28/04/2011

Gustavo Corção, o Chesterton brasileiro

Nota do blog – O título deste post é, na verdade, o título de um post futuro, que ainda vou escrever. Quero mostrar num futuro próximo que nenhum escritor brasileiro, dos poucos que foram influenciados pelo autor inglês, foi tão chestertoniano quanto Gustavo Corção. Não examinarei Três alqueires e uma vaca, que é um livro escrito sobre Chesterton, de uma forma completamente chestertoniana; ou seja, um livro sobre Chesterton, mas não inteiramente biográfico. Um livro que o próprio autor admite ter escrito com Chesterton, a quatro mãos. Quero examinar, sobretudo, A descoberta do outro, o primeiro livro escrito por Corção. Mas quero agora apenas compartilhar com meus leitores este artigo de nosso Chesterton brasileiro sobre o Chesterton inglês. O título do artigo é simplesmente G.K. Chesterton. É um artigo que eu gostaria de ter escrito, tivesse eu a competência de um Corção, pois expressa muito de minha própria experiência com o gigante da rua Fleet.
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Graças à vigilância de Antônio Olinto, na sua “Porta de Livraria” de O Globo, chego ainda a tempo para saudar o centenário de G. K. Chesterton, o incomparável escritor inglês que mais indelevelmente me marcou a alma nos dias em que andei perdido pelo mundo a procurar uma luz, luz de João e Maria, luz de Casa, luz de acolhimento entre as trevas de meu triste exílio. Devo a Chesterton as primeiras alegrias católicas. No seu grande livro, Ortodoxy, onde esteve mais à vontade para atirar nos braços da cruz seu jogo de inebriantes paradoxos, entre outras descobertas maravilhosas do cristianismo, ele nos diz aquilo que Cristo de si mesmo nos escondeu: “There was some one thing that was too great for God to show us when He walked upon our earth; and I have sometimes fancied that it was His mirth.” Tentemos traduzir estas palavras de ouro com que Chesterton fecha sua obra-prima: “Uma coisa houve que era n’Ele grande demais para nos ser mostrada enquanto Ele andou por este mundo, e eu penso às vezes que foi sua alegria”. Ou seu riso. Ou seu júbilo. O termo mirth é aqui intraduzível. E ouso dizer que o grande poeta da língua fechou seu livro-jóia sabendo bem que só podia encerrar com um termo impróprio, tratando-se de coisa que esteve sempre presente e todavia escondida na vida de Jesus.

Outro notável inglês deixou-nos, sobre a poesia, uma definição inesquecível: “poetry is emotion recollected in tranquility”; donde nós tiramos uma definição de liturgia: “liturgy is passion recollected in tranquillity”, cujo teor paradoxal, próprio do Mistério da Fé, parece mostrar, sob as aparências do júbilo e da festa, a dor e o Sangue de nossa Redenção. Fiel a esse espírito, Chesterton não procurou nos seus tão admirados paradoxos fazer acrobacias verbais, e muito menos procurou jogos para agradar os jovens e os imaturos. Pascal, com seu timbre de abismos, não é mais trágico nem mais sério do que Gilbert Keith Chesterton, em cuja obra, como disse atrás, eu tive a felicidade de encontrar no caminho daquilo que Jesus nos escondeu, isto é, das mais puras e vivas alegrias católicas deste mundo. Com um extraordinário vigor do Dom da Ciência, que está na linha da Fé e da Esperança, isto é, das virtudes peregrinas, Chesterton viu que o mundo, e mais fortemente os dias deste século de corrida atrás do vento, está desconcertado, subvertido, de cabeça para baixo, e então, para poder descobrir melhor seus erros e suas malícias, punha-se ele mesmo freqüentemente de pernas para o ar. Sua obra de apologia, assim condicionada, fazia função de revulsivo, de purgativo, e operava inopinadas restaurações nos desconcertos do mundo. O personagem principal de O poeta e os loucos era ágil, nessa ginástica, e, em quase todos os contos dessa série, quem diz loucuras é o sábio, o sisudo, o poeta, o sério; e quem fazia as mais desvairadas loucuras era o homem pausado, equilibrado na representação diplomática dos desvarios do tempo.

Chesterton criou, depois de Edgar Poe e Conan Doyle, o tipo de novela policial em que o genial investigador, longe de ser o esmiuçador sagaz e raciocinante, era o Padre Brown, o Padre Vicente O.F.M., seu amado confessor, que tinha os olhos lavados pela Fé e pelo colírio das lágrimas e assim conseguia, mesmo cochilando, descobrir os meandros da malícia mais pela ingenuidade do que pela sagacidade. Em A Esfera e a Cruz, espécie de romance simbólico e apocalíptico, reaparece o personagem obsessivo de Chesterton, em luta implacável, mas por fim, cordialíssima, com o ateísmo desvairado da época. Na verdade, porém, não é o ateu Tornbull o adversário; não, em A Esfera e a Cruz, o espírito hediondo que Chesterton detesta, como detesta o Diabo, é o liberalismo que pretende evitar o confronto e a luta entre o Bem e o Mal. O personagem mais repugnante da sucessão de figuras que se levantam contra o Combate é o pacifista, contra o qual Chesterton não disfarça sua náusea extrema. Porque Chesterton foi sempre guerreiro. Em tempo e contratempo combateu o bom combate, e guardou a Fé até o momento supremo em que o Padre Vicente, depois de ministrar-lhe a extrema-unção, ajoelhou-se aos pés da cama do agonizante e com piedade profunda beijou a pena que estava à mesa-de-cabeceira, como que a descansá-la também, depois de ter escrito mais de oitenta volumes a serviço de seu Rei e de sua Dama.

Grande falta nos fazem hoje autores como Chesterton, que souberam desarmar, denunciar, desmascarar os ídolos, os ideais dos tempos modernos, que não passam das “antigas virtudes cristãs tornadas loucas” ou perversas.

Na falta dessa leitura saudável, tônica, fortificante, curativa, inebriante do melhor espírito, surgiu em seu lugar, a fazer um sucesso editorial que deveria ruborizar o planeta Terra e empalidecer o planeta Marte, surgiu o repulsivo impostor Teilhard de Chardin, que renega a Fé, abandona os mestres da Companhia de Jesus e da Igreja, para inventar uma gnose tola, de medíocre ciência ensopada com religião ainda pior, graças a cuja fétida composição consegue atrair os espíritos fracos.

Não me canso de agradecer a Deus o fato de ter encontrado Chesterton nos dias de desolação em que, sempre crendo em Deus-Todo-Poderoso, Criador do Céu e da Terra, das coisas visíveis e invisíveis, não conseguia, entretanto, encontrar a alameda e a porta de Sua Casa. A par de todos os defeitos e imperfeições, tenho a alma muito agradecida, porque desde cedo até tarde, na tarde da vida, deu-me Deus a ventura de sentir a dependência em que vivi, de minha mãe, de meus irmãos, de meus alunos, de meus professores, de todos os que neste longo trajeto que já se aproxima do marco assinalado pelo salmista para os vigorosos, sim, sempre tive a ventura de sentir muito melhor o bem que me fizeram e que especialmente reservo aos que me ajudaram na morte para o mundo. E entre esses reservo um especial lugar no altar que hoje adornei em meu velho coração para lembrar G. K. Chesterton.

O resto desta apologia e deste estudo está no livro Três alqueires e uma vaca, que escrevi quando, graças a Chesterton, entre tantos autores e amigos, consegui passar no vestibular da Casa do Pai, isto é, consegui voltar à Fé e à Igreja de meu batismo. Ave Maria! 

 O Globo 06/06/1974.
Do site Permanência.

25/04/2011

QUEM SÃO OS CONSPIRADORES?

Do livro A Coisa, 1929
G.K. Chesterton

Deparei-me, outro dia, mais ou menos indiretamente, com uma senhora de maneiras educadas e até elegantes, do tipo que seus inimigos chamariam de extravagante e seus amigos de refinada, que por acaso mencionou certa pequena cidade da parte oeste do país, e aduziu, com uma voz sibilante, que ela continha “um ninho de católicos romanos”. Isto aparentemente se referia a uma família que casualmente eu conheço. A senhora então disse, com uma voz alterada de profundo fatalismo: “Só Deus sabe o que é dito e feito atrás daquelas portas fechadas.” 

Ao ouvir essa estimulante especulação, minha mente retrocedeu às minhas lembranças do lar em questão, que estão ligadas principalmente a biscoitos doces e a uma pequena menina que se persuadira firmemente de que eu era capaz de comer um número ilimitado deles. Mas quando eu contrastei essa memória com a visão daquela senhora, ficou repentina e surpreendentemente claro para mim o vasto abismo que ainda se estende entre nós e muitos de nossos compatriotas, e as extraordinárias idéias que sobre nós ainda entretêm pessoas que andam por aí, sem cuidadores ou camisas-de-força, e que aparentemente são, em todos os outros assuntos, sãos. É, sem dúvida, verdade, e teologicamente razoável, dizer que só Deus sabe o que acontece nas casas dos católicos; como o é dizer que só Deus sabe o que se passa na cabeça dos protestantes. Não sei por que as portas dos católicos deveriam estar mais fechadas que as portas dos outros; o hábito não é incomum em pessoas de todas as crenças filosóficas quando se recolhem à noite; e em outras ocasiões, dependendo do clima ou do gosto pessoal. Mas mesmo aqueles que acham difícil acreditar que um católico comum é tão excêntrico a ponto de se trancar na sala de estar, ou de fumar, assim que ele ponha o pé em casa, têm realmente uma idéia obsessiva de que é mais concebível isto de um católico do que de um metodista calvinista ou de um irmão Plymouth.[1] Permanece o sabor rançoso de um tipo de romance sensacionalista acerca de nós; como se fossemos todos nobres estrangeiros ou conspiradores. E o fato realmente interessante é que esse absurdo melodrama pode ser encontrado entre pessoas instruídas; embora, na atualidade, mais em indivíduos instruídos do que numa classe instruída. O mundo ainda nos faz esse elogio louco e imaginativo ao imaginar que somos muito menos comuns do que realmente somos. O argumento, claro, é aquele com o qual estamos exaustivamente acostumados, em milhares de outros aspectos; o argumento de que porque a evidência contra nós não pode ser encontrada, ela deve ser ocultada. É óbvio que os católicos romanos não gritam uns com os outros nas ruas os detalhes do massacre de São Bartolomeu;[2] e a única conclusão que qualquer homem razoável pode tirar é que eles o fazem a portas fechadas. O projeto de por fogo em Londres não é, exceto raramente, proclamado em letras grandes em pôsteres do Universo; então, que conclusão possível pode haver, senão que os sinais são dados em mesas de chá particulares, por meio de um alfabeto simbólico de biscoitos doces? Seria um exagero dizer que é meu hábito diário pular sobre velhos judeus na rua Fleet e arrancar seus dentes; então, dada minha admitida obsessão, resta apenas supor que minha casa é equipada como uma câmara de tortura para esse modo de odontologia medieval. Os crimes católicos não são maquinados em público, então é razoável supor que eles sejam maquinados em privado. Há realmente uma remota terceira alternativa; que eles não sejam maquinados absolutamente; mas é absurdo esperar que nossos compatriotas sugiram uma coisa tão extravagante. 

Ora, essa misteriosa ilusão, ainda muito mais comum do que muitos supõem, mesmo na Inglaterra, e que se estende a todo o interior dos EUA, é por acaso outro exemplo do que sugeri em um ensaio anterior; o fato de que aqueles que estão sempre bisbilhotando e procurando por coisas secretas sobre nós, nunca nem mesmo notaram as coisas mais evidentes sobre eles mesmos. Temos apenas de nos perguntar o que seria dito se realmente confessássemos alguma conspiração tão descaradamente como metade de nossos acusadores fez. O que seria dito, tanto nos EUA quanto na Europa, se realmente tivéssemos nos comportado como uma sociedade secreta, em lugares onde os grupos de nossos inimigos não podem nem mesmo negar que são, eles próprios, sociedades secretas? O que aconteceria se o Congresso Católico de Glasgow ou Leeds realmente consistissem inteiramente de delegados encapuzados de capa e capuz brancos, todos com suas faces cobertas e seus nomes desconhecidos, a observarem pelas frestas de suas apavorantes máscaras brancas? Contudo, esta era, até muito recentemente, a rígida rotina da grande organização americana empenhada em destruir o catolicismo; uma organização que recentemente ameaçou tomar o governo dos EUA. O que seria dito, se realmente houvesse uma coisa definida, reconhecida e inteiramente desconhecida, chamada de Sociedade Secreta dos Católicos; tal como tem havido, desde há muito tempo, uma reconhecida, mas desconhecida Sociedade Secreta dos Maçons? Ouso dizer que muito do que está envolvido em tais coisas é apenas tolice inofensiva. Mas se tivéssemos feito tais coisas, teriam nossos críticos dito que elas eram apenas tolices inofensivas? Suponha que começássemos a disseminar a Fé por meio de um movimento chamado “Know Nothing”[Nada conhecemos],[3] porque tivéssemos o hábito de balançar nossas cabeças, dar de ombros e jurar que nada conhecíamos da Fé que intencionávamos propagar. Suponha que nossa veneração pela dignidade de São Pedro fosse total e completamente uma veneração pela negação de São Pedro; e que a usássemos como um tipo de motto ou senha para o juramento de que não conhecíamos Cristo. Contudo, esta era reconhecidamente a política de todo um movimento político nos EUA, que objetivava destruir a cidadania dos católicos. Suponha que a Máfia e todas as associações secretas de assassinos do Continente estivessem trabalhando notoriamente para o lado católico, e não para o outro lado. Será que nos deixariam sossegados por isso? O mundo não ressoaria com denuncias indignadas acerca da desgraça de nossa conduta, e de uma traição que nunca deveria ser esquecida? Contudo, essas coisas são feitas constantemente, e a intervalos regulares, e inclusive nos dias que correm, por partidos anti-católicos; e nunca é considerado necessário lembrá-las, ou dizer uma palavra de desculpa, nos escritos de qualquer partidário anti-católico. É apenas nosso modo jesuítico que nos faz ousar olhar sobre as cercas, quando todo mundo está apenas roubando cavalos. 

Em resumo, o que eu disse recentemente sobre fanatismo é ainda mais verdadeiro sobre coisas secretas. Quanto a haver algo meramente antiquado acerca de certo tipo de estreiteza doutrinal, esta se encontra muito mais em Dayton, Tennesse,[4] do que em Louvain ou Roma. E da mesma forma, quanto a haver algo antiquado sobre todas essas farsas de máscaras e mantos, elas têm sido muito mais características da Ku Klux Klan do que dos Jesuítas. Em verdade, esse tipo de protestante é uma figura de melodrama ultrapassado, em duplo sentido e em duplo aspecto. É antiquado nos complôs que ele nos atribui e naqueles que ele próprio pratica.  

Em relação à sua prática, é provável que o mundo a descobrirá muito antes dele. O anticlerical continuará encenando solenemente as trapaças de Cagliostro,[5] como um médium ainda venda os olhos à luz do dia; e abrirá sua boca em palavras de mistério muito depois de todos no mundo estiverem completamente iluminados a respeito dos Illuminati.[6] E embora a comicidade quase imbecil daquela sociedade americana, que parece consistir inteiramente de começar tantas palavras quanto possível com KL, tenha sido atenuada por uma reação de sanidade relativa, não tenho dúvidas de que há ainda muitos nobres companheiros nórdicos saudando-se pelo feliz segredo de serem um Kláguia ou um Klimperador, muito tempo depois que todo mundo parou de se klinteressar por isso. Sob o aspecto político, o poder de tais conspirações foi praticamente desarticulado em ambos os Continentes; na Itália, pelos fascistas e nos EUA, por um conjunto de governadores razoáveis e de espírito público de ambos os partidos políticos. Mas a questão de interesse histórico permanece: a de que as mesmas pessoas que nos acusavam de mistificação e mistério é que envolveram todas as suas atividades secularizadas com mistérios e mistificações muito mais fantásticas; a de que eles nem sequer tiveram a hombridade de lutar contra um antigo ritual com a aparência de uma simplicidade republicana, mas se gabaram de ocultar tudo numa espécie de complexidade cômica; mesmo quando não havia nada a ocultar. Hoje, movimentos com a Ku Klux Klan têm muito pouco a ocultar ou que valha a pena ocultar; e é portanto provável que nossa curiosidade romântica sobre eles seja muito menor que a imperecível curiosidade romântica deles sobre nós. A senhora protestante continuará ressentindo-se do fato de que Deus não compartilhe com ela Seu conhecimento do extraordinário significado do chá com biscoitos doces no lar católico. Mas nós provavelmente sentiremos cada vez menos interesse por qualquer coisa que os Kláguias fazem a portas fechadas [closed doors] – ou talvez eu devesse dizer, portas klechadas (klosed doors).



[1] A Irmandade Plymouth era uma seita milenarista que surgiu em Plymouth, Inglaterra, nos anos 1830. (N. do T.)
[2] O massacre de São Bartolomeu foi o assassinato de protestantes, por católicos franceses, que começou no dia de São Bartolomeu do ano de 1572. (N. do T.)
[3] Partido Americano, ou Know Nothing, anti-católico e anti-imigração, formado apenas por homens protestantes.  Este partido floresceu em meados do século XIX, nos EUA, e se opunha fortemente à imigração de católicos irlandeses e alemães. (N. do T.)
[4] Cidade onde, em 1925, aconteceu o julgamento de um professor de biologia, John Scopes, acusado de infringir uma lei estadual que proibia o ensino da teoria da evolução. (N. do T.)
[5] Conde Alessandro Cagliostro (1743-1795) foi o nome assumido pelo siciliano Giuseppe Balsamo, que ganhou notoriedade como alquimista e vendedor de drogas e poções. (N. do T.)
[6] Seita secreta criada, em 1776, por Adam Weishaupt, um obscuro professor de filosofia da Universidade de Ingolstadt, na Bavária. Acredita-se que os Illuminati tiveram participação decisiva na Revolução Francesa e em todo o movimento hoje conhecido como iluminismo. Para isto, ver, por exemplo, Libido Dominandi – Sexual Liberation and Political Control, de E. Michael Jones, Editora Saint Augustine, 2000. (N. do T.)

20/04/2011

No Sangue

Nota do blog: não custa nada, nesta Semana Santa de 2011, lembrar o valor do Sangue de Nosso Senhor. Acompanhemos o grande Corção, que rastreia este Sangue e o traz até nós, sem deixar de nos alertar acerca do sofrimento da Igreja, de seu sangramento, nestes tempos de modernismo extremo.
Gustavo Corção


Desde os primeiros anos de sua peregrinação na terra, "entre as aflições dos homens e as consolações de Deus", a Igreja sempre marcou uma especial devoção pelo Sangue de nossa salvação. Já o Apóstolo em Hebreus IX, 22 diz: "É com sangue que quase todas as coisas se purificam e sem efusão de sangue não há salvação". 

Mas foi no tormentoso século XIV que Catarina de Sena, nas cartas e nas lições ditadas aos seus discípulos, pôs uma singular ênfase na riqueza de significações do Sangue, sim, uma ênfase marcante no Sangue! Transcrevemos a seguir algumas amostras de sua pregação colhidas ao acaso no livro Sainte Catherine de Sienne vous parle do Pe. S. Bezin O.P., ed. L´Abeille, Lyon, 1941: "Corramos, então, corramos todos cristãos fiéis, atraídos pelo odor do Sangue" (pág. 251). "Inebriemo-nos do Sangue de Jesus crucificado já que o temos ao nosso alcance. Não nos deixemos morrer de sede. Não nos contentemos com pouco, mas tomemos muito para nos embriagarmos e nos afastarmos de nós mesmos". "Nós não fomos resgatados por preço de ouro, nem somente por amor mas pelo Sangue". "Não há outra maneira de saciar o homem: somente neste Sangue poderá alguém se desalterar". "Este Sangue é nosso, foi derramado para nós, ninguém nô-lo pode tirar a não ser nós mesmos" (pág. 252). 

Folheando o epistolário de Santa Catarina de Sena em seis volumes (Le Lettere di S. Catarina de Siena, Casa Editrice Marzocco, Firenze 1947) não resistimos ao desejo de transcrever mais este grito da Dolce Mama: "Caminho sobre o sangue dos mártires, o sangue dos mártires ferve e convida os vivos a serem fortes". 

Tenho a firme convicção de que Santa Catarina de Sena falava com esta obsessiva insistência por uma razão muito simples e muito extraordinária: a vigésima terceira filha do tintureiro Benincasas via o Sangue do nosso Salvador em todos os sinais sagrados da Igreja. Quando por exemplo ela procurava seu confessor Frei Raimundo de Capua costumava dizer: "Vou-me ao Sangue".

De bom grado ficaria aqui a contar histórias da dolce mama Catarina; mas o encontro marcado deste artigo me obriga a seguir o roteiro que deixa quinhentos anos para trás a santa padroeira da Itália. 

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Foi efetivamente no século XIX, no longo e glorioso pontificado de Pio IX, que o preciosíssimo Sangue de Jesus teve no calendário da Igreja o lugar que merecia. Pio IX, caro leitor, foi o grande Papa que sempre combateu os graves erros de seu tempo sem nenhuma transigência e acomodação à mentalidade contemporânea. E não somente denunciou os erros de uma "civilização" apóstata, como também nos ensinou o modo de combatê-los. 

Em 9 de novembro de 1846 Pio IX lançou com a encíclica Qui Pluribus, seu primeiro brado de alerta; mais tarde, em 8 de dezembro de 1864, publicou a encíclica Quanta Cura, à qual anexou o famoso Syllabus que catalogava as proposições errôneas que a Igreja condenava, e que ainda hoje, onde ela estiver, una e santa, continua a condenar. Todas essas publicações foram firmadas na santa intolerância, sem a qual não há nem pode haver catolicismo fiel a Deus e marcado pelo Sangue de nosso Salvador. 

Essa pregação desencadeou a fúria dos anarquistas italianos (carbonários) que, comandados por Garibaldi e Mazzini, conseguiram expulsar de Roma o Papa para júbilo de todos os revolucionários da época, e de todos os liberais que, desde então, fizeram tudo para lançar à execração pública até hoje as encíclicas de Pio IX, principalmente o Syllabus. 

Os soldados franceses e pontifícios conseguem dominar a fúria dos carbonários, e com o apoio deles o Papa volta a Roma. 

Em ação de graças por essa vitória contra os inimigos da Igreja, Pio IX teve a idéia de marcar no calendário católico uma data litúrgica que ficou até anteontem fixada no dia 1o. de julho, sendo o mês inteiro consagrado ao Preciosíssimo Sangue. Até anteontem a festa do Preciosísismo Sangue era considerada "duples de primeira classe". 

Será preciso dizer aos nossos leitores que no atual calendário da liturgia alterada, reformada ou deformada "para se acomodar à mentalidade contemporânea" da Igreja pós-conciliar, foi suprimida a festa do Preciosíssimo Sangue? E por quê? Primeiro, por alguma razão que comandou todo o conjunto frenético das reformas. Creio eu entretanto que a "Igreja Conciliar" e "Pós-conciliar" sente uma aversão sistemática pelo caráter de luta, de vitória e de sangue que destoa, para eles, de todas as aberturas e de todos os ecumenismos. Ocorre-me a idéia de associar a supressão do culto do Preciosíssimo Sangue, ao silêncio sepulcral da Hierarquia na data do quarto centenário da miraculosa vitória de Lepanto. Que eu saiba, em 7 de outubro de 1971 só manifestou júbilo nessa data, aqui no Brasil, a excelente publicação o Catolicismo. Para caracterizar ainda melhor esse silêncio, tivemos uma notícia singular: por ordem superior a Santa Sé, com certo alarde, devolveu os troféus, digo melhor, as relíquias daquela vitória, aos turcos. "Que turcos?" perguntou-me aflito e divertido Ariano Suassuna a quem contava eu a história de tão cômica e trágica devolução. 

Decididamente a "nova Igreja" que pretende eclipsar a Igreja Católica, não gosta de soldados, não gosta de lutas e não gosta de sangue e também não gosta de odiar o mal como Santa Catarina recomendava: "Deveis odiar o mal com os dentes". Daí o frenesi de concessões e de ecumenismos agora adotados pelas hierarquias em contradição formal com a Doutrina imutável da Igreja. 

Ao menos resta-nos um proveito nesta supressão da data litúrgica escolhida para a comemoração do Preciosíssimo Sangue. Que proveito? O de tornar cada dia mais evidente que a chamada "Igreja pós-conciliar" opõe-se sistematicamente à Tradição Católica, colocando os fiéis numa alternativa estapafúrdia: recusar as "novidades" que vêm de Roma ou acatar todos os atos, ditos e feitos do Papa reinante e para isto renegar o Depósito sagrado e os ensinamentos que a Igreja por seus 254 papas nos legou como tão bem disseram os Cardeais Ottaviani e Bacci no Breve Exame Crítico do Novo Ordo dirigido ao Papa Paulo VI no dia de Corpus Domini, em 1969. Eles disseram que as reformas litúrgicas pós-conciliares "... põem cada católico na trágica necessidade de escolher". Eu já escolhi. 

O Globo, 13/7/78

O último artigo entregue por Gustavo Corção ao GLOBO foi publicado com o noticiário sobre sua morte. Este texto, embora estivesse concluído, só foi encaminhado à redação após a morte do escritor, por seus colaboradores.

19/04/2011

Enfim, notícias boas!

Em meio a tantas notícias extraordinariamente graves para nós católicos, em meio a tantos dissabores com a Igreja pós-conciliar, em meio a tantos absurdos saídos da boca de padres modernistas e de tantos “leigos católicos” hereges, é sempre bom assinalar as notícias boas, as que trazem um refrigério para a alma.

E nada há de mais importante para leigos e clérigos católicos que a publicação de obras realmente católicas. Tendo plena consciência de minha própria ignorância, sabendo com clareza o quanto tenho de estudar para me elevar à altura de uma defesa efetiva da Igreja e de sua doutrina, num mundo cada vez mais descristianizado, não posso deixar de festejar a notícia da publicação de tantas obras importantes, como a que nos dá Sidney Silveira.

Aos leigos cabe, hoje mais que em qualquer outro tempo, o pesado fardo, de defender a Fé, que um dia cobriu como um manto sagrado toda a civilização ocidental, que a construiu. E defender a Fé é muito diferente de ter fé. O leigo que se aventurar neste nobre ofício terá de estudar (e rezar) muito e, o que torna a coisa muito mais difícil, solitariamente. Para isto é imprescindível a disponibilidade de obras fundamentais de referência. Não posso deixar de louvar, neste sentido, o esforço de Sidney Silveira, Carlos Nougué e da editora É Realizações.

Que Nossa Senhora nos dê a graça de podermos, com o auxílio destas e outras obras que caiam em nossas mãos, ser capazes de defender a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, perante um mundo pagão, cientificista, ateu, new age, tornado irracional pelo racionalismo, panteísta, gnóstico e anti-católico.  

Que Deus ajude Sidney e Carlos em seus esforços.

17/04/2011

Obrigado, professor Angueth!

Nota do blog: Um leitor me envia o texto abaixo, com a seguinte nota prévia: 

Caro professor, venho por meio deste, lhe agradecer por ‘tudo’ que o senhor fez por mim. Como não tenho meios melhores de agradecer ao senhor, faço duas coisas: Rezo sempre pela sua alma e, agora, quero lhe escrever um texto de agradecimento. Ora, queria que o senhor publicasse em seu blog, não para nos elevar, mas para as almas saberem que quem anda pela luz da igreja terá bons frutos e jamais andará pela escuridão. Apenas peço ao senhor que me coloque como anônimo, pois não importa de quem é o texto, mas se ele fala à verdade. Faço isso, mais uma vez, não para nos elevar, mas para o bem das almas, pois ‘amo a Deus e a alma’ (Santo Agostinho, solilóquios). Que Nossa Senhora lhe guie sempre! Graduando em filosofia.

De minha parte, agradeço a Santa Catarina de Sena e a Nossa Senhora, Mãe de Deus, por este modesto blog poder ajudar alguns a se aproximarem da Santa Igreja de Cristo.  
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Nasci no seio de uma família católica que sempre me educou com maestria angelical e celestial! Desde pequeno tive uma educação Católica bem séria e cheia de alegria. Porém nunca tivemos condições de bancar uma escola particular, que era o desejo de minha mãe, pois que sabia que boa coisa em escola pública não ia encontrar. Ora, ingressei em uma escola pública do meu bairro, onde não se tinha uma educação, mas se via mais uma desordenação de caráter de alunos. Lembro-me que aqueles que tinham um comportamento errado não recebiam punições, mas sim, mais "bajulação" da professora. Lembro-me também que a minha primeira professora foi uma "Protestante". Ela criticava a Igreja Católica sempre, todas as aulas. Tratava Nossa querida Mãe, Nossa Senhora, como uma insignificante (que Deus a perdoe!); O papa como um homem que só queria riqueza e poder (Que Nossa Senhora a perdoe!), e toda a doutrina católica como doutrina de Satanás (Rezemos por sua alma!). Assim como o filho, quando criança, se deixa levar pela confiança que tem em sua mãe, assim o aluno, quando criança (e infelizmente, no Brasil, quando adulto também) confia de maneira "cega" em sua professora. Por isso concordava, em minha simples inocência, com as coisas que ela falava. Eis aí o grande mal que o protestantismo fez em minha vida. Iniciou-me numa caminhada para o ateísmo. 

Os tempos foram passando e da minha fé fui me afastando! No ensino médio encontrei um professor de Filosofia, ficamos muito amigos, que era católico. Que me mostrou o caminho de novo, e não só, me mostrou a crise na Igreja! Daí em diante, fui estudar os santos. Através dele "conheci" o professor Olavo de carvalho, Orlando Fedelli, etc. Comecei a estudar, a respirar a doutrina católica, ou seja, o amor de Deus. Além disso, resolvi me dedicar ao estudo da filosofia. Entrei na Universidade, no curso de filosofia, com uma expectativa muito grande. A universidade me fez mal, pois me tornei novamente como aquela criança que confia no mestre. Lá não amadureci intelectualmente, retrocedi. Ali se respirava: ateísmo, comunismo, agnosticismo, liberalismo, abortismo, ódio a Nosso Senhor Jesus Cristo et carterva. Deixei-me levar pelas opiniões de certos professores. Estava, mais uma vez, caminhando para o ateísmo. Até que, através deste meu professor e amigo, conheci o seu blog, mais ainda, conheci Chesterton. Comecei a ler seus artigos e suas traduções sobre Chesterton. Daí, percebi o buraco em que tinha caído, mas também como poderia sair dele. Chesterton com certeza está no céu! Vi nele uma total confiança em Deus. Era um homem, se você perceber, através de seus escritos, sua personalidade; ele vivia em uma tranqüila confiança e certeza. Mostrava sua total confiança na Santa Igreja e, por isso, em Deus. Oh! Ensinou-me a viver, podemos assim dizer. Também conheço Lewis. Que me ensinou a simplicidade do Cristianismo. Tolkien, também! 

Recentemente, estava lendo um livro, Jesus e os Filósofos, que me fez ter algumas dúvidas  em relação a subordinação da razão a Deus! Não entendi muito, mas com a ajuda do professor Angueth, dei a Deus o que tinha de mais precioso e que mais valorizava: a razão que Ele mesmo me deu. E ainda segui o conselho do professor em estudar Santo Tomás, que me faz um grande bem! Hoje entendo a minha fé, mas procuro praticá-la! E agradeço, também, o senhor por isso! 

Caro professor, essas palavras podem não ter tanta importância pra certas pessoas, mas têm sim para Deus! Não porque são minhas, muito longe disso, mas porque por causa de "seus" esforços o céu um dia pode fazer festa! 

Sem mais palavras! 
Salve Maria!

13/04/2011

Chesterton and me

Nota do blog - O pessoal da Chesterton Review, revista publicada pelo Institute for Faith and Culture, me pediu para escrever um texto curto, para ser publicado na seção de cartas da próxima edição da revista, sobre a influência que Chesterton teve em minha reaproximação da Igreja. Eis aqui o texto que enviei para a revista. Deixo-o na língua de Shakespeare ... e de Chesterton. Espero não tê-la maltratado muito.

This is a little story on how Chesterton can influence people still today. It all began with Father Brown. I do not remember which short story I read first, but after this, I have read them all. The next thing I remember is the final paragraph of the Introduction to Heretics: “So, gradually and inevitably, to-day, to-morrow, or the next day, there comes back the conviction that the monk was right after all, and that all depends on what is the philosophy of Light.  Only what we might have discussed under the gas-lamp, we now must discuss in the dark.” Yes, the monk was right; he has been right all along. 

With Heretics I realized, guided by Chesterton, the superiority of Christianity, not only over other religions, but over other philosophies, over other metaphysics, and mainly, over all current cultural fads. Armed with those chestertonian weapons I then read Orthodoxy, which consolidated the Christian view I needed to re-approximate to the Church, the Catholic Church, without any shred of doubt, be it philosophical or doctrinal; “there comes back the conviction that the monk was right after all”. Then came the other books, which I am still reading and re-reading and translating to Portuguese. 

Chesterton has a very important role in my re-conversion to Catholicism. With him at my side, I could retake my early life devotion without any contradiction with the most basic metaphysical principles. I think that is what he called common sense. Chesterton reestablished the common sense in me, for what I am forever grateful to him. 

This gratefulness made me feel the responsibility to present Chesterton to my fellow countrymen, to set them free from all the cultural garbage that is flying around; cultural garbage that existed in Chesterton’s time and against which he fought so hardly and so brilliantly.  It is interesting to observe, from e-mails I received from readers of my blog, how strong and effective the influence of Chesterton can be, especially among young adults, most of them university students. Once they are exposed to Chesterton’s essays, articles and books, it is difficult for them to avoid being infected by the chestertonian common sense; no surprise he is called “the apostle of common sense”. 

Thus Chesterton has been for me not only an intellectual adventure (to read and translate him) but also a spiritual journey to the core of the Faith: “there comes back the conviction that the monk was right after all”. 

06/04/2011

Como Nossa Senhora converteu Chesterton

Nota do tradutor: Na volta de uma viagem à Terra Santa, Chesterton teve uma espécie de revelação, frente a uma imagem de Nossa Senhora, dois anos antes de sua conversão nominal ao catolicismo. Seu registro deste episódio é o pequeno trecho abaixo.

Os homens precisam de uma imagem, única, colorida e de claros contornos, uma imagem a ser trazida instantaneamente à imaginação, quando o que é católico precisa ser distinguido do que alega ser cristão ou mesmo do que é, em certo sentido, cristão. Dificilmente consigo lembrar uma ocasião em que a imagem de Nossa Senhora não se impusesse à minha imaginação de forma definitiva, à simples menção ou pensamento sobre essas coisas. Eu estava muito distante dessas coisas, e então com dúvidas sobre elas; e por isso, discutindo com o mundo sobre elas, e comigo mesmo contra elas; pois esta é a condição antes da conversão. Mas mesmo que a figura estivesse distante, ou fosse obscura e misteriosa, ou fosse um escândalo para meus contemporâneos, ou fosse um desafio para mim – nunca duvidei que esta figura fosse o símbolo da Fé; que ela incorporava, como um ser humano ainda somente humano, tudo o que A Coisa tinha a dizer para a humanidade. No momento em que me lembrava da Igreja Católica, lembrava-me dela; quando tentava esquecer a Igreja Católica, eu tentava esquecê-la; quando finalmente percebi que o que era mais nobre que meu destino, o mais livre e o mais difícil de meus atos de liberdade, foi em frente à pequena imagem dela, dourada e muito brilhante, no porto de Brindisi, que eu prometi a coisa que eu iria fazer, se eu retornasse ao meu próprio país.  

Aviso sobre a palestra de lançamento de Hereges

Para quem não pôde assistir a palestra de lançamento de Hereges, por mim proferida ontem (05/04), o editor do livro avisa que em breve disponibizará o vídeo no YouTube. Quando isto acontecer, avisarei a todos.

04/04/2011

Irmã Lúcia: o Terço é oração eucarística!

A oração do Rosário ou Terço é, depois da Sagrada Liturgia Eucarística, a que mais nos une com Deus, pela riqueza das orações de que se compõe, todas elas vindas do Céu, ditadas pelo Pai, pelo Filho e pelo Espírito Santo. 

A Glória, que rezamos em todos os mistérios, foi ditada pelo Pai aos Anjos, quando os enviou a cantá-la junto do Seu Verbo recém-nascido, e é um hino à Trindade. 

O Pai-Nosso foi-nos ditado pelo Filho, e é uma oração dirigida ao Pai. 

A Ave-Maria é, toda ela, impregnada de sentido Trinitário e Eucarístico: As primeiras foram ditadas pelo Pai ao Anjo, quando O enviou a anunciar o mistério da Encarnação do Verbo.

 “Ave-Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco”: Sois cheia de graça porque em Ti reside a fonte da mesma Graça. É pela Tua união com a Santíssima Trindade, que Tu és cheia de graça.

Movida pelo Espírito Santo, disse Santa Isabel: “Bendita sois Vós, entre as mulheres, e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus”: Se sois bendita, é porque é bendito o fruto do vosso ventre, Jesus. 

A Igreja, também movida pelo Espírito Santo, acrescentou: “Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora da nossa morte”: Isto é também uma oração, dirigida a Deus através de Maria: Porque sois Mãe de Deus, roga por nós. 

É oração trinitária, sim, porque Maria foi o primeiro Templo vivo da Santíssima Trindade: “O Espírito Santo descerá sobre Ti, — O Pai Te cobrirá com a Sua sombra, — E o Filho, que de Ti nascer, será chamado o Filho do Altíssimo”. 

Maria é o primeiro Sacrário vivo onde o Pai encerrou o Seu Verbo. O Seu Coração Imaculado é a primeira custódia que O guardou. O Seu regaço e os Seus braços foram o primeiro altar e o primeiro trono sobre o qual o Filho de Deus, feito homem, foi adorado. — Aí O adoraram os Anjos, os Pastores e os sábios da terra. Maria é a primeira que tomou em Suas mãos, puras e imaculadas, o Filho de Deus; o conduziu ao Templo, para oferecê-Lo ao Pai, como vítima pela salvação do mundo. 

Assim, a oração do Terço é, depois da Sagrada Liturgia Eucarística, a que mais nos introduz no mistério íntimo da Santíssima Trindade e da Eucaristia; a que mais nos traz ao espírito os mistérios da Fé, da Esperança e da Caridade. 

Ela é o pão espiritual das almas; Quem não ora, definha e morre. É na oração que nos encontramos com Deus, e é nesse encontro que Ele nos comunica a Fé, a Esperança e a Caridade: virtudes estas sem as quais não nos salvaremos. 

O Terço é a oração dos pobres e dos ricos, dos sábios e dos ignorantes; Tirar às almas esta devoção, é tirar-lhes o pão espiritual de cada dia. O Terço é a que sustenta a pequenina chama da Fé, que ainda de todo se não apagou em muitas consciências. Mesmo para aquelas almas que rezam sem meditar, o simples ato de tomar o Terço para rezar é já um lembrarem-se de Deus, do Sobrenatural. A simples recordação dos mistérios, em cada dezena, é mais um raio de luz a sustentar, nas almas, a mecha que ainda fumega. 

Por isso o Demônio lhe tem feito tanta guerra! E o pior é que tem conseguido iludir e enganar almas cheias de responsabilidade, pelo lugar que ocupam! 


Trecho do Pequeno tratado da Irmã Lúcia, sobre a natureza e recitação do Terço.
A Associação de Fátima


01/04/2011

Aviso aos leitores

Alguns leitores me perguntam se vou continuar a tradução de A Coisa, de Chesterton. Elas recomeçarão em breve. Talvez no final da semana que vem já teremos mais um capítulo traduzido. Adianto também que, terminada esta tradução, pretendo procurar uma editora que se interesse em publicar o livro. Caso eu não encontre, considerarei publicá-lo por meio do Clube de Autores.

Depois de A Coisa, penso em traduzir a Autobiografia de Chesterton. Vamos ver. De qualquer forma, rezem por mim.