28/08/2017

Amoris Laetitia, o luteranismo a pleno vapor na Igreja Católica

Num extraordinário artigo no site OnePeterFive, o filósofo austríaco Josef Seifert faz um exercício simple de lógica para mostra como a encíclica do Papa Francisco leva a impugnação da obrigação de seguir qualquer mandamento da Lei de Deus. O artigo se intitula Será Que a Lógica Pura e Simples Ameaça Destruir Toda a Doutrina Moral da Igreja Católica? Ele se demora no item AL303, da mencionada encíclica. Vou reproduzi-lo abaixo, como consta do site do Vaticano, em língua portuguesa:

"303. A partir do reconhecimento do peso dos condicionamentos concretos, podemos acrescentar que a consciência das pessoas deve ser melhor incorporada na práxis da Igreja em algumas situações que não realizam objetivamente a nossa conceção do matrimónio. É claro que devemos incentivar o amadurecimento duma consciência esclarecida, formada e acompanhada pelo discernimento responsável e sério do pastor, e propor uma confiança cada vez maior na graça. Mas esta consciência pode reconhecer não só que uma situação não corresponde objectivamente à proposta geral do Evangelho, mas reconhecer também, com sinceridade e honestidade, aquilo que, por agora, é a resposta generosa que se pode oferecer a Deus e descobrir com certa segurança moral que esta é a doação que o próprio Deus está a pedir no meio da complexidade concreta dos limites, embora não seja ainda plenamente o ideal objectivo. Em todo o caso, lembremo-nos que este discernimento é dinâmico e deve permanecer sempre aberto para novas etapas de crescimento e novas decisões que permitam realizar o ideal de forma mais completa."

Vou agora reproduzir um texto de Eric Voegelin sobre a sola fide, que se encontra nas páginas 297-98, do vol. IV das Histórias das Ideias Políticas: Renascença e Reforma. Deixo aos leitores a avaliação da ideia sugerida pelo título deste post.

"Como podemos dizer, pergunta Lutero, que apenas a fé justifica, considerando os mandamentos bíblicos de que o homem tem de obedecer a fim de ser justo perante Deus? A fim de manter a doutrina, temos de entender a Bíblia como dividida em duas partes, as leis do Velho e as promessas do Novo Testamento. As leis nos ordenam a praticar "várias boas obras"; mas o simples ordenar não as obtém. Ensinam-nos o que fazer; mas não nos dão a força de fazê-lo. Daí, a enumeração dos mandamentos tem de ser tomada como tendo o propósito de fazer o homem consciente de sua fraqueza, de sua inabilidade de realizá-los. O mandamento para não ser invejoso é a 'prova' de que somos todos pecadores, pois nenhum homem pode existir sem concupiscência 'faça o que ele quiser'. Ao medir seu desempenho pelo mandamento, o homem aprende a perder a confiança em si mesmo e a procurar por ajuda em outro lugar; quando entendeu seu próprio fracasso, experimentará ansiedade e medo da danação; sentir-se-á humilde e aniquilado, pois não pode encontrar nada em si que faria dele justo, e, finalmente, ele se desesperará.

"Quando o homem desceu até o estado de desespero, está pronto para receber a promessa: 'Se queres livrar-te de tua paixão má e do pecado crê em Cristo, em quem te prometo toda graça, justiça, paz e liberdade; crê, e terás; não creias, e não terás'. (...) Tudo o que o cristão precisa é de sua fé. O cumprimento dos mandamentos não é necessário para o justo; ao libertar o homem dos mandamentos, a fé liberta o homem das consequências do cumprimento impossível"

Então, depois de 500 anos, esse heresiarca, pervertido e egocêntrico ainda nos assombra, tendo penetrado até, ao que parece, na Santa Sé.

Um comentário:

Anônimo disse...

Creio que a "lógica pura e simples" advoga em favor da verdade caro professor.
Se Deus tivesse intenção de isentar-nos da obediência à Sua santíssima vontade, porque não o faria antes da morte de Seu Filho poupando a Ambos de tão assinalada dor causada por Seu sacrifício em nosso favor?
O fato de haver necessidade de tal sacrifício (que, na visão de alguns isenta-nos de obedecer após justificar) já evidencia a seriedade e justiça do tribunal divino.
(Não que o Filho tivesse algum pecado a pagar, mas o fez em nosso lugar.)
Se Deus assim procedesse (como se Seu caráter Santo permitisse a levianidade de tal ato), que confiança poderíamos depositar nele? Que confiança pode-se depositar em um juiz que admite a infração da Lei?