31/01/2007
O fracasso do software livre no governo Lula (parte 2): Software Livre no Brasil vira piada lá fora
Vale a pena dar uma olhada neste link.
23/01/2007
Não tenho tanta fé para ser ateu: argumentos científicos
Depois de despachar pluralistas, relativistas, céticos e agnósticos usando apenas o papa-léguas (Lei da Não-Contradição), Geisler e Turek nos mostram como as verdades sobre a existência de Deus podem ser conhecidas, por meio dos mesmos processos que todas as outras verdades o são. (ver Não tenho tanta fé para ser ateu: argumentos lógicos)
Geisler e Turek nos dão uma aula básica sobre os processos de dedução e de indução. Esses são os processos que os seres racionais usam para conhecer a verdade. O processo de dedução está baseado na Lei da Não-Contradição e na Lei do Terceiro Excluído (ou uma coisa é ou não é). Por exemplo, Deus existe ou não existe. Ou Jesus ressuscitou ou não ressuscitou. Não há alternativas.
O processo de indução é o processo por meio do qual se tiram conclusões gerais de observações específicas. Se todas as vezes que soltamos objetos, os vemos cair no chão, concluímos que deve haver um princípio geral em funcionamento chamado gravidade. Sem o processo indutivo, podemos deduzir, logicamente, impecáveis inverdades. Por exemplo, o silogismo “Todos os homens são répteis quadrúpedes/ Zacarias é um homem/ Portanto, Zacarias é um réptil quadrúpede”, é logicamente válido, apesar de não verdadeiro.
O processo indutivo, por ser uma generalização, comporta algum grau de incerteza. Não podemos estar 100 por cento certos de que a gravidade fará todos os objetos caírem, pois, não observamos todos os objetos em queda. Da mesma forma, não podemos estar absolutamente certos de que todos os homens são mortais, pois, não vimos todos os homens morrerem. O processo indutivo nos dá uma certeza muito grande sobre as coisas e os fenômenos, mas não a certeza absoluta. Ele nos dá uma certeza acima de uma dúvida razoável, mas não acima de qualquer dúvida.
Quanto mais certeza indutiva tivermos sobre alguma coisa, menos fé precisamos para considerá-la verdade. Quanto menos certeza, mais fé. Precisamos de fé para acreditar na lei da gravidade, apesar de ser bem pequena, pois temos muita certeza indutiva. Isso se aplica tanto às coisas do universo material quanto à existência de Deus. Tal existência, segundo Geisler e Turek, deve ser considerada pelos mesmos processos indutivo e dedutivo, únicos que conhecemos, fora a revelação (que não depende de nós), para o alcance de qualquer verdade.
Quais são as evidências científicas de que o Deus bíblico criou o universo? Como este universo que conhecemos pode nos informar sobre se ele foi criado ou é eterno? Essas são as perguntas enfrentadas, primeiramente, por Geisler e Turek. O silogismo usado pelos autores é o seguinte:
Tudo que tem um início, tem uma causa;
O universo teve um início;
Portanto, o universo tem uma causa.
Bem, para um argumento ser verdadeiro ele deve ser logicamente válido e suas premissas devem ser verdadeiras. A primeira premissa é a Lei da Casualidade e negá-la será negar todo o edifício científico. Nem um grande cético com Hume fez isso.
Até o século XIX, tinha-se pouco conhecimento científico para se fundamentar a segunda premissa. Mas, atualmente, as evidências que a fundamentam são muito numerosas e precisas. Os autores apresentam a Segunda Lei da Termodinâmica, a expansão do Universo, a radiação do Big Bang e suas oscilações e a Teoria Geral da Relatividade, como evidências do início do Universo.
A Teoria do Big Bang é hoje uma teoria bastante bem fundamentada. No entanto, como ela evidencia o início do Universo, equivale a dizer, o início do tempo, do espaço e da matéria, ela pressupõe que tal universo foi criado do nada. Ora, isso é extremamente irritante para os cientistas materialistas ou panteístas. O próprio Einstein, que era panteísta, dizia que “Filosoficamente, a noção de um início para a presente ordem na natureza é repugnante ... Eu gostaria de achar uma saída para isso.” A saída que ele encontrou foi inventar um fator, pomposamente chamado de constante cosmológica, que um matemático russo mostrou ser um erro algébrico.
São tão grandes as evidências que corroboram a Teoria do Big Bang que Jostrow, um cientista auto-proclamado agnóstico, diz em seu livro God and the Astronomers (Deus e os Astrônomos): “Vemos agora que as evidências astronômicas apontam para a visão bíblica da origem do mundo. Os detalhes diferem, mas os elementos essenciais nas descrições astronômicas e bíblicas são os mesmos: uma seqüência de eventos que terminam no homem começou repentinamente num momento definido no tempo, numa explosão de luz e energia.”
Depois de tantas evidências, os autores se dizem com muito pouca fé para serem ateus.
A seguir, Geisler e Turek usam o Princípio Antrópico para corroborar a existência de um criador do universo. O silogismo usado é o seguinte:
Todo projeto pressupõe um projetista;
O Universo tem um projeto altamente sofisticado;
Portanto, o Universo tem um Projetista (Criador).
O Princípio Antrópico[1] diz que os valores observados de todas as constantes físicas e cosmológicas não são igualmente prováveis, mas elas têm valores que são exatamente os necessários para que existam lugares onde a vida pode surgir, num determinado momento da história do Universo.
Assim, o nível de oxigênio, a transparência atmosférica à radiação do cosmos, a atração gravitacional Terra-Lua, o nível de dióxido de carbono e a gravidade são exatamente os que eles devem ser para que a vida seja possível na Terra. Qualquer variação, por menor que seja, destrói toda a vida do planeta. Para se ter uma idéia da complexidade e precisão do projeto do universo, uma variação de 0,00000000000000000000000000000000000001 por cento na força gravitacional tornaria impossível a vida na Terra.
Há muito mais constantes físicas que estão sintonizadas com a vida na Terra. Algumas delas são: a força centrífuga do movimento planetário, a taxa de expansão do Universo, a velocidade da luz, a rotação da Terra, a carga do elétron etc. O cientista prêmio Nobel Arno Penzias (co-descobridor da radiação de fundo, que é a radiação proveniente do Big Bang) diz: “A astronomia aponta-nos um evento único, um universo que foi criado do nada e delicadamente projetado para prover as condições exatas para suportar a vida. Excetuando-se a hipótese absurdamente improvável do acaso, as observações da ciência moderna parecem sugerir um plano subjacente ou, pode-se dizer, sobrenatural.”
Bem, diante de tal universo, o ateu precisa de muita fé para continuar ateu. Ele precisa acreditar que se você se depara com, por exemplo, um Rolex cravejado de diamante, você tem de acreditar que tal peça surgiu no universo por acaso, por um processo longo, em que a ação do vento, da chuva e da erosão resultou nesse objeto. Em síntese, não houve projeto nem projetista por trás do relógio.
Perante tudo isso, pode-se dizer, mais uma vez, em uníssono com os autores: não tenho tanta fé para ser ateu.
Com relação à vida, o que nos diz o ateu? Bem, que o mais primário ser vivo, a ameba unicelular, foi criado por geração espontânea (sem intervenção inteligente) e que daí até nós há uma linha evolucionária que passa por toda a cadeia biológica dos seres vivos.
Quanto de informação há numa ameba? Estimativas dão conta de que essa informação é equivalente a 1000 Enciclopédias Britânicas! Imagine que você esteja passeando por uma praia e veja uma mensagem escrita na areia: João ama Maria. Não há ninguém por perto. Se você é um ateu, terá de acreditar que o vento escreveu tal mensagem. Pois, se você concluir que é necessário a existência de um indivíduo (inteligência) para criar uma mensagem tão simples quanto essa, você estará em apuros com relação à ameba.
Há dois tipos possíveis de causa para a vida: ou inteligente ou natural. A vida é constituída de complexidade específica, ou seja, há informação subjacente à vida. Não se conhece outra causa de complexidade específica que não a inteligência.[2]
Basta de amebas! O que dizer da evolução dos seres vivos? Viemos mesmo da ameba (olha ela aí de novo!)? Quando falamos da evolução da ameba ao homem, estamos falando de macroevolução. Quando falamos da ameba sobrevivendo e se adaptando ao seu ambiente, estamos falando de microevolução. Desta temos evidências científicas bastante sólidas. Daquela não há nenhuma evidência. Ou seja, os evolucionistas consideram a macroevolução uma extrapolação natural da microevolução. Só que não há uma só evidência de que essa extrapolação seja verdadeira, como nos mostra Geisler e Turek. Mais especificamente, não há evidência alguma de evolução de uma espécie a outra. Por várias razões essa evolução é, inclusive, improvável. Se não por outras razões (e elas existem em grande número) pelo menos pela inviabilidade de espécies de transição. Elas não conseguiriam sobreviver, pois são sistemas irredutivelmente complexos.
Depois de mostrar que as causas naturais da vida são altamente improváveis, Geisler e Turek abordam a hipótese de uma inteligência por trás da criação da vida. Lembremos que há apenas duas causas para a vida: ou a natural ou a inteligente. Aqui eles rebatem as objeções mais comuns à criação inteligente da vida: de que ela não é ciência, de que ela se utiliza da falácia de preencher as lacunas do conhecimento com a existência de Deus, de que ela tem motivação religiosa.
A respeito da primeira objeção os autores demonstram que se a teoria da criação inteligente da vida não for ciência, tampouco o darwinismo o é. Ambos estão tentando descobrir coisas que aconteceram no passado e ambos são obrigados a usar princípios da ciência forense. A ciência forense difere da ciência empírica de diversas formas. Ela estuda o passado ao invés do presente, ela busca singularidades ao invés de regularidades, ela estuda fenômenos não repetíveis ao invés de repetíveis, ela estuda fenômenos cuja recriação é impossível, ela estuda como as coisas começaram e não como elas funcionam, ela é testada pela uniformidade e não pela repetição e, finalmente, ela procura a origem das coisas e não como elas operam. Assim, quando o darwinismo despreza, a princípio, o projeto inteligente da vida, ele está praticando ciência forense de má qualidade.
A respeito da segunda objeção (falácia do Deus das lacunas) os autores mostram que não há lacuna de conhecimento a respeito da criação da vida. O que há são evidências, muitas evidências, da criação inteligente.
Sobre a terceira objeção (motivação religiosa) os autores a desmontam observando que motivação religiosa não é argumento de impugnação.[3] O que dizer das motivações religiosas dos darwinistas? São elas motivo de impugnação de seus argumentos?
Então, se formos acreditar na criação do universo e da vida sem levarmos em conta um Criador, teremos de acreditar que:
O nada criou algo;
A ordem surgiu do caos;
A vida se originou da não-vida;
Novas formas de vida se originaram das preexistentes, a despeito das evidências em contrário.
Quais evidências seriam necessárias para nos convencer da criação inteligente do universo e da vida? Que tal isso:
O universo começou numa explosão a partir do nada;
Um universo com centenas de constantes físicas e cosmológicas, precisamente sintonizadas a fim de suportar a vida neste pequeníssimo planeta chamado Terra;
A vida que:
é observada aparecendo só a partir de vida preexistente;
consiste de milhares (até mesmo milhões) de volumes equivalentes de informação cujas complexidades específicas são empiricamente detectáveis;
muda ciclicamente e somente dentro de um certo âmbito;
não pode ser criada nem modificada gradualmente;
é isolada sob o ponto de vista molecular, ou seja, não há progressão ancestral em nível molecular;
deixa um registro fóssil que apresenta criaturas inteiramente formadas que surgem repentinamente, não se alteram e, então, desaparecem repentinamente.
E os autores concluem: essas são as razões porque os ateus têm muito mais fé do que nós.
Quanto ao argumento moral para a existência de Deus, ele em nada difere do argumento de C.S. Lewis, apresentado em Abolição do Homem.[4]
A longa resenha que agora termina tem seu tamanho justificado pela quase certeza de que a obra resenhada não será traduzida para o português. As editoras brasileiras não estão nem um pouco interessadas num livro que faz apologia do cristianismo, que mostra as evidências lógicas e científicas da existência de Deus e ainda mostra as falácias do ateísmo e do darwinismo. Isso é tudo o que a intelligentsia brasileira mais odeia. Quanto às editoras católicas/cristãs, elas só se ocupam, com honrosas exceções, de obras de Betos e Boffs da vida. Desta forma, fica-se pelo menos com a resenha da obra, para aqueles que não forem lê-la no original.
[1] A melhor referência que conheço sobre o Princípio Antrópico é o livro de J. D. Barrow e F. J. Frank intitulado The Anthropic Cosmological Principle, Oxford University Press, 1986.
[2] Há um brilhante ensaio de George Gilder na National Review, de 17 de julho de 2006, intitulado Evolution and Me, onde o autor aborda a evolução sob o ponto de vista da Teoria da Informação. O autor define o conceito de “irredutivelmente complexo”. Um sistema irredutivelmente complexo é aquele que não funciona a não ser que todos os seus componentes estejam presentes. O matemático Gregory Chaitain demonstrou que sistemas biológicos são irredutivelmente complexos. Esses sistemas estão, epistemologicamente, um degrau acima das leis físicas e químicas e não podem ser reduzidos a elas.
[3] Isso é bulverismo. Esse conceito é definido e comentado por C. S. Lewis num texto intitulado Bulverismo, ou os fundamentos do pensamento do século XX.
[4] Ver também Abolição do Homem e o triunfo da Natureza.
Geisler e Turek nos dão uma aula básica sobre os processos de dedução e de indução. Esses são os processos que os seres racionais usam para conhecer a verdade. O processo de dedução está baseado na Lei da Não-Contradição e na Lei do Terceiro Excluído (ou uma coisa é ou não é). Por exemplo, Deus existe ou não existe. Ou Jesus ressuscitou ou não ressuscitou. Não há alternativas.
O processo de indução é o processo por meio do qual se tiram conclusões gerais de observações específicas. Se todas as vezes que soltamos objetos, os vemos cair no chão, concluímos que deve haver um princípio geral em funcionamento chamado gravidade. Sem o processo indutivo, podemos deduzir, logicamente, impecáveis inverdades. Por exemplo, o silogismo “Todos os homens são répteis quadrúpedes/ Zacarias é um homem/ Portanto, Zacarias é um réptil quadrúpede”, é logicamente válido, apesar de não verdadeiro.
O processo indutivo, por ser uma generalização, comporta algum grau de incerteza. Não podemos estar 100 por cento certos de que a gravidade fará todos os objetos caírem, pois, não observamos todos os objetos em queda. Da mesma forma, não podemos estar absolutamente certos de que todos os homens são mortais, pois, não vimos todos os homens morrerem. O processo indutivo nos dá uma certeza muito grande sobre as coisas e os fenômenos, mas não a certeza absoluta. Ele nos dá uma certeza acima de uma dúvida razoável, mas não acima de qualquer dúvida.
Quanto mais certeza indutiva tivermos sobre alguma coisa, menos fé precisamos para considerá-la verdade. Quanto menos certeza, mais fé. Precisamos de fé para acreditar na lei da gravidade, apesar de ser bem pequena, pois temos muita certeza indutiva. Isso se aplica tanto às coisas do universo material quanto à existência de Deus. Tal existência, segundo Geisler e Turek, deve ser considerada pelos mesmos processos indutivo e dedutivo, únicos que conhecemos, fora a revelação (que não depende de nós), para o alcance de qualquer verdade.
Quais são as evidências científicas de que o Deus bíblico criou o universo? Como este universo que conhecemos pode nos informar sobre se ele foi criado ou é eterno? Essas são as perguntas enfrentadas, primeiramente, por Geisler e Turek. O silogismo usado pelos autores é o seguinte:
Tudo que tem um início, tem uma causa;
O universo teve um início;
Portanto, o universo tem uma causa.
Bem, para um argumento ser verdadeiro ele deve ser logicamente válido e suas premissas devem ser verdadeiras. A primeira premissa é a Lei da Casualidade e negá-la será negar todo o edifício científico. Nem um grande cético com Hume fez isso.
Até o século XIX, tinha-se pouco conhecimento científico para se fundamentar a segunda premissa. Mas, atualmente, as evidências que a fundamentam são muito numerosas e precisas. Os autores apresentam a Segunda Lei da Termodinâmica, a expansão do Universo, a radiação do Big Bang e suas oscilações e a Teoria Geral da Relatividade, como evidências do início do Universo.
A Teoria do Big Bang é hoje uma teoria bastante bem fundamentada. No entanto, como ela evidencia o início do Universo, equivale a dizer, o início do tempo, do espaço e da matéria, ela pressupõe que tal universo foi criado do nada. Ora, isso é extremamente irritante para os cientistas materialistas ou panteístas. O próprio Einstein, que era panteísta, dizia que “Filosoficamente, a noção de um início para a presente ordem na natureza é repugnante ... Eu gostaria de achar uma saída para isso.” A saída que ele encontrou foi inventar um fator, pomposamente chamado de constante cosmológica, que um matemático russo mostrou ser um erro algébrico.
São tão grandes as evidências que corroboram a Teoria do Big Bang que Jostrow, um cientista auto-proclamado agnóstico, diz em seu livro God and the Astronomers (Deus e os Astrônomos): “Vemos agora que as evidências astronômicas apontam para a visão bíblica da origem do mundo. Os detalhes diferem, mas os elementos essenciais nas descrições astronômicas e bíblicas são os mesmos: uma seqüência de eventos que terminam no homem começou repentinamente num momento definido no tempo, numa explosão de luz e energia.”
Depois de tantas evidências, os autores se dizem com muito pouca fé para serem ateus.
A seguir, Geisler e Turek usam o Princípio Antrópico para corroborar a existência de um criador do universo. O silogismo usado é o seguinte:
Todo projeto pressupõe um projetista;
O Universo tem um projeto altamente sofisticado;
Portanto, o Universo tem um Projetista (Criador).
O Princípio Antrópico[1] diz que os valores observados de todas as constantes físicas e cosmológicas não são igualmente prováveis, mas elas têm valores que são exatamente os necessários para que existam lugares onde a vida pode surgir, num determinado momento da história do Universo.
Assim, o nível de oxigênio, a transparência atmosférica à radiação do cosmos, a atração gravitacional Terra-Lua, o nível de dióxido de carbono e a gravidade são exatamente os que eles devem ser para que a vida seja possível na Terra. Qualquer variação, por menor que seja, destrói toda a vida do planeta. Para se ter uma idéia da complexidade e precisão do projeto do universo, uma variação de 0,00000000000000000000000000000000000001 por cento na força gravitacional tornaria impossível a vida na Terra.
Há muito mais constantes físicas que estão sintonizadas com a vida na Terra. Algumas delas são: a força centrífuga do movimento planetário, a taxa de expansão do Universo, a velocidade da luz, a rotação da Terra, a carga do elétron etc. O cientista prêmio Nobel Arno Penzias (co-descobridor da radiação de fundo, que é a radiação proveniente do Big Bang) diz: “A astronomia aponta-nos um evento único, um universo que foi criado do nada e delicadamente projetado para prover as condições exatas para suportar a vida. Excetuando-se a hipótese absurdamente improvável do acaso, as observações da ciência moderna parecem sugerir um plano subjacente ou, pode-se dizer, sobrenatural.”
Bem, diante de tal universo, o ateu precisa de muita fé para continuar ateu. Ele precisa acreditar que se você se depara com, por exemplo, um Rolex cravejado de diamante, você tem de acreditar que tal peça surgiu no universo por acaso, por um processo longo, em que a ação do vento, da chuva e da erosão resultou nesse objeto. Em síntese, não houve projeto nem projetista por trás do relógio.
Perante tudo isso, pode-se dizer, mais uma vez, em uníssono com os autores: não tenho tanta fé para ser ateu.
Com relação à vida, o que nos diz o ateu? Bem, que o mais primário ser vivo, a ameba unicelular, foi criado por geração espontânea (sem intervenção inteligente) e que daí até nós há uma linha evolucionária que passa por toda a cadeia biológica dos seres vivos.
Quanto de informação há numa ameba? Estimativas dão conta de que essa informação é equivalente a 1000 Enciclopédias Britânicas! Imagine que você esteja passeando por uma praia e veja uma mensagem escrita na areia: João ama Maria. Não há ninguém por perto. Se você é um ateu, terá de acreditar que o vento escreveu tal mensagem. Pois, se você concluir que é necessário a existência de um indivíduo (inteligência) para criar uma mensagem tão simples quanto essa, você estará em apuros com relação à ameba.
Há dois tipos possíveis de causa para a vida: ou inteligente ou natural. A vida é constituída de complexidade específica, ou seja, há informação subjacente à vida. Não se conhece outra causa de complexidade específica que não a inteligência.[2]
Basta de amebas! O que dizer da evolução dos seres vivos? Viemos mesmo da ameba (olha ela aí de novo!)? Quando falamos da evolução da ameba ao homem, estamos falando de macroevolução. Quando falamos da ameba sobrevivendo e se adaptando ao seu ambiente, estamos falando de microevolução. Desta temos evidências científicas bastante sólidas. Daquela não há nenhuma evidência. Ou seja, os evolucionistas consideram a macroevolução uma extrapolação natural da microevolução. Só que não há uma só evidência de que essa extrapolação seja verdadeira, como nos mostra Geisler e Turek. Mais especificamente, não há evidência alguma de evolução de uma espécie a outra. Por várias razões essa evolução é, inclusive, improvável. Se não por outras razões (e elas existem em grande número) pelo menos pela inviabilidade de espécies de transição. Elas não conseguiriam sobreviver, pois são sistemas irredutivelmente complexos.
Depois de mostrar que as causas naturais da vida são altamente improváveis, Geisler e Turek abordam a hipótese de uma inteligência por trás da criação da vida. Lembremos que há apenas duas causas para a vida: ou a natural ou a inteligente. Aqui eles rebatem as objeções mais comuns à criação inteligente da vida: de que ela não é ciência, de que ela se utiliza da falácia de preencher as lacunas do conhecimento com a existência de Deus, de que ela tem motivação religiosa.
A respeito da primeira objeção os autores demonstram que se a teoria da criação inteligente da vida não for ciência, tampouco o darwinismo o é. Ambos estão tentando descobrir coisas que aconteceram no passado e ambos são obrigados a usar princípios da ciência forense. A ciência forense difere da ciência empírica de diversas formas. Ela estuda o passado ao invés do presente, ela busca singularidades ao invés de regularidades, ela estuda fenômenos não repetíveis ao invés de repetíveis, ela estuda fenômenos cuja recriação é impossível, ela estuda como as coisas começaram e não como elas funcionam, ela é testada pela uniformidade e não pela repetição e, finalmente, ela procura a origem das coisas e não como elas operam. Assim, quando o darwinismo despreza, a princípio, o projeto inteligente da vida, ele está praticando ciência forense de má qualidade.
A respeito da segunda objeção (falácia do Deus das lacunas) os autores mostram que não há lacuna de conhecimento a respeito da criação da vida. O que há são evidências, muitas evidências, da criação inteligente.
Sobre a terceira objeção (motivação religiosa) os autores a desmontam observando que motivação religiosa não é argumento de impugnação.[3] O que dizer das motivações religiosas dos darwinistas? São elas motivo de impugnação de seus argumentos?
Então, se formos acreditar na criação do universo e da vida sem levarmos em conta um Criador, teremos de acreditar que:
O nada criou algo;
A ordem surgiu do caos;
A vida se originou da não-vida;
Novas formas de vida se originaram das preexistentes, a despeito das evidências em contrário.
Quais evidências seriam necessárias para nos convencer da criação inteligente do universo e da vida? Que tal isso:
O universo começou numa explosão a partir do nada;
Um universo com centenas de constantes físicas e cosmológicas, precisamente sintonizadas a fim de suportar a vida neste pequeníssimo planeta chamado Terra;
A vida que:
é observada aparecendo só a partir de vida preexistente;
consiste de milhares (até mesmo milhões) de volumes equivalentes de informação cujas complexidades específicas são empiricamente detectáveis;
muda ciclicamente e somente dentro de um certo âmbito;
não pode ser criada nem modificada gradualmente;
é isolada sob o ponto de vista molecular, ou seja, não há progressão ancestral em nível molecular;
deixa um registro fóssil que apresenta criaturas inteiramente formadas que surgem repentinamente, não se alteram e, então, desaparecem repentinamente.
E os autores concluem: essas são as razões porque os ateus têm muito mais fé do que nós.
Quanto ao argumento moral para a existência de Deus, ele em nada difere do argumento de C.S. Lewis, apresentado em Abolição do Homem.[4]
A longa resenha que agora termina tem seu tamanho justificado pela quase certeza de que a obra resenhada não será traduzida para o português. As editoras brasileiras não estão nem um pouco interessadas num livro que faz apologia do cristianismo, que mostra as evidências lógicas e científicas da existência de Deus e ainda mostra as falácias do ateísmo e do darwinismo. Isso é tudo o que a intelligentsia brasileira mais odeia. Quanto às editoras católicas/cristãs, elas só se ocupam, com honrosas exceções, de obras de Betos e Boffs da vida. Desta forma, fica-se pelo menos com a resenha da obra, para aqueles que não forem lê-la no original.
[1] A melhor referência que conheço sobre o Princípio Antrópico é o livro de J. D. Barrow e F. J. Frank intitulado The Anthropic Cosmological Principle, Oxford University Press, 1986.
[2] Há um brilhante ensaio de George Gilder na National Review, de 17 de julho de 2006, intitulado Evolution and Me, onde o autor aborda a evolução sob o ponto de vista da Teoria da Informação. O autor define o conceito de “irredutivelmente complexo”. Um sistema irredutivelmente complexo é aquele que não funciona a não ser que todos os seus componentes estejam presentes. O matemático Gregory Chaitain demonstrou que sistemas biológicos são irredutivelmente complexos. Esses sistemas estão, epistemologicamente, um degrau acima das leis físicas e químicas e não podem ser reduzidos a elas.
[3] Isso é bulverismo. Esse conceito é definido e comentado por C. S. Lewis num texto intitulado Bulverismo, ou os fundamentos do pensamento do século XX.
[4] Ver também Abolição do Homem e o triunfo da Natureza.
16/01/2007
Não tenho tanta fé para ser ateu: argumentos lógicos
Não tenho tanta fé para ser ateu é o título de um extraordinário livro de apologia cristã lançado nos EUA em 2004.[1] Ele foi escrito por Normam L. Geisler e Frank Turek. Dos dois autores, Geisler é, de longe, o mais conhecido, tendo publicado cerca de 60 livros de apologia e teologia cristãs. Uma busca na Amazon pode revelar a produção desse autor.
O título já é estimulante, pois, revela uma das teses centrais do livro: o ateu tem de ter muito mais fé para permanecer ateu do que o crente para crer no cristianismo. Isso porque há tantas evidências lógicas e científicas para corroborar o cristianismo que desconhecê-las ou camuflá-las com argumentos auto-contraditórios é prova de muita fé (ou seria má fé?).
Em seus sete primeiros capítulos (parte do livro que comento aqui e no artigo subseqüente), a obra se atém aos argumentos lógicos e científicos a favor de uma concepção teística do mundo. O plano da obra é provar, acima de qualquer dúvida razoável, que: a verdade a respeito da realidade é conhecível; o oposto da verdade é a falsidade; o Deus teístico existe, existência esta evidenciada pelo início do universo (argumento cosmológico), pela criação do universo (argumento teleológico/principio antrópico), pela criação da vida (argumento teleológico) e pela lei Moral (argumento Moral). Do capítulo 8 ao 15, a obra trata da questão dos milagres (se Deus existe, os milagres são possíveis) e da autenticidade e verdade das Sagradas Escrituras.
Na primeira parte desta resenha, me ocupo dos argumentos lógicos sobre a existência da verdade e dos argumentos auto-contraditórios que parecem impugnar a existência da verdade e de Deus. Na segunda parte, comento os argumentos científicos que apontam para a existência de Deus.
A justificativa que os autores apresentam para terem escrito o livro é, de fato, o fundamento de toda obra apologética. P. Boehner e Etienne Gilson observam em História da Filosofia Cristã (Editora Vozes, 9a.edição, 2004) que a “a razão mais profunda [da literatura apologética] encontra-se no ideal da sabedoria perfeita, a que todo cristão deve aspirar, porquanto, no dizer de São Pedro, os cristãos devem estar ‘sempre prontos a satisfazer a quem quer que lhes peça razões da esperança que os anima’(1 Ped 3,15)”. Giesler e Turek afirmam ainda que: “Sócrates dizia que uma vida irrefletida não merece ser vivida. Nós acreditamos que uma fé irrefletida não merece ser acalentada.” Além disso, os autores observam que Jesus quer (exige) que usemos a razão em todas as situações da vida, mesmo para obedecer ao maior dos mandamentos que é o de “Amar ao Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua mente.” (Mt 22, 37) Assim, nossa fé há de ter fundamentos racionais, a serem debatidos, provados e comprovados frente a qualquer conjunto de argumentos contrários.
Não é por nenhuma outra razão que somente a tradição judaico-cristã, dentre as grandes tradições religiosas, acolheu e fomentou o desenvolvimento científico e tecnológico. Chesterton dizia a mesma coisa, de maneira usualmente brilhante, quando afirmava que “O cristianismo, que é uma religião muito mística, tem sido, contudo, a religião das porções mais práticas da humanidade. Ele tem mais paradoxos que as filosofias orientais, mas ele também constrói as melhores rodovias. O mussulmano tem uma concepção lógica e pura de Deus, o Alah monístico. Mas ele permanece bárbaro na Europa e a grama não renascerá por onde ele passar. O cristão tem um Deus Trino, “uma trindade oblíqua” que parece uma caprichosa contradição em termos. Mas, em ação, ele abarca a terra e mesmo o mais inteligente oriental só pode com ele lutar, imitando-o a princípio. O Oriente tem sua lógica e vive do arroz. A cristandade tem seus mistérios – e seus automóveis. Não importa a inferência. Como eu disse, registremos os fatos.”
Geisler e Turek partem de uma posição de completo ceticismo para, então, construir a estrutura de fundamentação do cristianismo. Ou seja, eles partem de uma posição de dúvida em relação à existência da verdade, qualquer verdade. A pergunta inicial é: existe verdade?
Os autores começam por observar que todos nós exigimos a verdade em todas as facetas de nossas vidas que afetem nosso dinheiro, nossas relações, nossa segurança e nossa saúde. Dos médicos, por exemplo, queremos os remédios certos e as intervenções cirúrgicas corretas. A esquizofrenia cultural começa quando vamos discutir religião ou moral. Aí, a frase mais comum atualmente é “Isso é verdade para você, mas não para mim.” Se transportarmos essa frase para quando estamos conversando com nosso corretor de ações ou nosso médico, veremos a incongruência da situação. Ou seja, o relativismo é apenas moral e religioso. Em todas as outras áreas acreditamos piamente na verdade e a exigimos.
O instrumento lógico principal usado no livro é o que seus autores chamam de Tática do Papa-léguas. No desenho animado o coiote está sempre tentando capturar o papa-léguas, que, sendo muito mais veloz, está sempre ganhando a parada. Muitas vezes, correndo na direção de um abismo, o papa-léguas, ao se aproximar da borda, pára imediatamente e deixa o coitado do coiote passar. Ele fica, por alguns momentos, suspenso no ar, olhando para o abismo e para o papa-léguas, sem entender a situação. Esta é exatamente a situação de quem é pego em contradição lógica, como quem alega, por exemplo, que ‘não existe verdade’. Essa afirmação é auto-contraditória, pois se ela for verdade, existe pelo menos esta verdade, o que a contradiz. Quem afirmou tal coisa está parado no ar, como o coiote, momentos antes de despencar no abismo da auto-contradição.
Assim, afirmações muito comuns nos meios intelectuais modernos (mídia e universidades) podem ser enfrentadas com a Tática do Papa-léguas. Por exemplo, ‘toda verdade é relativa’ (pergunta do papa-léguas: esta é uma verdade relativa?), ‘não há absolutos’ (pergunta do papa-léguas: você tem absoluta certeza disso?) , ‘isto é verdade apenas para você, mas não para mim’ (pergunta do papa-léguas: esta afirmação é verdade só para você, ou é verdade para todo mundo?)
Todas as afirmações que tentam negar a existência da verdade são auto-contraditórias e podem ser enfrentadas com a Tática do Papa-léguas. Portanto, existe verdade. Isso não pode ser logicamente negado. Então, se existe verdade, algumas verdades podem ser afirmadas sobre a verdade: que ela é descoberta, não inventada; que ela é transcultural; que ela é imutável (apesar de nossa percepção sobre ela poder mudar, ao longo do tempo); que crenças não podem mudar fatos; que a verdade não é afetada pela atitude de quem a professa; que toda verdade é verdade absoluta.
Bem, há uma posição conceitual que, mesmo admitindo a existência da verdade, diz que “a verdade não pode ser conhecida”. Esta é a posição agnóstica. Vamos soltar o papa-léguas e perguntar: esta sua afirmação é verdadeira? Se for, você conhece pelo menos uma verdade!
Sob o ponto de vista lógico, duas crenças religiosas mutuamente exclusivas não podem ser ambas verdadeiras. Ou seja, o critério do verdadeiro e do falso pode e deve ser aplicado às crenças religiosas. Assim, a tolerância religiosa não é a aceitação de todas as crenças religiosas como verdadeiras, pois isso elas não são, por serem, muitas delas, mutuamente exclusivas. A alegação de que “não devemos questionar a crença religiosa dos outros” é uma crença religiosa dos chamados pluralistas. Essa crença é tão exclusiva e “intolerante” quanto a crença religiosa dos cristãos.
A crença dos pluralistas de que “não devemos julgar” a crença dos outros não se sustenta pois ela é, em si mesma, um julgamento.
Depois do papa-léguas de Geisler e Turek vencer facilmente os coiotes relativistas e pluralistas ele vai agora enfrentar indivíduos mais ilustres. Nada menos que Hume e seu ceticismo e Kant e seu agnosticismo.
Hume, conforme Geisler e Turek, é o pai do ceticismo moderno. A. J. Ayer resumiu o ceticismo de Hume no “princípio da verificabilidade empírica”, que diz que uma proposição só pode ser significativa se ela for verdadeira por definição (como 2+2=4) ou se ela for verificável empiricamente (por um ou mais de nossos cinco sentidos). Todo o edifício do empirismo lógico é baseado nesse princípio.
Geisler conta que, como estudante de filosofia e cursando uma disciplina baseada no livro de Ayer, Lógica, Verdade e Linguagem, ele escolheu como tema de seu seminário o capítulo intitulado “O Princípio da Verificabilidade Empírica”. Foi dado a ele vinte minutos para desenvolver o tema, dos quais ele gastou alguns segundos, com a ajuda do papa-léguas que, todos sabem, é muito rápido. Ele levantou-se e se dirigiu à frente da turma e disse simplesmente: “O princípio da verificabilidade empírica afirma que há somente dois tipos de proposições significativas: (1) aquelas que são verdadeiras por definição e (2) aquelas que são empiricamente verificáveis. Como o princípio da verificabilidade empírica não é, ele próprio, nem verdadeiro por definição, nem empiricamente verificável, ele não pode ser significativo.” O coiote ficou, por alguns instantes, flutuando no ar. O resto do semestre foi um sofrimento para Geisler, pois o professor da disciplina não gostou nada de seu dia de coiote.
Se com Hume você podia conhecer apenas as coisas empiricamente verificáveis, com Kant você não podia conhecer nada sobre o mundo real. As coisas em si mesmas eram inacessíveis ao homem, pois para conhecê-las ele tinha de receber as informações através dos sentidos e manipulá-las com sua mente, o que constituía um filtro pessoal, que nos isolava da realidade do mundo. Quando você vê uma árvore, aquilo é apenas o processamento mental das informações que chegam ao seu cérebro através de sua visão. Você não pode conhecer a árvore em si, apenas a árvore que aparece em sua mente. Ou seja, os fenômenos da mente podem ser conhecidos, mas não os númenos (ou as coisas em si, o mundo real).
Afirmar que não se pode conhecer nada do mundo real é afirmar que (1) o mundo real existe (como Kant sabe disso? Só ele sabe disso ou tem mais algum iluminado que já tenha notado tal fato?) e, por outro lado, é (2) dizer algo auto-contraditório, pois, a afirmação equivale a saber que o mundo real não é conhecível.
Lembro aqui de Olavo de Carvalho que, em artigo recente, diz: “Quando Kant, por exemplo, afirmava que só conhecemos as aparências fenomênicas, mas não as coisas em si, essa asserção era incompatível com a sua expectativa ingênua de que, partindo de um mero sinal sensível – as letras impressas –, o leitor chegasse a apreender o núcleo do seu pensamento. Se não podíamos saltar dos fenômenos sensíveis às suas próprias substâncias, muito menos conseguiríamos, através deles, captar a substância de uma intenção subjetiva significada por eles – um salto ainda maior do que o requerido para apreender numa aparência de elefante a realidade de um elefante. Se as palavras de Kant significavam alguma coisa, a teoria enunciada por elas não significava nada, e vice-versa. A filosofia de Kant, em suma, era incompatível com o fato de que podíamos lê-la nos livros do autor. ”
Tanto Hume quanto Kant (assim como pluralistas e relativistas) violam a Lei da Não-Contradição e suas tentativas para destruir todas as “religiões” falham fragoros
[1] N.L. Geisler and F. Turek, I Don’t Have Enough Faith to Be an Atheist (Foreword by David Limbaugh), Crossway Books, 2004.
O título já é estimulante, pois, revela uma das teses centrais do livro: o ateu tem de ter muito mais fé para permanecer ateu do que o crente para crer no cristianismo. Isso porque há tantas evidências lógicas e científicas para corroborar o cristianismo que desconhecê-las ou camuflá-las com argumentos auto-contraditórios é prova de muita fé (ou seria má fé?).
Em seus sete primeiros capítulos (parte do livro que comento aqui e no artigo subseqüente), a obra se atém aos argumentos lógicos e científicos a favor de uma concepção teística do mundo. O plano da obra é provar, acima de qualquer dúvida razoável, que: a verdade a respeito da realidade é conhecível; o oposto da verdade é a falsidade; o Deus teístico existe, existência esta evidenciada pelo início do universo (argumento cosmológico), pela criação do universo (argumento teleológico/principio antrópico), pela criação da vida (argumento teleológico) e pela lei Moral (argumento Moral). Do capítulo 8 ao 15, a obra trata da questão dos milagres (se Deus existe, os milagres são possíveis) e da autenticidade e verdade das Sagradas Escrituras.
Na primeira parte desta resenha, me ocupo dos argumentos lógicos sobre a existência da verdade e dos argumentos auto-contraditórios que parecem impugnar a existência da verdade e de Deus. Na segunda parte, comento os argumentos científicos que apontam para a existência de Deus.
A justificativa que os autores apresentam para terem escrito o livro é, de fato, o fundamento de toda obra apologética. P. Boehner e Etienne Gilson observam em História da Filosofia Cristã (Editora Vozes, 9a.edição, 2004) que a “a razão mais profunda [da literatura apologética] encontra-se no ideal da sabedoria perfeita, a que todo cristão deve aspirar, porquanto, no dizer de São Pedro, os cristãos devem estar ‘sempre prontos a satisfazer a quem quer que lhes peça razões da esperança que os anima’(1 Ped 3,15)”. Giesler e Turek afirmam ainda que: “Sócrates dizia que uma vida irrefletida não merece ser vivida. Nós acreditamos que uma fé irrefletida não merece ser acalentada.” Além disso, os autores observam que Jesus quer (exige) que usemos a razão em todas as situações da vida, mesmo para obedecer ao maior dos mandamentos que é o de “Amar ao Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua mente.” (Mt 22, 37) Assim, nossa fé há de ter fundamentos racionais, a serem debatidos, provados e comprovados frente a qualquer conjunto de argumentos contrários.
Não é por nenhuma outra razão que somente a tradição judaico-cristã, dentre as grandes tradições religiosas, acolheu e fomentou o desenvolvimento científico e tecnológico. Chesterton dizia a mesma coisa, de maneira usualmente brilhante, quando afirmava que “O cristianismo, que é uma religião muito mística, tem sido, contudo, a religião das porções mais práticas da humanidade. Ele tem mais paradoxos que as filosofias orientais, mas ele também constrói as melhores rodovias. O mussulmano tem uma concepção lógica e pura de Deus, o Alah monístico. Mas ele permanece bárbaro na Europa e a grama não renascerá por onde ele passar. O cristão tem um Deus Trino, “uma trindade oblíqua” que parece uma caprichosa contradição em termos. Mas, em ação, ele abarca a terra e mesmo o mais inteligente oriental só pode com ele lutar, imitando-o a princípio. O Oriente tem sua lógica e vive do arroz. A cristandade tem seus mistérios – e seus automóveis. Não importa a inferência. Como eu disse, registremos os fatos.”
Geisler e Turek partem de uma posição de completo ceticismo para, então, construir a estrutura de fundamentação do cristianismo. Ou seja, eles partem de uma posição de dúvida em relação à existência da verdade, qualquer verdade. A pergunta inicial é: existe verdade?
Os autores começam por observar que todos nós exigimos a verdade em todas as facetas de nossas vidas que afetem nosso dinheiro, nossas relações, nossa segurança e nossa saúde. Dos médicos, por exemplo, queremos os remédios certos e as intervenções cirúrgicas corretas. A esquizofrenia cultural começa quando vamos discutir religião ou moral. Aí, a frase mais comum atualmente é “Isso é verdade para você, mas não para mim.” Se transportarmos essa frase para quando estamos conversando com nosso corretor de ações ou nosso médico, veremos a incongruência da situação. Ou seja, o relativismo é apenas moral e religioso. Em todas as outras áreas acreditamos piamente na verdade e a exigimos.
O instrumento lógico principal usado no livro é o que seus autores chamam de Tática do Papa-léguas. No desenho animado o coiote está sempre tentando capturar o papa-léguas, que, sendo muito mais veloz, está sempre ganhando a parada. Muitas vezes, correndo na direção de um abismo, o papa-léguas, ao se aproximar da borda, pára imediatamente e deixa o coitado do coiote passar. Ele fica, por alguns momentos, suspenso no ar, olhando para o abismo e para o papa-léguas, sem entender a situação. Esta é exatamente a situação de quem é pego em contradição lógica, como quem alega, por exemplo, que ‘não existe verdade’. Essa afirmação é auto-contraditória, pois se ela for verdade, existe pelo menos esta verdade, o que a contradiz. Quem afirmou tal coisa está parado no ar, como o coiote, momentos antes de despencar no abismo da auto-contradição.
Assim, afirmações muito comuns nos meios intelectuais modernos (mídia e universidades) podem ser enfrentadas com a Tática do Papa-léguas. Por exemplo, ‘toda verdade é relativa’ (pergunta do papa-léguas: esta é uma verdade relativa?), ‘não há absolutos’ (pergunta do papa-léguas: você tem absoluta certeza disso?) , ‘isto é verdade apenas para você, mas não para mim’ (pergunta do papa-léguas: esta afirmação é verdade só para você, ou é verdade para todo mundo?)
Todas as afirmações que tentam negar a existência da verdade são auto-contraditórias e podem ser enfrentadas com a Tática do Papa-léguas. Portanto, existe verdade. Isso não pode ser logicamente negado. Então, se existe verdade, algumas verdades podem ser afirmadas sobre a verdade: que ela é descoberta, não inventada; que ela é transcultural; que ela é imutável (apesar de nossa percepção sobre ela poder mudar, ao longo do tempo); que crenças não podem mudar fatos; que a verdade não é afetada pela atitude de quem a professa; que toda verdade é verdade absoluta.
Bem, há uma posição conceitual que, mesmo admitindo a existência da verdade, diz que “a verdade não pode ser conhecida”. Esta é a posição agnóstica. Vamos soltar o papa-léguas e perguntar: esta sua afirmação é verdadeira? Se for, você conhece pelo menos uma verdade!
Sob o ponto de vista lógico, duas crenças religiosas mutuamente exclusivas não podem ser ambas verdadeiras. Ou seja, o critério do verdadeiro e do falso pode e deve ser aplicado às crenças religiosas. Assim, a tolerância religiosa não é a aceitação de todas as crenças religiosas como verdadeiras, pois isso elas não são, por serem, muitas delas, mutuamente exclusivas. A alegação de que “não devemos questionar a crença religiosa dos outros” é uma crença religiosa dos chamados pluralistas. Essa crença é tão exclusiva e “intolerante” quanto a crença religiosa dos cristãos.
A crença dos pluralistas de que “não devemos julgar” a crença dos outros não se sustenta pois ela é, em si mesma, um julgamento.
Depois do papa-léguas de Geisler e Turek vencer facilmente os coiotes relativistas e pluralistas ele vai agora enfrentar indivíduos mais ilustres. Nada menos que Hume e seu ceticismo e Kant e seu agnosticismo.
Hume, conforme Geisler e Turek, é o pai do ceticismo moderno. A. J. Ayer resumiu o ceticismo de Hume no “princípio da verificabilidade empírica”, que diz que uma proposição só pode ser significativa se ela for verdadeira por definição (como 2+2=4) ou se ela for verificável empiricamente (por um ou mais de nossos cinco sentidos). Todo o edifício do empirismo lógico é baseado nesse princípio.
Geisler conta que, como estudante de filosofia e cursando uma disciplina baseada no livro de Ayer, Lógica, Verdade e Linguagem, ele escolheu como tema de seu seminário o capítulo intitulado “O Princípio da Verificabilidade Empírica”. Foi dado a ele vinte minutos para desenvolver o tema, dos quais ele gastou alguns segundos, com a ajuda do papa-léguas que, todos sabem, é muito rápido. Ele levantou-se e se dirigiu à frente da turma e disse simplesmente: “O princípio da verificabilidade empírica afirma que há somente dois tipos de proposições significativas: (1) aquelas que são verdadeiras por definição e (2) aquelas que são empiricamente verificáveis. Como o princípio da verificabilidade empírica não é, ele próprio, nem verdadeiro por definição, nem empiricamente verificável, ele não pode ser significativo.” O coiote ficou, por alguns instantes, flutuando no ar. O resto do semestre foi um sofrimento para Geisler, pois o professor da disciplina não gostou nada de seu dia de coiote.
Se com Hume você podia conhecer apenas as coisas empiricamente verificáveis, com Kant você não podia conhecer nada sobre o mundo real. As coisas em si mesmas eram inacessíveis ao homem, pois para conhecê-las ele tinha de receber as informações através dos sentidos e manipulá-las com sua mente, o que constituía um filtro pessoal, que nos isolava da realidade do mundo. Quando você vê uma árvore, aquilo é apenas o processamento mental das informações que chegam ao seu cérebro através de sua visão. Você não pode conhecer a árvore em si, apenas a árvore que aparece em sua mente. Ou seja, os fenômenos da mente podem ser conhecidos, mas não os númenos (ou as coisas em si, o mundo real).
Afirmar que não se pode conhecer nada do mundo real é afirmar que (1) o mundo real existe (como Kant sabe disso? Só ele sabe disso ou tem mais algum iluminado que já tenha notado tal fato?) e, por outro lado, é (2) dizer algo auto-contraditório, pois, a afirmação equivale a saber que o mundo real não é conhecível.
Lembro aqui de Olavo de Carvalho que, em artigo recente, diz: “Quando Kant, por exemplo, afirmava que só conhecemos as aparências fenomênicas, mas não as coisas em si, essa asserção era incompatível com a sua expectativa ingênua de que, partindo de um mero sinal sensível – as letras impressas –, o leitor chegasse a apreender o núcleo do seu pensamento. Se não podíamos saltar dos fenômenos sensíveis às suas próprias substâncias, muito menos conseguiríamos, através deles, captar a substância de uma intenção subjetiva significada por eles – um salto ainda maior do que o requerido para apreender numa aparência de elefante a realidade de um elefante. Se as palavras de Kant significavam alguma coisa, a teoria enunciada por elas não significava nada, e vice-versa. A filosofia de Kant, em suma, era incompatível com o fato de que podíamos lê-la nos livros do autor. ”
Tanto Hume quanto Kant (assim como pluralistas e relativistas) violam a Lei da Não-Contradição e suas tentativas para destruir todas as “religiões” falham fragoros
[1] N.L. Geisler and F. Turek, I Don’t Have Enough Faith to Be an Atheist (Foreword by David Limbaugh), Crossway Books, 2004.
09/01/2007
Artigo meu no Mídia Sem Máscara
Saiu hoje artigo meu no MSM intitulado Violência e criminalidade: sainda da mesmice. A propósito da mais recente explosão de violência no Rio, indico alguns artigos do MSM que devem ser lidos para se compreender o que acontece naquela cidade.
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