Hilaire Belloc
A luta começa
Quando a luta começou, ficou claro que ela teria de ser algo como uma conquista do sul – ou melhor, do sudeste da França, entre o Ródano e as montanhas, com Toulouse como sua capital – pelos barões do norte.
Ainda assim a cruzada hesitava. A virada do século passara antes que Raimundo, conde de Toulouse (Raimundo VI), temendo a ameaça do norte, prometesse mudar e retirar a proteção ao movimento subversivo. Ele prometeu ainda exilar os líderes da agora vigorosa e organizada anti-igreja herética. Mas não foi sincero. Suas simpatias pendiam para sua gente do sul, para a massa de homens lutadores, seus apoiadores, para os pequenos senhores do Langue d’Oc, que estavam encharcados das novas doutrinas. São Domingos, vindo da Espanha, se tornou, pela força de seu caráter e a firmeza de suas intenções, a alma da reação que se aproximava. Em 1207 o papa pediu ao rei da França, como soberano e senhor de Toulouse, o uso da força. Quase todas as cidades do sudeste estavam já afetadas. Muitas estavam completamente controladas pelos hereges, e quando o legado papal, Castelnou, foi assassinado – presumivelmente com a cumplicidade do conde de Toulouse – a demanda por uma cruzada foi repetida e enfatizada. Pouco depois do assassinato a luta começou.
O homem que sobressai como o maior líder da campanha foi um sujeito não muito importante, senhor muito pobre de um lugar pequeno, mas fortificado, chamado Monfort, distante um dia de marcha de Paris, na direção da Normandia.
Você pode ver ainda as ruínas do lugar, num campo densamente arborizado. Elas ficam ao norte da principal estrada de Paris a Chartres: sobre uma pequena e isolada colina. Dessa pequena, isolada e fortificada colina veio o nome “colina forte” ou “mont fort”, e Simon teve seu nome associado a essa ancestral propriedade.
Raimundo de Toulouse ficou perplexo quando a luta começou. O rei da França estava se tornando mais poderoso do que sempre tinha sido. Ele confiscara recentemente as propriedades de todos os Plantagenetas no norte da França. João, o plantageneta rei da Inglaterra, falava francês, como toda a classe dominante inglesa daquele tempo, e era também, sob o rei da França, Lorde da Normandia, do Maine e de Anjou, e por herança de sua mãe – de metade da região do sul do Loire: Aquitane. Toda a parte norte dessa vasta possessão, de Channel até as montanhas centrais passou ao rei da França quando os nobres ligados ao João da Inglaterra acusou-o de confisco. Raimundo de Toulouse temia o mesmo destino. Mas ele ainda se mostrava indiferente. Apesar de ele marchar com os cruzados contras algumas de suas próprias cidades em rebelião contra a Igreja, ele intimamente desejava a derrota dos nortistas. Ele tinha sido excomungado uma vez. Foi excomungado de novo em Avignon em 1209, o primeiro ano da grande luta.
A luta foi muito violenta. Houve brutal carnificina e grandes saques de cidades e já surgia a coisa que o papa mais temia: o perigo de um motivo financeiro para amargurar a já terrível situação. Os lordes do norte demandariam naturalmente que as terras dos heréticos fossem divididas entre eles. Houve ainda um esforço de reconciliação, mas Raimundo de Toulouse, provavelmente desesperado com a perspectiva de ser deixado sozinho, preparava para resistir. Em 1207, ele foi declarado fora da Igreja, e como John, suas propriedades foram confiscadas de acordo com a Lei Feudal.
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