04/05/2014

Como vou convencer a minha esposa a se converter?

 Um leitor escreve ao blog perguntando (ver comentário ao post Lição de um Cura Medieval):
Como vou convencer a minha esposa a se converter se os padres aqui do Gutierrez pouco estão a serviço dos fiéis? Ela aprendeu desde pequena a não gostar da Igreja e cada vez que um fato desse ocorre ela me olha com cara de "não disse?"
 
Faço algumas sugestões, em ordem de importância.
 
1. Reze, reze e reze a Nossa Senhora para a conversão de sua esposa. Hoje é dia de Santa Mônica, que converteu o marido e o filho, o grande Santo Agostinho, com suas orações. Assim, repito, reze, reze e reze, pois a graça da conversão nos é trazida pela Mãe de Deus.
 
2. Você tem de conhecer a Igreja, sua história principalmente, para ensinar à sua esposa. Só se ama aquilo que se conhece e você tem de apresentar à sua esposa, pelo menos estar preparado para apresentar, a verdadeira Igreja de Cristo, cujo Magistério atual, numa frase de Roberto de Mattei [1] "cessou de reafirmar com clareza a verdade católica", muitas vezes confundindo todo o seu ensinamento. Ninguém que deixe de perceber a profundidade da crise atual da Igreja terá algo a dizer sobre a Igreja Verdadeira. Portanto, estude, estude e estude.
 
3. Você deve apresentar a Igreja à sua esposa através de você mesmo; seja um católico verdadeiro. Demonstre que você tem as três virtudes teologais: fé, esperança e caridade. Demonstre a ela o quão doce é viver ao lado de um católico verdadeiro, cheio de pecados, mas pronto "para uma resposta vitoriosa a todo aquele que vos perguntar acerca da esperança que vos anima", como nos ensina São Pedro, nosso primeiro Papa. Torne conhecidos dela seus períodos de orações diárias. Quando você for confessar, avise a ela. Em seus períodos de penitências e jejuns, comente com ela o que você está fazendo. Nos dias dos santos de sua devoção, comente com ela sobre a vida deles. Quando discutindo problemas cotidianos, apresente-lhe o ponto de vista católico.
 
4. Você tem de dizer à sua esposa que, exceto em momentos muito breves da história da Igreja, se colocarmos a condição de um clero santo para nos convertermos, nunca o faremos. O que você deve dizer à sua esposa é que apesar do clero pecador (pecador público, pois particular qualquer um de nós o é), a Igreja é Santa, pois sua cabeça é Nosso Senhor, e por isso ela tem mais de dois milênios de vida. Tem uma história que conto de memória, para você reconta-la à sua esposa. Um cardeal da Igreja quando ficou sabendo que Napoleão tinha planos de destruir a Igreja, mandou-lhe um recado: se toda a sucessão de bispos e papas não conseguiu destruir a Igreja, não seria ele que conseguiria.
 
Que Santa Mônica rogue por todos nós!
 
 
___________________
[1] Apologia da Tradição, trad. Celso Vidigal e Paulo Henrique Chaves, ed. Ambientes & Costumes, São Paulo, 2013.

7 comentários:

Anônimo disse...

Fale dos Santos, das Santas, e dos mártires. Esqueça a burocracia eclesiástica. Ela é necessária para a manutenção do catolicismo, mas não converte ninguém. Fale também das aparições de Nossa Senhora. Fale de Bernardette em Lourdes. Fale do Santo Padre Pio de Pietrelcina. Assistam ao filme Quo Vadis.
Robson di Cola

Anônimo disse...

Vivo a mesma questão que o leitor assunto deste post, e adianto: as dicas do professor Angueth deu na verdade são o único caminho possível para a conversão de um cônjuge. A graça de Deus pelas mãos de Maria Santíssima são um fato; o outro que de ti deve partir o exemplo a ser admirado e imitado. Ninguém se salva sozinho, por isso devemos isso aos nossos cônjuges e filhos, pelo menos. Sejamos nós, pois, o sal da terra e a luz do mundo. Este é um desafio que cabe a vocês vencer, COM a intercessão de Maria. Com oração, lhe adianto mais uma coisa, um sacerdote à altura dos desafios está a caminho de vocês. Bata que a porta se abrirá, não é esta uma promessa do Criso?

Anônimo disse...

Caro Professor,

Agradeço os belos conselhos com os quais me presenteou. Que Nossa Senhora abençoe o senhor e nossas famílias.

Um abraço,

Leonardo.

Católica Apostólica Romana disse...

Ninguém "convence" ninguém... isso é querer se sobrepor à Divina Providência.

É possível que nossas atitudes e nossas palavras possam fazer alguém mudar ou se converter, MAS apenas por uma graça de Deus.

Rezar é a melhor opção!

Anônimo disse...

Prof. Angueth e leitores do blog, Salve Maria!

Pela extensão, enviarei o comentário em 2 partes (segue a 1ª):

Sofro em situação semelhante. Quando casei (há quase 5 anos) era o famoso "católico de IBGE", totalmente alheio à Fé Católica. Minha esposa, por outro lado, vinha de uma família dividida entre os "sem religião" e os protestantes da "assembleia de deus". Resultado: uma jovem "sem religião" no padrão "juventude moderna", cuja pouca noção religiosa que possuía era a noção protestante pentecostal.

Mesmo diante disso tudo, pela graça de Deus, fiz questão de casar na Igreja. Nessa época, já estava começando a buscar conhecer a Doutrina Católica e tinha noção da importância do sacramento do matrimonio (assim como de sua indissolubilidade).

No primeiro ano de casamento tudo foi se encaminhando, fui iniciando meu processo de conversão e já nos primeiros meses minha esposa engravidou.

Após dois anos os problemas começaram. Acreditava que com meus progressos na Fé, minha esposa também me acompanharia, no entanto ela nunca se interessou. Com o tempo, aos poucos fui lhe tirando alguns pré-conceitos decorrentes de sua influência protestante, assim como fazendo-a compreender um pouco mais o catolicismo.

Já me acompanhou à Missa algumas vezes, já rezamos o terço juntos outras vezes, mas, infelizmente, não há interesse por parte dela em conhecer a religião, não compreende porque leio tanto ou tenho mudado antigos hábitos, etc.

O fato de minha esposa não ter se convertido até o momento me traz o seguinte problema: no âmbito das relações sexuais e "métodos contraceptivos".

Continua...

Anônimo disse...

parte 2


Professor, vivemos em uma casa minúscula (e sem possibilidade de ampliação) e ganho pouco (minha esposa não trabalha fora desde que nosso filho nasceu).

Desde os 2 últimos anos, quando compreendi tratar-se de pecado fazer uso dos tais "métodos", assim como a importância de se "aceitar todos os filhos que Deus nos enviar", tenho vivido uma situação difícil. Ela, por ainda não ter se convertido, não compreende essa questão e - pelas razões que acima mencionei - acha necessário fazermos uso da tal "camisinha".

Por vezes "brigamos" por isso e tem sido muito difícil. As vezes, para atende-la, acabei consentindo nessa prática. Mas infelizmente, isso acabou servindo como início para uma "queda livre": como, por isso, me via privado de receber a Eucaristia, as vezes acabava nem indo à Missa e por fim acabava por cometer outros pecados.

Em confissão, na maioria das vezes fui atendido por padres modernistas que, após eu citar esse problema, o ignoravam, comentavam apenas sobre outros pecados. Um chegou, inclusive, a me criticar por não me relacionar "mais vezes" com minha esposa, sem no entanto citar nada sobre esse "detalhe" da utilização de preservativo.

Um outro padre mais tradicional, depois de uma boa orientação, me disse que, em último caso, por conta das brigas que poderiam abalar meu casamento, me "autorizou" a fazer uso (de "camisinha") apenas temporariamente, enquanto eu buscasse a conversão de minha esposa e sua compreensão da ilicitude dessa prática. Segundo ele eu só poderia fazer isso se me comprometesse a buscar a mudança dela quanto a isso, pois nesse momento seria tolerável um mal menor (uso do preservativo) para evitar um mal maior (brigas e fim do casamento pelo fato de minha esposa não ser católica e não compreender a indissolubilidade).

Por fim houve um padre que me disse que em hipótese alguma eu deveria ceder a essa prática, pois minha postura deveria ser de "sim sim não não", não há meio termo. Ou minha esposa acataria ou não nos relacionaríamos.
Professor, confesso que compreendi e concordei com o dito pelo padre, para mim essa é a atitude correta, mas por outro lado é extremamente difícil propor isso a ela, até porque somos jovens e recém casados (ainda vamos completar 5 anos). Há a questão financeira e todos os outros problemas, mas como católico quero confiar na providência divina!

Mas e quanto a ela, que (ainda) não vê com os olhos da fé, como propor isso a ela? Além de que ela, caso não se converta, poderia muito bem alegar que quando casamos, não estava claro isso e que eu mudei após, como se a tivesse "enganado", sei lá...

Enfim, resolvi escrever até mesmo como um espécie de desabafo, para "aproveitar a oportunidade" já que me deparei com essa postagem em vosso blog do qual sou leitor assíduo e também por saber ser o professor - assim como outros leitores de vosso blog - um homem casado há muitos anos, consequentemente mais experiente e - sobretudo - por ser católico.

Peço desculpas pelo extenso comentário e conto com as orações e conselhos.

Fiquem com Deus!

Antônio Emílio Angueth de Araújo disse...

Caro anônimo,

Quem sou eu para te aconselhar. Penso ser seu caso para um
aconselhamento com um bom diretor espiritual, não um padre qualquer. Mas não
posso deixar de lembrar aqui as palavras de São Paulo (1Cor7:12-16):


“Aos restantes, digo-lhes eu, não o Senhor: se um irmão
tiver uma esposa que não for crente, e ela consentir em habitar com ele, não a
mande embora. De igual modo, se uma mulher tiver um marido que não for crente,
e ele consentir em habitar com ela, não mande embora o marido, porque o marido
não crente é santificado na mulher, e a mulher que não crê é santificada no
irmão; do contrário, os vossos filhos seriam impuros, enquanto que agora são
santos. Mas, se a parte não crente quiser separar-se, que se separe; o irmão ou
irmã não são escravos em tal caso; Deus chamou-vos à paz. Efetivamente, sabes
tu, ó mulher, se virás a salvar o teu marido? E tu sabes, ó homem, se virás a
salvar a tua esposa?


Vão aqui alguns
comentários exegéticos que acompanham esses versículos, no meu Evangelho
(anterior ao Vaticano II):


Versículo 12. Aos
restantes
: isto é, àqueles que se fizeram cristãos, sendo já casados,
permanecendo a outra parte infiel, digo-lhes
eu, não o Senhor
: o preceito que Paulo dá, embora não venha diretamente de
Deus, é dado, porém, com a plenitude da autoridade apostólica recebida de Deus –
não mande embora: a forma negativa
da frase leva-nos a afirmar que se trata, mais provavelmente, de um preceito e
não de conselho.


Versículo 14 Não se trata de santificação interior pela vida da graça, mas de santificação extrínseca, que torna legítima a união, também aos olhos da Igreja, e prepara a verdadeira santificação de muitas maneiras. O mesmo deve-se dizer dos filhos, nascidos destas famílias, os quais não são considerados como impuros, porque são candidatos ao batismo.


Versículos 15-16. Se o cônjuge não crente, isto é, que não crê em Cristo, quiser separar-se do cônjuge cristão, ou, se com maus tratos ou com
procedimento indigno lhe torna muito dura a vida ou perigosa a salvação da
alma, obstinar-se a viver com ele seria para o fiel cristão condenar-se à
escravidão e a discórdias contínuas, quando Jesus Cristo nos chama à liberdade
e à paz. A parte fiel, então, torna-se livre e pode contrair novo matrimônio. É
este o chamado privilégio paulino. Cf. Direito Canônico, cân. 1120-1126.

Ad Iesum per Mariam.