18/09/2012

As Sentenças de São Bernardo IV


1. Aquele que quer agradar perfeitamente a Deus deve resplandecer em castidade e em caridade. A castidade abarca os cinco sentidos: os ouvidos, os olhos, o olfato, o paladar e o tato. A caridade se manifesta de quatro maneiras. Segundo o Apóstolo, tudo desculpa, não é suspicaz, tudo espera, não hesita, tudo sofre, não murmura, tudo suporta,[1] não é impaciente. Estas nove qualidades configuram a perfeição de quem as possui perfeitamente e se associa, já nesta vida, aos coros angélicos. Por isso diz o Apóstolo: nossa pátria encontra-se nos céus.[2] E eu diria que um homem que vive assim supera em mérito ao anjo, pois o anjo as possui por dignidade e o homem as alcança por virtude.

2. A criatura racional, para ser ditosa, tem de amar-se a si mesma e a Deus, o único que pode cobri-la de felicidade. Seu perseguidor e inimigo trabalha precisamente para corrompê-la em ambas as disposições. Corrompe e perverte sua disposição corporal mediante o apetite da gula e o fluxo da luxúria. O asno da carne, agitado por estes dois aguilhões, se lança ao precipício da morte. Ataca com armas invisíveis a disposição espiritual do homem e a viola como uma peste dupla: corrompendo-a com o tumor da soberba e a mácula da avareza. Deste modo, põe a perder toda a massa pela mistura desse fermento[3] e toma do homem a felicidade que ele perdera.

3. Nesta vida, prestamos nosso acatamento à carne, ao mundo e ao diabo, ou a Deus. Militamos a favor da carne, quando nos sujeitamos aos incentivos da gula e acedemos aos estímulos da luxúria. Militamos a favor do mundo, quando fomentamos nossa desmedida avareza e acariciamos a sublimidade da fama. Militamos a favor do diabo se invejamos a quem progride no bem e nos inchamos com espírito de soberba perante Deus. Militamos a favor de Deus se lutamos humildemente com nossas boas obras e combatemos com espírito vigoroso contra os espíritos malignos. Cada um deles dispõe de recompensas especiais: a carne oferece a seus adeptos um prazer momentâneo; o mundo, uma glória fugaz; o diabo, uma escravidão perpétua; Deus, uma felicidade sem fim. É o único que prevalece.



[1] 1 Cor 13:7.
[2] Fil 3:20.
[3] 1 Cor 5:6.


Ver também: Sentenças de São BernardoSentenças de São Bernardo - II e Sentenças de São Bernardo III.

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