Corria a década de 1970. A Revista Manchete exibia então uma seção chamada Paredão, onde famosos da época faziam pergunta a outros famosos. Aqui passo a palavra a Nelson Rodrigues, que era o responsável pela seção.
"O momento mais lancinante do Paredão ocorre com a pergunta do jovem ator Paulo José. Excelente menino. Mas diz o seguinte: – “As posições de D. Hélder, autenticamente cristãs, estão apoiadas no pensamento da Igreja de hoje.” E continua: – “Estabelecendo confronto, pergunto: – qual é o outro pensamento da Igreja? Existe outra coisa que mereça ser lida ou vivida?”
"Como posso descrever o meu escândalo profundo? Considero invencível um rapaz que chega à boca de cena e anuncia, de fronte alta: – 'A Igreja começa e acaba em D. Hélder.' Não lhe apareceu um parente, um contraparente que cochichasse: – 'Além de D. Hélder, há pra mais de dois mil anos.' Simplesmente, ele enxota os vinte séculos como quem afasta, com o lado do pé, uma barata seca. Rapaz fortemente atualizado, jamais desconfiou de que tivesse existido, alhures, um Cristo."
Aí está a pergunta fatal: alguém hoje desconfia que existiu, alhures, um Cristo?
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