Em Nazaré, uma cidade da Galiléia, vivia um homem bom e humilde da descendência de David, chamado Joaquim. Sua esposa era Ana. Eles andavam pelos caminhos da virtude, mas os céus não os abençoavam com nenhum filho.
A bondade de Joaquim e Ana, todavia, não foi deixada sem recompensa. Vinte anos se passaram e, em 8 de setembro, uma maravilhosa criança foi enviada para alegrar sua velhice. A Virgem prometida, que se destinava a reparar a Falta primitiva, acabava de nascer; e ela veio ao mundo vestida com inexprimível pureza e beleza. No nono dia após o nascimento, segundo o costume, a Criança Imaculada, recebeu o nome de MARIA [que em siríaco significa senhora, soberana; em hebreu significa estrela do mar].
“E seguramente,” diz São Bernardo, “a Mãe de Deus não poderia ter um nome mais apropriado, ou mais expressivo de sua alta dignidade. Maria é, de fato, aquela bela e luminosa estrela que brilha sobre o vasto e tormentoso mar deste mundo.”
A compreensão da criança, como o dia em algumas regiões favorecidas, quase não conheceu a aurora; brilhava claramente desde seus primeiros anos. Sua virtude precoce e sua sabedoria com as palavras, num período da vida quando as outras crianças ainda desfrutam apenas uma existência puramente física, convenceram seus pais que o tempo da separação se aproximava; e quando Joaquim ofereceu ao Senhor, pela terceira vez desde o nascimento de sua filha, os primeiros frutos de sua pequena herança, o marido e a esposa, gratos e resignados, partiram para Jerusalém, a fim de depositar nos recintos sagrados do Templo o tesouro que eles receberam do Deus Único de Israel.
A antiga capital da Judéia foi logo alcançada e, pela primeira vez, Maria ultrapassou seus pesados portões e contemplou suas sisudas muralhas. Os piedosos pais apresentaram sua criança no grande Templo do Senhor dos Exércitos. Ela foi recebida pelo sacerdote com as cerimônias usuais, e então colocada entre as virgens consagradas, que ocupavam uma ala do sagrado edifício reservada especialmente para elas.
Maria passou os melhores anos de sua juventude no Templo. Foi um tempo precioso de preparação. A futura Virgem-Mãe foi bem educada, mas naqueles dias as tarefas domésticas eram sabiamente consideradas importante ramo da educação. Ela se levantava todos os dias graciosamente, pensava na sagrada presença de Deus e se vestia com a maior modéstia.
“Ela se vestia de forma extremamente simples”, escreve o Abade Orsini, “e isso lhe consumia muito pouco tempo. Ela não usava nem braceletes de pérola, nem cordões de ouro incrustado de prata, nem tampouco túnicas púrpuras, como as filhas das princesas de sua descendência. Um robe azul celestial, uma túnica branca presa na cintura por um cinto de pontas soltas, um longo véu, simples e graciosamente disposto para cobrir a face quando necessário – isto, além de um tipo de sapato combinando com o robe, compunham o traje oriental de Maria.”
Cada dia tinha suas horas de exercícios religiosos. As palavras da oração e o hino de louvor se elevavam dos puros lábios da jovem Virgem.
Conta-se que a estatura de Maria estava acima da média. Sua adorável face era o espelho de sua mais pura e bela alma, e sua pessoa era a própria perfeição física. Ela era o mais refinado trabalho da natureza. São Denis Areopagita, que viu a Virgem Santíssima, nos assegura que ela era de uma beleza deslumbrante.
Ela tinha uma perfeita compreensão das Sagradas Escrituras. Seus dons físicos, mentais e morais não tinham comparação. Falava pouco, e sempre com propósito. Virtude e bom senso regulavam seus pensamentos, palavras e ações.
Assim passou Maria, silenciosamente, pelos caminhos da vida, tal como uma bela estrela deslizando por sobre as nuvens prateadas. Graças à sua Imaculada Conceição, ela possuía uma doce e natural inclinação para a virtude; e suas brilhantes ações eram como uma grinalda de neve que silenciosamente caia sobre o topo da montanha, acrescentando pureza à pureza e brancura à brancura, até que se elevava, formando um cone brilhante que atraia os raios do sol e deslumbrava os olhos dos homens.
A Virgem Santíssima passou nove anos em seu retiro no Templo, quando a primeira nuvem negra obscureceu sua jovem vida. Joaquim, seu amado pai, caiu doente; e ela voltou para casa apenas a tempo de rezar ao lado de seu leito e dele receber sua última benção. Mas ainda outra aflição se aproximava. Depois de um curto período de tempo, Santa Ana abençoou sua querida filha e morreu em paz. Maria era agora órfã, mas suportou sua tristeza em silêncio e com paciência.
É a opinião de diversos escritores eminentes que foi neste período, quando seu caminho foi obscurecido pelas nuvens da tristeza e desolação, que a santa e jovem Virgem fez seu voto de virgindade perpétua e ofereceu a Deus, para sempre, o mais puro de todos os corações.[1]
[1] Trecho traduzido da biografia da Santíssima Virgem que aparece em Little Lives of the Great Saints, John O’Kane Murray, 1985, Editora TAN Books. A edição original deste livro clássico é de 1880.
13 comentários:
Glória in Excelsis!!!
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MMLPimenta
Obrigado por nos enriquecer com esta pérola vinda dos evangelhos apócrifos, professor....
Joselito
Muitas informações "apócrifas" são verdadeiras, mas com alguma mescla de erro, isto é, possuem verossimilhança, mas não isenção de mácula, não-integridade das Palavras Divinas transcritas pelo [pseudo]hagiógrafo; uma compilação de dados reais, mas tecidos na trama da humana imaginação.
Alguns dos dados e fatos ali narrados são credíveis e nos dão subsídios para uma piedade verdadeira, mas nunca - os apócrifos - serem levados em conta para a substância e integridade da fé.
MMLPimenta
A Bíblia, a Tradição e a Doutrina
A Bíblia representa o registro da Revelação e da Tradição. Portanto, a Tradição está na Bíblia, mas teve ainda representantes que viveram no período pós-bíblico.
Com a Razão, analisa-se a Bíblia e julga-se a Tradição. Mas isso, para efeito de Doutrina, só deve ser feito pelo Papa manifestando-se ex-cathedra em seu Magistério Infalível.
Os livros apócrifos, portanto, embora possam ser cheios de graça, não devem ser interpretados pelo fiel. Somente a Igreja pode indicá-los. Fora isso seria o caos.
Será que aprendi bem a lição, Prof. Angueth?
Aprendiz
A Bíblia é o "terceiro derivado" da Revelação, já que a Tradição plasma o Magistério e este "cria" o Registro Escriturístico que é a Bíblia, isto é, a aplicação do Magistério sobre a Revelação.
A ordem que apresentou, caro Aprendiz, portanto, está invertida.
MMLPimenta
p.s.: Tem um trabalhinho muito bom e bem acessível sobre isso no site Permanência/Capela, mas com a atualização não encontrei...
Se eu tiver em casa eu aviso.
Forma de Pensar
O recém-nascido recebe a Bíblia, que não pode consultar. Sua formação vem da vida prática, isto é, da Tradição em ação, sob orientação da Doutrina, que pode ter sido mal compreendida.
Ao tornar-se capaz de usar sua razão, ele depara com a Bíblia, que pode examinar, mas sob a coordenação de autoridades que seguem a Doutrina.
Ao examinar os escritos da Tradição que não está registrada na Bíblia, as chances de errar são ainda maiores (veja-se os argumentos de Abelardo, no livro História da Filosofia Cristã, de Boehner e Gilson, p. 309).
Assim, a ordem de acesso á verdade é:
1. Receber a Doutrina pelo ouvir (indo à Missa, por exemplo);
2. Ler os materiais usados na Missa;
3. Ler a Bíblia comentada, abstendo-se de de interpretá-la;
4. Pesquisar a Tradição documentada fora da Bíblia. Esta etapa é a mais perigosa, pois perde-se a supervisão direta do Magistério.
Quanto à prática, suponho que a ordem deveria ser:
1. Imitar a Cristo e aos Santos, cujos ensinamentos estão claramente expressos no Catecismo;
2. Responder às contingências adaptando os ensinamentos do Catecismo, como puder, às circunstâncias;
3. Inovar, se forçado a, mas sempre sob inspiração das virtudes teologais seguidas das virtudes cardeais.
Isso é o que pude deduzir usando minha frágil razão.
Desejando aprender sempre mais,
Aprendiz
O MANDAMENTO DA CARIDADE
"Três coisas são necessárias à salvação do homem: A ciência do que se há de crer; a ciência do que se há de desejar; e a ciência do que se há de fazer. A primeira é-nos ensinada no Credo. A segunda, no Pai-Nosso. A terceira, na Lei. Agora vamos tratar desta última. Existem quatro leis:
A Lei da Natureza: é a luz da inteligência posta em nós por Deus, pela qual conhecemos o que devemos fazer. De fato, ninguém ignora que aquilo que não queremos que seja feito a nós não o devemos fazer ao outro.
“Sobre nós está assinalada a luz do teu semblante.” (Sal. IV, V; LXVII, I)
A Lei da Concupiscência: Quando Deus criou o homem, a carne era submissa em tudo à alma, ou à razão. Mas, depois que o demônio pela tentação afastou o homem da observância dos preceitos divinos, também a carne se tornou desobediente à razão. Donde suceder que, ainda que o homem queira o bem segundo a razão, está todavia inclinado ao contrário pela concupiscência.
“Mas vejo outra lei nos meus membros, a qual se opõe à lei da minha razão.” (Rom VII, XXIII)
A Lei da Escritura, ou do Temor: A lei da natureza estava destruída pela lei da concupiscência. Fazia-se, portanto, necessário que o homem fosse restituído à obra da virtude e fosse afastado dos vícios. Para isto foi necessária a lei da Escritura. Deve-se saber, porém, que o homem é afastado do mal e induzido ao bem por duas coisas, a primeira das quais é o temor. De fato, a primeira coisa por que alguém começa a evitar o pecado é a consideração das penas do inferno e do juízo final. Conquanto não seja justo aquele que por temor não peca, daqui no entanto principia a justificação.
“O início da Sabedoria é o temor do Senhor.” (Prov. I, VII e IX, X; Sal CXI, 10)
“O temor do Senhor expulsa o pecado.” (Prov. XVI, VI)
A Lei Evangélica, ou do Amor. Há outro modo de afastar do mal e induzir ao bem, a saber, o modo do amor, e deste modo foi dada a lei de Cristo, a lei Evangélica, que é Lei de Amor.
A lei do amor torna livre: Quem age somente pelo temor age ao modo de servo; quem, porém, o faz por amor, fá-lo ao modo de livre, ou de filho.
A lei do amor introduz nos bens celestes: Os observadores da primeira lei eram introduzidos nos bens temporais, mas os observadores da segunda lei são introduzidos nos bens celestes.
A lei do amor é leve:
“Não recebestes um espírito de servidão para recairdes no temor, mas recebestes o espírito de adoção de filhos.” (Rom. VII, XV)
“O meu jugo é suave, e o meu peso é leve.” (Mat. XI, XXX)
Conclusão: Como nem todos podem ser versados na ciência, foi-nos dada por Cristo uma lei breve, para que todos a pudessem saber, e para que ninguém por ignorância pudesse escusar-se de sua observância, e esta é a lei do amor divino.
Esta lei deve ser a regra de todos os atos humanos. Qualquer obra humana é reta e virtuosa quando concorda com a regra do amor divino. Quando, porém, discorda desta regra, não é boa, nem reta, nem perfeita. Portanto, para que os atos humanos se tornem bons, é necessário que concordem com a regra do amor divino".
MMLPimenta
Nem preciso dizer que Sto Tomás é o "autor" do texto acima, isto é, "aquele que escreve com autoridade".
MMLPimenta
“Três coisas são necessárias para a salvação do homem: saber o que deve crer, saber o que deve desejar, saber o que deve fazer” (Santo Tomás de Aquino).
“Ensinar alguém para trazê-lo à Fé é tarefa de todo e qualquer pregador, e até de todo e qualquer crente” (Santo Tomás de Aquino).
Água versus Vinho
Santo Tomás foi acusado, por alugns colegas, de ter contaminado o vinho forte do Evangelho de Cristo com a água da filosofia aristotélica. Ao que ele retrucou: o vinho do Evangelho é tão forte que transforma a água em vinho.
Aristóteles atingiu a mais alta expressão da razão humana em seu tempo. Mas não atingiu a razão na sua totalidade. Outro dia vi, numa coleção de Biologia, a fórmula de Aristóteles para a geração espontânea de ratos: juntar queijo rançoso com um chapéu e uma camisa suados a certa uns três metros de distância de um paiol (lugar onde se guarda milho). Ele teria garantido que depois de uns três dias começariam a aparecer ratos nascidos por geração espontanea!
Precisamos identificar se houve avanços na filosofia após Aristóteles. Santo Tomás certamente teria se atualizado com essa filosofia.
Entretanto, o vinho forte do Evangelho precisa, às vezes, ser tomado sozinho. Em alguns casos ele precisa mesmo ser misturado com água.
Caro Anônimo, não acredite em fofocas filosóficas; muito menos em inverdades que denigrem e escarnecem com o fim precípuo de desacretitar quem está certo.
Recomendo o estudo das relações entre Sto Tomás e Aristóteles, bem como nas piadas risíveis sobre fatos deslocados para fazer rir de coisas sérias.
Além disso o tal "avanço" do conhecimento desde Sto Tomás foi uma tonitruante marcha-a-ré, mas com muito charme, garbo, ginga e malemolência...
MMLPimenta
Lembro ao amigo aquafóbico que do Precioso Lado saiu água e sangue; prefigurando as torrentes de misericórdia da água e do vinho na Santa Missa.
A filosofia é serva fiel da teologia; e estas são ferramentas para se perscrutar, com santo temor, a Criação.
Sabendo-nos posicionar perante essa realidade cambiante, mas prenhe de significado e pistas do magnânimo Artista, podemos prestar o devido contributo à maior glória de Deus.
Durante a preparação para a Comunhão, o Padre deita no cálix já com o vinho, a mesma água puríssima que inundou o mundo com a Graça.
Pronto: recolhe-se, assim, com as mãos postas, a alma esperançosa e contrita de desejo, a água e o vinho da Salvação.
Meu Senhor e meu Deus, das rosas de sangue que brotaram de Tuas chagas, rogamos para que elas floresçam no jardim de nosso coração!
Meu doce Cristo, minha alma está sedenta por ti!
MMLPimenta
Sempre acompanho o blog e os ótimos comentários e debates.Sei que foge do tema,mas dêem uma olhada no noticia do link abaixo.
http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,OI4670861-EI8142,00-Igreja+catolica+no+centro+de+Londres+lanca+missa+para+gays.html
abraço e fiquem com Deus.
Flavio.
Um texto de Corção sobre a ascensão da Senhora:
http://permanencia.org.br/
drupal/node/436
MMLPimenta
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