Jesus passou quarenta dias jejuando no deserto, preparando-Se para Sua Missão pública. Lá Ele sofreu vários ataques do demônio, que O quis desviar de sua Missão: “... e foi conduzido pelo Espírito ao deserto, onde esteve quarenta dias, e era tentado pelo demônio” (Lc 4:1-2).
Depois da Ascensão, Deus Pai “constitui-O cabeça de toda a Igreja, que é Seu corpo e o complemento daquele que cumpre tudo em todos” (Ef 1:23). Sendo o corpo de Nosso Senhor, a Igreja passou a receber os ataques do demônio ao longo dos séculos, sendo aquele primeiro ataque no deserto apenas uma antevisão dos subseqüentes. Ao longo de sua história, a Igreja tem se defrontado com o maligno frequentemente. Em cada grande heresia que ataca o Corpo Místico de Nosso Senhor, há a marca inconfundível do diabo. No século IV, a Igreja, jovem de quatro séculos, enfrentou a tormenta do arianismo, em que a grande maioria dos bispos se tornou ariana. Apenas alguns poucos, liderados pelo penta-excomungado Santo Atanásio, conseguiram defender o Depositum Fidei.
A situação atual da Igreja não é muito diferente da do século IV. Ao observarmos os padres e bispos, vemos muito poucos a que se pode aplicar a regra de São Vicente de Lerins (quod ubique, quod semper, quod ab omnibus). Há cardeais que defendem o aborto, há os que não acreditam na ressurreição de Cristo, há os padres que não acreditam na Presença Real na Eucaristia, há os que acreditam que o Inferno é apenas uma metáfora, há os que transformam o altar num palco, há os simpáticos à Umbanda e o Espiritismo, há os que ... Esta situação nos foi trazida pelo Concílio Vaticano II, indubitavelmente. Em 1972, o Papa Paulo VI disse: “Por alguma brecha a fumaça de Satanás entrou no templo de Deus: existe a dúvida, a incerteza, a problemática, a inquietação, o confronto. Não se tem mais confiança na Igreja; põe-se confiança no primeiro profeta profano que nos vem falar em algum jornal ou em algum movimento social, para recorrer a ele pedindo-lhe se ele tem a fórmula da verdadeira vida. E não advertimos, em vez disso, sermos nós os donos e os mestres [dessa fórmula]. Entrou a dúvida nas nossas consciências, e entrou pelas janelas que deviam em vez disso, serem abertas à luz... Também na Igreja reina este estado de incerteza. Acreditava-se que, depois do Concílio, viria um dia de sol para a história da Igreja. Em vez disso, veio um dia de nuvens, de tempestade, de escuridão, de busca, de incerteza. Pregamos o ecumenismo, e nos distanciamos sempre mais dos outros. Procuramos cavar abismos em vez de aterrá-los. Como aconteceu isso? Confiamo-vos um Nosso Pensamento: houve a intervenção de um poder adverso. Seu nome é o Diabo” (Paulo VI, Discurso em 29 de Junho de 1972).
Observando toda a tragédia atual da Igreja, não há como não fazer um paralelo entre aqueles poucos bispos do século IV liderados por Santo Atanásio, com os poucos bispos que, no Concílio Vaticano II, defenderam o Depositum Fidei. Não há como não pensar no excomungado D. Lefebvre e também em D. Antônio de Castro Mayer.
Nesta Quaresma de 2010, contemplemos os sofrimentos do Corpo Místico de Nosso Senhor e rezemos para que o Espírito Santo ilumine o Papa Bento XVI na condução da Igreja por tempos tão difíceis. Peçamos também que cada um de nós possa dar testemunho de nossa fé e que esta esteja de conformidade com a regra de São Vicente de Lerins.
5 comentários:
Professor, no livro do Pe. Ralph Wiltgen SVD, há várias passagens onde há descrita a luta do Arcebispo de Diamantina, Dom Geraldo de Proença Sigaud; em comparação com D. Lefebvre e D. Mayer há muito mais relevância na capitaneação dos esforços pela Tradição, ainda segundo o relato do livro O Reno Se Lança No Tibre..
Sei que, posteriormente, os outros dois Bispos tomaram maior destaque no combate anti-CV2, mas a atuação de D. Sigaud é quase esquecida: por que?...
Alguns dados: Dom Sigaud foi concelebrante da ordenação episcopal de D. Mayer; um dos fundadores da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP); nos anos 60 e 70 Dom Sigaud fez críticas severas ao chamado clero progressista, entrando em confronto muitas vezes com D. Helder Câmara.
MMLPimenta
Do sítio da Arquidiocese de Diamantina:
"Dom Geraldo de Proença Sigaud participou, ativamente, de todas as sessões do Concilio Vaticano II, tendo sido um dos expoentes deste grande Concilio. Sua voz se fez ouvir, muitas e muitas vezes, na aula conciliar".
Como diria um mineiro: Uai, sô!? Acho que não foi bem assim!
Dá-se a impressão de que a participação do Paladino da Tradição foi para endossar o Concílio e não para corrigir os desvios modernizantes e clamar pela Ortodoxia!
Um trecho ideológicamente correto: "Viveu em tempo difícil, sobretudo, durante o período do regime de exceção, com os Militares".
É triste ver a "revisão" de fatos...
MMLPimenta
Caro Pimenta,
Obrigado pela lembrança e pela correção de uma injustiça a D. Sigaud. Ele, de fato, foi um dos poucos!!!
Que Santo Atanásio os tenham recebido no Céu com muita alegria.
Santo Atanásio, rogai por nós.
Antônio Emílio Angueth de Araújo.
Professor, o senhor conhece alguma boa tradução para o português do poema Lepanto, de Chesterton?
Guilherme
Guilherme,
Salve Maria!
Até onde eu sei, nenhuma poema de Chesterton foi jamais traduzido para o português.
Um dia crio coragem e traduzo Lepanto.
Em JMJ.
Antônio Emílio Angueth de Araújo.
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