05/08/2010

Irmã católica puxa a orelha do blogueiro

 

Caro Sr. Angueth...Os caçadores de heresias na época de Jesus eram os fariseus e não os seguidores de Cristo, que eram exortados a irem viver o Evangelho como experiência. Acredito que os seus posicionamentos se aproximem mais do fanatismo que, propriamente, do catolicismo. Espero, sinceramente, que você possa dar um apoio real a alguém que sofre, em lugar de perder o seu tempo com essas vaidosas tagarelices. Em Cristo. De sua irmã Católica.

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Cara irmã católica,

Salve Maria Santíssima!

Há três aspectos em seu comentário que é bom considerar:

1. Os caçadores de heresias na época de Jesus eram os fariseus e não os seguidored de Cristo;

2. Os seguidores de Cristo eram exortados a irem viver o Evangelho como experiência;

3. Espero, sinceramente, que você possa dar um apoio real a alguém que sofre, em lugar de perder o seu tempo com essas vaidosas tagarelices.

Em primeiro lugar, agradeço o seu interesse em meu blog e em postar um comentário que demonstra uma preocupação comigo enquanto católico. Todo católico deve chamar a atenção de um católico vaidoso. Eu agradeço por me lembrar que não sou humilde, pois é verdade. Falta muito para eu caminhar nesta trilha virtuosa. Agradeço também por me sugerir fazer mais caridade: “dar apoio real a alguém que sofre”. Agradeço por me lembrar que não sou caridoso como deveria, pois é verdade.

Dito isso, permita-me também preocupar-me com a senhora como católicae falar também algumas verdades para a senhora. Em primeiro lugar, ao ler sua mensagem, não pude deixar de lembrar um trecho de um livro de Chesterton sobre sua conversão (A Igreja Católica e a Conversão). Diz o autor, muito provavelmente descrevendo sua própria experiência: “Há muitos convertidos que alcançaram um estágio que nenhuma palavra de qualquer protestante pode fazê-lo retroceder. Somente a palavra de um católico pode mantê-lo longe do catolicismo. Uma palavra tola desde dentro é mais danosa que milhares desde fora.” Devemos cuidar com o que sai da nossa boca. Lembro-me que Jesus disse algo parecido aos fariseus.

Vamos analisar as palavras que saíram da boca da senhora, num contexto em que estou discutindo com um leitor que se diz estudante sincero que, tendo tido uma criação protestante, está com o coração aberto para ouvir minhas palavras. A senhora diz que os fariseus caçavam heresias e nós não. Um dia alguém disse isso para a senhora, talvez um padre modernista, destes que não usam batina e não confessam os fiéis em confessionário; destes que pregam o comunismo como se fosse cristianismo. Não há outra fonte possível para a inverdade que a senhora disse.

Para provar que o que a senhora disse é uma inverdade basta consultar o Novo Testamento. Vamos lá! Eu vou ajudá-la a conhecer a Doutrina da Igreja. Sei que eu devia estar ajudando os que sofrem, mas o que se me apresenta agora é uma católica que não sabe a Doutrina da Igreja e minha obrigação é ensinar o pouco que sei.

Vou começar com São Paulo falando dos hereges e das heresias:

· “... combatas o bom combate, conservando a fé e a boa consciência, repelida a qual por alguns, naufragaram na fé: desse número são Himeneu e Alexandre, os quais eu entreguei a satanás, para que aprendam a não blasfemar.” (1 Tim. 1:19-20) Aqui Paulo chega a dar o nome dos hereges e diz para Timóteo lutar contra eles.

· “Ora, o Espírito diz claramente que nos últimos tempos alguns apostatarão da fé, dando ouvido a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios, que com hipocrisia propagam a mentira e têm cauterizada a sua consciência, que proíbem o matrimônio e o uso dos alimentos” (1 Tim. 4:1-3). Aqui Paulo dá uma definição precisa do que viria a ser os cátaros: contra o matrimônio e vegetarianos.

Vamos passar agora a São João:

· “Todo o que se aparta e não permanece na doutrina de Cristo, não tem Deus consigo; o que permanece na doutrina, este tem consigo o Pai e o Filho. Se alguém vem a vós e não traz esta doutrina, não o recebais em vossa casa, nem o saudeis, porque quem o saúda, participa das suas obras más.” (2 Jo. 9-11) Alguém duvida de que São João, o discípulo muito amado, esteja falando de hereges aqui?

· “assim tens tu também sequazes da doutrina dos nicolaítas. Faze igualmente penitência; do contrário virei a ti brevemente, e pelejarei contra eles com a espada da minha boca.” (Apoc. 2: 15-15) Aqui São João fala de uma seita herética, dos nicolaítas, que ele vai combater.

Passemos agora a São Pedro:

· “Ora, assim como entre o povo houve falsos profetas, do mesmo modo haverá entre vós falsos doutores, que introduzirão seitas de perdição e renegarão aquele Senhor que os resgatou, atraindo sobre si mesmos uma pronta ruína.” (2 Ped. 2:1)

· “Sabei antes de tudo que nos últimos tempos virão embusteiros zombadores, vivendo segundo as suas concupiscências e dizendo: Onde está a promessa, ou a vinda dele?” (2 Ped. 3:3-4)

Deixemos, por último, que Nosso Senhor nos fale:

· “Guardai-vos dos falsos profetas, que vêem a vós com vestes de ovelhas mas por dentro são lobos rapazes” (Mat. 7:15)

· “Porque virão muitos em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo, e seduzirão muitos.” (Mat. 24:5)

Há muitas outras citações do Novo Testamento que mostram tanto Jesus Cristo quanto seus apóstolos extremamente preocupados com os hereges e suas heresias. Assim, caríssima irmã católica, pare imediatamente de falar inverdades sobre assuntos que a senhora desconhece.

Estou aqui matutando o que a senhora entende por viver o Evangelho como experiência. Os trechos que citei acima mostram que fazia parte da experiência cotidiana de Jesus e os apóstolos alertarem e lutarem contra as heresias. De outro lado, não há como viver o Evangelho senão como experiência. Mas suspeito que essa coisa de viver o Evangelho como experiência pode querer dizer outra coisa: vivê-lo na base do “paz e amor”, na base do vale tudo religioso, na base de “toda religião é boa”. Se for isso, minha irmã católica, a senhora está muito longe do catolicismo, tenho a obrigação de lhe dizer. Digo até que, se a senhora realmente considerar que viver o Evangelho é praticar o ecumenismo dos padres sem batina, aí a senhora terá de se converter ao catolicismo!

Dou-lhe um conselho, para terminar. Compre e leia As Grandes Heresias, de Hilaire Belloc; este livro fará bem à senhora.

15 comentários:

Anônimo disse...

Professor,

O senhor está cada dia melhor. Parabéns!
Por favor publique mais cartas para assim nos ajudar a argumentar melhor em defesa da fé.

Anônimo disse...

Eu vou ajudá-la a conhecer a Doutrina da Igreja. Sei que eu devia estar ajudando os que sofrem, mas o que se me apresenta agora é uma católica que não sabe a Doutrina da Igreja e minha obrigação é ensinar o pouco que sei.

Sou sua fã!!

Anônimo disse...

Caro Professor Anguet, bela carta!
Existe tradução disponivel em algum lugar deste livro de Chesterton que o senhor cita, A Igreja Católica e a Conversão.
Desde já muito obrigado.
Bruno Lima.

Antonio Emilio Angueth de Araujo disse...

Caro Bruno,

Infelizmente não existe tradução deste livro de Chesterton. Talvez um dia eu possa traduzi-lo.

Um abraço. Antônio Emílio Angueth de Araújo.

Andrea Patrícia disse...

Professor, o senhor ajuda sim as pessoas que sofrem! Eu sofro ao ver tanta bobagem e tantas mentiras ditas contra a Igreja Católica e é bom que existam pessoas como o senhor que ajudam a esclarecer questões, ajudam pessoas com dúvidas sérias como os que aparecem aqui buscando seu auxílio!

Quantas pessoas sofrem por aí envolvidas pelas mentiras dos hereges? É preciso que existam pessoas que combatam estas heresias para alertar os incautos. Afinal, já dizia o Papa S. Felix III “Não se opor ao erro é o mesmo que aprová-lo”!

Que Nosso Senhor Jesus Cristo o abençoe e que o senhor possa continuar a combater o bom combate!

Anacoreta, o Penitente disse...

Caro Professor, ensinar os ignorantes e dar bom conselho são obras de misericórdia espiritual, o que desnuda ainda mais a ignorância da "irmã católica" sobre a doutrina da Igreja. Ela não sabe que a compreensão incorreta do Evangelho a levará a praticá-lo incorretamente...como os fariseus o faziam com o AT! Quantas pessoas sofrem com os desatinos que cometem por desconhecerem um ensinamento seguro como o da Igreja! Quanta loucura no mundo! Quantos ignorantes da sã doutrina tentam, em vão, buscar o caminho, a verdade e a vida em falsas igrejas e nas idolatrias modernas! Irmã, vá estudar e meditar o Catecismo junto com a Bíblia que diz ler; frequente os sacramentos; aprenda alguma forma de oração contemplativa católica e alguma boa devoção; com a inspiração que conseguir, vá viver o Evangelho com bravura! Quanto ao professor, parabéns pelo estilo elegante e pela inspiração do conteúdo de seus escritos!

Anônimo disse...

Angueth detona mais uma vez! Inteligente e perspicaz.
Um abraço do leitor,

Ricardo2

WELIO disse...

Irmã Católica,

Para incrementar a lista de pessoas que você precisa também puxar a orelha, vou citar mais alguns: imagina que S. Irineu de Lyon escreveu um trabalho de 5 volumes chamado Adversus Haereses (contra as heresias? Um Santo da Igreja?! Para piorar a situação, São João Crisóstomo faz um séria de homilias Adversus Judaeos (Contra judeus) criticando cristãos judaizantes. Aí, vem Orósio que por influência Santo Agostinho e nos manda um Historiæ adversum Paganos (História Contra os Pagãos). Depois tem S. Tomás, S. Domingos... santos inquisidores, papas que pronunciam anátemas e excomunhões... Ah! irmã! Vai precisar de fazer um bom alongamento com o polegar e o indicador.

Anônimo disse...

Já tive algumas "visões" das atuais Irmãs e sempre fico admirado com o desconhecimento que elas têm sobre os próprios Evangelhos e as coisas bacanas que aceitam para encobrir esse ignorância. Conheço uma que pratica yoga...

Bem, eu gostaria de recomendar para aqueles que entendem italiano um site bem apropriado para quem quizer conhecer melhor a chamada "legenda negra", ou seja, aquela longa série de calúnias, difamações e grosseriam torpes que lançam contra a Igreja.

www.kattolico.it/leggendanera/index.php

Há nele um artigo bem a propósito sobre as alegadas perseguições feitas pelos católicos contra as bruxas. Ali se esclarece que os protestantes foram os maiores executores de bruxas.

Vale a pena,

Luiz Melendez

Anônimo disse...

Nossa distinta Freira não está perdoando o inimigo Angueth. Seu projeto para o Angueth se tornar católico, apostólico, romano consiste em torná-lo agente de uma CEB, ensinando 'cidadania' na favela?

Pedro disse...

"Combatas" ou "combate" (imperativo do verbo "combater")?

Pedro disse...

Mais um erro: "vêem" em vez de "vêm".

Um comentário a:

"não o recebais em vossa casa, nem o saudeis, porque quem o saúda, participa das suas obras más."

Isto entra em contradição com as palavras de Cristo, expressas em Mateus 5, 46-48:

"Porque, se amais os que vos amam, que recompensa haveis de ter? Não fazem já isso os cobradores de impostos? E, se saudais somente os vossos irmãos, que fazeis de extraordinário? Não o fazem também os pagãos? Portanto, sede perfeitos como é perfeito o vosso Pai celeste."

http://www.paroquias.org/biblia/?c=Mt+5

Antonio Emilio Angueth de Araujo disse...

Caro Pedro,

Transcrevi o trecho diretamente da Bíblia traduzida por Pe. Matos, Paulinas 1980, e nem me preocupei em verificar os tempos verbais. Mas você está certo; o imperativo do verbo combater é combata, no afirmativo, e (não) combatas, no negativo. Obrigado pela correção.

Em JMJ.

Antônio Emílio Angueth de Araújo.

Antonio Emilio Angueth de Araujo disse...

Caro Pedro,

Não há contradição alguma entre João e Nosso Senhor. Aliás, se houvesse, ele não seria o discípulo muito amado. Os dois estão expressando a mais pura doutrina católica.

Caridade não significa ser "bonzinho" com as pessoas, não significa nem mesmo recebê-las em nossas casas. Isso é um tema vasto, que não dá para desenvolver aqui.

Duvide sempre quando você encontra uma aparente contradição entre Nosso Senhor e seus apóstolos.

Obrigado mais uma vez pelas correções ao Pe. Matos Soares.

Em JMJ.

Antônio Emílio Angueth de Araújo.

Jacqueline disse...

Criticar é um direito cristão, ouvi essa assertiva de um bispo, não concordar é um direito, mas a crítica e a não concordância quando são construídas sem o amor, elas nos afastam de Deus. Pode-se criticar, mas com ternura, o diálogo é possível.