26/08/2006

C. S. Lewis sobre o Cristianismo: Parte III

Repostas dadas por Lewis a questões formuladas por empregados da Electric and Musical Industries Ltd., Heyes, Middlesex, Inglaterra, em 18 de abril de 1944




Pergunta: A Bíblia foi escrita há milhares de anos para povos num estado de desenvolvimento mental inferior ao atual. Muitas partes parecem absurdas à luz do conhecimento moderno. Em vista disso, a Bíblia não deveria ser re-escrita descartando o alegório-mitológico e re-interpretando o restante?

Lewis: Primeiramente, quanto ao estado mental dos povos antigos. Não estou certo sobre o que isso quer dizer. Se for que os povos que viveram a dez mil anos atrás não conheciam muitas das coisas que nós conhecemos hoje, eu concordo, é claro. Mas, se o que você quer dizer é que tem havido um desenvolvimento da inteligência com o passar do tempo, acredito que não haja evidência para tal afirmação. A Bíblia pode ser dividida em duas partes – o Velho e o Novo Testamento. O Velho Testamento contém elementos alegórico-mitológicos. O Novo Testamento consiste principalmente de ensinamento, não de narração: mas onde ele é narrativo, é, na minha opinião, histórico. Quanto aos aspectos mitológicos e alegóricos do Velho Testamento, eu duvido muito que sejamos sábios o bastante para nos livrarmos deles. O que se tem aqui é algo gradualmente entrando em foco. A princípio você tem, disperso nas religiões pagãs em todo o mundo – mas ainda muito vaga e mítica – a idéia de um deus que é morto e esquartejado e que depois revive. Ninguém sabe onde ele viveu ou morreu; ele não é histórico. Então, você tem o Velho Testamento. As idéias religiosas ficam um pouco mais focadas. Tudo está agora ligado a uma nação. E fica ainda mais focada à medida que a história se desenrola. Jonas e a Baleia [O Livro de Jonas] e Noé e sua Arca [Gênesis, capítulos VI-VIII] são histórias alegorio-mitológicas; mas a história da Corte do Rei David [II Samuel, capítulo II, I Reis, capítulo II] é provavelmente tão confiável quanto a história da Corte de Luiz XIV. Então, no Novo Testamento, a coisa realmente acontece. O deus a ser morto aparece realmente – como uma Pessoa histórica, vivendo num lugar e tempo definidos. Se pudéssemos filtrar todos os elementos alegóricos e mitológicos dos estágios anteriores, penso que perderíamos uma parte essencial de todo o processo. Isso é o que eu penso.

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