30/04/2010

Reflexões sobre a situação atual da Igreja

 

Estamos presenciando neste momento um ataque geral contra a Igreja, na pessoa do Papa Bento XVI. O mundo está revoltado com a Igreja por um motivo que não o faz revoltado com ninguém mais. Tudo gira em torno da pedofilia. É claro que soará como uma piada diante do mundo dizer que a Igreja praticamente acabou com a pedofilia ao longo dos séculos desde a antiguidade. A pedofilia era prática comum na antiguidade. Desde que os valores da Igreja tornaram-se hegemônicos, a pedofilia tendeu a desaparecer do mundo. Isso ocorreu também com vários males que, com o desaparecimento dos valores cristãos do coração dos homens nos últimos séculos, estão voltando à superfície como, por exemplo, a escravidão. Este simples fato histórico é, como disse, piada para o mundo, tal o estado de desespero em que ele se encontra.

Muitos católicos estão atônitos e consternados com os ataques que a Igreja anda sofrendo, como se ela não tivesse sofrido ataques em toda a sua existência; como se seu Criador não nos tivesse alertado para a perseguição que o mundo nos faria depois de Sua Ascensão, e durante todos os séculos. O que é realmente impressionante é que o mundo não nos tenha atacado tanto durante os últimos 40-50 anos, período no qual a Igreja, na pessoa dos seus mais altos representantes, teve a pretensão de fazer as pazes com o mundo. A frase que selou esta paz foi a do Papa Paulo VI, em seu discurso de encerramento do Concílio Vaticano II: “a religião do Deus que Se fez homem, encontrou-se com a religião do homem que se fez Deus”. É uma frase impressionante vinda da boca de um papa. É a frase-síntese de um período em que a Igreja não foi atacada pelo mundo.

Agora que temos um papa que não subscreve esta frase, que acha que a Igreja tem muito que ensinar ao mundo, o mundo está reagindo. A Igreja está no lugar certo e o mundo no lugar errado, como sempre. O mundo não está atacando a Igreja por causa da pedofilia, pois sem a Igreja o mundo voltará à pedofilia. O mundo está atacando a Igreja porque ele é seu inimigo, porque seu príncipe é satanás. Muitos perguntam: porque a mídia, que é tão rápida em atacar a Igreja nos casos de pedofilia, não ataca também os líderes religiosos de outras religiões, cristãs e não cristãs, pelo mesmo motivo, não ataca os espíritas, pelo mesmo motivo, não ataca os intelectuais e professores universitários, pelo mesmo motivo? Ora, é fácil entender por quê. É que não se trata da pedofilia, senão do ódio que se tem da Igreja. Não é um ódio ao cristianismo, esta expressão pastosa e quase sem sentido, que hoje em dia identifica uma pletora de denominações protestantes, cujo número ultrapassa 10.000; isto mesmo, dez mil. É um ódio à Igreja Católica Apostólica Romana. Esta Igreja agora, sob o reinado de Bento XVI, está condenando o mundo, pouco a pouco, cautelosamente, como é do estilo do papa; mas está condenando. E isso é inaceitável para o mundo.

Mas existe outro aspecto deste ataque, este mais sutil, mais difícil de perceber. Chesterton, na sua época, percebeu a sutileza. Tal sutileza consiste no seguinte. O mundo paradoxalmente não admite nenhuma falha nos membros da Igreja. O mundo parece se horrorizar quando algum padre faz algo de errado. Chesterton dizia que isso é a maior homenagem que o mundo presta à Igreja, pois com isso, ele mostra que considera a Igreja santa, uma instituição que não pode ser maculada por membros corruptos e apodrecidos. É a homenagem que o doente presta ao médico, mesmo reclamando do tratamento. Neste sentido, devemos agradecer ao mundo tal louvor. Devemos renovar as garantias que o tratamento continuará, até o final dos tempos. As garantias não são nossas, é claro, mas d’Ele que fundou a Igreja e que garante sua existência, com a de todos nós.

Assim, o ataque atual, como todos os outros ataques, tem essa dupla característica; uma motivação destruidora e um louvor. Desde que a Igreja não queira se voltar para o mundo para fazer as pazes com ele, como parece ter querido nas últimas décadas, o mundo a atacará por estes dois motivos. Enquanto a Igreja estiver sendo atacada pelo mundo, temos garantias de que ela está no lugar certo.

7 comentários:

Anônimo disse...

A Igreja e o mundo: uma reflexão

O mundo, exatamente por ter optado pelo mal, vê a Igreja como guardiã do bem; e por isso a detesta.

Assim, se a Igreja não se responsabilizar pelos membros que ela mesma seleciona, punindo exemplarmente aqueles que a destroem a partir de dentro, como representantes de satanás, como pode esperar tolerância do mundo que ela própria condena?

Conclusão:
A Santa Igreja Católica Apostólica Romana precisa ficar livre desses malditos representantes da maldade do mundo que se infiltraram nela ao longo dos séculos.

Rodrigo disse...

Professor, obrigado! Esse texto com certeza veio da alma! Que Deus o abençõe por ele! E que a Virgem Maria interceda sempre pelo senhor e sua família!
Mais uma vez, obrigado!

Leandro disse...

"Se o mundo vos odeia, sabei que me odiou a mim antes que a vós". (Jo 15,18)

Marcos Tetsuji disse...

Na história gloriosa dos mártires Cristãos do Japão, a razão de tamanha perseguição de 250 anos (fala-se de 300 mil a um milhão de mártires) foi justamente o não conluio com o mundo. Assim, podemos ler na grande obra do Prof. Yakichi Kataoka, “A História do Martírio Cristão do Japão”:

No Templo Zen de Hakata (o fato aconteceu por volta de 1550)
“Ao chegar à rica cidade industrial de Hakata, Francisco Xavier visitou Shoufukuji, um famoso templo Zen. Os monges budistas tomando-o como um sacerdote vindo do país de Buda, Índia, rejubilaram.
Como de costume, Xavier começou o seu sermão, falando inicialmente do Deus Criador, mas logo a sua fala se tornou áspera, numa violenta explosão de advertências. Aos gritos, o padre os acusava de cometerem pedofilia e homossexualismo que são contrários à natureza humana. Quando chegou ao templo, vira um grande grupo de crianças que serviam ao templo.
A seguir, Xavier falou da desonestidade dos monges budistas que, embora não acreditassem nem na eternidade da alma e nem na vida futura, mandavam as famílias dos mortos realizar enterros suntuosos, e cultos freqüentes a fim de explorá-las. Por causa do seu sermão, os budistas ficaram boquiabertos, e, enquanto estes continuavam atônitos, o padre se retirou andando como se nada tivesse acontecido...”

Anônimo disse...

Marcos, por acaso tal livro existe em português?

Non je ne regrette rien: Ediney Santana disse...

todas instituições criadas pela natureza humana estão em dacadência

Marcos Tetsuji disse...

Luís,
Salve Maria!

Eu mesmo o traduzi e estou fazendo a revisão. Entretanto, por causa do volume (quase 700 páginas na versão original)e peculiaridades da língua japonesa, estou tendo alguns problemas para finalizá-lo...

Marcos