O sr. virou herege ou pelo menos
favorecedor dos hereges?
“Aquele que ousasse afirmar que o
Pontífice teria errado nesta ou naquela canonização, e que este ou aquele santo
por ele canonizado não deveria ser honrado com culto de dulia, qualificaríamos,
senão como herético, entretanto como temerário; como causador de escândalo a
toda a Igreja; como injuriador dos santos como favorecedor dos hereges que
negam a autoridade da Igreja na canonização dos santos; como tendo sabor de
heresia, uma vez que ele abriria caminho para que os infiéis ridicularizassem
os fiéis; como defensor de uma preposição errônea e como sujeito a penas
gravíssimas.” (Papa Bento XIV - De Servorum Dei Beatificatione)
Um “bondoso”
católico anônimo, certamente preocupado com a salvação da alma deste pobre
blogueiro, deixou o comentário acima no post O dilema que a canonização de João Paulo II.
Logo que li o
comentário lembrei-me de súbito de um texto de Chesterton: O Ressurgimento da Filosofia – Por quê?. Vale a pena ler o texto todo, mas
aqui reproduzo o primeiro parágrafo: “O
melhor motivo para o ressurgimento da filosofia é que a menos que um homem tenha
uma filosofia, certas coisas horríveis acontecerão a ele. Ele será prático; ele
será progressista; ele cultivará a eficiência; ele acreditará na evolução; ele
realizará o trabalho dele mais próximo e imediato; ele se devotará a feitos,
não a palavras. Assim, atingido por rajadas e mais rajadas de estupidez cega
e destino aleatório, ele caminhará trôpego para uma morte miserável, sem
nenhum conforto, exceto uma série de slogans; tais como esses que cataloguei
acima.” [Os negritos são meus.]
O corajoso anônimo
cita o documento de um papa do século XVIII e, presumivelmente, quer aplica-lo
ao nosso século XXI. Bem, perguntemos, para começar: será que o anônimo
desconhece que a Igreja do século XXI é completamente diferente da do século
XVIII? Será que desconhece o furação que a atingiu no início da década de 1960
e que se chamou Concílio Vaticano II? Será que rajadas de estupidez já o cegaram?
Pois imaginemos uma
pequena conversa entre nós e o Santo Padre Bento XIV, sobre o estado atual da
Igreja. Imaginemos que o informássemos, de início, que a Missa que ele sempre
celebrou, que todos antes dele celebraram, tinha sido mudada, mas mudada
COMPLETAMENTE, e que hoje mais parece um culto protestante. Imaginemos sua
surpresa e profunda tristeza.
Mas imaginemos mais;
imaginemos que o informássemos que os rituais de TODOS os Sacramentos da Igreja
mudaram, que hoje os fiéis tomam as Hóstias Consagradas em suas mãos e não se
ajoelham para comungar. Que não há mais o Index
Librorum Prohibitorum, que os Papas agora celebram rituais com
protestantes, budistas, índios, etc. Que toda a legislação acerca das
indulgências foi alterada e que, finalmente, para não cansar demais o Santo
Padre, que todo o Processo de Canonização foi também alterado profundamente, chegando
a se dispensar o Advogado do Diabo e também milagres dos futuros “santos”. Não
mencionaríamos a mudança da Vulgata (elevada pelo Concílio Tridentino a texto
oficial das Escrituras Sagradas), dos encontros de Assis, do Santo Ofício ser dirigido por um Cardeal que põe
em dúvida, por escrito, vários Dogmas da Igreja, etc. Claro que não mostraríamos ao
Santo Padre o livro de Luigi Villa sobre João Paulo II.
Então, quando Bento
XIV fala sobre canonização, fala sobre uma decisão papal fundamentada num
processo absolutamente diferente do que existe atualmente. Só um louco varrido
afirmaria que as palavras de Bento XIV se aplicam ao processo de canonização
atual. Assim, nenhuma canonização poderá mudar os fatos e atos que conhecemos
de JPII. Se ele for, de fato, canonizado, tal ato não poderá ser infalível,
porque vai contra a razão humana, no mínimo! Temerário será prestar culto de
dulia ao futuro “santo”.