundo.
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