Um leitor, de nome Sérgio, escreve ao blog o que se segue.
Prezado Prof. Angueth,
Gostaria de entender
como o senhor consegue citar e recomendar ao mesmo tempo, pessoas de opiniões
tão dispares e divergentes, vejamos:
- Cita e recomenda Dom
Sarda e a leitura de seu livro "O liberalismo é Pecado" e ao mesmo
tempo cita Olavo de Carvalho, um liberal ao estilo Yanke, tanto em política
quanto em economia...
- Cita o professor
Orlando Fedeli, o qual demonstrou a gnose guenoniana do referido Olavo...
- Cita Chesterton e
Belloc que combateram o liberalismo com o distribuitismo, mas nada fala sobre
essa corrente...
- Recomenda o padre
Villa, mas sem as devidas ressalvas como o fato dele ser favorável a missa nova
e nunca tê-la criticado, afora o sensacionalismo de alguns de seus livros e/ou
de seus colaboradores vide: "A Mitra satânica de Bento XVI"...
- Elogia o padre
Vieira, mas esquece que ele era sebastianista, um milenarista...
- E outros casos
mais...
Obrigado.
Vou mencionar alguns dos “outros casos mais”. Cito Pascal,
que teve fortíssimas simpatias jansenistas. Como não citar o autor de tais
pensamentos:
- É preciso amar só a Deus e odiar só a si mesmo;
- Não somente nós não conhecemos a Deus senão por Jesus
Cristo, mas não nos conhecemos a nós mesmos senão por Jesus Cristo; não
conhecemos a vida, a morte senão por Jesus Cristo. Fora de Jesus Cristo não
sabemos o que é nem nossa vida, nem nossa morte, nem Deus, nem nós mesmos;
- Quereis chegar à Fé e não sabeis o caminho. Quereis sarar
da infidelidade e pedis os remédios para isso, aprendei daqueles que estiveram
atados como vós e que apostam agora todo o seu bem. São pessoas que conhecem
aquele caminho que gostaríeis de seguir e que foram curadas de um mal de que
quereis sarar; segui a maneira pela qual eles começaram. Foi fazendo tudo como
se acreditassem, tomando água benta, mandando rezar missas, etc.
Cito também C.S. Lewis, o cristão anglicano. Conheço muitas
pessoas que se converteram ao catolicismo lendo este extraordinário anglicano.
Cito Nelson Rodrigues, um católico assumido, mas também
autor de, por exemplo, “Bonitinha, mas Ordinária”. Esse católico foi o único
grande intelectual brasileiro a reconhecer o valor essencial de Gustavo Corção,
enquanto muitos outros católicos procuravam desacreditá-lo. Ele percebeu como
poucos, o grande cataclismo que atingiu a Igreja no pós-Concílio Vaticano II.
Quem lia suas crônicas podia acompanhar a surpreendente degradação interna da
Igreja.
Cito Santo Afonso Maria de Ligório que, para escrever
Glórias de Maria, se valeu de alguns dos evangelhos apócrifos para relatar
alguns acontecimentos da vida de Nossa Mãe.
Cito Santo Agostinho, que foi platônico, e em cuja obra
muitos agostinianos posteriores encontraram argumentos para desacreditar Santo
Tomás e depois para lançar a Reforma, que cindiu toda a cristandade.
Cito Santo Tomás que, em sua época, foi enormemente
pressionado a abandonar aquele perigoso pagão que ele insistia em ler e citar,
mas não só. Ele ousou até a entende-lo e a ensiná-lo para nós. Trata-se
obviamente do grande Aristóteles, a quem Santo Tomás chamava de O Filósofo,
como chamava São Paulo de O Apóstolo; e, horrores dos horrores, chamava Averróis,
sim o árabe, de O Comentador de Aristóteles. O que pensaria o leitor Sérgio do
nosso Santo Tomás, o Doutor Comum, se vivesse em sua época?
Sobre Olavo de Carvalho e minhas opiniões sobre ele, sugiro
a leitura de Olavo
de Carvalho e eu. Sobre o prof. Orlando, sugiro a leitura de Orlando
Fedeli e eu. Quando da morte do prof. Orlando, que outro intelectual brasileiro, senão exatamente Olavo de Carvalho, fez uma pequena homenagem ao morto ilustre? Sim, a morte do prof. Orlando foi também comentada e sentida por Sidney Silveira.
Com relação a Pe. Villa, não faço nenhuma ressalva porque
não a tenho. Se você tiver, você mesmo, Sérgio, faça-a onde você quiser.
Apresente argumentos que provem que os símbolos da Mitra de Bento XVI não são
como diz Pe. Villa, mas não tente desacreditar seu trabalho simplesmente chamando-o
de sensacionalista. Lembro, como se isso fosse necessário, que ser favorável à
Missa Nova não é pecado! Eu não sou, não assisto a Missa Nova, pela graça de
Deus, mas não digo que quem a assista está em pecado!
Bem, de Chesterton e Belloc e suas ideias econômicas, leiam
(leitores e leitor) meu artigo na última Chesterton Review em português
intitulado Três Alqueires e uma Vaca.
Não preciso dizer que já traduzi alguns livros de Chesterton que estão repletos
de suas ideias econômicas. Começarei a traduzir, no mês que vem, um livro de
Belloc sobre economia.
Bem, agora vem Pe. Vieira. Ai, meu Deus! Sérgio nos lembra
que Pe. Vieira foi sebastianista. E daí, Sérgio? Você quer dizer que o Sermão
da Quarta-feira de Cinzas está eivado de sebastianismo? Você quer dizer que os
trinta sermões que ele fez sobre o Rosário são inadequados, deveriam ser
proibidos, por causa do seu sebastianismo? O que você quer dizer?
Desafio você a me apontar a gnose dos artigos que cito de
Olavo de Carvalho, o sebastianismo dos sermões que cito de Pe. Vieira, o
anglicanismo dos trechos que cito e traduzo de C.S. Lewis e a pornografia no
que cito de Nelson Rodrigues.
Aponto, para terminar, sua profunda ignorância do que pensa
Olavo de Carvalho, chamando-o de liberal yankee. É típico nos críticos
tupiniquins de Olavo demonstrar ignorância logo no começo de seus arremedos de
argumento. Vá estudar um pouco mais a obra dele, depois tente algo além de
papo-de-boteco sobre esse pensador.
Sugiro que você edite um Index
Librorum Prohibitorum para orientar católicos ignorantes como este
blogueiro.