Thomas Sowell
As declarações oficiais das últimas reuniões do G8 na Escócia, assim como as demonstrações dissonantes que as envolveram, falam sobre salvar a África. Mas, se olharmos retrospectivamente para as décadas e gerações passadas, a África tem sido salva tantas vezes que nos faz pensar sobre a razão de ela ainda precisar de salvação.
Condições trágicas e desesperadas afligem milhões na África hoje e qualquer pessoa sensível gostaria de ajudar. Mas, os fracassos repetidos das tentativas anteriores devem nos fazer refletir sobre a maneira particular na qual a África deve ser ajudada.
O perdão de débitos externos está sempre no topo da agenda dos que estão à esquerda do espectro político. Num momento determinado, isso liberaria, é claro, dinheiro que os governos poderiam utilizar para o alívio do infortúnio que aflige os povos – supondo que é nisso que os governos pretendem aplicar os recursos. Mas, como pode alguém pensar que a promoção do endividamento irresponsável, através do perdão periódico aos débitos governamentais, irá ajudar os países africanos, a longo prazo?
Quanto aos povos da África, eles têm de sobreviver a curto prazo para chegar ao longo prazo. Assim, uma ajuda emergencial para condições emergenciais faz muito mais sentido do que programas de ajuda externa de longo prazo, programas estes que possuem um registro inequívoco de fracassos, não só na África como no mundo todo.
Há alguns anos atrás, um corajoso economista indiano alertou que, por mais útil que tenha sido, para a Índia, receber doações de alimentos do exterior em épocas de crise de fome, a política de longo prazo de doação de trigo àquele país, simplesmente, inibiu os agricultores indianos a cultivarem trigo e vendê-lo a um preço que cobrisse seus custos. Num determinado momento, a política de envio de trigo para a Índia chegou ao fim e hoje o país produz tanto trigo que é capaz de doar quantidades do cereal aos países africanos em ocasiões de crise.
A promoção de dependência e de endividamento irresponsável não é a maneira de ajudar os pobres nem internacionalmente, nem em casa. Tais políticas beneficiam as burocracias que administram as ajudas estrangeiras e possibilitam que presunçosos se passem por salvadores, mesmo quando eles fazem mais mal do que bem.
A África sub-saariana possui uma das mais trágicas situações geográficas do mundo. Os cursos fluviais navegáveis, que são cruciais ao desenvolvimento de nações e culturas, são muitíssimos limitados na maior parte da África.
Ideólogos adoram pensar que a pobreza da África é causada pela “exploração” dos países ocidentais. Mas, com poucas exceções notáveis, a África tem oferecido muito pouco a ser explorado. Mesmo no ápice do imperialismo europeu, havia muito menos investimento estrangeiro em todo o vasto continente africano do que num minúsculo país como a Bélgica.
Em tempos mais recentes, a tal “ajuda externa” tem deixado muitos monumentos à futilidade na África, de máquinas enferrujadas e ruínas de muitos projetos ao gado enviado da Europa que tombaram no calor africano.
Com todas as suas desvantagens, a África conseguia se alimentar e mesmo exportar produtos agrícolas para a Europa. Em algumas das partes mais geograficamente favorecidas da África sub-saariana, o ferro era fundido há milhares de anos.
Durante as duas primeiras décadas depois da independência das nações africanas nos anos 1960, uma nação sub-saariana que se ateve à sua prosperidade econômica e estabilidade política, em meio às catástrofes sociais e desastres econômicos de seus vizinhos, foi a Costa do Marfim, governada pelo presidente Felix Houphouet-Boigny.
Mesmo assim, nem a Costa do Marfim, nem seu líder atraíram tanta atenção, muito menos adulação, que Julius Nyerere na Tanzânia, que Kwame Nkrumah em Gana, ou que outros famosos líderes africanos que levaram seus países à ruína.
A Costa do Marfim, naquele tempo, confiava nos mercados, ao invés de confiar em políticas defendidas, e da retórica usada, pela intelligentsia. Quando a política mudou, aquele país se tornou apenas um outro item do menu africano.
Atualmente, a maioria no Ocidente continua a enxergar o continente africano como um escoadouro das visões e políticas da esquerda, que fracassaram no Ocidente e que tendem, com muito maior probabilidade, fracassar na África.
12/07/2005
Este artigo foi originalmente publicado em http://www.townhall.com/columnists/thomassowell/archive.shtml. Aguardem A tragédia da África II
As declarações oficiais das últimas reuniões do G8 na Escócia, assim como as demonstrações dissonantes que as envolveram, falam sobre salvar a África. Mas, se olharmos retrospectivamente para as décadas e gerações passadas, a África tem sido salva tantas vezes que nos faz pensar sobre a razão de ela ainda precisar de salvação.
Condições trágicas e desesperadas afligem milhões na África hoje e qualquer pessoa sensível gostaria de ajudar. Mas, os fracassos repetidos das tentativas anteriores devem nos fazer refletir sobre a maneira particular na qual a África deve ser ajudada.
O perdão de débitos externos está sempre no topo da agenda dos que estão à esquerda do espectro político. Num momento determinado, isso liberaria, é claro, dinheiro que os governos poderiam utilizar para o alívio do infortúnio que aflige os povos – supondo que é nisso que os governos pretendem aplicar os recursos. Mas, como pode alguém pensar que a promoção do endividamento irresponsável, através do perdão periódico aos débitos governamentais, irá ajudar os países africanos, a longo prazo?
Quanto aos povos da África, eles têm de sobreviver a curto prazo para chegar ao longo prazo. Assim, uma ajuda emergencial para condições emergenciais faz muito mais sentido do que programas de ajuda externa de longo prazo, programas estes que possuem um registro inequívoco de fracassos, não só na África como no mundo todo.
Há alguns anos atrás, um corajoso economista indiano alertou que, por mais útil que tenha sido, para a Índia, receber doações de alimentos do exterior em épocas de crise de fome, a política de longo prazo de doação de trigo àquele país, simplesmente, inibiu os agricultores indianos a cultivarem trigo e vendê-lo a um preço que cobrisse seus custos. Num determinado momento, a política de envio de trigo para a Índia chegou ao fim e hoje o país produz tanto trigo que é capaz de doar quantidades do cereal aos países africanos em ocasiões de crise.
A promoção de dependência e de endividamento irresponsável não é a maneira de ajudar os pobres nem internacionalmente, nem em casa. Tais políticas beneficiam as burocracias que administram as ajudas estrangeiras e possibilitam que presunçosos se passem por salvadores, mesmo quando eles fazem mais mal do que bem.
A África sub-saariana possui uma das mais trágicas situações geográficas do mundo. Os cursos fluviais navegáveis, que são cruciais ao desenvolvimento de nações e culturas, são muitíssimos limitados na maior parte da África.
Ideólogos adoram pensar que a pobreza da África é causada pela “exploração” dos países ocidentais. Mas, com poucas exceções notáveis, a África tem oferecido muito pouco a ser explorado. Mesmo no ápice do imperialismo europeu, havia muito menos investimento estrangeiro em todo o vasto continente africano do que num minúsculo país como a Bélgica.
Em tempos mais recentes, a tal “ajuda externa” tem deixado muitos monumentos à futilidade na África, de máquinas enferrujadas e ruínas de muitos projetos ao gado enviado da Europa que tombaram no calor africano.
Com todas as suas desvantagens, a África conseguia se alimentar e mesmo exportar produtos agrícolas para a Europa. Em algumas das partes mais geograficamente favorecidas da África sub-saariana, o ferro era fundido há milhares de anos.
Durante as duas primeiras décadas depois da independência das nações africanas nos anos 1960, uma nação sub-saariana que se ateve à sua prosperidade econômica e estabilidade política, em meio às catástrofes sociais e desastres econômicos de seus vizinhos, foi a Costa do Marfim, governada pelo presidente Felix Houphouet-Boigny.
Mesmo assim, nem a Costa do Marfim, nem seu líder atraíram tanta atenção, muito menos adulação, que Julius Nyerere na Tanzânia, que Kwame Nkrumah em Gana, ou que outros famosos líderes africanos que levaram seus países à ruína.
A Costa do Marfim, naquele tempo, confiava nos mercados, ao invés de confiar em políticas defendidas, e da retórica usada, pela intelligentsia. Quando a política mudou, aquele país se tornou apenas um outro item do menu africano.
Atualmente, a maioria no Ocidente continua a enxergar o continente africano como um escoadouro das visões e políticas da esquerda, que fracassaram no Ocidente e que tendem, com muito maior probabilidade, fracassar na África.
12/07/2005
Este artigo foi originalmente publicado em http://www.townhall.com/columnists/thomassowell/archive.shtml. Aguardem A tragédia da África II
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