O Catolicão é o título de um fantástico artigo de
Murilo Mendes sobre os católicos de sua época; penso que o texto deve ser de
décadas pré-conciliares, o que indica que o catolicismo já estava em vias de
uma degeneração acentuada. Eis o link para o artigo:
https://periodicos.ufsc.br/index.php/literatura/article/view/5105/4809
Levado pelo
artigo, procurei menções a Murilo Mendes no diário de Josué Montelo e encontrei
esta pérola, na entrada do dia 20 de dezembro de 1955. Grande Murilo Mendes.
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Lá fui eu, esta noite, ao programa de
João Condé, na TV Tupi, para ser crivado de perguntas, ao vivo, diante das
câmaras, no calor do estúdio intensamente iluminado.
Antes de começar o programa, sento-me
no lugar que me é destinado, por baixo de grandes lâmpadas que pendem do teto.
Olho-as com receio, no temor de que estourem sobre minha cabeça, e meu temor é
justificado pela experiência de meu programa anterior, naquele mesmo estúdio,
quando o poeta Murilo Mendes, o diplomata Roberto Assunção e eu, convocados
para um debate sobre a cultura brasileira no exterior, fomos colocados ali,
debaixo das mesmas luzes.
E ia em meio o programa, com Murilo
Mendes a discorrer sobre a sua experiência na Itália, quando uma das lâmpadas explode,
fazendo cair sobre a cabeça do poeta uma chuva de pedaços de vidro, sem que ele
deixasse transparecer a menor reação.
Ao fim do programa, perguntei ao poeta: — Como foi que você
conseguiu manter-se impassível, com aquele estrondo e aqueles cacos de vidro?
E Murilo, sério, ainda a sacudir do
paletó os últimos estilhaços da lâmpada:
— Graças a uma certa intimidade com o sobrenatural.
Agora, no programa de João Condé,
depois de lembrar-lhe o episódio, para acentuar que me falta a intimidade de que
o Murilo se desvanecia, pergunto-lhe se posso ter certeza de que não vou
receber o mesmo banho, na hora em que estiver falando.
— Fique tranquilo. Murilo,
por ser santo, tem direito a esses sustos; você, não.
3 comentários:
Caro Antonio,muito interessante e inspiradora essa passagem da vida dele.
Na última palestra dissestes que o Catolicismo é a religião da vontade e não do sentimentalismo.
Poderia em poucas palavras falar sobre a parte da vontade?
Agradeço tuas respostas as minhas perguntas anteriores.
Fique com Deus.
Farei um post para te responder, meu caro Flávio.
http://angueth.blogspot.com/2017/03/catolicismo-vontade-e-sentimento.html
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