08/08/2012

Neurocientista (sic!) puxa orelha do blogueiro e ele responde.



Prezado,
 Sou neurocientista E católica. Acredito que você teve uma interpretação equivocada e está dizendo grandes besteiras. 
Mas vamos aos fatos de uma forma bem simples: crianças pequenas aprendem mais facilmente quando a informação passada vem na forma POSITIVA e não NEGATIVA. Isto não significa que as crianças não precisem de limites, mas influencia em como os limites serão estabelecidos, certo!?
Troque o "isto não pode" por "faça desta outra maneira", por exemplo.
 Outra coisa, já foi demonstrado cientificamente que o estilo parental mais eficiente é o autoritativo e não o autoritário. Você já escutou/pesquisou sobre o assunto!?!?
 Acredito que você como (de alguma maneira) formador de opiniões deveria se inteirar melhor do assunto e MELHORAR SUAS FONTES de busca antes de escrever/falar palavras ao vento.
 Caso tenha interesse estou a disposição para discutirmos o assunto do ponto de vista de uma neurocientista católica e sensata.
 Att. Annelise


Cara Annelise,
Salve Maria!

Obrigado pela visita ao blog e pelo comentário (não muito educado!), que pelas suas supostas credenciais é autoritário, ou seja, de uma autoridade no assunto que decide usá-la com firmeza.

Eu, como você já deve suspeitar, não sou neurocientista, mas sou católico, como você.

Quando trato com um cientista, e que fala do alto de seu saber, assim como você, vou logo à plataforma Lattes para saber com quem falo. Não ligo a mínima para o Lattes quando estou em discussão normal, pois discussões se travam em torno de argumentos, não de titulações acadêmicas. Mas você mostrou logo suas credenciais e aí não há escapatória!

Encontrei nove Annelise’s doutoras (e portanto cientistas): uma doutora em Ciências da Linguagem; duas doutoras em Engenharia (Metalúrgica e Minas); uma bolsista de produtividade em Química; uma doutora em Química; uma doutora em Sociologia e Antropologia; uma doutora em Saúde Pública; uma doutora em Medicina Veterinária; e a última doutora em Biociências e Biotecnologia. Li o pequeno resumo do perfil de cada uma e não encontrei ninguém na área de neurociências.

Continuando no Lattes, pesquisei também o banco de dados de “Demais Pesquisadores (Mestres, Graduandos, Estudantes, Técnicos, etc.)” e acho que achei você, Annelise! Acho que você é da UFMG, a minha instituição! Seu perfil nos informa que você é mestranda em Neurociências. Parabéns e boa sorte! Mas você ainda tem muito caminho pela frente para se tornar uma cientista, Annelise. Vá com calma e com humildade.

Bem, mas você disse que: “Mas vamos aos fatos de uma forma bem simples: crianças pequenas aprendem mais facilmente quando a informação passada vem na forma POSITIVA e não NEGATIVA. Isto não significa que as crianças não precisem de limites, mas influencia em como os limites serão estabelecidos, certo!? Troque o ‘isto não pode’ por ‘faça desta outra maneira’, por exemplo.”

Gostei da “forma bem simples”, pois mostra que você sabe tratar com crianças. Gostei também das maiúsculas. Lembrei-me que Chesterton tem alguns textos memoráveis sobre o uso de letras grandes pela mídia impressa (veja um deles aqui) e uma das observações do gênio inglês talvez se aplique a seu texto. Ele dizia que “Os editores usam esse alfabeto gigante ao tratar com os leitores, pela mesma exata razão que pais e professoras usam um alfabeto gigante similar ao ensinar as crianças a soletrar.”

Mas vamos aos fatos, Annelise, aos fatos! Eu criei dois filhos e sempre fiz isto que você chama de “fato”, embora não seja neurocientista. Aliás, o ser humano normal sempre faz isso, sem precisar de neurociência. Às vezes dava certo. Muitas vezes não. Pois, criança pequena, às vezes, Annelise, não tem a capacidade de compreensão das situações corriqueiras. Aí o “faça desta outra maneira” não funciona e aí, Annelise, quem detém a autoridade deve exercê-la integralmente. E aí, Annelise, uma palmada, um castigo ou uma repreensão mais forte são as únicas maneiras de solucionar o impasse e educar nosso rebento. Bem mais tarde, quando a criança não for mais pequenininha, a coisa muda de figura. O entendimento do mundo já está mais amadurecido na cabecinha dela e então um nível de diálogo mais avançado já é bem mais possível. Aí, e só aí, entra, como norma geral, o “faça desta outra maneira”. Antigamente, Annelise, quando não existia a neurociência, e quando o homem ainda utilizava o senso comum que Deus lhe deu (homem sensato, como você chama a si mesma!), as coisas se passavam assim. Excetuando-se os desequilibrados, pais amorosos (e católicos) sempre abordam os filhos com amor e carinho, mesmo quando têm de usar da autoridade máxima!

O que me espantou nas afirmações de Dom Walmor foi que ele disse o seguinte: “que a neurociência afirma que ‘até os oito anos cabem somente elogios’.” Veja, Annelise, nem o seu “faça de outra maneira” é sugerido: “somente elogios” é a nova lei da neurociência, segundo o arcebispo. E isto é uma grandíssima besteira! Não só besteira, mas mentira! Não só mentira, mas uma má sugestão. Não só má sugestão, mas uma receita para o fracasso. Não só receita para o fracasso, mas um desrespeito das Sagradas Escrituras e da lei de Deus! Este foi o assunto de meu post.

Mas você se dispõe a discutir o assunto. Qual assunto? Não quero discutir com você neurociência, da qual não dependi para criar meus filhos, graças a Deus, e da qual nada conheço. Mas quero muito sua opinião sobre os versículos das Sagradas Escrituras que eu citei. Agora, Annelise, não me venha com embromação. Quero que você interprete as Sagradas Escrituras sob o ponto de vista do “faça desta outra maneira”. Defenda o seu lado neurocientista contra o seu lado católico!

Para finalizar (falo agora para a Annelise católica), quando faço meu exame de consciência, antes de me confessar, leio as obrigações que os pais têm para com os filhos, relativas ao quarto mandamento da Lei de Deus. Uma delas é: “Deixei de discipliná-los quando necessitassem de tal?” Deixar de fazer isto é pecado contra o quarto mandamento, Annelise. Disciplinar é algo muito autoritário, como é autoritário promulgar os Dez Mandamentos. Deus e Moisés não eram neurocientistas!

17 comentários:

Luiz Fernando disse...
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Wandeley Tedeschi disse...

Prezado professor
A educação dos filhos de forma frouxa e só com elogios, gera estes pequenos monstros, que vemos todos os dias, a desrespeitar seus pais, professores e ofende-los de maneira inimaginável. Sou professor universitário, e convivo com estes filhos da "neurociencia", da "neurolinguistica", das bobagens paulo freirianas de método educacional (as minúsculas são de acordo com o valor do referido educador)...
Enfim, Jesus e todos os que lhe sucederam, jamais abdicaram da autoridade para educar, por mais duros que tivessem que ser. Sou de grande ignorância em matéria teológica, mas penso que consigo distinguir o certo do errado, sem precisar de pseudo-ciencias para dar meu norte.

Ana Souza disse...

O dia que essa gente, cientista ou n, consertar a FEBEM aí sim eu escuto suas neurobesteiras.

Até lá, meu filho receberá terapias no bumbum quando for necessário!

Augusto disse...

O que achei mais estranho é que a única fonte que o senhor citou é a Bíblia. E a moça mandou o senhor melhorar suas fontes...
Não duvido que a neurociência pode ajudar em alguma coisa, mas não desse jeito. Quero ver isso ai na prática, quero ver a proposição de alternativas mais positivas para crianças pequenas..
É bom dizer que a neurociência é, provavelmente, a melhor parte da Psicologia da UFMG.

Antônio Emílio Angueth de Araújo disse...

Augusto,

Não lhe passa pela cabeça que eu não sigo ordens de neurocientista? A moça “mandou” e eu não obedeci. A nossa discussão ocorreu em torno de versículos da Bíblia e é lá que eu estou. Se ela quiser citar fontes, ela que cite.

Você quer ver “proposição de alternativas mais positivas para crianças pequenas” por quê? Você é daqueles que querem mudar o mundo, daqueles que acreditam que “um outro mundo é possível?”. O homem cria filhos a milhares de anos. Você foi criado desde pequeno, penso eu. Tem greve de criança pequena reivindicando alguma coisa por aí?

Você diz que a neurociência é a melhor parte da Psicologia da UFMG e eu respondo: o que tenho a ver com isso? Não estou discutindo questões acadêmicas paroquiais e acho que as universidades estão indo para o buraco, se já não estão lá.

Luiz Fernando disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Antônio Emílio Angueth de Araújo disse...

Correção do meu comentário: o homem cria filhos HÁ milhares de anos...

Rafael Horta disse...

Prezado Professor Angueth,
Salve Maria!

Essa senhora, e todos que se gloriam de conhecer a "ciência", mesmo ditos católicos, se esquecem do pecado original e que todos nós, desde crianças, temos uma tendência ao mal e ao erro.

Lamentável.

Salve Maria!
Rafael Horta

Anacoreta, o Penitente disse...

Se "a neurociência é, provavelmente, a melhor parte da Psicologia da UFMG", imagine a pior, então! São eles que formam um bando de mocinhas deslumbradas como essa...

Que falta de humildade da moça! A humildade, fruto do primeiro mistério do Rosário e base de todas as virtudes, inclusive para bem aprender e ensinar melhor ainda, mandou lembranças à garota... Vá estudar um catecismo, menina!

Uma pequena correção, Prof.: ela não é nem católica. Destrona as Escrituras e o Catecismo, e eleva essa (pseudo) ciência ao altar, juntamente com o ego dela, que deve ter sido cultivado por essa educação de meia-tigela e inflado pelo gás da arrogância acadêmica.

Junte-se a ela nosso Arcebispo, deslumbrado com as asneiras que seus assessores lhe propõem, e que, junto com eles, nos empurram marxismo, ateísmo, ativismo esvaziado de conteúdo espiritual, delírios idealistas iluministas (para não dizer maçônicos), filosofismos de linguagem obscura (como consegue complicar as coisas mais simples em suas mensagens!), desvairios arquitetônicos (essa nova catedral parece um espaçoporto de filme de ficção científica), etc. Acrescente-se o deslumbramento da massa ignara que compõe a maior parte do rebanho do Prelado e estaremos como nos tempos dos fariseus às vésperas do nascimento de NSJC.

Doutrina católica, nada!

Quando essa catedral faraônica ficar pronta, nem metade da população da Grande BH se declarará católica...

Anônimo disse...

Querido professor,

Cuidado ao levantar o termo "greve de crianças" pois com os adolescentes mimados e "cheios de razão" já estamos quase lá. Viva a ONU e a tv Globo!

Leonardo

Augusto disse...

Oh professor,

Ou eu não entendi essa última mensagem do senhor para mim ou o senhor não entendeu o meu comentário ao texto do senhor.
Eu estava me dirigindo à moça e não ao senhor, por isso fui irônico. Vê lá se eu vou concordar com essas neuropalhaçadas, com todo respeito à moça, mas com toda franqueza.

Vou reescrever a minha mensagem para ser mais claro.

a) A dona mandou o senhor mudar de fontes, mas a única fonte que o senhor citou é a Bíblia que, é claro, não pode ser descartada. Achei estranho porque a moça é católica e, pelo que ela escreveu, quer que o senhor descarte a Bíblia como fonte. (Eu estava sendo irônico).

b) Eu estava falando com a moça que queria ver, na prática, essas coisas alternativas que ela propõe. Estava fazendo um desafio a ela, pois pra mim isso é só construção mental sem fundamento na realidade. Como o senhor disse, a coisa mais óbvia do mundo é que os seres humanos criam uns aos outros desde sempre, e vem dando certo, mesmo sem a neurociência. Aliás, o único artigo que eu tenho publicado trata exatamente disso, de como antigamente (século XIII) cuidavam das crianças. Além da tendência natural dos pais criarem os filhos, o que realmente ajudou na criação das crianças foi o Cristianismo, que aperfeiçoou essa tendência e corrigiu várias falhas que, é claro, existem em tudo que o homem decaído faz. O historiador Didier Lett é um que fala isso.

c) Falei que a Neurociências é a melhor parte da Psicologia na UFMG para ironizar... (apesar de ser verdade). O que eu queria dizer é: isso é o que tem de melhor lá, imaginem o resto. (Para os que não conhecem, o resto é um tal de GUDS que promove todos os pecados sexuais possíveis, um professora que defende insanamente o aborto, e tem cartazes defendendo o aborto na porta da sua sala, uma outra que eu vi defender Stalin em uma palestra, (STALIN, o que matou milhões. Com ela não tem aquela conversa mole de comunista que o stalinismo foi um desvio do plano, ela defende o Stalin mesmo), outro lá que faz aula de meditação abraçando os outros para encontrar o eu interior e por ai vai...)

Também acho que a universidade brasileira, em quase todos os campos, está de mal a pior. O Senado deu o golpe de misericórdia nessa semana, agora vai pro fundo mesmo.

É Rafael, a questão é essa. O homem é um ser tendente ao mal e insistem em ignorar essa realidade, seja ao pensar nas tais “políticas públicas”, seja na pesquisa científica.

Dito isso, não quero dizer que toda a neurociência não serve para nada, não posso menosprezar o trabalho alheio. Mas para criar crianças, certamente, isso que ela propôs não serve mesmo.

Acredito que não deixei margem para dúvidas! A comunicação por escrito tem esses problemas mesmo.
Abs
Augusto

Anônimo disse...

Parece que alguns já estão revendo isso. Saiu uma matéria interessante sobre isso na Época: http://revistaepoca.globo.com/ideias/noticia/2012/07/turma-do-eu-me-acho.html

Anônimo disse...

Prezado Professor Antônio,

Desculpe-me, a intenção não era ofender. Mesmo porque a discussão aqui é teórica e não pessoal, ou seja não haveria motivo de ofensa. Mas novamente desculpe-me. Fiquei feliz que você respondeu aos meus comentários e tenha certeza que li sua resposta atentamente.

Não vou criar mais atritos ou defender qualquer ponto de vista, contudo como meio democrático que é a internet, gostaria de direito da treplica para esclarecer melhor meus comentários.

A razão do meu tom no comentário anterior foi em virtude de como seu post pode chegar a população. Não necessariamente o que você escreveu, mas como as pessoas podem interpretar.As Neurociências estão na moda e alguns acreditam que ela possa responder a qualquer coisa. Mas isto é uma inverdade, primeiro porque não há verdades absolutas na ciência e segundo que um bom discernimento cabe em qualquer lugar.

Acho (disse eu acho, isto não quer dizer que é uma ordem e nem uma verdade absoluta, ok?) que você enquanto formador de opiniões deveria dialogar entre os pontos de vista que escreve em seus textos. Por isso sugeri que você procurasse outras referências. Não significa que você precise concordar com o outro ponto de vista e sim que é interessante informar as pessoas que leem seus textos. Novamente, só uma opinião, afinal aqui é um espaço de discussão, certo?!

Não sou contra palmadas, limites ou qualquer outro tipo de coisa citada em sua resposta ou nos comentários, só acredito que as coisas devem ser interpretadas com parcimônia e discernimento. O que eu disse não são verdades absolutas e sim resultados de alguns estudos, ok!?

Sobre a discussão da Psicologia UFMG: não me interessa se é a melhor ou a pior, o importante para mim é o trabalho ético fazendo o meu melhor que posso. Agora tem muita coisa sendo feita na Psicologia da UFMG que é de qualidade e isto vai além das neurociências. Eu mesma admiro o pessoal da Psi. Social; mesmo não sendo a minha área aprendi a conviver e respeitar as diferenças. Isto é cristão.

Percebi que ao longo da discussão foi muito julgada pelos meu colegas católicos, mas não se preocupem nenhuma pedra me atingiu. Fiquei só um pouco desapontada afinal gostaria de ter instigado uma discussão sobre religião e neurociências e não sobre a minha pessoa ou mesmo a Psicologia da UFMG.

Novamente independente do meu lattes ou do lattes de qualquer outro estou sempre aberta a discussões, pois são elas que me fazem crescer e ampliar meus horizontes.

Att
Annelise

Antônio Emílio Angueth de Araújo disse...

Annelise, veja aqui a resposta ao seu comentário.

Maurício Silva disse...

Caro professor Angueth, salve Maria!

Tenho diante de meus olhos um verdadeiro discípulo da polêmica fedeliana. Corrija-me se eu estiver errado. Não se trata de crítica; aliás, muito pel contrário: sou grande admirador do estilo do professor Orlando.

Um abraço!

Antônio Emílio Angueth de Araújo disse...

Caro Maurício, salve Maria!

Mesmo que seu comentário não fosse um elogio, eu o encararia como tal. Quem me dera ter a verve de polemista do prof. Orlando! Tive a graça de conhecê-lo pessoalmente e assistir suas extraordinárias palestras. Já escrevi um tanto sobre o professor aqui no blog. Devo a ele, e a tantos outros, minha reaproximação da Fé Católica.

Deus lhe pague.

Ad Iesum per Mariam.

Maurício Silva disse...

Professor Angueth, salve Maria!

Obrigado por manter o blog, ainda não conseguir ler muita coisa, mas já dei uma olhada em assuntos importantes, como o do Tom Woods. Aconteceu comigo de encontrar por acaso seu documentário, que é muito bom e muito recomendável, principalmente para os preguiçosos de plantão que não conseguem ler. Qual não foi a minha surpresa quando, ao ouvir seu podcast diário, descobri seu libertarianismo. Achei estranho. Tive um pequeno desentendimento com ele no twitter (veja aqui: https://therealtalk.org/posts/91073) e, ao pesquisar algo não diretamente relacionado, caí em seu blog e diretamente no artigo que tratava do Woods. Mas que coisa triste, não?!

Aproveito para perguntar se o senhor, daqui a algum tempo, não sei ao certo quanto, poderia dar seu parecer breve sobre uma tradução que me arrisquei a fazer do Chesterton. Posteriormente descobri que o texto é protegido por direitos autorais, mas agora ela já está concluída, faltando apenas uma revisão mais pormenorizada.

Quanto ao grande professor Fedelli, tive a honra de conhecê-lo na sede da Montfort e de ir a um jantar da Associação enquanto ele ainda vivia, lá pelos anos de 2006 ou 2007 (não me lembro bem). Com certeza, é principalmente graças ao seu apostolado que hoje posso me dizer católico.

Um grande abraço, professor.

In cordibus Iesu et Mariae,

Maurício.