Na sua extraordinária
biografia de Santa Margarida Maria Alacoque (Histoire de la bienheureuse Marguerite-Marie : et des
origines de la devotion au coeur de Jésus), Revmo. Pe.
Émile Bougaud, Bispo de Laval, descrevendo as várias formas em que o Sacratíssimo
Coração de Jesus aparecia à Santa Margarida, ele observa que muitas vezes o
Sagrado Coração aparecia rodeado de uma corôa de espinhos ou traspassado por
flechas. Depois de citar uma passagem da Imitação de Cristo (Et sine dolore
non vivitur in amore!, E sem dor não há amor.), ele acrescentar uma bela e
profunda página de meditação sobre nossa condição de queda, "nessa triste
terra". O trecho encerra um grande mistério de nossa Santa Religião.
Esclarece também o que vemos na vida dos santos: um sofrimento atroz, às vezes
auto-imposto, convivendo com uma alegria contagiante. Ei-lo.
Coisa
admirável! Há no coração dois pólos: aquele pelo qual desfrutamos e aquele pelo
qual sofremos. Desses dois pólos, um é feito para durar para sempre, que
levaremos conosco para a eternidade; é aquele pelo qual desfrutamos. Mas quem
nele acreditaria? Aqui embaixo, sobre esta triste terra, raramente o usamos.
Ele é perigoso; não é nem grande nem fecundo. Se vós aspireis à glória, ao
gênio, à santidade, deixais de lado esse pólo do coração, esse pólo divino,
esse pólo celeste, pelo qual se desfruta. Sua hora ainda não chegou. Ele não
realiza aqui embaixo senão coisas vulgares. A corôa de louros sempre repousou
sobre frontes mortificadas, e a auréola de santidade nunca circundou senão
corações crucificados. Que belas são então essas visões do Coração ferido, do
Coração perfurado, de um Coração coroado e sangrando!