Como sabemos, o nível de conhecimento dos católicos em geral sobre a doutrina da Igreja Católica está diminuindo numa rapidez incrível. Isso não chega a ser uma surpresa para quem acompanha a grande crise da Igreja, sobretudo depois do Concílio Vaticano II. O que era, no século XIX e no início do século XX uma preocupação dos papas, se torna hoje uma realidade inquestionável.
Só para citar um exemplo, o Papa São Pio X, na encíclica SACRORUM ANTISTITUM (1 de setembro de 1910), diz dos sermões e homilias dos padres modernistas de então: “Procuram lisonjear os ouvintes ‘que são movidos pelo prurido de novidade’, contanto que mantenham as igrejas cheias, embora as almas não sejam curadas por permanecerem vazias. Por isso não falam nunca do pecado, nunca dos novíssimos, nunca de outras verdades gravíssimas que poderiam abalar a salvação, mas falam somente ‘com palavras de bajulação’; e isso o fazem também com eloqüência mais de tribunal do que de apóstolos, mais profana do que sagrada, atraindo para eles aplausos; esses já haviam sido condenados por São Jerônimo, quando escreveu: ‘Quando tu ensinas em assembléia, seja suscitado não o aplauso do povo, mas o arrependimento; teu louvor sejam as lágrimas dos ouvintes’.” [ênfases minhas]
Lembremos de um dito popular antigo: “Padre santo, povo piedoso. Padre piedoso, povo bom. Padre bom, povo aceitável. Padre aceitável, povo tíbio. Padre tíbio, povo ruim. Padre ruim, povo corrupto. Padre corrupto, povo péssimo”.
Vocês podem escolher em qual desses níveis acima nos encontramos. Daí, o povo católico estar à mercê de todo tipo de confusão.
Há duas discussões recentes no blog do Reinaldo de Azevedo, que são questões a respeito das quais a Doutrina Católica tem uma posição muito clara. Elas ilustram a situação de desconhecimento em que nos encontramos.
Uma delas se refere ao quinto mandamento (Não matar) e a outra ao sétimo mandamento da Lei de Deus (Não roubar).
Em resumo, a questão sobre o quinto mandamento surgiu quando Reinaldo Azevedo saúda a morte de um terrorista árabe sanguinário e seus críticos logo lembram que ele, como católico, não devia saudar a morte de ninguém. Ele explica sua posição assim (cito de memória): “A morte de só homem nos diminui a todos. A morte de um sanguinário nos eleva a todos. Isso não nos desobriga de rezar pela alma dele.”
Ele está certo! Dentre as situações em que não há violação do quinto mandamento há a legítima defesa e a pena de morte (também a guerra santa). Sim, irmãos católicos, a Igreja apóia a pena de morte. Leiam o Catecismo em vigor, itens 2265 e 2267. A pena de morte deve ser aplicada exatamente em criminosos sanguinários, “se essa for a única via praticável para defender eficazmente a vida humana contra o agressor injusto”, com diz o catecismo.
Só para lembrar aos esquecidos católicos, houve uma época em que parte da cristandade, sob influência herética, condenou, contra as afirmações da Igreja, a guerra e a pena de morte como coisas más em si. Estávamos então em pleno renascimento (o verdadeiro) medieval, nos séculos XII e XIII. Quem defendia essas idéias eram os cátaros, seita herética que quase destruiu toda a humanidade, não fosse a reação armada articulada pela Igreja. Isso nos deixa uma lição muito importante: idéias têm conseqüências.[1] Atenção: os verdadeiros ancestrais dos pacifistas modernos são os cátaros. Não tenham dúvidas disso.
A outra questão surgiu quando Reinaldo Azevedo comenta sobre o padre que está estimulando a invasão de terras pelo MST. Ele comenta que a CNBB não apoiou o tal padre e que reafirmou que a Igreja defende o direito de propriedade. Sim, irmãos católicos, a Igreja determina o respeito à propriedade privada, por mais que os padres comunistas modernos nos afirmem o contrário. Leiam os comentários ao sétimo mandamento do Catecismo em vigor, itens 2408 e 2409.
É claro que apenas ouvindo as homilias dos padres modernos, ou mesmo, lendo os comentários bíblicos nas edições modernas das Sagradas Escrituras[2], teremos a certeza de que todos os profetas do Antigo Testamento, Jesus Cristo e os apóstolos foram todos comunistas e pacifistas desde criancinha.
[1] A propósito, há um livro extraordinário de Richard Weaver com este título. Eu traduzi a introdução desse livro e o postei aqui no blog.
[2] Ver, Exegese de uma exegese bíblica.
16/02/2008
Propriedade Privada e Pena de Morte
14/02/2008
Artigo meu no Mídia Sem Máscara
Saiu hoje (14/02) artigo meu no MSM. Para acessá-lo clique aqui.
08/02/2008
Lições das Missas Dominicais pós-Concílio Vaticano II
Primeira lição
Narro a seguir, o que encontrei no folheto da Missa do dia (1/07/2007) [Paróquia de Nossa Senhora das Dores], comemoração de São Pedro, São Paulo e do dia do Papa. Na última página, há uma seção "Para sua Reflexão" que traz um texto surpreendente. Reproduzo a primeira parte e os absurdos que ela contém:
"Pedro e Paulo representam duas dimensões da vocação apostólica, diferentes mas complementares. As duas foram necessárias, para que pudéssemos comemorar hoje os fundadores da Igreja universal. Esta complementaridade dos carismas de Pedro e de Paulo continua atual na Igreja hoje: a responsabilidade institucional e a criatividade missionária. Pode até provocar tensões, por exemplo, uma teologia ‘romana’ versus uma teologia latino-americana. Mas é uma tensão fecunda."
Cabem aqui várias observações. A primeira terá de ser sobre a malícia do texto. Ele declara, primeiramente que há uma teologia regional, rebaixando terrivelmente todo o edifício desta Ciência Divina (veja a segunda lição abaixo). Depois, diz que a Igreja da América Latina se opõe (uma VERSUS a outra) à Roma. Se isso não é apostasia, eu não sei o que seja ... Além disso, compara essa discordância entre a Igreja daqui e a de Roma (como se houvesse várias Igrejas e não só a de Cristo) com a tensão entre Pedro e Paulo, que versava sobre a evangelização dos judeus e a dos gentios. Quem estaria do lado de Paulo e quem estaria do lado de Pedro? Qual seria a “teologia dos gentios” e qual a “teologia dos judeus”.O objetivo do texto é, claramente, preparar o caminho para um eventual confronto com a Santa Sé sobre o Motu Próprio. A dupla linguagem e a fingida delicadeza esconde a raça de víboras atuante e muito viva. A seguir, outro texto dominical, esclarece ainda mais a situação.
Segunda lição
O texto que comento abaixo aparece na última página do semanário litúrgico-catequético O Domingo, de 29-7-2007, sob o título “V Conferência do CELAM: 14. Temas da Teologia da Libertação”. O autor do texto é Pe. Antônio Manzatto.
Comento o texto, parágrafo por parágrafo.
“O trabalho da teologia da libertação é um trabalho teológico, isto é, o de pensar racionalmente a fé com base no contexto em que ela se insere. Marcada pela situação latino-americana e pela racionalidade, a teologia da libertação desenvolve de maneira criativa os principais temas do universo teológico e, assim, contribui para o desenvolvimento da Igreja, da teologia e da sociedade.”
Há no texto uma definição de teologia: “pensar racionalmente a fé com base no contexto em que ela se insere”. Como não sou teólogo, recorro a alguém que entende do assunto muito mais que eu e o Pe. Manzatto. Vamos ver o que tem a dizer Santo Tomás de Aquino sobre o assunto. A Suma Teológica[1], livro que o santo escreveu para “expor o que se refere à religião cristã do modo mais apropriado à formação dos iniciantes”, ataca logo de início a questão da Doutrina Sagrada (como Santo Tomás se referia à Teologia), o que ela é e qual o seu alcance. Nada como tomar um livro para “iniciantes” para aprender algo fundamental. No artigo 7 da Questão 1 da Suma, santo Tomás analisa se Deus é o sujeito dessa ciência (Doutrina Sagrada). Duas objeções são apresentadas: 1) Toda a ciência, segundo os Primeiros Analíticos de Aristóteles, pressupõe o conhecimento de seu sujeito. “Como, segundo João Damasceno ‘é-nos impossível dizer de Deus o que ele é’, logo, Deus não é o sujeito desta ciência.”; 2) Pela multiplicidade de coisas de que trata a Sagrada Escritura, e o fato de que “tudo que se trata numa ciência está compreendido em seu sujeito,” assim, Deus não é o sujeito desta ciência. Depois das objeções, sempre há duas partes na argumentação tomista: o “sed contra”, em sentido contrário, e o “respondeo”, respondo. Ao final do “respondeo” Tomás de Aquino refuta as duas objeções iniciais. Vamos ao texto.
“EM SENTIDO CONTRÁRIO, o sujeito de uma ciência é aquilo de que se fala nessa ciência. Ora, na ciência sagrada fala-se de Deus: daí seu nome teologia, discurso sobre Deus. Logo, Deus é o sujeito dessa ciência.
“RESPONDO. Deus é o sujeito desta ciência. Entre o sujeito de uma ciência e a própria ciência, existe a mesma relação que entre o objeto e uma potência ou um habitus. Ora, designa-se propriamente como objeto de uma potência ou de um habitus aquilo sob cuja razão todas as coisas se referem a esta potência ou a este habitus. Por exemplo: o homem e a pedra se referem à vista como coloridos; uma vez que a cor é o objeto próprio da vista. Ora, na doutrina sagrada, tudo é tratado sob a razão de Deus, ou porque se trata do próprio Deus ou de algo que a Ele se refere como o seu princípio ou a seu fim. Segue-se então que Deus é verdadeiramente o sujeito desta ciência. – O que aliás também se manifesta pelos princípios desta ciência: os artigos de fé, que se referem a Deus. Ora, o sujeito dos princípios e da totalidade da ciência é o mesmo, pois a ciência está contida virtualmente em seus princípios.
“Alguns, no entanto, considerando as coisas de que trata esta ciência, e não a razão sob a qual as examina, indicaram seu sujeito de modo diferente. Fala de ‘coisas’ e de ‘sinais’; ou ‘das obras da reparação’, ou do ‘Cristo total’, isto é, a cabeça e os membros. Tudo isso é tratado nesta ciência, mas sempre com relação a Deus.
“QUANTO AO 1º [primeira objeção], portanto, deve-se dizer que embora não possamos saber de Deus quem Ele é; contudo, nesta doutrina, utilizamos, em vez de uma definição para tratar do que se refere a Deus, os efeitos que Ele produz na ordem da natureza ou da graça. Assim como em certas ciências filosóficas se demonstram verdades relativas a uma causa a partir de seus efeitos, assumindo o efeito em lugar da definição dessa causa.
“QUANTO AO 2º, deve-se afirmar que tudo o mais de que esta doutrina sagrada trata está compreendido no próprio Deus; não como partes, espécies ou acidentes, mas como a Ele se ordenando de algum modo.”
Vê-se então que falar de uma teologia “dependente do contexto em que ela se insere” é o mesmo, para Santo Tomás, que falar de uma Física ou Química, dependente do contexto em que elas se inserem. Assim, teologia da libertação é como uma Física latino-americana ou como uma Medicina francesa. Como se os artigos de fé, que são os princípios dessa Ciência, tivessem de ser climatizados toda vez que fossem colocados em prática. Como se “os efeitos que Ele produz na ordem da natureza ou da graça” tivessem alguma dependência econômica, geográfica ou política.
“[Na teologia da libertação] Deus é compreendido como o defensor e protetor dos pobres, identificando-se com eles, e não com o poder estabelecido e repressor. Sua vontade é o estabelecimento do direito e da justiça no mundo, e não o simples desenvolvimento do culto. Cristo, o seu enviado, compreendido na perspectiva da prática de Jesus de Nazaré, é o libertador dos pobres porque instaura o reino de Deus, o governo de Deus, segundo os mesmos princípios do direito e da justiça.”
É um truque conhecido da teologia da libertação a confusão proposital entre o pobre e o pecador. Para essa “teologia” Jesus veio nos salvar da pobreza e não nos redimir do pecado. Ela faz isso para conseguir a impossível mistura do cristianismo com o marxismo. Além disso, a idéia de que Jesus, com sua vinda, instaura o reino de Deus neste mundo é, no mínimo, panteísmo. É claro que o reino de Deus não é deste mundo e é claro que ele não é para todos. No evangelho de João, no capítulo 3, vemos nos versículos de 3 a 5: "Jesus replicou-lhe: Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer de novo não poderá ver o Reino de Deus. Nicodemos perguntou-lhe: Como pode um homem renascer, sendo velho? Porventura pode tornar a entrar no seio de sua mãe e nascer pela segunda vez? Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo: quem não renascer da água e do Espírito não poderá entrar no Reino de Deus. "
Parece que Pe. Manzatto ou não leu ou já se esqueceu do capítulo 3 do livro do Gênesis. Toda a utopia do paraíso terrestre é desfeita por Deus. Disse Deus a Adão: “Porque ouviste a voz de tua mulher e comeste do fruto da árvore que eu te havia proibido comer, maldita seja a terra por tua causa. Tirarás dela com trabalhos penosos o teu sustento todos os dias de tua vida. Ela te produzirá espinhos e abrolhos, e tu comerás a erva da terra. Comerás o teu pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra de que foste tirado; porque és pó, e pó te hás de tornar.”
Somos seres caídos e nossa Queda tem uma espantosa conseqüência prática. Tudo que fizermos por aqui será imperfeito e muitíssimo difícil. Padre, espero que o sr. não considere isso somente uma metáfora.
“A Igreja, por sua vez, continuadora da missão de Jesus, assumindo a opção preferencial pelos pobres, trabalha para o estabelecimento da comunhão entre todos os seres humanos e deles com Deus, formando o ambiente comunitário que é sinal do reino em que todos são irmãos, restaurados na dignidade humana de filhos e filhas de Deus.”
Algumas verdades e uma mentira. Nem todos serão filhos de Deus. Esse é o velho erro, tantas vezes denunciado, de entender que o sangue de Cristo foi derramado pela salvação de todos e não de muitos (pro multis). [QUI POR VOBIS ET PRO MULTIS EFFUNDETUR IN REMISSONEM PECCATORUM]. Aliás, o papa já mandou se traduzir “pro multis” como “por muitos” na Oração Eucarística (ler aqui)
“A vida concreta das pessoas – incluindo aquilo que diz respeito à organização do mundo – é vista como caminho para Deus. A luta contra o mal passa, por um lado, pela solidariedade para com os sofredores e, por outro, pela superação do pecado, que não é apenas individual, mas também estrutural. Por isso a conversão do coração não é suficiente para o estabelecimento do mundo novo, mas é necessário igualmente a conversão das estruturas sociais. A luta pela justiça – também em seus desdobramentos políticos – é compreendida como compromisso de superação do pecado para a instauração do mundo novo: a sociedade fraterna e solidária será sinal do reino definitivo.”
Aqui o texto chega ao seu final, desnudando todo o blá-blá-blá inicial. Esses “teólogos” de meia tigela querem mesmo é tomar o poder temporal. Conversão de estruturas? Pecado institucional? Será esta a tal Igreja santa e pecadora? Esses teólogos da libertação são todos marxistas enrustidos e maliciosos. Reino definitivo? Aqui, na terra? Reino imanente de Deus? Só se entendermos a Queda do Paraíso como metáfora sem conseqüências práticas.
Essa baboseira está longe da Tradição Católica e é por isso que esses lobos estão uivando contra Bento XVI. Vade retro satanás!
Para terminar, nada como citar o Papa Bento XVI, que na Encíclica SPE SALVI, recentemente publicada, que explica direitinho, para quem quiser entender, como o cristianismo muda o mundo, em sentido autêntico (as ênfases são minhas).
“O cristianismo não tinha trazido uma mensagem sócio-revolucionária semelhante à de Espártaco que tinha fracassado após lutas cruentas. Jesus não era Espártaco, não era um guerreiro em luta por uma libertação política, como Barrabás ou Bar-Kochba. Aquilo que Jesus – Ele mesmo morto na cruz – tinha trazido era algo de totalmente distinto: o encontro com o Senhor de todos os senhores, o encontro com o Deus vivo e, deste modo, o encontro com uma esperança que era mais forte do que os sofrimentos da escravatura e, por isso mesmo, transformava a partir de dentro a vida e o mundo. A novidade do que tinha acontecido revela-se, com a máxima evidência, na Carta de São Paulo a Filémon. Trata-se de uma carta, muito pessoal, que Paulo escreve no cárcere e entrega ao escravo fugitivo Onésimo para o seu patrão – precisamente Filémon. É verdade, Paulo envia de novo o escravo para o seu patrão, de quem tinha fugido, e fá-lo não impondo, mas suplicando: « Venho pedir-te por Onésimo, meu filho, que gerei na prisão [...]. De novo to enviei e tu torna a recebê-lo, como às minhas entranhas [...]. Talvez ele se tenha apartado de ti por algum tempo, para que tu o recobrasses para sempre, não já como escravo, mas, em vez de escravo, como irmão muito amado » (Flm 10-16). Os homens que, segundo o próprio estado civil, se relacionam entre si como patrões e escravos, quando se tornaram membros da única Igreja passaram as ser entre si irmãos e irmãs – assim se tratavam os cristãos mutuamente. Em virtude do Baptismo, tinham sido regenerados, tinham bebido do mesmo Espírito e recebiam conjuntamente, um ao lado do outro, o Corpo do Senhor. Apesar de as estruturas externas permanecerem as mesmas, isto transformava a sociedade a partir de dentro. Se a Carta aos Hebreus diz que os cristãos não têm aqui neste mundo uma morada permanente, mas procuram a futura (cf. Heb 11, 13-14; Fil 3,20), isto não significa de modo algum adiar para uma perspectiva futura: a sociedade presente é reconhecida pelos cristãos como uma sociedade imprópria; eles pertencem a uma sociedade nova, rumo à qual caminham e que, na sua peregrinação, é antecipada.”
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[1] Uso aqui a tradução da Suma publicada pelas Edições Loyola, vol. 1, 2001.
Narro a seguir, o que encontrei no folheto da Missa do dia (1/07/2007) [Paróquia de Nossa Senhora das Dores], comemoração de São Pedro, São Paulo e do dia do Papa. Na última página, há uma seção "Para sua Reflexão" que traz um texto surpreendente. Reproduzo a primeira parte e os absurdos que ela contém:
"Pedro e Paulo representam duas dimensões da vocação apostólica, diferentes mas complementares. As duas foram necessárias, para que pudéssemos comemorar hoje os fundadores da Igreja universal. Esta complementaridade dos carismas de Pedro e de Paulo continua atual na Igreja hoje: a responsabilidade institucional e a criatividade missionária. Pode até provocar tensões, por exemplo, uma teologia ‘romana’ versus uma teologia latino-americana. Mas é uma tensão fecunda."
Cabem aqui várias observações. A primeira terá de ser sobre a malícia do texto. Ele declara, primeiramente que há uma teologia regional, rebaixando terrivelmente todo o edifício desta Ciência Divina (veja a segunda lição abaixo). Depois, diz que a Igreja da América Latina se opõe (uma VERSUS a outra) à Roma. Se isso não é apostasia, eu não sei o que seja ... Além disso, compara essa discordância entre a Igreja daqui e a de Roma (como se houvesse várias Igrejas e não só a de Cristo) com a tensão entre Pedro e Paulo, que versava sobre a evangelização dos judeus e a dos gentios. Quem estaria do lado de Paulo e quem estaria do lado de Pedro? Qual seria a “teologia dos gentios” e qual a “teologia dos judeus”.O objetivo do texto é, claramente, preparar o caminho para um eventual confronto com a Santa Sé sobre o Motu Próprio. A dupla linguagem e a fingida delicadeza esconde a raça de víboras atuante e muito viva. A seguir, outro texto dominical, esclarece ainda mais a situação.
Segunda lição
O texto que comento abaixo aparece na última página do semanário litúrgico-catequético O Domingo, de 29-7-2007, sob o título “V Conferência do CELAM: 14. Temas da Teologia da Libertação”. O autor do texto é Pe. Antônio Manzatto.
Comento o texto, parágrafo por parágrafo.
“O trabalho da teologia da libertação é um trabalho teológico, isto é, o de pensar racionalmente a fé com base no contexto em que ela se insere. Marcada pela situação latino-americana e pela racionalidade, a teologia da libertação desenvolve de maneira criativa os principais temas do universo teológico e, assim, contribui para o desenvolvimento da Igreja, da teologia e da sociedade.”
Há no texto uma definição de teologia: “pensar racionalmente a fé com base no contexto em que ela se insere”. Como não sou teólogo, recorro a alguém que entende do assunto muito mais que eu e o Pe. Manzatto. Vamos ver o que tem a dizer Santo Tomás de Aquino sobre o assunto. A Suma Teológica[1], livro que o santo escreveu para “expor o que se refere à religião cristã do modo mais apropriado à formação dos iniciantes”, ataca logo de início a questão da Doutrina Sagrada (como Santo Tomás se referia à Teologia), o que ela é e qual o seu alcance. Nada como tomar um livro para “iniciantes” para aprender algo fundamental. No artigo 7 da Questão 1 da Suma, santo Tomás analisa se Deus é o sujeito dessa ciência (Doutrina Sagrada). Duas objeções são apresentadas: 1) Toda a ciência, segundo os Primeiros Analíticos de Aristóteles, pressupõe o conhecimento de seu sujeito. “Como, segundo João Damasceno ‘é-nos impossível dizer de Deus o que ele é’, logo, Deus não é o sujeito desta ciência.”; 2) Pela multiplicidade de coisas de que trata a Sagrada Escritura, e o fato de que “tudo que se trata numa ciência está compreendido em seu sujeito,” assim, Deus não é o sujeito desta ciência. Depois das objeções, sempre há duas partes na argumentação tomista: o “sed contra”, em sentido contrário, e o “respondeo”, respondo. Ao final do “respondeo” Tomás de Aquino refuta as duas objeções iniciais. Vamos ao texto.
“EM SENTIDO CONTRÁRIO, o sujeito de uma ciência é aquilo de que se fala nessa ciência. Ora, na ciência sagrada fala-se de Deus: daí seu nome teologia, discurso sobre Deus. Logo, Deus é o sujeito dessa ciência.
“RESPONDO. Deus é o sujeito desta ciência. Entre o sujeito de uma ciência e a própria ciência, existe a mesma relação que entre o objeto e uma potência ou um habitus. Ora, designa-se propriamente como objeto de uma potência ou de um habitus aquilo sob cuja razão todas as coisas se referem a esta potência ou a este habitus. Por exemplo: o homem e a pedra se referem à vista como coloridos; uma vez que a cor é o objeto próprio da vista. Ora, na doutrina sagrada, tudo é tratado sob a razão de Deus, ou porque se trata do próprio Deus ou de algo que a Ele se refere como o seu princípio ou a seu fim. Segue-se então que Deus é verdadeiramente o sujeito desta ciência. – O que aliás também se manifesta pelos princípios desta ciência: os artigos de fé, que se referem a Deus. Ora, o sujeito dos princípios e da totalidade da ciência é o mesmo, pois a ciência está contida virtualmente em seus princípios.
“Alguns, no entanto, considerando as coisas de que trata esta ciência, e não a razão sob a qual as examina, indicaram seu sujeito de modo diferente. Fala de ‘coisas’ e de ‘sinais’; ou ‘das obras da reparação’, ou do ‘Cristo total’, isto é, a cabeça e os membros. Tudo isso é tratado nesta ciência, mas sempre com relação a Deus.
“QUANTO AO 1º [primeira objeção], portanto, deve-se dizer que embora não possamos saber de Deus quem Ele é; contudo, nesta doutrina, utilizamos, em vez de uma definição para tratar do que se refere a Deus, os efeitos que Ele produz na ordem da natureza ou da graça. Assim como em certas ciências filosóficas se demonstram verdades relativas a uma causa a partir de seus efeitos, assumindo o efeito em lugar da definição dessa causa.
“QUANTO AO 2º, deve-se afirmar que tudo o mais de que esta doutrina sagrada trata está compreendido no próprio Deus; não como partes, espécies ou acidentes, mas como a Ele se ordenando de algum modo.”
Vê-se então que falar de uma teologia “dependente do contexto em que ela se insere” é o mesmo, para Santo Tomás, que falar de uma Física ou Química, dependente do contexto em que elas se inserem. Assim, teologia da libertação é como uma Física latino-americana ou como uma Medicina francesa. Como se os artigos de fé, que são os princípios dessa Ciência, tivessem de ser climatizados toda vez que fossem colocados em prática. Como se “os efeitos que Ele produz na ordem da natureza ou da graça” tivessem alguma dependência econômica, geográfica ou política.
“[Na teologia da libertação] Deus é compreendido como o defensor e protetor dos pobres, identificando-se com eles, e não com o poder estabelecido e repressor. Sua vontade é o estabelecimento do direito e da justiça no mundo, e não o simples desenvolvimento do culto. Cristo, o seu enviado, compreendido na perspectiva da prática de Jesus de Nazaré, é o libertador dos pobres porque instaura o reino de Deus, o governo de Deus, segundo os mesmos princípios do direito e da justiça.”
É um truque conhecido da teologia da libertação a confusão proposital entre o pobre e o pecador. Para essa “teologia” Jesus veio nos salvar da pobreza e não nos redimir do pecado. Ela faz isso para conseguir a impossível mistura do cristianismo com o marxismo. Além disso, a idéia de que Jesus, com sua vinda, instaura o reino de Deus neste mundo é, no mínimo, panteísmo. É claro que o reino de Deus não é deste mundo e é claro que ele não é para todos. No evangelho de João, no capítulo 3, vemos nos versículos de 3 a 5: "Jesus replicou-lhe: Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer de novo não poderá ver o Reino de Deus. Nicodemos perguntou-lhe: Como pode um homem renascer, sendo velho? Porventura pode tornar a entrar no seio de sua mãe e nascer pela segunda vez? Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo: quem não renascer da água e do Espírito não poderá entrar no Reino de Deus. "
Parece que Pe. Manzatto ou não leu ou já se esqueceu do capítulo 3 do livro do Gênesis. Toda a utopia do paraíso terrestre é desfeita por Deus. Disse Deus a Adão: “Porque ouviste a voz de tua mulher e comeste do fruto da árvore que eu te havia proibido comer, maldita seja a terra por tua causa. Tirarás dela com trabalhos penosos o teu sustento todos os dias de tua vida. Ela te produzirá espinhos e abrolhos, e tu comerás a erva da terra. Comerás o teu pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra de que foste tirado; porque és pó, e pó te hás de tornar.”
Somos seres caídos e nossa Queda tem uma espantosa conseqüência prática. Tudo que fizermos por aqui será imperfeito e muitíssimo difícil. Padre, espero que o sr. não considere isso somente uma metáfora.
“A Igreja, por sua vez, continuadora da missão de Jesus, assumindo a opção preferencial pelos pobres, trabalha para o estabelecimento da comunhão entre todos os seres humanos e deles com Deus, formando o ambiente comunitário que é sinal do reino em que todos são irmãos, restaurados na dignidade humana de filhos e filhas de Deus.”
Algumas verdades e uma mentira. Nem todos serão filhos de Deus. Esse é o velho erro, tantas vezes denunciado, de entender que o sangue de Cristo foi derramado pela salvação de todos e não de muitos (pro multis). [QUI POR VOBIS ET PRO MULTIS EFFUNDETUR IN REMISSONEM PECCATORUM]. Aliás, o papa já mandou se traduzir “pro multis” como “por muitos” na Oração Eucarística (ler aqui)
“A vida concreta das pessoas – incluindo aquilo que diz respeito à organização do mundo – é vista como caminho para Deus. A luta contra o mal passa, por um lado, pela solidariedade para com os sofredores e, por outro, pela superação do pecado, que não é apenas individual, mas também estrutural. Por isso a conversão do coração não é suficiente para o estabelecimento do mundo novo, mas é necessário igualmente a conversão das estruturas sociais. A luta pela justiça – também em seus desdobramentos políticos – é compreendida como compromisso de superação do pecado para a instauração do mundo novo: a sociedade fraterna e solidária será sinal do reino definitivo.”
Aqui o texto chega ao seu final, desnudando todo o blá-blá-blá inicial. Esses “teólogos” de meia tigela querem mesmo é tomar o poder temporal. Conversão de estruturas? Pecado institucional? Será esta a tal Igreja santa e pecadora? Esses teólogos da libertação são todos marxistas enrustidos e maliciosos. Reino definitivo? Aqui, na terra? Reino imanente de Deus? Só se entendermos a Queda do Paraíso como metáfora sem conseqüências práticas.
Essa baboseira está longe da Tradição Católica e é por isso que esses lobos estão uivando contra Bento XVI. Vade retro satanás!
Para terminar, nada como citar o Papa Bento XVI, que na Encíclica SPE SALVI, recentemente publicada, que explica direitinho, para quem quiser entender, como o cristianismo muda o mundo, em sentido autêntico (as ênfases são minhas).
“O cristianismo não tinha trazido uma mensagem sócio-revolucionária semelhante à de Espártaco que tinha fracassado após lutas cruentas. Jesus não era Espártaco, não era um guerreiro em luta por uma libertação política, como Barrabás ou Bar-Kochba. Aquilo que Jesus – Ele mesmo morto na cruz – tinha trazido era algo de totalmente distinto: o encontro com o Senhor de todos os senhores, o encontro com o Deus vivo e, deste modo, o encontro com uma esperança que era mais forte do que os sofrimentos da escravatura e, por isso mesmo, transformava a partir de dentro a vida e o mundo. A novidade do que tinha acontecido revela-se, com a máxima evidência, na Carta de São Paulo a Filémon. Trata-se de uma carta, muito pessoal, que Paulo escreve no cárcere e entrega ao escravo fugitivo Onésimo para o seu patrão – precisamente Filémon. É verdade, Paulo envia de novo o escravo para o seu patrão, de quem tinha fugido, e fá-lo não impondo, mas suplicando: « Venho pedir-te por Onésimo, meu filho, que gerei na prisão [...]. De novo to enviei e tu torna a recebê-lo, como às minhas entranhas [...]. Talvez ele se tenha apartado de ti por algum tempo, para que tu o recobrasses para sempre, não já como escravo, mas, em vez de escravo, como irmão muito amado » (Flm 10-16). Os homens que, segundo o próprio estado civil, se relacionam entre si como patrões e escravos, quando se tornaram membros da única Igreja passaram as ser entre si irmãos e irmãs – assim se tratavam os cristãos mutuamente. Em virtude do Baptismo, tinham sido regenerados, tinham bebido do mesmo Espírito e recebiam conjuntamente, um ao lado do outro, o Corpo do Senhor. Apesar de as estruturas externas permanecerem as mesmas, isto transformava a sociedade a partir de dentro. Se a Carta aos Hebreus diz que os cristãos não têm aqui neste mundo uma morada permanente, mas procuram a futura (cf. Heb 11, 13-14; Fil 3,20), isto não significa de modo algum adiar para uma perspectiva futura: a sociedade presente é reconhecida pelos cristãos como uma sociedade imprópria; eles pertencem a uma sociedade nova, rumo à qual caminham e que, na sua peregrinação, é antecipada.”
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[1] Uso aqui a tradução da Suma publicada pelas Edições Loyola, vol. 1, 2001.
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Lições das Missas de Paulo VI
04/02/2008
Margaret Sanger: o mal encarnado
Ted Flynn
Nota introdutória: Em tempos de DVD da CNBB com as “Católicas pelo Direito de Decidir” dando seu depoimento, é sempre bom lembrar de onde essas “católicas” vieram. A mãe delas não é a Nossa Senhora, mas Margaret Sanger. Os ancestrais remotos dessa turma são os cátaros e albigenses dos séculos XI, XII e XII e seu inimigo mortal, tanto naquela época, como nesta em que vivemos é a Igreja Católica. Por isso, todo o episódio do DVD da CNBB é lastimável. Agora, um pouquinho de história.
Para muitos americanos, o nome Planned Parenthood significa responsabilidade e até mesmo valores familiares. Ela foi fundada em 1915, por Margaret Sanger, com o nome de American Birth Control League. O nome foi mudado, por razões de relações públicas, para Planned Parethood Federation of America em 1942, e um braço internacional foi também criado. Elasha Drogin, em cuja biografia de Sanger a chama de Pai da Moderna Sociedade, descreve a influência de Sanger.
“A influência da International Planned Parenthood Federation[1] de Margaret Sanger no mundo contemporâneo é tão grande que se pode dizer que seus slogans e valores se tornaram exatamente os da moderna civilização ocidental e constituem a moral que domina o resto do mundo. Em 1900, a sociedade mundial teria considerado os valores de Margaret Sanger e da Planned Parenthood nada mais que uma forma desprezível de utopismo. Se um cidadão em 1900 soubesse, pelo viajante de uma maquina do tempo, que em exatos 75 anos, dispositivos e produtos químicos contraceptivos seriam coisas normais, aspectos da vida aprovados socialmente e que o aborto tinha uma aceitação mundial como método reserva caso os contraceptivos falhassem, nosso cidadão de 1900 perderia imediatamente a consciência. Se, depois de recobrada a consciência, disséssemos a ele que em 1973 diversas formas de promiscuidade e pornografia seriam aceitas por quase todo mundo como um resultado da efetividade da contracepção mecânica e química, cujas complicações seriam resolvidas pelo aborto, esterilização cirúrgica, drogas e hysterectomia, é de se imaginar se nosso cidadão de 1900 conseguiria sobreviver.” Se a ele fosse contado que o mundo iria ceifar partes do feto e que o presidente dos EUA assinaria uma lei legalizando isso, em seu primeiro dia de mandato, e com grande orgulho, como fez presidente Clinton, ele não acreditaria. Se ele soubesse que o senado americano aprovaria um aborto por nascimento parcial (infanticídio) que esmaga a cabeça do bebê para que ele possa ser retirado do útero, aquele viajante do tempo não acreditaria que você estivesse falando dos EUA. O aborto foi legalizado nos EUA em 1973, sob circunstâncias fraudulentas no mais alto nível. Se isso fosse contado a um cidadão americano em 1900, em 1930, em 1950 ou mesmo em 1975, ele não acreditaria que isso pudesse acontecer. Como líder do Free World, os EUA tem exportado essa filosofia aos quatro cantos do mundo. Desde 1973, houve mais de 40 milhões de abortos cirúrgicos e mais centenas de milhões de abortos devidos a pílulas contraceptivas, que são abortivas. Pode-se argumentar que Margaret Sanger tenha sido a pessoa mais influente do mundo se você considera suas conquistas, sem levar em conta a questão do bem e do mal como um critério. Poder-se-ia defender fortemente que ela é uma das principais portadoras do mal no mundo. Mao, Lênin, Stalin, Hitler são pequenas pragas comparadas ao papel de Sanger, que está sempre se expandindo. Sua influência é a política doméstica e externa norte-americana.
Sanger, que morreu em 1966, foi uma revolucionária socialista e uma ativista anti-cristã que recebeu grandes verbas de fundações que apoiaram seu trabalho. Pessoalmente, ela era sexualmente promíscua e envolvida com práticas ocultistas. Uma biógrafa, a ela simpática, disse que ela se tornava “furiosamente anticristã à medida que envelhecia”. Margaret Higgins Sanger era a sexta de onze irmãos de Corning, New York. Ela escreveu em sua autobiografia My Fight for Birth Control, “Não consigo contemplar minha infância com alegria”. Seu pai exibia uma atitude anticatólica enquanto vivia numa comunidade irlandesa e era casado com uma irlandesa. Apesar de batizada católica, ela abandonou a Igreja em sua juventude.
O foco central de suas atividades era conseguir que o governo americano endossasse e promovesse seu trabalho. Sanger depôs perante diversas comissões parlamentares “advogando a votação de leis liberando os contraceptivos” e lutando pela “incorporação do controle reprodutivo em programas estaduais como uma forma de planejamento social.”
A biógrafa de Sanger, Ellen Chesler, admite que “sem uma preocupação aparente com os potenciais abusos”, Sanger apoiava iniciativas de governos estaduais que, nas décadas de 1920 e 1930, visavam à esterilização de indivíduos com supostas deficiências hereditárias, tais como retardo ou insanidade mental. Uma dessas leis autorizando a esterilizarão involuntária de internos de instituições estaduais no estado de Virgínia foi revogada pela Suprema Corte americana em 1927.
Desde o início, a clara intenção do projeto de controle de natalidade não era dar aos indivíduos o direto de tomar decisões na privacidade de seus lares, mas o de dar ao governo o poder de regular e controlar a espécie humana. Essa é a filosofia que funciona em benefício de regimes totalitários, quer comunista, nazista ou fascista. Com esse poder, alguns dos primeiros slogans do movimento de controle de natalidade eram assustadores: “Mais crianças para os saudáveis, menos para os doentes, esse é o principal objetivo do controle de natalidade,” e “Controle de natalidade: para criar uma raça de puros-sangues.” Em seu próprio livro, The Pivot of Civilization, Sanger inclui referências a se eliminar “sementes humanas” e esterilizar “raças geneticamente inferiores”.
Contudo, o governo dos EUA não seria o primeiro a implementar as políticas de Sanger numa escala maciça e brutal. Essa tarefa foi deixada primeiramente para o Terceiro Reich de Adolf Hitler. George Grant notou que Sanger se tornou intimamente associada a cientistas e teóricos que ajudaram a construir o programa de “purificação racial” da Alemanha nazista. Ela tinha abertamente endossado os programas inicias de eutanásia, esterilização e infanticídio do Reich. Ela publicou diversos artigos no The Birth Control Review que continha a retórica hitlerista da supremacia ariana. Ela inclusive convidou Dr. Ernst Rudin, diretor do Programa Médico Experimental Nazista, para escrever artigos para o The Review. Mas Sanger recuou de seu apoio aos programas nazistas quando os terríveis detalhes vieram à tona. Ela não se preocupava com o que estava sendo feito, mas a percepção que o público estava tendo de suas associações era preocupante.
As maiores conquistas do movimento de controle de natalidade aconteceram nos EUA nas décadas de 1960 e 1970, quando Sanger já se aproximava da morte. Um ano antes de sua morte, em 1965, a Suprema Corte americana, no caso Griswold v. Connecticut, derrubou uma lei que proibia a contracepção e criou o direito constitucional à privacidade. Esse caso foi apoiado pela ACLU (American Civil Liberties Union)[2] e pela Planned Parenthood. A Caixa de Pandora foi aberta e não há mais volta.
Em 1972, a Suprema Corte avançou no caso Baird v. Eisenstat e, um ano depois, utilizando-se o chamado direito à privacidade, legalizou o aborto generalizado na decisão do caso Roe v. Wade. Esses casos foram, em parte, financiados da Fundação Playboy, um braço da empresa que publica a revista Playboy. A Playboy foi um fundador importante da Planned Parethood. O envolvimento da Playboy no financiamento de tais causas levanta sérias dúvidas sobre se o aborto e o “planejamento familiar” não objetivariam, de fato, encorajar a promiscuidade sexual e eliminar a responsabilidade pessoal. Na realidade, algumas feministas admitem que a Playboy apoiou os movimentos pró-aborto para manter as mulheres atrativas e disponíveis para os homens. De um professado desejo de simplesmente disponibilizar os mecanismos de controle de natalidade às pessoas na privacidade de seus lares, o movimento evoluiu para uma campanha, com apoio governamental e com dinheiro dos contribuintes, que tenta forçar o “planejamento familiar” a todos por meio de clínicas nas comunidades e nas escolas públicas.
Desde 1970, dos Family Planning Sevices e do Population Research Act, a própria Planned Parenthood tem recebido centenas de milhões de dólares do contribuinte americano. Em 1992, um ano em que mais de 1,9 milhões de mulheres receberam serviços contraceptivos nas clínicas da Planned Parenthood, essa organização recebeu mais de US$200 milhões. Não parece fazer diferença se o governo é democrata ou republicano. Durante doze anos de administrações republicanas pró-vida, o financiamento da Planned Parethood triplicou. Uma análise do financiamento da Planned Parethood no período de 18 meses, nos anos 1993-1994, mostrou que a ajuda governamental subiu a US$ 238,2 milhões, 34 por cento do total de arrecadação da organização. Mas o que a Planned Parethood recebe do tesouro americano, por meio das agências governamentais tais como a AID (Agency for International Development), assim como do Fundo para as Populações da ONU e de outros grupos e instituições, chega a bilhões de dólares. Ninguém sabe o montante exato, uma vez que o dinheiro chega de várias agências há vários anos.
A agenda de controle de natalidade atual tem um pedigree indistinto. Suas raízes podem ser encontradas no nascimento da Planned Parenthood. Em janeiro de 1932, Sanger fez um discurso na New History Society, em Nova York. Esse discurso foi subseqüentemente publicado num artigo que resumia os propósitos de Sanger para o futuro da nação. Dentre suas sugestões estava a proposição de uma reunião do “Parlamento das Populações” para dirigir e controlar a população por meio de taxas de nascimento e imigração. Sanger acreditava que aqueles identificados como deficientes não deveriam se reproduzir. Suas visões refletem uma insidiosa filosofia, desprovida de qualquer tipo de consciência moral. Um tipo de visão secular e utilitária da sociedade tal como essa leva inevitavelmente à justificação do uso de seres humanos para quaisquer propósitos. A fim de promover sua agenda, Sanger abriu uma clínica de controle de natalidade numa comunidade de imigrantes recém-chegados. A comunidade incluía italianos, hispânicos e descentes de judeus.
Em 1939, Sanger criou um programa para a eliminação de segmentos da população que ela julgava de raça inferior, pessoas de ancestrais negros. Ela expressava a convicção de que os negros eram os menos inteligentes e “adequados” de toda a população. Para fazer propaganda de seus serviços de controle de natalidade, ele utilizava os membros do clero negro. Sanger dizia que os ministros negros eram os melhores para convencer seus seguidores dos méritos do controle de natalidade.
Os escritos de Sanger descrevem pessoas de grupos religiosos, tais como os católicos, como membros dispensáveis da sociedade. Seu antagonismo virulento em relação à Igreja Católica foi muito pronunciado durante toda a sua vida, pois esta era o grande obstáculo institucional aos seus planos. Ela freqüentemente se referia ao cristianismo como tirânico e expressava seu desejo de livrar o mundo da fé cristã. Não surpreende o fato de que Sanger sentisse uma grande atração pela Teosofia. As idéias de Sanger pareciam completamente estranhas que não era acostumado à retórica dos defensores do controle de natalidade. Ainda hoje, uma atitude similar em relação à dispensabilidade dos seres humanos é prevalecente em grupos feministas e ambientalistas. Poucos nesses grupos têm a consciência da fonte original desse pensamento.
Trecho do capítulo 17 (Roots of Feminism and the Most Influential Woman of the 20th Century) do livro Hope of the Wicked: Master Plan to Rule the World, de Ted Flynn
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[1] Ver, A IPPF em perguntas e respostas. (N. do T.)
[2] Ver, por exemplo, Débeis sinais de esperança e Leviandade política – parte III. (N. do T.)
Nota introdutória: Em tempos de DVD da CNBB com as “Católicas pelo Direito de Decidir” dando seu depoimento, é sempre bom lembrar de onde essas “católicas” vieram. A mãe delas não é a Nossa Senhora, mas Margaret Sanger. Os ancestrais remotos dessa turma são os cátaros e albigenses dos séculos XI, XII e XII e seu inimigo mortal, tanto naquela época, como nesta em que vivemos é a Igreja Católica. Por isso, todo o episódio do DVD da CNBB é lastimável. Agora, um pouquinho de história.
Para muitos americanos, o nome Planned Parenthood significa responsabilidade e até mesmo valores familiares. Ela foi fundada em 1915, por Margaret Sanger, com o nome de American Birth Control League. O nome foi mudado, por razões de relações públicas, para Planned Parethood Federation of America em 1942, e um braço internacional foi também criado. Elasha Drogin, em cuja biografia de Sanger a chama de Pai da Moderna Sociedade, descreve a influência de Sanger.
“A influência da International Planned Parenthood Federation[1] de Margaret Sanger no mundo contemporâneo é tão grande que se pode dizer que seus slogans e valores se tornaram exatamente os da moderna civilização ocidental e constituem a moral que domina o resto do mundo. Em 1900, a sociedade mundial teria considerado os valores de Margaret Sanger e da Planned Parenthood nada mais que uma forma desprezível de utopismo. Se um cidadão em 1900 soubesse, pelo viajante de uma maquina do tempo, que em exatos 75 anos, dispositivos e produtos químicos contraceptivos seriam coisas normais, aspectos da vida aprovados socialmente e que o aborto tinha uma aceitação mundial como método reserva caso os contraceptivos falhassem, nosso cidadão de 1900 perderia imediatamente a consciência. Se, depois de recobrada a consciência, disséssemos a ele que em 1973 diversas formas de promiscuidade e pornografia seriam aceitas por quase todo mundo como um resultado da efetividade da contracepção mecânica e química, cujas complicações seriam resolvidas pelo aborto, esterilização cirúrgica, drogas e hysterectomia, é de se imaginar se nosso cidadão de 1900 conseguiria sobreviver.” Se a ele fosse contado que o mundo iria ceifar partes do feto e que o presidente dos EUA assinaria uma lei legalizando isso, em seu primeiro dia de mandato, e com grande orgulho, como fez presidente Clinton, ele não acreditaria. Se ele soubesse que o senado americano aprovaria um aborto por nascimento parcial (infanticídio) que esmaga a cabeça do bebê para que ele possa ser retirado do útero, aquele viajante do tempo não acreditaria que você estivesse falando dos EUA. O aborto foi legalizado nos EUA em 1973, sob circunstâncias fraudulentas no mais alto nível. Se isso fosse contado a um cidadão americano em 1900, em 1930, em 1950 ou mesmo em 1975, ele não acreditaria que isso pudesse acontecer. Como líder do Free World, os EUA tem exportado essa filosofia aos quatro cantos do mundo. Desde 1973, houve mais de 40 milhões de abortos cirúrgicos e mais centenas de milhões de abortos devidos a pílulas contraceptivas, que são abortivas. Pode-se argumentar que Margaret Sanger tenha sido a pessoa mais influente do mundo se você considera suas conquistas, sem levar em conta a questão do bem e do mal como um critério. Poder-se-ia defender fortemente que ela é uma das principais portadoras do mal no mundo. Mao, Lênin, Stalin, Hitler são pequenas pragas comparadas ao papel de Sanger, que está sempre se expandindo. Sua influência é a política doméstica e externa norte-americana.
Sanger, que morreu em 1966, foi uma revolucionária socialista e uma ativista anti-cristã que recebeu grandes verbas de fundações que apoiaram seu trabalho. Pessoalmente, ela era sexualmente promíscua e envolvida com práticas ocultistas. Uma biógrafa, a ela simpática, disse que ela se tornava “furiosamente anticristã à medida que envelhecia”. Margaret Higgins Sanger era a sexta de onze irmãos de Corning, New York. Ela escreveu em sua autobiografia My Fight for Birth Control, “Não consigo contemplar minha infância com alegria”. Seu pai exibia uma atitude anticatólica enquanto vivia numa comunidade irlandesa e era casado com uma irlandesa. Apesar de batizada católica, ela abandonou a Igreja em sua juventude.
O foco central de suas atividades era conseguir que o governo americano endossasse e promovesse seu trabalho. Sanger depôs perante diversas comissões parlamentares “advogando a votação de leis liberando os contraceptivos” e lutando pela “incorporação do controle reprodutivo em programas estaduais como uma forma de planejamento social.”
A biógrafa de Sanger, Ellen Chesler, admite que “sem uma preocupação aparente com os potenciais abusos”, Sanger apoiava iniciativas de governos estaduais que, nas décadas de 1920 e 1930, visavam à esterilização de indivíduos com supostas deficiências hereditárias, tais como retardo ou insanidade mental. Uma dessas leis autorizando a esterilizarão involuntária de internos de instituições estaduais no estado de Virgínia foi revogada pela Suprema Corte americana em 1927.
Desde o início, a clara intenção do projeto de controle de natalidade não era dar aos indivíduos o direto de tomar decisões na privacidade de seus lares, mas o de dar ao governo o poder de regular e controlar a espécie humana. Essa é a filosofia que funciona em benefício de regimes totalitários, quer comunista, nazista ou fascista. Com esse poder, alguns dos primeiros slogans do movimento de controle de natalidade eram assustadores: “Mais crianças para os saudáveis, menos para os doentes, esse é o principal objetivo do controle de natalidade,” e “Controle de natalidade: para criar uma raça de puros-sangues.” Em seu próprio livro, The Pivot of Civilization, Sanger inclui referências a se eliminar “sementes humanas” e esterilizar “raças geneticamente inferiores”.
Contudo, o governo dos EUA não seria o primeiro a implementar as políticas de Sanger numa escala maciça e brutal. Essa tarefa foi deixada primeiramente para o Terceiro Reich de Adolf Hitler. George Grant notou que Sanger se tornou intimamente associada a cientistas e teóricos que ajudaram a construir o programa de “purificação racial” da Alemanha nazista. Ela tinha abertamente endossado os programas inicias de eutanásia, esterilização e infanticídio do Reich. Ela publicou diversos artigos no The Birth Control Review que continha a retórica hitlerista da supremacia ariana. Ela inclusive convidou Dr. Ernst Rudin, diretor do Programa Médico Experimental Nazista, para escrever artigos para o The Review. Mas Sanger recuou de seu apoio aos programas nazistas quando os terríveis detalhes vieram à tona. Ela não se preocupava com o que estava sendo feito, mas a percepção que o público estava tendo de suas associações era preocupante.
As maiores conquistas do movimento de controle de natalidade aconteceram nos EUA nas décadas de 1960 e 1970, quando Sanger já se aproximava da morte. Um ano antes de sua morte, em 1965, a Suprema Corte americana, no caso Griswold v. Connecticut, derrubou uma lei que proibia a contracepção e criou o direito constitucional à privacidade. Esse caso foi apoiado pela ACLU (American Civil Liberties Union)[2] e pela Planned Parenthood. A Caixa de Pandora foi aberta e não há mais volta.
Em 1972, a Suprema Corte avançou no caso Baird v. Eisenstat e, um ano depois, utilizando-se o chamado direito à privacidade, legalizou o aborto generalizado na decisão do caso Roe v. Wade. Esses casos foram, em parte, financiados da Fundação Playboy, um braço da empresa que publica a revista Playboy. A Playboy foi um fundador importante da Planned Parethood. O envolvimento da Playboy no financiamento de tais causas levanta sérias dúvidas sobre se o aborto e o “planejamento familiar” não objetivariam, de fato, encorajar a promiscuidade sexual e eliminar a responsabilidade pessoal. Na realidade, algumas feministas admitem que a Playboy apoiou os movimentos pró-aborto para manter as mulheres atrativas e disponíveis para os homens. De um professado desejo de simplesmente disponibilizar os mecanismos de controle de natalidade às pessoas na privacidade de seus lares, o movimento evoluiu para uma campanha, com apoio governamental e com dinheiro dos contribuintes, que tenta forçar o “planejamento familiar” a todos por meio de clínicas nas comunidades e nas escolas públicas.
Desde 1970, dos Family Planning Sevices e do Population Research Act, a própria Planned Parenthood tem recebido centenas de milhões de dólares do contribuinte americano. Em 1992, um ano em que mais de 1,9 milhões de mulheres receberam serviços contraceptivos nas clínicas da Planned Parenthood, essa organização recebeu mais de US$200 milhões. Não parece fazer diferença se o governo é democrata ou republicano. Durante doze anos de administrações republicanas pró-vida, o financiamento da Planned Parethood triplicou. Uma análise do financiamento da Planned Parethood no período de 18 meses, nos anos 1993-1994, mostrou que a ajuda governamental subiu a US$ 238,2 milhões, 34 por cento do total de arrecadação da organização. Mas o que a Planned Parethood recebe do tesouro americano, por meio das agências governamentais tais como a AID (Agency for International Development), assim como do Fundo para as Populações da ONU e de outros grupos e instituições, chega a bilhões de dólares. Ninguém sabe o montante exato, uma vez que o dinheiro chega de várias agências há vários anos.
A agenda de controle de natalidade atual tem um pedigree indistinto. Suas raízes podem ser encontradas no nascimento da Planned Parenthood. Em janeiro de 1932, Sanger fez um discurso na New History Society, em Nova York. Esse discurso foi subseqüentemente publicado num artigo que resumia os propósitos de Sanger para o futuro da nação. Dentre suas sugestões estava a proposição de uma reunião do “Parlamento das Populações” para dirigir e controlar a população por meio de taxas de nascimento e imigração. Sanger acreditava que aqueles identificados como deficientes não deveriam se reproduzir. Suas visões refletem uma insidiosa filosofia, desprovida de qualquer tipo de consciência moral. Um tipo de visão secular e utilitária da sociedade tal como essa leva inevitavelmente à justificação do uso de seres humanos para quaisquer propósitos. A fim de promover sua agenda, Sanger abriu uma clínica de controle de natalidade numa comunidade de imigrantes recém-chegados. A comunidade incluía italianos, hispânicos e descentes de judeus.
Em 1939, Sanger criou um programa para a eliminação de segmentos da população que ela julgava de raça inferior, pessoas de ancestrais negros. Ela expressava a convicção de que os negros eram os menos inteligentes e “adequados” de toda a população. Para fazer propaganda de seus serviços de controle de natalidade, ele utilizava os membros do clero negro. Sanger dizia que os ministros negros eram os melhores para convencer seus seguidores dos méritos do controle de natalidade.
Os escritos de Sanger descrevem pessoas de grupos religiosos, tais como os católicos, como membros dispensáveis da sociedade. Seu antagonismo virulento em relação à Igreja Católica foi muito pronunciado durante toda a sua vida, pois esta era o grande obstáculo institucional aos seus planos. Ela freqüentemente se referia ao cristianismo como tirânico e expressava seu desejo de livrar o mundo da fé cristã. Não surpreende o fato de que Sanger sentisse uma grande atração pela Teosofia. As idéias de Sanger pareciam completamente estranhas que não era acostumado à retórica dos defensores do controle de natalidade. Ainda hoje, uma atitude similar em relação à dispensabilidade dos seres humanos é prevalecente em grupos feministas e ambientalistas. Poucos nesses grupos têm a consciência da fonte original desse pensamento.
Trecho do capítulo 17 (Roots of Feminism and the Most Influential Woman of the 20th Century) do livro Hope of the Wicked: Master Plan to Rule the World, de Ted Flynn
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[1] Ver, A IPPF em perguntas e respostas. (N. do T.)
[2] Ver, por exemplo, Débeis sinais de esperança e Leviandade política – parte III. (N. do T.)
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