1. Os caminhos que nos levam à morte são três: uns miseráveis,
outros laboriosos e os terceiros, voluptuosos. São miseráveis os dos pobres,
que se gabam em sua pobreza com espirito prepotente e soberbo. Estes são levados
da indigência espiritual à miséria eterna. São laboriosos os caminhos dos
avaros e cobiçosos, que se debatem miseravelmente entre a ansiedade dos mais
variados afãs e se esquecem de buscar os interesses de Deus;[1]
sufocando-se com os ardores da avareza, chegam ao fim da vida oscilando entre a
inquietude temporal e as angustias da fadiga eterna. São voluptuosos os dos
ricos de vida deleitosa; alimentam seus corpos e desejos nas delícias e
prazeres, e depois dos deleites momentâneos e dos encantos efêmeros são levados
para as amarguras eternas.
2. O caminho estreito que leva à vida[2]
admite, por si mesmo, uma tríplice distinção: um é sangrento, outro purpúreo e
outro lácteo. Sangrento é o dos mártires, que lavaram os vestidos de seus
corpos no sangue do Cordeiro[3]
e pelo caminho do martírio chegaram ao trono do triunfo mais sublime. É purpúreo
o dos confessores, que renovaram em sua carne as pegadas da Paixão do Senhor
pela abstinência e levarão em seus corpos os estigmas das feridas de Cristo. É lácteo
o das virgens, que consagraram em si mesmas a brancura da pureza angélica e as
virtudes da santidade, e pelo caminho da pureza voarão felizmente com as asas
das virtudes ao abraço e ao leito nupcial do verdadeiro esposo.
3. Há quatro tipos de vontade humana: ela pode ser árida, reta,
devota e ditosa. É árida nos réprobos e mundanos, cujos corações de modo algum
se encharcam do orvalho da graça. Reta é nos principiantes, que abandonam as
tortuosidades da vida anterior e se alçam à prática das boas obras por meio da
transformação da vontade. É devota nos avançados, que por meio da oração
assídua se elevam com ousadia ao amor das boas obras. É ditosa nos perfeitos,
que quase sempre pensam em Deus e põem n’Ele a meta de seu desejo. Entre a
vontade árida e a reta está um abismo que ninguém, mesmo desejando, pode saltar:[4]
se trata da intenção perversa. Entre a reta e a devota está o hábito enraizado.
Entre a devota e a ditosa, a afeição corporal. Estas três realidades são como
pedras atravessadas no caminho de nossas ações e impedem que progridamos nas
virtudes.
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Ver
também: Sentenças de São Bernardo, Sentenças de São Bernardo - II, Sentenças de São Bernardo III, Sentenças de São Bernardo IV e Sentenças de São
Bernardo V,
Sentenças de São Bernardo VI.
[1] 1Cor 7, 34.
[2]
Mt 7, 14.
[3]
Ap 7, 14.
[4]
Lc 16, 26.
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