19/01/2014

Guia Politicamente Incorreto?

Estou lendo o Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, de Leandro Narloch. Bem escrito, com muita coisa interessante que desmistifica muito livro escolar que anda circulando por aí, financiado com nosso rico dinheirinho.
 
Mas qual não foi minha surpresa, que lendo a parte sobre os comunistas, deparo-me com a seguinte afirmação, na página 330 da edição ampliada, politicamente correta em altíssimo grau: 
 
Movimentos revolucionários costumam colocar seu ideal político acima dos valores individuais e das regras tradicionais da vida. Cria-se assim uma superioridade moral que lembra a dos cristãos nas cruzadas - um pensamento do tipo "eu luto por um mundo justo, uma sociedade sem contradições, portanto posso matar e roubar em nome desse ideal sagrado". Assim como cristãos fanáticos queimavam hereges na Idade Média, os guerrilheiros justificavam, com sua moral superior, expurgos, assaltos e assassinatos sem julgamento de seus próprios colegas. Nas pequenas organizações de conspiradores e guerrilheiros dos anos 1960 e 1970, é fácil perceber o controle extremo da conduta individual, a violência baseada na superioridade moral e a obsessão com a traição - a mesma que fez Stálin executar companheiros próximos. Seus integrantes praticaram crimes bem parecidos com o assassinato de Elza, morta a mando de Prestes. Em 1973, por exemplo, o professor Francisco Jacques Moreira de Alvarenga, integrante da Ação Libertadora Nacional do Rio de Janeiro, foi assassinado numa sala de aula do Colégio Veiga de Almeida. [Negritos meus.]
 
Viram que coisa mais charmosa? Os cristãos da Idade Média foram comparados a Stalin e aos grupelhos terroristas assassinos que existiram no Brasil nos anos 1960 e 1970. Neste trecho, nós aprendemos que as Cruzadas foram feitas por um mundo mais justo, uma sociedade sem contradições. Além disso, como isso era o objetivo das Cruzadas, elas podiam matar e roubar por estes ideais. Ora isso é um caso extremo de ignorância ou uma leviandade sem limites. Depois ficamos ainda sabendo que cristãos fanáticos queimavam hereges na Idade Média; assim mesmo, sem mais qualificações, sem mais explicações. 
 
Eu conhecia muita mentira deste nível sobre as Cruzadas, mas nunca vi ninguém afirmar que as Cruzadas foram feitas para se criar um mundo mais justo, uma sociedade sem contradições. Isto é pura projeção, puro cronocentrismo. Esta ideia idiota de que um outro mundo seja possível, uma sociedade melhor, etc., não passava pela cabeça de nenhum homem medieval. Nisto o Sr. Leandro Narloch foi muito criativo, embora ele esteja muito longe da verdade. O resto é pura difamação, através do uso de clichês mentirosos e politicamente corretos; sim, porque não há nada mais politicamente correto que denegrir a Igreja Católica!
 
Embora o Sr. Leandro Narloch não seja historiador – segundo o seu perfil, que consta no próprio livro, ele é jornalista – ele escreveu sobre a história do Brasil (escreveu também sobre a história da América Latina) e não se pode admitir que alguém interessando em história seja tão ignorante a respeito da história geral do mundo. Assim, sobre o tópico das Cruzadas e da Inquisição, que são vastíssimos temas históricos, inabarcáveis sem muito estudo e reflexão, longe portanto dos clichês politicamente corretos, vou sugerir uma bibliografia básica que talvez o jornalista queira estudar. Quem sabe no futuro ele não escreva um livro com o título: Guia Politicamente Incorreto das Cruzadas e da Inquisição? Eis alguns livros fundamentais:
 
1. The Politically Incorrect Guide to Islam, todo o livro se contrapõe aos clichês sobre as Cruzadas.
3. História das Cruzadas, Steven Runciman, 3 vols., Ed. Imago, 2003.
4. Sete Mentiras sobre a Igreja Católica, Diane Moczar, Ed. Castela, 2011.
5. A Inquisição em Seu Mundo, João Bernardino Gonzaga, Ed. Saraiva, 1993.
 
Termino com uma nota de pé de página do livro Jardim das Aflições de Olavo de Carvalho que dá bem a ideia do quanto de idiotice se fala sobre a Inquisição. Note a última observação de Olavo, pois ela se refere exatamente à mentira propagada pelo Sr. Leandro Narloch. Há aqui mais sugestões de leituras.
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Olavo de Carvalho, no Jardim das Aflições, página 35, ed. É Realizações, 2000.
 
O número de balelas que circulam a respeito da Inquisição é assombroso. Elas constituem um capítulo importante do fabulário popular - do "senso comum", diria Gramsci - que sustenta a crença na superioridade do mundo moderno e de seus intelectuais. Eis algumas:
A Inquisição atrasou o desenvolvimento científico, proibindo a circulação dos livros que traziam novas descobertas. - Basta examinar o Index Ubrorum Prohibitorum para verificar que nele não consta nenhuma das obras de Copérnico, Kepler, Newton, Descartes, Galileu, Bacon, Harvey e tutti quanti. A Inquisição examinava apenas livros de interesse teológico direto, que nada poderiam acrescentar ao desenvolvimento da ciência moderna. (Em caso de dúvida, leia-se A Inquisição, por G. Testas e J. Testas)
Giordano Bruno foi um mártir da ciência, condenado pela Inquisição por defender teorias científicas. - Giordano Bruno não fez nenhuma descoberta, nenhuma observação, nenhum experimento científico. Nem sequer estudou as ciências modernas, física, astronomia, biologia ou matemática. As disciplinas que lecionava eram tipicamente medievais: lógica, gramática e retórica - o trivium. Ele desprezava a nova mentalidade matemática, e todos os cientistas matematizantes, de Galileu a Descartes, mostraram a maior indiferença pela sua obra, cujo maior mérito é justamente o de ter antecipado muito do que hoje podemos dizer contra a ciência moderna (v. Paul-Henri Michel, La Cosmologie de Giordano Bruno, Paris, Hermann, 1975.). Ele não foi condenado por defender teorias científicas, mas por prática de feitiçaria, que na época era crime. Não sei se a acusação era procedente, talvez não fosse, mas aos que julguem um absurdo preconceito de eras pretéritas imputar à feitiçaria, de modo geral, qualquer caráter criminoso, recomendo a leitura do ensaio de Claude Lévi-Strauss, "O Feiticeiro e sua Magia" (em Antropologia Estrutural, trad. Chaim Samuel Katz e Eginardo Pires, Rio, Tempo Brasileiro, 1975), sobre a realidade das mortes por enfeitiçamento. - Para completar, a pesquisa histórica mais recente revelou que Bruno esteve muito provavelmente envolvido em atividades de espionagem contra a Igreja Católica (v. John Bossy, Giordano Bruno e o Mistério da Embaixada, trad. Eduardo Francisco Alves, Rio, Ediouro, 1993).
A Inquisição instituiu a perseguição aos judeus. - As matanças de judeus, promovidas por devedores espertos ou por monges fanáticos, eram um hábito consagrado na Península Ibérica. Não conseguindo reprimir a ralé enfurecida, o Rei de Portugal pediu que o Santo Ofício se incumbisse dos processos por usura, de modo a tirar qualquer pretexto que legitimasse as atrocidades dos "justiceiros populares". Instituindo os processos regulares, a Inquisição controlou e enfim extinguiu as matanças. E verdade que a Inquisição se mostrou preconceituosa contra os judeus, mas se em vez de julgá-la por um padrão moral abstrato e utópico a comparamos com as alternativas reais existentes na época, entendemos que ela foi um mal menor: a única alternativa era o massacre (v. Alexandre Herculano, op. cit.).
A Inquisição instituiu a tortura generalizada. - A tortura era considerada um procedimento legítimo e praticada em toda parte desde a Grécia antiga. Durante quase toda a Idade Média, caiu em desuso, sendo reintroduzida na justiça civil graças à redescoberta - tipicamente renascentista - dos textos das antigas leis romanas. O que a Inquisição fez foi seguir o uso então vigente na justiça civil, mas limitando-o severamente, não permitindo que o acusado fosse torturado mais de uma vez e proibindo ferimentos sangrentos (v. Testas, op. cit.). Deve-se portanto à Inquisição o primeiro passo efetivo que se deu contra o uso da tortura, o que deveria ser considerado um marco na história dos direitos humanos. A tortura ilimitada foi depois reintroduzida pelos comunistas, na Rússia, sendo seu exemplo imitado em seguida pelos nazistas e fascistas.
O processo de Galileu foi um caso de perseguição inquisitorial. - Bem ao contrário, o processo foi uma pizza, uma farsa concebida pelo Papa - padrinho de Galileu - para que seu protegido se livrasse de um grupo de inquisidores fanáticos mediante uma simples declaração oral sem efeitos práticos, após a qual ele pôde continuar divulgando suas idéias sem que ninguém voltasse a incomodá-lo (v. Pietro Redondi, Galileu Herético, trad. Júlia Mainardi, São Paulo, Companhia das Letras, 1991).
[Acréscimo da 2- ed.] A Inquisição espanhola foi um momento culminante da violência institucionalizada, comparável ao comunismo e ao nazismo. - Conversa mole. A Inquisição espanhola mandou executar, no total, não mais de 20 mil pessoas em quatro séculos, isto é, em média, quatro por ano (v. Henry Kamen, The Spanish Inquisition. A Historical Revision, New Haven and London, Yale University Press, 1997).
        Os philosophes de modo geral não ignoram essas coisas, mas falar delas não é bom para a sua saúde e suscitaria desconforto na platéia.

13/01/2014

12/01/2014

Assassinato de reputações: a CNBB metida no governo até o pescoço.



Acabo de ler o livro de Romeu Tuma Júnior; é um livro realmente bombástico. Muitas coisas me chamaram a atenção, mas três ficarão na minha memória.

A primeira delas é uma foto que aparece no segundo conjunto de fotos do livro. O autor aparece com a boina de Che Guevera. Bem, o homem foi secretário nacional de Justiça. é advogado e afirma ser especialista em Segurança Pública e Polícia Judiciária; é ainda delegado de classe especial da Polícia Civil de São Paulo e primeiro chefe da Interpol em São Paulo. Isto é apenas um resumo de seu vasto currículo, que aparece no livro. Pois bem, como um homem desses, sendo o que é, acha bonito posar com a boina de um dos maiores assassinos que pisaram o solo da terra? Que o senhor ao seu lado na foto usasse a boina, eu entenderia.

Talvez um trecho do livro revela um pouco da confusão. O autor diz, na página 77: “A verdade nua e crua é que o governo – que se diz de esquerda, democrático, social, preocupado como os direitos humanos e que repudia a ‘ditadura’ – tem sob seu comando uma polícia que grampeia as pessoas, seleciona trechos de conversas, pinça frases, descontextualiza diálogos, cria enredos e manda gente para a prisão por achismo e dedução”. Romeu Tuma pensa que pelo governo ser de esquerda (na verdade, comunista) ele não poderia fazer o que fez; ele parece desconhecer que todo governo comunista faz exatamente isto!

A segunda coisa é a primeira, de duas, referências à CNBB (página 319): “Com sua [de Fernando Haddad] proximidade de anos com a Arquidiocese de São Paulo, além da intimidade de Gilberto Carvalho com a Igreja, a ausência ou abstenção da Cáritas, que é uma seriíssima instituição, diga-se de passagem, estava garantida.” Aqui estão algumas evidências de como a CNBB e seus bispos comunistas se relacionam há anos com os políticos do PT e como tais bispos são os responsáveis pelos comunismo implantado no Brasil. Veja que até articulação para ausência em reuniões importantes, para não dar quórum, ou para que a votação seja tal ou qual, a CNBB se presta a fazer. E o Gilberto Carvalho é aquele que revela ao próprio Romeu Tuma Júnior que carregava malas de dinheiro, vinda da extorsão de empresários locais, da prefeitura de Santo André, quando Celso Daniel era ainda vivo, para entregar a José Dirceu. Este é o amiguinho da CNBB, a ligação entre o governo e a CNBB.

A terceira coisa é a segunda referência à CNBB (página 496), em que num depoimento de Romeu Tuma Júnior, já caído em desgraça e frente à Comissão de Ética Pública da Presidência da República, diz: “Estranhei a insistência de um membro, representante da CNBB e muito ligado a Gilberto Carvalho, no sentido de induzir que eu avaliasse a possibilidade de me afastar do cargo para me preservar e preservar o governo”. Aqui vemos o padreco comunista, amigo da mão direita de Celso Daniel, aquele das malas de dinheiro, servindo de emissário do governo na tal comissão cujo nome é curiosíssimo: ética pública. Sei, para essa corja existe ética pública, aquela que admite o mensalão, e ética privada, aquela que ninguém vê.

Leiam o livro, vale a pena; ele é uma fresta na podridão do PT.