14/08/2010

Wendy “strikes again”

 

Um leitor protestante, de nome Wendy, envia-me dois longuíssimos comentários aos posts Irmã católica puxa a orelha do blogueiro e Chesterton e a Ciência Cristã. Ele inicia ambos os conjuntos de comentários com palavras elogiosas ao blogueiro, pelas quais agradeço de coração.

Mas seus comentários são, desculpe-me a repetição, o lenga-lenga de sempre, que pode ser resumido assim: (1) a Igreja não existia nos tempos apostólicos e foi fundada por Constantino (a la Dan Brown); (2) a interpretação protestante das Escrituras é a única interpretação verdadeira.

A irritante ignorância histórica auto-imposta dos protestantes é algo que surpreende o mundo há milênios; eu disse milênios e não séculos, pois os protestantes são muito mais antigos que Lutero e Calvino. Estes são herdeiros pós-medievais dos hereges mais antigos, os gnósticos, dos quais não me canso de falar. Uma prova histórica disso (atenção Wendy!, se você quiser permanecer protestante, desconheça esta prova) se encontra no livro de Santo Irineu, Contra as Heresias [cito da 2ª. edição da Paulus, 1995], que diz, falando dos hereges gnósticos (Livro III: 2,2-2,3): “Quando, por nossa vez, os levamos à Tradição que vem dos apóstolos e que é conservada nas várias igrejas, pela sucessão dos presbíteros, então se opõem à tradição, dizendo que sendo mais sábios que os presbíteros, não somente, mas até dos apóstolos, foram os únicos capazes de encontrar a verdade. (...) Nossa batalha, caríssimo, é contra estes, que escorregadios como serpentes, tentam se esgueirar de todos os lados.” Cito propositadamente Santo Irineu, pois ele viveu antes de Constantino, uns 150 anos depois que Jesus foi crucificado. Ele foi aluno de Santo Policarpo, bispo de Esmirna, que foi discípulo de São Pedro, aquele sobre o qual Cristo edificou a sua Igreja.

Wendy diz: “É um típico exagero católico pegar uma doutrina ortodoxamente apostólica, que desconhecia a ICAR como a conhecemos, e expô-la como se os próprios apóstolos fossem fiéis católicos, o que é uma coisa risível.” A se acreditar no leitor protestante, deve ter acontecido um fato histórico extraordinário. Se os apóstolos não instituíram a “Igreja como a conhecemos”, todos os seus discípulos diretos dela falavam e nela se incluíam. E mais, tentavam converter todo mundo a esta Igreja.

Por exemplo, Clemente que viveu no primeiro século, foi o 3º Papa; Tertuliano afirma que ele foi consagrado bispo pelo próprio Pedro. Pois bem, ele escreveu uma carta aos coríntios que, calcula-se, foi escrita entre 81 e 96 d.C. e que começa assim: “A Igreja de Deus que vive como estrangeira em Roma, para a Igreja de Deus que vive como estrangeira em Corinto.” Então, como aconteceu que tanto Clemente como Irineu, falassem de Igreja de Roma, da Igreja em Corinto, de bispos, de presbíteros, etc., e que esta Igreja não fosse uma instituição como a que conhecemos hoje? São João talvez ainda estivesse vivo quando a carta de Clemente foi escrita. Como aconteceu que os discípulos diretos dos apóstolos estivessem falando de uma instituição em completa ruptura com a doutrina e os ensinamentos de Jesus Cristo, que os apóstolos tinham lhes ensinado? Qualquer um que examine a doutrina ensinada por estes homens, verá que é exatamente a doutrina de Nosso Senhor Jesus Cristo. E atenção!, isso tudo ANTES de Constantino.

É preciso ter uma ignorância auto-imposta para não saber que a Igreja antes de Constantino e a Igreja depois de Constantino são a mesma Igreja, como a conhecemos; não houve nenhuma ruptura. Para se convencer disto, basta ler a História Eclesiástica, de Eusébio de Cesárea. Neste livro, Eusébio dá toda a linha de sucessão de todas as sés apostólicas do mundo, desde os apóstolos até os bispos que então eram vivos. E notem os leitores: Eusébio viveu no tempo de Constantino.

Mas voltemos a Santo Irineu que, repito, é anterior a Constantino. Ele diz (Livro III: 3,1-3,2): “Portanto, a tradição dos apóstolos, que foi manifestada no mundo inteiro, pode ser descoberta em toda a Igreja por todos os que queiram ver a verdade. Poderíamos enumerar aqui os bispos que foram estabelecidos nas Igrejas pelos apóstolos e os seus sucessores até nós. (...) Mas visto que seria coisa bastante longa elencar, numa obra como esta, as sucessões de todas as igrejas, limitar-nos-emos à maior e mais antiga e conhecida por todos, à igreja fundada e constituída em Roma, pelos dois gloriosíssimos apóstolos Pedro e Paulo.” Ele continua, então, enumerando a sucessão de Roma. A quem está Santo Irineu se dirigindo aqui? Aos “protestantes” do século II d.C., claro! Aos hereges que estavam alegando exatamente o que Wendy alega hoje, dois milênios depois; são os mesmos hereges, e mesma deve ser a resposta: vai estudar história, ignorante!

São Vicente de Lerins lança, em seu Comunitório, o que talvez seja o alerta mais pungente contra os “protestantes” de sua época, século V. Falando de como os hereges de então recorriam à Escritura para suas “exalações pestilentas” que eles procuram perfumar com “o aroma da palavra celestial”, ele, com acerto, identificou a “tática pérfida de seu autor e mestre”, satanás. Em seguida, ele diz (cito da edição da Permanência, 2010): “Mas alguém poderá perguntar-me: onde se prova que o demônio costuma usar os textos da Sagrada Escritura? Então leiamos os Evangelhos, nos quais está escrito: ‘Então o demônio transportou-o e pô-lo sobre o pináculo do templo e disse-lhe: Se és filho de Deus lança-te daqui abaixo. Porque está escrito: Porque mandou seus anjos em teu favor, que te guardem em todos os teus caminhos. Eles te levarão nas suas mãos, para que o teu pé não tropece em alguma pedra.’ [Mt, 4, 5s]” Então o demônio protestante está dizendo a Jesus para que Ele se lance “daqui abaixo”; por quê? “Porque está escrito!” Este é o profundo conhecedor da Escritura, este é a víbora, este o nosso inimigo; mas ele é versado nas Escrituras, não nos enganemos.

E assim, inspirado pelo “seu mestre” os hereges de todos os tempos procuram nos enganar com suas “exalações pestilentas” misturadas ao “aroma da palavra celestial”. A eficácia da estratégia demoníaca, que os hereges de todos os tempos usaram, não é tanto a novidade da heresia (pois todas são, em essência, muito antigas), mas a insistência de seu discurso. Lenin, o russo comunista, sabia bem disso quando dizia que uma mentira repetida muitas vezes torna-se verdade.

Mas já vai longo este post. Não publicarei os comentários de Wendy, pois eles contêm tantas confusões e tantas inverdades que, para desfazê-las, eu teria de gastar um tempo que não tenho. Seus comentários têm, meu Word me informa, 9.754 toques, enquanto que minha resposta a apenas duas mentiras já se aproxima dos 7.000 toques. Fiquemos, assim, por aqui.

49 comentários:

Pe Vagner disse...

Professor Angueth, parábens pela resposta. Eu também já ouvi várias vezes este absurdo protestante de que a Igreja Católica começou com Constantino. Vários deles afirmam também que a "sucessão Apostólica" não possui fundamento Bíblico!!! (um dos maiores absurdos que já ouvi na minha vida).
Poderiamos aduzir um argumento de forma negativa: Cristo fundou uma Igreja (Mt 16,18ss) e prometeu que as portas do inferno não prevaleceriam sobre Ela. Pois bem onde foi parar essa Igreja depois de Constantino? Desapareceu? Foi destruida? Então seria falsa a promessa de Nosso Senhor que ela não seria destruida?. Evidentemente a Igreja de Jesus Cristo "subsiste" na Igreja Católica ,Assim afirma a declaração "Dominus Iesus", um maravilhoso documento que ilumina este tema.
Rezemos pelos protestantes, para que pelo menos estudem um pouco mais de História, antes de sairem afirmando estes absurdos.
Grande abraço,
Pe Vagner

Anônimo disse...

Professor, há outros tipos de "protestantes", mas dentro da própria Igreja: são os neo-católicos que creem piamente que outra Igreja nasceu do pós-concílio.
Apesar do seu "protesto" ser de veludo (mais "light" para os modernistas ineptos-preguiçosos e mais "hard" para os modernistas kamikazes))e com a chancela da plena-comunhão, sua pestilência é igualmente daninha: pervertem a virtude da Fé pela cegueira da fé; uma tentativa de não ver as provas que Deus provê com fatos históricos e escriturísticos - sejam das Letras Sacras quanto dos patrísticos, e isso sem falar no acumulado pela Tradição.
Num afã de novidades, refundam a tradição a partir de uma concepção mui atomizada do que seja Tradição e, como no clinamen lucreciano, acumula-se e agrega-se pela afinidade no caos dos sentimentos afins num mix de pietismo e teimosia.
E para finalizar, com respeito a afirmação do Pe. Vagner, mas com muito mais respeito ao Sacerdote, sugiro que a "afirmação" (sic!) do "subsist" seja banida do vocabulário teológico, já que comporta, pela sua imprecisão, uma multidão de equívocos.
A Igreja Católica É a Igreja de Cristo: Uma, Única e Una.
As outras "igrejas" são analogias de aproximação imprópria e indevida!!!

Nos corações de Jesus, Maria e José; MMLPimenta.

Captare disse...

Prezado Prof. Angueth, Laudetur Dominus!

Ótima resposta! Eu considero algo muito maçante ter que ler textos longos cheios de erros fundamentais, naquele tom arrogante de quem está enunciando verdades óbvias, quando óbvios são - na realidade - os erros que nestes textos se instilam. É como ser obrigado a ouvir um discurso cheio de erros de português por três longas horas...

Uma pequena consideração, talvez uma correção: de acordo com as informações as quais eu tenho acesso, São Policarpo teria sido discípulo do Apóstolo São João, não de São Pedro. É possível notar, inclusive, vários pontos semelhantes nos escritos de São Policarpo e nas cartas, como no evangelho, de São João.

No mais, parabéns pela defesa da verdadeira identidade da igreja de Deus!

Pax et Salutis

Pe Vagner disse...

Estimado MML Pimenta,
Muito obrigado por sua preocupação. Mas gostaria de aclarar que utilizei a expressão "Subisitit" no VERDADEIRO SENTIDO da palavra, ou seja, sem pretender que se entenda de outra maneira. É o que aclara o texto da nota 56 da Declaração Dominus Iesus: "É ,por tanto, contrária ao siginificado AUTENTICO do texto conciliar a interpretação dos que deduzem da fórmula "subisistit in" a tesis segundo a qual a única Igreja de Cristo poderia também subsistir em outras igrejas e comunidades eclesiais não Católicas" (Congregação para a Doutrina da Fé, notificação sobre o volume "Igreja; carisma e poder" do pe. Leonardo Boff; AAS 73 (1985) 756-762. A Decalração também aclara que as as comunidades que não possuem sucessão apostólica e por tanto Eucaristia, não são Igrejas no sentido próprio.
Espero que tenha explicado o sentido no qual utilizei a epressão.
Grande abraço, com minha benção +
Pe Vagner

Anacoreta, o Penitente disse...

Professor, peça a Wendy (que nomezinho meigo, hein?) para ler por que a "sola scriptura" não é um argumento bíblico e nem histórico (John Venari responde) em: http://www.fatima.org/port/crusader/cr87/cr87pg58.asp . Que ele veja como um pastor e professor protestante, mais protestante e anticatólico do que ele, converteu-se ao catolicismo depois de esclarecer a própria ignorância bíblica e histórica. Parabéns pelo ótimo texto! O senhor está passando de tradutor a um ótimo escritor. Continue seu excelente trabalho!

Anônimo disse...

Caríssimo e digníssimo Pe. Vagner, salve Maria Imaculada!!!
Sua benção, Padre.
Padre, hoje - e somente hoje - a linguagem teológica está eivada de termos que ensejam certas discrepâncias com relação a ortodoxia; são como que elementos alienígenas injetados na forma como exprimimos as coisas: se há uma certa mobilidade nas palavras, há aquelas que melhor veiculam o conteúdo que se quer expor, e outras, pela sua inadequação, comportam um desajuste entre objeto e palavra.
O tal "subsiste" é um bom exemplo: ao invés de se usar o claro e insofismável "é", opta-se pelo nebuloso "subiste".
A própria explicação posterior - e todas as outras, sucessivas e exaustivas! - são para [tentar] aclarar a tal opção semântica...
A nova teologia tem uma atração pela pastoralidade em detrimento da clareza. Isto é o circulo vicioso da eterna atualização da expressão em busca do sempre fugidio entendimento "para o homem de hoje" - que será outro amanhã...
Esta índole de se tentar buscar na atualidade, elementos novos para exprimir conceitos "antigos" é algo falhado no nascedouro, pois tenta usar da dinâmica das ideias modernas (mesmo que revestidas de figura tradiconal) para fixar a compreensão dos conteúdos.
Sabemos todos que a fixidez não é bem o "estilo" da modernidade: a vairação constante para a adaptação do entendimento é que é a "constante".
Com respeito filial,
Nos corações de Jesus, Maria e José;
Marcus Moreira Lassance Pimenta

Anônimo disse...

Resumo do resumo:

http://www.filosofante.org/filosofante/not_arquivos/pdf/Garrigou_Lagrange.pdf

http://fratresinunum.com/2009/12/20/mons-klaus-gamber-a-nova-teologia-liberal-foi-a-maior-forca-por-detras-da-reforma-liturgica/

MMLPimenta

Anônimo disse...

Caro, Marcus,
Concordo com você. Eu também tenho muito cuidado com as eleições de termos utilizados em teologia inclusive dentro da teologia "Tomista", por exemplo Santo Tomas utilizava a expressão ESSE e muitos a traduzem por EXISTÊNCIA, o que não é o mesmo na linguagem tomista. Vários Tomistas se afastaram de Santo Tomas por utilzarem sem querer ou querendo terminos distintos aos do Santo (por exemplo Jacques Maritain).
Pelo demais obrigado (novamente) por sua preocupação, e com o comentário anterior eu já indiquei o sentido autêntico do "SUBSIST".
Grande abraço, com minha benção+
Pe Vagner

Anônimo disse...

“A todos quantos agora sentem sede da verdade, dizemos-lhes: ide a Tomás de Aquino” (Pio XI, Encíclica Studiorum Ducem, 29 de junho de 1923)
A clareza é uma mercê que a precisão presta a verdade.
Sem sombra de dúvida é preciso banir do universo mental dos sábios (aqueles que levam aos outros aquilo que aprenderam, isto é, a verdade) as expressões equívocas ou ambíguas. Ainda mais em se tratando do "homem moderno", este ente sui generis, fabricado com a mais fértil "criatividade"...
No trato da palavra é preciso intensificar o uso dos conceitos consagrados pela ortodoxia para não ensejar a necessidade da multiplicação de matizes e matrizes desviantes: isto seria contrário ao bom entendimento.
Rogando pela a sua compreensão, perdão e benção,
Com carinho filial;
MMLPimenta.

Anônimo disse...

not_arquivos/pdf/Garrigou_Lagrange.pdf

Este é o restinho de endereço eletrônico que falto ao link apontado anteriormente.

MMLPimenta

Anônimo disse...

Aos prezados Pe Vagner e MMLPimenta,

Vocês poderiam apresentar, de forma simples, clara e concisa:

1) o(s) conceito(s) de verdade;
2) quais os critérios da verdade?

Creio que esta seria uma das grandes contribuições para a formação do católico.

Abs,
Aprendiz

Anônimo disse...

Caro Aprendiz, antes de tudo peço que leia atentamente o texto linkado em dois posts anteriores; aquele do site Filosofante - http://www.filosofante.org/filosofante/
not_arquivos/pdf/Garrigou_Lagrange.pdf
Ali você vai achar uma espécie de apresentação da "evolução" do conceito de verdade por quem viveu o drama do embate com a nova-teologia.
Depois você poderia dar uma olhada neste link do Contra Impugnantes http://contraimpugnantes.blogspot.
com/2009/05/
tv-contra-impugnantes-o-conceito-de.html

Tive de quebrar os dois endereços por restrição do programa de comentários que "come" os endereços mais compridos.

Para começar já é alguma coisa.
São textos curtinhos, mas densos de significado, pois são claros, simples e puros como a água, pois abastecem a alma de que tem sede de verdade.

Depois a gente conversa.
Tenho um livro que muito lhe ajudaria: A Verdade. Assim como o título, vai direto ao âmago da questão e esclarece de maneira direta o fim da razão que não é outra coisa que o seu bem, isto é, a verdade.

mmlpimenta@uol.com.br

Anônimo disse...

Caro MMLPimenta,

Segundo pude compreender, e após consultar a Suma Teológica, a coisa ficou assim:

1. A verdade se diz em muitos sentidos, por exemplo:
1.1. Em sentido absoluto: Cristo é a Verddade;
1.2. Em sentido existencial, para efeito de se levar a vida no dia a dia: cada momento exige que se lhe avalie a condição apropriada para a ação.

2. Combinando 1.1 com 1.2
O existir no mundo implica realizar o potencial inerente ao indivíduo, a partir de sua essência.

O homem de fé deve mirar sempre a viver como Cristo. Entretanto, em cada situação, pelo fato de ter decaído de sua excelência, estará sempre sujeito a errar em cada ato.
Porém ele deve avançar sempre, sob inspiração de Cristo, no sentido de tornar-se cada vez mais apto a fazer o certo em cada circunstância.

Errei muito na minha avaliação?

Abs,
Aprendiz

Anônimo disse...

Caro Aprendiz, o problema está nesse "existencial"...
Se se considerar existencial as potências e virtudes inerentes a toda e qualquer condição humana, isto é, desde dentro mas por sobre todas as circunstâncias e limitações para encontrar o horizonte da Cruz (o que antes era instrumento de tortura tornou-se instrumento de redenção!), aí estaremos falando a mesma língua universal - que é católica. E isto é ter o selo de Cristo por sobre todas as nossas ações; das mais íntimas, do secreto do coração, até as mais exteriores que levam a chancela política: é a natureza não aviltada, mas humilde no concurso do sobrenatural.
Por outro lado se se definir "existencial" como "circunstancial", isto é, uma crono-tipicidade limitante que aferra o homem no seu entorno, atomizando-o, mas deixando uma "porta aberta" para o influxo do divino ao modo pietista, aí já não é existencialismo, mas um deformismo.
No mais é isso aí: ter a Divina Face como espelho de nossas atitudes ao cúmulo de poder exclamar que já não somos nós que vivemos, mas Cristo que vive em nós.
Com amizade inenarrável;
MMLPimenta

Anônimo disse...

Caro MMLPimenta,

Referi-me, como pude, ao conceito Aristotélico de Potência/Movimento/Ato.

Cristo está, em potência, no ser humano. Porém o homem, para fazer-se similar a Cristo, precisa buscá-Lo (pedir, bater à porta) e esforçar-se no dia-a-dia.

Se tivermos isso em mente, (quase)todo dissenso poderá ser compreendido e dissolvido no diálogo que visa à busca da verdade.

O seguidor de Cristo parte da Verdade, que é Ele mesmo. Então, ele não precisa mais buscar, mas viver segundo a Verdade, ainda que de forma precária, devido à queda a partir de Adão e Eva.

Quem não parte de Cristo, pensa numa verdade que pode ser encontrada pela investigação da natureza. Neste caso, esse tipo só encontrará Cristo se Cristo mesmo apresentar-se a ele.

Creio que, assim, podemos dialogar com qualquer pessoa honesta. Não está em jogo, neste caso, o ecumenismo ou a aceitação de heresias, mas o diálogo entre seres racionais.

Ao usar a razão devemos lembrar-nos, contudo, que a emoção pode estar no comando e, assim, iludir-nos.

Puriquemo-nos, pois!

Abs,
Aprendiz

Eduardo Araújo disse...

Caríssimos, a respeito da "fundação da Igreja por Constantino", lembro que à época do auge do panfleto anti-católico O Código Da Vinci quando alguém tentava mostrar os absurdos nele contidos - em particular as grotescas afirmações "históricas" - era comum ouvir-se ou ler-se coisas como: "é só um livro de ficção"; "é muito bom como thriller, mas não acredito em tudo que está nele", etc.

Pois bem, estamos constatando aos poucos o tremendo estrago que aquele livro imbecil causou em mentes nã afetas ao raciocínio, ao discernimento e à pesquisa. Uma verdadeira legião de "entendidos" de história da Igreja pulula na internet e nas rodas de conversa repetindo idiotices mentirosas de Dan Brown e uma destas, mui frequentemente, é essa baboseira de que a Igreja teria sido fundada por Constantino, que teria assentado suas bases formais e determinado (por imposição, hein?) o conteúdo canônico do Novo Testamento no Concílio de Nicéia, que por seu turno teria sido uma reunião de misóginos que odiavam a memória de Maria Madalena e queriam acabam com o "sagrado feminino".

Qualquer livreto que se preste a relatar a história daqueles tempos põe em terra essas mentiras dissimuladas por um oportunista estúpido, declamado em verso e prosa por uma mídia arraigadamente antipática ao Cristianismo em geral e à Igreja Católica, em particular. No entanto, nesse ponto a calúnia tende a manter-se em detrimento de sua refutação, por melhor que esta seja (a exemplo da difamação contra S.S. Pio XII, por Cornwell e outros, já derrubada há muito, mas renitente em sair das mentes entorpecidas pela mídia e literatura anti-católicas). Parece uma reedição da máxima de Goebells, segundo a qual uma mentira repetida mil vezes assume ares de verdade. Li em algum lugar algo assemelhado pelo falastrão Voltaire, mas não sei se procede: "minta, minta, alguma coisa fica". Chega como for, aplica-se muito bem a Dan Brown "et caterva" e a multidão por eles enganada.
Abraços
Eduardo Araújo

Anônimo disse...

Caríssimo e aplicadíssimo Aprendiz, é preciso muito cuidado e aprumo no trato de certas terminologias.
O movimento é o trânsito da potência ao ato; pois sim, mas devemos aplicá-lo com precisão para fazê-lo bem entender na questão levantada.
Cristo está em potência no homem, mas na forma de possibilidade de conhecê-lo (o Sumo Cogitável), já que Ele (Deus mesmo) é a Causa Primeira (Ser Necessário, Ser Subsistente, Ser Divino, o IPSUM ESSE dos escolásticos) de nosso ser contingente - é a aspiração e inspiração de nossa alma. Então, partindo-se dos entes contingenciais (ainda mais em se tratando desse ente com uma capacidade ímpar e nobiliárquica que é o homem) veremos que são criaturas de um Criador, e que, portanto, são efeitos de uma Causa - Causa Sui, Incausado etc - que fez e governa tudo com medida e harmonia.
O Sidney, do Contra Impugnantes, sintetizou muitíssimo bem o trato dessa questão do conhecimento de Deus; diz ele:
"Toda demonstração da existência de Deus deve partir de algo contingente (em termos teológicos: da criatura, e não de Deus). Deve partir do ente e não do Ser, dos efeitos e não da causa — cuja essência é, em si, inalcançável para os nossos sentidos e inapreensível para a nossa inteligência. É uma prova a posteriori, ao contrário da prova de Santo Anselmo.
Em linhas gerais, o ente real pode ser avaliado como dinâmico ou em movimento e como estático ou entitativo. Isto porque o ente ou está fazendo-se (movimento), ou está feito (estático ou existente), ou então por fazer (ente potencial). Trata-se de modos distintos de participar do Esse divino, como veremos.
A partir dos entes dinamicamente considerados, a existência de Deus será demonstrada nas chamadas vias dinâmicas (1ª, 2ª e 5ª); e, partir dos entes estaticamente considerados, o será nas chamadas vias entitativas (3ª e 4ª). Ou seja: a existência de um primeiro motor imóvel (1ª via), de uma causa eficiente primeira (2ª via) e de uma inteligência universal ordenadora (5ª via) aponta para aspectos operativos e dinâmicos do Ser divino. Por sua vez, a existência do Ser necessário que é a causa de todos os contingentes (3ª via), e de um Ser perfeitíssimo do qual todos os entes participam em diferentes graus (4ª via), aponta para aspectos entitativos do Esse divino".
Essa sua afirmação de que "Cristo está, em potência, no ser humano" pode ser entendida de maneira equívoca, já que pode-se considerar que Cristo é imanente ao ser humano, como que há uma "partícula divina" no homem. Coisa muito estranha ao viver conforme Cristo...
O desejo pela Verdade, que é Cristo Jesus, Nosso Senhor, baseia-se numa certa - se assim posso me expressar - incompletude constitutiva do homem: somente o Absoluto poderia satisfazer e plenificar essa "necessidade vital".
Não podemos esquecer que se pode aceder à Deus pela Mística. Pode-se ter um contato íntimo com Deus, mas nunca sem conhecê-Lo, já que só podemos amar aquilo que sabemos o que É, aquilo que conhecemos; se não conhecemos, nem mesmo damos por falta daquilo que nem sabemos existir. Portanto na Mística corre-se um risco enorme de queimar todas as fórmulas em detrimento de "um contato mais direto com a Divindade", mas igualmente pode-se ter por divindade a imaginação...

http://www.academus.pro.br
/site/pg.asp?pagina=detalhe_variedade&titulo
=Variedades&codigo=92

Espero que possamos melhor ter clarificado o tema.

Com indizível alegria; MMLP.

Anônimo disse...

Professor, hoje em dia as pessoas preferem acreditar numa estória natural incrível do que numa história sobrenatural crível...
O livro do Dan Brown é um folhetim mixuruca, safado e ordinário que usa a detração pelo escândalo da calúnica para se fazer conhecer.
A fofoca hoje, mas com adornos [pseudo]literários, faz sucesso, pois estão no mesmo nível dos leitores: pessoas que nunca leram uma livro sério de história e possuem o QI de uma ostra, depois que lêem o tal Dan Brown acham que já possuem PHD em história, teologia, filosofia, relações internacionais, investigação criminal, política, psicologia, psiquiatria, além da insofismável cara-de-pau para se gaber disso tudo!
São cretinos profissionais ou por preguiça.
De um modo ou de outro acho que mereciam uma sova!!!

MMLPimenta

Anônimo disse...

Caríssimo MMLPimenta,

"Essa sua afirmação de que "Cristo está, em potência, no ser humano" pode ser entendida de maneira equívoca, já que pode-se considerar que Cristo é imanente ao ser humano, como que há uma "partícula divina" no homem. Coisa muito estranha ao viver conforme Cristo...'

Esta é uma questão central. A idéia de partícula divina que se atualiza pode ser deduzida da posição de Aristóteles, sem que divino signifique algo além do natural. Ela é afirmada explicitamente na literatura védica (Bhagavad Gita).

No catecismo católico disponível em www.vatican.va, essa idéia é substituída por "o homem é capaz de Deus", o que parece mais razoável. Se não me engano, há uma passagem no AT que diz: "sois deuses", mas isso não sei interpretar.

Por outro lado, o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus. Conforme Santo Agostinho, ele foi criado menos do que excelente, por isso decaiu. Como esse potencial é inerente à sua criação, ele poderá regenerar-se em Cristo, mas não tornando-se Cristo. Só posso entender isso no sentido de que Cristo "absorve" as falhas dos seus seguidores.

De fato a questão semântica é um complicador universal da possibilidade de comunicação entre os homens, em todas as áreas da atividade humana. Sendo o homem falível por natureza, não sei se é possível superar essa questão sem que se queira igualar-se a Deus.

Grato por sua intervenção,
Aprendiz

Anônimo disse...

Caríssimo MMLPimenta,

"Essa sua afirmação de que "Cristo está, em potência, no ser humano" pode ser entendida de maneira equívoca, já que pode-se considerar que Cristo é imanente ao ser humano, como que há uma "partícula divina" no homem. Coisa muito estranha ao viver conforme Cristo...'

Esta é uma questão central. A idéia de partícula divina que se atualiza pode ser deduzida da posição de Aristóteles, sem que divino signifique algo além do natural. Ela é afirmada explicitamente na literatura védica (Bhagavad Gita).

No catecismo católico disponível em www.vatican.va, essa idéia é substituída por "o homem é capaz de Deus", o que parece mais razoável. Se não me engano, há uma passagem no AT que diz: "sois deuses", mas isso não sei interpretar.

Por outro lado, o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus. Conforme Santo Agostinho, ele foi criado menos do que excelente, por isso decaiu. Como esse potencial é inerente à sua criação, ele poderá regenerar-se em Cristo, mas não tornando-se Cristo. Só posso entender isso no sentido de que Cristo "absorve" as falhas dos seus seguidores.

De fato a questão semântica é um complicador universal da possibilidade de comunicação entre os homens, em todas as áreas da atividade humana. Sendo o homem falível por natureza, não sei se é possível superar essa questão sem que se queira igualar-se a Deus.

Grato por sua intervenção,
Aprendiz

Pe Vagner disse...

Caro Aprendiz,
Santo Tomas (e a filosofia realista) distinguem 2 verdades a Ontologica e a lógica:
-Verdade Ontologica é a ADEQUAÇÃO das coisas com o intelecto Divino.
-Verdade Lógica é a ADEQUAÇÃO do intelecto humano com as coisas (realidade).
Atenção, não há contradição entre as 2, mas sim estamos falando da verdade vista de 2 óticas Divina e humana.
A partir destes 2 conceitos de verdade podemos perceber como o relativismo (por exemplo) é uma doutrina perniciosa. Pois ele prega que cada intelecto funda sua própria verdade e não aceita que a realidade é adequação com a mente divina.
Abraços,
Pe Vagner

Anônimo disse...

"A partir destes 2 conceitos de verdade podemos perceber como o relativismo (por exemplo) é uma doutrina perniciosa."

Com sua explicação, se há algo chamado relativismo, fica claro que ele é bastante infantil, e até mesmo imbecil. Concordo com o senhor.

Entretanto, surgue uma questão fundamental: como pode o homem falar sobre Deus a partir de sua própria razão, a partir da criatura?

Ele estaria, nesse caso, usando o método indutivo de Francis Bacon. Porém, embora se possa, partindo da fé, justificá-la usando tal método, o ateu usa o mesmo método para ficar livre da idéia de Deus.

Portanto, creio que é possível combinar as duas abordagens o que, salvo melhor juízo, foi feito por Santo Tomás. Ele explicou que Deus só é acessível à mente humana por revelação, mas que é possível usar a razão, reconhecendo o seu limite, para se inferir algo sobre Ele. (Isso é o que eu compreendi, usando minhas próprias palavras.)

Outro autor diz que a razão é boa para justificar a fé, mas que não é boa para convencer outras pessoas que também a usam, mas em sentido contrário.

Se errei muito, por favor, corrija-me.

Sua bênção,
Aprendiz

Anônimo disse...

Caríssimo e digníssimo Aprendiz, perspicazes as suas observações, mas vamos por partes para não complicar mais as coisas.
Há um fetiche moderno que é achar que tudo são "interpretações": que o real, de certo modo (ou seria de "errado modo"?...) são projeções da mente que o concebe - é o tal "assim é se lhe parece"...
Nesse verdadeiro sarapatel gnosio-axiológico vale tudo, só não vale admitir que o homem consegue descrever a realidade!...
Você fala, meu caro, que "a questão semântica" e, portanto, a linguagem "é um fator complicador universal da possibilidade de comunicação entre os homens, em todas as áreas da atividade humana", mas lembro que este instrumento é o único disponível que possuimos para perscrutar o real.
Assim se constituindo, não se trata de crer que o instrumento é inadequado, mas saber de suas limitações e pedir o "Auxílio externo" para que se dedilhe este mesmo instrumento (a linguagem) e faça ela tocar as mais sublimes notas de verdade. Lembro das palavras proferidas a respeito da Suma Teológica: "É o Céu visto da Terra".
Por outro lado há que se saber que esta mesma linguagem é limitada para desvendar os princípios mais altaneiros, não por conta da incompreensibilidade do real, mas de sua inesgotabilidade - trocar a idéia de uma fonte perene de informações pelo bagaço de sua esterelidade é confundir alhos com bugalhos.

Com amizede; MMLPimenta.

Anônimo disse...

Caríssimo MMLPimenta,

Eis algumas passagens da Sagrada Escritura que poderiam instruir-nos a esse respeito:

As coisas encobertas pertencem ao SENHOR nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei. (Deuteronômio 29:29)

Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor. 2 Coríntios 3:18

Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido. 1 Coríntios 13:12

Porque, se alguém é ouvinte da palavra, e não cumpridor, é semelhante ao homem que contempla ao espelho o seu rosto natural; Tiago 1:23

Com amizade,
Aprendiz

Anônimo disse...

Aprendiz, meu caro, aqui vai uma espécie de resumo daquilo que estamos a conversar:

http://contraimpugnantes.blogspot.com
/2010/03/metafisica-e-misterio-i.html

Mais uma vez informo que o link foi particionado, já que o programa de comentários "come" o endereço quando é postado completo.

MMLPimenta

Anônimo disse...

Faço aqui mais um adendo para melhor exemplificar sobre o que estamos falando:

http://contraimpugnantes.blogspot.com
/2010/06/homem-animal-de-verdades-
assim-na-terra.html

Aqui também quero deixar claro que a "saída eclética", isto é, o ecletismo filosófico que monta todo um construto mental com partes + ou - ajustadas para construir, à força de justaposição de conceitos e aglutinação de idéias, uma cosmovisão afeiçoada a opinião do observador é igualmente condenável, já que tenta montar uma "unidade" de pensamento desarticulada da realidade, posto que construída e não observada, descrita.

MMLPimenta

Anônimo disse...

As Sacras Letras são um repositório de sabedoria e amor inesgotável!!!
As palavras de eternidade ali inscritas transbordam de indizíveis doçuras: a alma, faminta e exausta, tem ali o alimento e refrigério necessário para peregrinar nesse vale de lágrimas e espinhos que é a vida.
Mas nunca podemos esquecer que neste mesmo vale de sombras podemos ver despontar a alvorada da esperança mais indômita!

MMLPimenta

Anônimo disse...

Sim!

Aprendiz

Anônimo disse...

Aprendiz, meu caro, você tocou num ponto muito importante!
Diz você que no Novo Catecismo está dito que "o homem é capaz de Deus"; mas em que sentido haveria de ter essa "capacidade"?...
Sto Tomás nos ensina que “a humildade é o primeiro degrau para a sabedoria”, e “é evidente que somente as criaturas intelectuais são, falando propriamente, à imagem de Deus” (“Suma Teológica”, I, q. 93, a . 2).
As tais virtudes, entre elas a humildade, estão "virtualmente" no homem, mas precisam ser atualizadas, isto é, estão potencialmente no homem (constituem o cabedal da alma humana), mas estarão em ato, presentes e atuantes, se e somente se ele as exercitar, torná-las atuais; uma ação da alma em busca do seu tropismo espiritual que analoga natural com a coroa do sobrenatural.
Essa nossa atitude de reconhecimento de limitação - a humildade nos põe em súplica reverente perante Deus - nos deixa como que um terreno fértil para a ação graciosa de Cristo: Jesus não avilta a nossa condição, mas labora para que alcancemos essa meta de beatitude; e isso não exclui a nossa participação como bonus cooperatur: somos pequeninos, frágeis, falhos e miseráveis, mas Deus também faz os Seus santos da magra messe dos pecadores.
Sendo assim, Deus não "cobriria nossos pecados", mas apaga os nossos pecados como uma "nova criação": os Sacramentos são as provas do poder de Deus que põe e dispõe todas as coisas conforme os Seus imperiosos desígneos.
O que se tem de preservar é sempre a bondade essencial de todos os atos divinos, não por uma imposição aleatória de um deus irracional, mas pela disposição maravilhosa de um Deus ao qual podemos chamar de Pai.

MMLPimenta

Anônimo disse...

Veneráveis Pe Vagner e MMLPimenta,

Após colocar a questão central da verdade e seus critérios, e assumir que a razão humana é limitada, creio que já podemos refletir sobre uma das questões fundamentais, senão a mais fundamental delas, que colocou em oposição Católicos e os hereges Reformados: a justificação.

As duas visões são fundamentalmente dessemehantes e incompatíveis. Entretanto, ambos os lados reivindicam usar a razão para fazer suas escolhas.

Salvo melhor juízo, pode-se assim resumir o impasse:

Em oposição, Católicos (1) versus Hereges (2)

A
(1) Batismo como causa instrumental versus (2) Fé como causa instrumental;

B
(1) Graça mais mérito versus (2) Graça sozinha;

C
(1) Fé mais obras versus (2) Fé sozinha, mas esta gerando as obras que lhe forem próprias;

D
(1) A justiça de Cristo mais a nossa versus (1) A justiça de Cristo sozinha;

E
(1) Nenhuma segurança de salvação versus (2) Segurança de salvação.

Como poderíamos, caros Pe Vagner e MMLPimenta, aplicar o conceito de verdade e seus critérios, e ainda reconhecendo os limites da razão, explicar racionalmente essas posições extremas para ovelhas igualmente racionais, de forma que elas possam escolher um dos lados?

Na alegria de Cristo,
Aprendiz

Antonio Emilio Angueth de Araujo disse...

Caro Aprendiz e demais comentadores,

Tenho apreciado sobremaneira as discussões que estão ocorrendo nesta seção de comentários. Os comentaristas estão, de fato, abrilhantando muito este modesto blog.

Tenho acompanhado suas questões, caro Aprendiz, e confesso que não estou idenfificando em você um espírito de Aprendiz. Posso estar enganado, mas prefiro estar errado por excesso do que por falta. Agora eu diria que você é protestante de mão leve, muito simpático, muito motivado, mas com objetivos outros. Peço desculpas antecipadas se estiver errado.

Suas perguntas sobre justificação são o ponto algo de sua agenda (será que há mesmo uma agenda?), pois este assunto é um dos mais complexos assuntos teológicos. Qualquer resposta às suas perguntas, tanto pelo Pe. Vagner quanto pelo Marcus Pimenta, no espaço exíguo desta seção, parecerá incompleta e dará razão aos hereges protestantes. Este assunto não é para este espaço.

Este é apenas um alerta. Contudo, se o Pe. Vagner ou o Marcus quiser se aventurar a lhe responder, o espaço estará aberto; eu não faria isto, pois este assunto não pode ser discutido nas bases que você colocou. Garrigou Lagrange alertava aos religiosos sobre o perigo de se discutir este assunto sem os devidos cuidados.

Fica aqui o alerta.

Em JMJ.

Antônio Emílio Angueth de Araújo.

Anônimo disse...

Caro Professor,

O senhor tem razão quanto à delicadeza do assunto. Mas, como aprendiz, minha resposta é simples.

Sobre tal assunto, nada sei. A questão é de fé, e aquele que segue o catolicismo romano aceita a Palavra do Papa, que é o critério de verdade no catolicismo. Mais do que isso não se pode fazer.

Entretanto, Santo Tomás, respeitando previamente tudo que fosse dogma da Igreja, não fugia desses temas. Ele os analisava "em tese", dando razão provisória aos dois lados e, em seguida, dava sua resposta em sintonia com a Igreja.

É isso que eu espero de uma eventual resposta.

Com admiração pelo seu Blog,
Aprendiz

Antonio Emilio Angueth de Araujo disse...

Caro Aprendiz,

E o que tem a ver ser "uma questão de fé" com seguir a "palavra do Papa"?

Esta sua expressão é extremamente equívoca, pois envolve muitos conceitos.

O que é que eu acho que você quis dizer é o seguinte:

1. Fé e razão são coisas opostas; ser uma questão de fé é não ser uma questão de razão. Isto é contra o catolicismo e é erro grave. A Fé não contraria a razão; ela lhe é superior.
2. A palavra do Papa é a fonte de nossa Fé. Isto é e não é verdade; quando ele fala "ex cathedra" é verdade; quando não, não. As fontes de nossa Fé são as Escrituras e a Tradição, ponto final.

Quanto a Santo Tomás ter entrado nas discussões sobre justificação, isso me dá ainda mais razão. Ou discutimos a questão nas bases do aquinate, ou não entremos em debates vãos.

Uma última coisa: acho que você sabe muita coisa sobre a justificação, senão não faria as perguntas que fez.

Em JMJ.

Antônio Emílio Angueth de Aráujo.

Anônimo disse...

Prezado Professor,

Sei que não sei sobre o assunto; por isso estou tentando aprender. Seu eu soubesse, afirmaria, e não perguntaria. Sei que o assunto é delicado, e por ele se pode cair ou ficar de pé.

Antes de perguntar, apresentei algumas passagens da Escritura que nos obrigam a aceitar que, na Terra, não podemos saber tudo. É preciso esperar.

Quanto a Santo Tomás, o senhor tem razão. Proponho que, quem o conheça o suficiente, responda à pergunta seguindo o caminho proposto por ele.

É isso que estou querendo: aprender sob a perspectiva de Santo Tomás. Se eu estudá-lo sozinho levarei muitos anos ainda antes de obter qualquer conhecimento a respeito desse assunto de capital importãncia para combater as heresias protestantes.

Com respeito,
Aprendiz

Anônimo disse...

Meu caro Aprendiz, dá-me lá o teu -mail para que entabulemos um saudável colóquio para a maior glória de Deus; não como quem disputa, mas como aqueles que irmanados pelos mal altaneiros princípios buscam a verdade acima de tudo - mesmo à custa do sacrifício da própria "opinião.

mmlpimenta@uol.com.br

Vários são os pontos levantados numa efervescência típica da juventude; juventude esta que está ávida pela verdade!
Talvez, pelo atropelo do desejo de descobrir a verdade os conceitos brotem aos borbotões, na profusão das idéias que surgem pelos novos conhecimentos que se apresentam.
É preciso que não haja, antes de tudo, um certo vício pensamental que atribui ao outro os erros de pensamento que são os próprios.
Aprendiz, meu caro, pelo que pude notar, na sua pressa de desvendar as coisas, você comete algumas faltas típicas daqueles que fazem um protesto contra a Igreja, isto é, no afã de desdizer o que a Igreja declara - com a chancela de Cristo - projeta nessas declarações algumas quimeras e incompreensões próprias de quem tenta refundar toda a metafísica em bases demasiado humanas.
Como o prof. Angueth falou o tema é extenso é conviria ser abordado mais minuciosamente para não se ccorrer o perigo de mais precipitações e incompreensões.

Com amizade; MMLPimenta.

Anônimo disse...

Caro MMLPimenta e Pe Vagner,

Realmente exageriu, pois a justificação como um todo é algo complexo. Tirei as informaões da literatura.

Gostaria de retificar minha posição abordando apenas um aspecto para efeito de treinamento no método de Tomás de Aquino.

Segue meu exercío para o comentário de vocês. Assim, julgo ter reduzido sua responsabilidade na manifestação sobre tema tão polêmico.


Exemplo do método de Santo Tomás

Suponhamos que a pergunta fosse: - A justificação se dá somente pela fé, como querem os protestantes, ou prioritariamente pela fé, como querem os católicos?

1. Parece que a salvação se dá pela fé somente, como querem os protestantes. A favor desse ponto estão os argumentos de São Paulo.

2. Parece que a salvação se dá prioritariamente pela fé, mas essa seguida de obras. A seu favor estão os argumentos do próprio Jesus Cristo que, aliás, refere-se a obras isolamente, deixando a fé como um pressuposto.

RESPONDO
1. Os protestantes ressaltaram a fé num contexto em que Tetzel, sem autorização de Roma, vendia penitências. Então, eles pareciam estar do lado certo.

2. A doutrina católica oficial ressaltava que a fé era prioritária, mas que era necessário, desde cedo, e enquanto não se tinha uma fé sólida, estimular que a pessoa se inclinasse para as obras como obrigação de sua fé.

Conclusão
O que houve foi uma grande confusão à época. Porém, em última instância, a verdade estava, e ainda está, com a Igreja Católica Apostólica Romana.

Mas, deve-se levar em consideração que, ainda hoje, há autoridades em em postos-chave que mancham a doutrina da Igreja, dando a impressão de que ela estimula a crença no poder salvador das obras mesmo que não haja fé.

Por outro lado, a sociedade civil, sendo formada por crentes, agósticos, ateus e hereges, necessita de obras, venham elas da fé ou do mero interesse pessoal.

Com fé, esperança e caridade,
Aprendiz

Anônimo disse...

"...apresentei algumas passagens da Escritura que nos obrigam a aceitar que, na Terra, não podemos saber tudo. É preciso esperar".

Essa espécie de quietismo, isto é, uma inação na intenção de agradar a Deus para "deixar Ele agir e não atrapalhá-Lo" é a escrupulosidade levada a finalidade última fazendo dela a primeira na ordem da atividade e essência humana.
Não há nada mais errado que isso.
Se por um lado teremos tudo aquilo que devemos conhecer na visão beatífica, pelo mesmo lado temos de entesourar são conhecimento aqui já nesta vida, pois esta mesma visão beatífica será comproporcionada pela nossa visão intelectual - e, portanto, espiritual - que tivermos cultivado aqui na Terra.
A cada um segundo as suas obras, pois temos de viver na sombra do Senhor para que Ele se lembre de nós no dia do juízo e nos guie para o nosso devido lugar com a Sua destra.

MMLPimenta

Anônimo disse...

Aprendiz, meu caro, aqui vai um pouco de Sto Tomás apresentado por quem sabe:

http://contraimpugnantes.blogspot.com
/2009/01/predestinao-salvao-i.html

http://contraimpugnantes.blogspot.com
/2009/01/predestinao-salvao-ii.html

Não se esqueça de ler, não só os textos de Sto Tomás, mas também bons comentadores e continuadores.

http://www.permanencia.org.br/
drupal/node/361

http://www.permanencia.org.br/
drupal/node/477

http://www.permanencia.org.br/
drupal/node/349

E não precisa fazer a demonstração da inteligência do tema conforme a apresentação escolástica: dei-te bons exemplos de entendimento discursivo que em nada devem ao método da Disputatio.
Bons estudos!

Com amizade; MMLPimenta

“Dê-me, Senhor, agudeza para entender, capacidade para reter, método e faculdade para aprender, sutileza para interpretar, graça e abundância para falar. Dê-me, Senhor, acerto ao começar, direção ao progredir e perfeição ao concluir” (Santo Tomás de Aquino).

“A beleza das ações humanas depende de sua conformidade com a ordem da inteligência, como ensinou Túlio: É belo tudo quanto diz bem da excelência do homem no aspecto em que ele difere dos outros seres” (Santo Tomás de Aquino, “Suma Teológica”, II-IIae, q. 142, a. 2).

“O fim último do universo é o bem do entendimento, que é a verdade” (Santo Tomás de Aquino).

“O estudioso é aquele que leva aos demais o que ele compreendeu: a Verdade” (Santo Tomás de Aquino).

“Os professores devem ser elevados em suas vidas, de modo que iluminem aos fiéis com sua pregação, ilustrem aos estudantes com seus ensinamentos, e defendam a Fé mediante suas disputas contra o erro” (Santo Tomás de Aquino, “Contra Retraentes”).

“Qualquer amigo verdadeiro quer para seu amigo: 1) que exista e viva; 2) todos os bens; 3) fazer-lhe o bem; 4) deleitar-se com sua convivência; e 5) finalmente compartilhar com ele suas alegrias e tristezas, vivendo com ele um só coração” (Santo Tomás de Aquino, “Summa Theologiae”, II-II, q. 25, a. 7).

“O amigo é melhor que a honra, e o ser amado, melhor que o ser honrado” (Santo Tomás de Aquino, “Summa Theologica”, II-II, q. 74, a. 2).

Anônimo disse...

"Não há nada mais errado que isso."

Prezado MMLPimenta,

Não tendo entendido essa sua afirmação, que parece contradizer, simultaneamente: São Paulo, Santo Agostinho, Santo Tomás e o próprio Jesus Cristo, refletirei sobre ela mais tarde.

Eu gostaria que você e o Pe Vagner comentassem meu exercício sobre o método de São Tomás. Se o Prof. Angueth puder, creio que terei bons professores para ajudar-me nessa ingente tarefa.

PS.: Como eu já havia dito, não comentei por conhecer sobre justificação. Fiz apenas um exercício sobre o método de São Tomas.

Saudações,
Aprendiz

Anônimo disse...

Caríssimo e tenaz Aprendiz, para usar o método de Sto Tomás é preciso, antes de tudo, conhecer profundamente o tema abordado, já que o método expositivo versa sobre os tópicos principais do tema ao modo Disputatio que é a clareza e a precisão à serviço da verdade.
O método da disputatio é um verdadeiro raio-X do discurso científico, na medida em que arrola com limpidez todas as objeções à tese demonstrada no corpus do texto. O leitor deve estar avisado e tomar muito cuidado, para não tomar as objeções pela tese explicitada na Resposta.
Em alto estilo e com impecável competência, o método escolástico da disputatio, tão desenvolvido por Santo Tomás, é, em síntese, descritos a seguir.
Os artigos da disputatio se compõem, essencialmente, de quatro partes:
1) os argumentos ou objeções dos adversários da tese esgrimida no artigo, as quais deverão ser expostas de modo perfeito, não raro de modo superior à exposição dos próprios adversários, sendo dupla a razão para tal: honestidade e clareza intelectual; sobretudo o fato de que, assim procedendo, se está obrigado a dar uma resposta às objeções ainda mais perfeita, definitiva, cabal;
2) argumento(s) (de terceiros) em sentido contrário ao das objeções, o(s) qual(is) já como que encaminha(m) para a resposta;
3) esta mesma resposta, ou corpus, no qual se resolve globalmente a questão que suscita o artigo; é a parte principal;
4) as respostas às objeções, uma a uma, detalhadamente.

Anônimo disse...

A escolha do método da disputatio não se dá por um mero arqueologismo escolástico. A quaestio disputata é uma radiografia do discurso científico à qual nada escapa. Em linhas gerais, este verdadeiro raio-X dialético consta de quatro etapas: 1ª) perguntar; 2ª) opinar; 3ª) responder; 4ª) e solucionar. Neste contexto, entre as principais objeções dos adversários, procuram-se as que mais fortemente se oponham à verdade, pois assim, ao final, a demonstração apodítica aparecerá cristalina para todos os que se derem o trabalho de percorrer o caminho por inteiro.
Para tanto é preciso conhecer o assunto abordado.
Para conhecer o assunto abordado é preciso muito estudo prévio.
E o estudo prévio só é obtido com leituras atentas e apuradas dos grandes que conseguiram, antes de nós, obter as luzes do entendimento.

Essa é a minha "crítica" ao seu exercício do método de Sto Tomás.

Com amizade; MMLPimenta

Anônimo disse...

Professor Angueth,

Proponho que o Pe Vagner e/ou o MMLPimenta nos dê um exemplo do exercício do método de Santo Tomás.

Que não se trate do tema justificação, mas de um exercício didático visando a demonstrar que a Bíblia não nos leva à opção enter fé ou obras.

Os argumentos, para falicitar a pesquisa, devem ser tirados exclusivamente da Biblia.

Tese a ser provada:

Não há, na Biblia, oposição entre fé e obras. (Pessoalmente acredito nisso). Quanto isso ocorre (más obras), a própria Bíblia aponta o erro.

Tratando-se do Blog de um professor, seria razoável tal exercício para instruir os leitores quanto ao método de Santo Tomás.

Em Cristo nosso Senhor,
Aprendiz

Anônimo disse...

Prezados,

Aparentemente o método de Santo Tomás foi atualizado para a leitura em geral no livro Como Ler um Livro, de Mortmer e van Doren.

Mortmer foi supervisor da Enciclopedia Britânica e era ateu. Próximo dos seus 90 anos converteu-se ao catolicismo (tenho quase certeza).

Escreveu um livro sobre inferências sobre a existência de Deus, ao invés de propor provas sobre a existência de Deus.

Anônimo disse...

Caro Aprendiz, essas pegadinhas são fantásticas!
Se se apresenta algo com alguma falha, fica-se na dúvida da capacidade de quem apresenta e, de lambuja, fica-se com um pé atrás contra o método empregado e contra a tese que defende.
Você, caríssimo Aprendiz, é muito solícito em nos apontar o caminho para elucidar tal empreitada, e nos lembrando do "didatismo" com que nos vemos obrigado a empregar!
Começo a desconfiar da boa-fé em querer "aprender" alguma coisa...
Ainda mais se escudando num pseudônimo tão... digamos, ensejador de "méritos probantes alhios"...
Acho que o prof. Angueth já matou a charada desse aprendiz afoito.

Anônimo disse...

Ao MMLPimenta,

Excelente sua síntese do método de Santo Tomás!

Obrigado,
Aprendiz

Anônimo disse...

O resumo da descrição do método da disputatio não é meu: é do Sidney, e foi coligido lá do Contra Impugnantes.

www.contraimpugnantes.blogspot.com

MMLPimenta

Anônimo disse...

Prezados,

Mestre não é quem sempre ensina; mas, quem, de repente, aprende até mesmo com um aprendiz.

Na vida é preciso ser um eterno aprendiz. Tudo o mais é soberba!

Em NSJC,
Aprendiz

Anônimo disse...

Dúvida?

Para eliminar a dúvida sobre o fato de eu ser um aprendiz, retiro a solicitação feita de que alguém, seja o Pe Vagner ou o MMLPimenta demonstrem o método de Santo Tomás com um exercício simples.

Esclareço: tomei contato com a Suma Teológica por indicação deste Blog, nunca tendo-a manuseado antes. Gostei do método e pretendo dominá-lo a longo prazo.

Nos próximos dias estarei fazendo as pesquisas bíblicas para efetuar o exercício sugerido por mim. Enviar-lo-ei ao Prof. Angueth que, se julguar conveninete, poderá publicá-lo.

Creio que estamos diante de um método que deveria ser ensinado a todos, desde o ensino fundamental até o doutorado.

Em CNSJC,
Aprendiz

Anônimo disse...

http://www.permanencia.org.br/
drupal/node/361

Aprendiz, meu caro, aqui vai uma dica de Sto Tomás sobre a predestinação.

Creio que já havia lhe enviado estes links anteriormente.

Este aqui é do grande Pe. Réginald Garrigou-Lagrange, O.P; um dos continuadores da obra do grande Santo.

http://www.permanencia.org.br/
drupal/node/477

Este é um texto de complemento
http://www.permanencia.org.br/
drupal/node/349

Com amizade; MMLPimenta.