27/08/2009
O Objetivo Religioso da Educação
É somente por um definitivo e deliberado estreitamente mental que conseguimos manter a religião fora do sistema educacional. Não nego que isso possa ser, em certos casos, o menor de muitos males; que possa ser um tipo de lealdade para com um compromisso político; que seja certamente melhor que uma injustiça política. Mas a educação secular[1] é uma limitação, mesmo que seja apenas uma auto-limitação. A coisa natural é dizer o que você pensa sobre a natureza; e especialmente, por assim dizer, sobre a natureza da natureza. A coisa primeira e mais óbvia em que uma pessoa está interessada é em que tipo de mundo está vivendo; e porque está nele vivendo. Se você não sabe, não poderá, claro, dizê-lo; mas o simples fato de não ser capaz de responder à questão mais provável a ser formulada pela outra pessoa pode ou não ser o que alguns chamam educação, mas não é uma forma brilhante de instrução. Se você tem convicções sobre essas coisas cósmicas e fundamentais, sejam negativas ou positivas, você é um instrutor que está recusando ensinar uma das coisas mais importantes. Seus motivos podem ser generosos, ou podem ser meramente tímidos; mas isso não é certamente, em si mesmo, educação.
Diz-se algumas vezes que os devotos de uma doutrina religiosa, que são tão freqüentemente descritos como burros, estão, nessas questões, usando viseiras. A palavra não é sabiamente escolhida pelos críticos; e, em certo sentido, é muito mais aplicável ao próprio crítico. O homem que apresenta respostas oficiais a perguntas fundamentais, mesmo que ele diga que o mundo foi criado a partir de abóboras, pode estar dogmatizando, perseguindo ou tiranicamente estabelecendo a lei sobre todas as coisas, mas ele não está usando viseiras. Isso implicaria limitar deliberadamente seu campo visual. Sua visão por ser, para nós, uma ilusão; mas se ela lhe é muito vívida, não podemos censurá-lo por descrevê-la; e, de qualquer forma, ele a está descrevendo totalmente. Se houver no mundo tal coisa como um burro usando deliberadamente viseiras, este é o educador iluminado que está sempre fazendo um receoso esforço para excluir de sua tarefa de transmitir conhecimentos, qualquer referência a coisas que os homens, desde o início do mundo, sempre tiveram o maior desejo de conhecer. Estas coisas não são, em absoluto, meros objetos periféricos de uma curiosidade especial. Sejam elas conhecidas ou não, elas não apenas merecem ser conhecidas, mas são o tipo de conhecimento mais simples e elementar. É uma coisa boa que as crianças percebam que há um mundo objetivo fora delas, tão sólido quanto o poste de luz na calçada. Mas mesmo quando fazemos o poste bastante objetivo, não é estranho perguntarmos qual é seu objetivo. Um naturalista, observando os objetos comuns da rua, pode notar muitos fatos e escrevê-los num caderno. Um ciclista pode trombar num poste de luz; um vagabundo pode encostar-se ao poste; um bêbado pode abraçar o poste ou mesmo, num momento mais ousado, tentar subir no poste. Mas não é um tipo estranho ou especializado de conhecimento notar que o poste de luz tem uma lâmpada.
Pois educação secular realmente significa que todos deverão olhar para a calçada para evitar que, por um acaso fatal, alguém olhe para a lâmpada acima. A lâmpada da fé que realmente iluminou a rua para grande parte da humanidade em quase todas as eras da história, não foi apenas um fogo itinerante visto por visionários a flutuar pelo ar; foi também, para muitos, a explicação do poste. Se uma nuvem baixa como a fog de Londres cobrir, de fato, aquela chama,[2] então é um fato objetivo que o objeto permanecerá principalmente um objeto a ser trombado. Não culpo quem só consegue considerar o mundo a partir daquela luz altamente objetiva. Mesmo que o poste de luz pareça um poste sem lâmpada e, portanto, um poste sem propósito, pode ser possível ter diferentes pontos de vista a seu respeito. O estóico, como o vagabundo, pode encostar-se nele; o otimista, como o bêbado, pode abraçá-lo; o progressista pode tentar subir nele etc. Assim acontece com quem tromba com um mundo sem cabeça como em um poste sem lâmpada; para quem o mundo é um grande e objetivo obstáculo. Apenas digo que há uma diferença, que não é pequena ou secundária, entre aqueles que sabem e aqueles que não sabem para que serve o poste.
O mais profundo dos desejos por conhecimento é o desejo de conhecer o propósito do mundo e de nós mesmos. Aqueles que acreditam poder responder a essa questão devem poder respondê-la como a primeira questão e não a última. Um homem que não possa respondê-la tem o direito de recusar respondê-la; apesar de que talvez ele tenda a confortar-se com o assaz dogmático dogma de que ninguém mais possa respondê-la se ele não pode. Mas nenhum homem tem o direito de responder à questão, ou mesmo prepará-la para ser respondida, como se ela fosse um tipo peculiar e pedante de questão adicional, que somente um tipo peculiar e pedante de estudante pudesse responder. A educação secular é mais razoável uma educação que incluísse a religião como uma atividade extra; como aprender a fazer grega ou falar português. E esse princípio é importante em relação à controvérsia sobre a educação religiosa, pois ele envolve toda a questão que foi tão proeminente na controvérsia, a questão do que é chamada de “atmosfera”. O que isso significa é que qualquer um que tenha o direito de responder à questão tem o direito de respondê-la como um tipo de questão que ela realmente é; uma questão que afeta a natureza de todo o mundo e o propósito de cada porção da vida humana. Se um homem ensina religião, é absurdo pedi-lo para ensiná-la como se fosse algo diferente, que não se aplicasse a todas as atividades do homem. A expressão “uma hora de religião” é algo muito próximo a uma contradição em termos. E é divertido notar que o mesmo cético casual que está sempre zombando do ortodoxo pelo seu comportamento e limitações, que está sempre falando de sua religião de domingo e sua separação das coisas sagradas e profanas, é geralmente o mesmo homem que mais prontamente faz pilhéria sobre a idéia de uma atmosfera religiosa nas escolas. Isto é, ele é exatamente quem mais se opõe às coisas sagradas e profanas serem unidas e a uma religião que funciona tanto nos dias de semana quanto aos domingos. A verdade é que a idéia de atmosfera é simplesmente uma peça da elementar psicologia infantil. Em qualquer outra questão, essas pessoas seriam as primeiras a nos dizer que a educação deve observar todas as influências que formam a mente, não importa quão aparentemente leve ou acidental. Eles se horrorizam se a criança tiver de olhar para o papel de parede errado; eles assumem seriamente a responsabilidade de garantir, no papel de parede, a correta imagem do wombat;[3] mas eles nos dizem não se importar que a criança tenha a correta imagem do mundo.
Não estou afirmando, claro, que não haja nenhum valor no entusiasmo social secular; ou mesmo que, na linguagem que alguns usam sinceramente e até utilmente, que ele não mereça ser chamado de religião. O que duvido é que ele mereça, neste sentido, ser chamado de razão. Ele não satisfaz a fome intelectual primária de um significado da vida, do qual certas pessoas falam bem, mesmo quando duvidam que isso signifique alguma coisa. A verdade é que há implícito em quase todo idealismo um número de idéias que os idealistas raramente seguem. Há a noção de uma escolha que é misteriosamente oferecida e que é seguida de igualmente misteriosas conseqüências; de um valor místico atribuído a uma parte de nossa natureza sem qualquer autoridade para avaliá-lo; de um tipo de elevado namoro com ninguém em particular; em resumo, todos os ricos matizes de uma fog londrina circundando um poste de luz sem a lâmpada. Estou longe de faltar ao respeito por este idealismo tateante; apenas digo que, baseado em sua própria confissão, ele é muito incompleto em comparação com o idealismo de alguém que professe uma completa filosofia, pois este tem um credo. E não tenho a intenção de ofender quando digo que qualquer um que tenha este tipo de educação é uma pessoa meio-educada.
Mas há outro aspecto do caso, que ilustra a verdade real no puritanismo assaz rústico das pessoas que criaram uma confusão em Dayton.[4] Para alguns de nós, parece estranho que tal protestantismo muito antiquado deva supostamente representar a religião. Parece estranho que tal darwinismo muito antiquado deva representar a ciência. Mas, de fato, o protesto e o processo naquela ocasião representaram algo. Mostraram o forte instinto popular de que, não sem justificativa, a ciência estava sendo manipulada de forma a significar muito mais do que ela realmente diz. Uma educação evolucionária é algo muito diferente de uma educação sobre evolução. Tal como uma escola religiosa aberta e admitidamente proporciona uma atmosfera religiosa, uma aula científica às vezes proporciona, consciente ou inconscientemente, uma atmosfera materialista. Um professor secularista teria tanta dificuldade quanto um padre de não dar sua própria resposta a questões que são as que mais merecem ser respondidas. Ele também fica um pouco incomodado de não colocar as coisas primeiras em primeiro lugar. Tende a cada vez mais transformar sua ciência em filosofia. Talvez seja discutível e provocativo chamar essa filosofia materialista. É mais educado e igualmente correto chamá-la monista. Mas a questão é que essa filosófica tem algo em si que é completamente estranha, não somente a todas as religiões que se referem à vontade de Deus, mas também a todas as moralidades que revolvem em torno da vontade do homem. Sua imagem do universo, certa ou errada, não é aquela de um poste instalado com o objetivo de ter uma lâmpada em seu topo; é mais a de um poste que cresce como uma árvore; um poste de luz que produz afinal sua própria lâmpada. Assim, considerando essa visão de um vago crescimento simplesmente como uma atmosfera e uma impressão nas mentes dos jovens (independente de sua veracidade ou falsidade), não há dúvidas de que ela tende à noção de que as coisas têm muito de algo em comum, são igualmente frutos inevitáveis da mesma árvore; e certamente não tende na direção da idéia de uma escolha moral e de um conflito; de um contraste entre o preto e o branco, ou a batalha entre a luz e a escuridão.
Não estou escrevendo polemicamente, nem querendo pressionar alguém afirmando isso como uma necessidade individual. Estou escrevendo educacionalmente, e considerando a impressão psicológica provável de certas atmosferas e matizes sutis. Digo que uma grande evolução na educação não faria a educação muito insistente em idéias de livre arbítrio e de moralidade guerreira; de escolhas e desafios dramáticos. Por que um fruto desafiaria outro fruto da mesma árvore; e como poderia haver uma escolha preto-e-branco em lentas gradações de verde? Assim, mesmo que ignoremos a questão primeira da religião, no sentido do propósito da criação, há o mesmo tipo de problema a respeito da religião mesmo que usemo-la no sentido do propósito de fazer o bem. Se um homem acredita que há um abismo entre o vício e a virtude tal com aquele entre a vida e a morte, ele quererá dizê-lo. E se outros homens somente dizem que tudo é produto de um crescimento evolucionário, ele não admitirá que eles disseram o que ele desejava dizer. Não é somente uma questão de que a educação secular parece indiferente à religião, mas que a educação científica parece indiferente à ética. Estou falando de efeitos educacionais, como os educadores fazem; e recusando todo tipo de recriminação sentimental sobre os objetivos puros e nobres dos homens de ciência. Muitos que desprezariam algo tão clássico como o ensino da retórica, estão sempre prontos a usar uma grande quantidade de retórica em louvor do ensino da ciência. Não estou atacando o ensino da ciência, muito menos os professores de ciência; estou dizendo que o ensino da evolução, se se tornar uma atmosfera, não pode ser uma atmosfera favorável à chama moral ou a um espírito guerreiro. Para resumir: o ensino da evolução é dificilmente um treinamento para revolução.
Ele dificilmente proporcionará uma força especial ao sentimento de que algumas coisas são intrinsecamente intoleráveis e outras imperativamente justas. Quando um reformador puder apenas dizer para um motorista-escravo, “Você está evoluindo muito vagarosamente; você deve ter emergido do estado-escravo”, o motorista-escravo pode apenas responder, “O senhor está evoluindo muito rapidamente; o senhor deve esperar até o século XXI.” Tal discussão dificilmente acenderá a chama do fanatismo de Harpers Ferry.[5] Parece-me, portanto, que os pobres puritanos de Tennessee não estão totalmente errados, na questão de psicologia educacional, se eles dizem que a educação evolucionária, mesmo que não seja um ataque à doutrina cristã, pode se tornar uma atmosfera muito estranha à moral cristã; e a qualquer tipo combativo e viril de moral. Depois da doutrina de que a existência é o resultado de um design, a próxima coisa mais interessante é que ela é o resultado de uma escolha; e mesmo que os homens fossem ensinados a ser ateus, duvido que o mero evolucionismo ter-lhes-ia ensinado a serem ateus impetuosos e guerreiros. E ver os ateus perderem sua única grande virtude da ferocidade seria, de fato, uma grande perda para a religião.
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[1] O que se chama no Brasil de educação laica. (N. do T.)
[2] Chesterton aqui se refere à lâmpada à gás, não à lâmpada elétrica. (N. do T.)
[3] Tipo de animal australiano. (N. do T.)
[4] Este artigo foi escrito em 1925, mesmo ano do famoso julgamento em Dayton, cidadezinha no Tennessee, EUA, de um professor que ensinava a teoria da evolução numa escola pública. (N. do T.)
[5] Harpers Ferry é uma cidade da Virgínia Ocidental, EUA, que foi local de uma rebelião abolicionista em 1859. (N. do T.)
15/08/2009
A DESVANTAGEM DE TER DUAS CABEÇAS
G. K. Chesterton
A Beril Blanche DelaForce
De G.K. Cherterton.
Com a esperança de que,
caso ela seja tentada, sequer uma vez,
a aceitar a ofertade ter
DUAS CABEÇAS,
esta breve narrativa
para dissuadi-la de
tão enganoso caminho.
Um pequeno garoto olhou, certa vez, por sobre a cerca do jardim e viu quatro cavaleiros usando enormes cristas. Como ele agora está casado com uma princesa e vive num meio social muito bom, ele deseja que seu nome não seja mencionado; vou chamá-lo então Perna Vermelha. Sendo interessado em tais coisas, ele pulou a cerca e foi saber aonde eles estavam indo. Eles se depararam com um
HOMEM MUITO VELHO.
que estava sentado na ponta muito aguda de uma pedra, balançando-se. Os cavaleiros, que pelo seu chapéu pão-de-açúcar e sua barba branca, viram que ele era um mago, perguntaram-lhe onde poderiam encontrar a Princesa Japônica (pois assim a princesa, que é parente minha, deseja ser descrita). “A Princesa Japônica”, respondeu o mago, “vive no castelo para além da Última Floresta do Mundo, num lugar onde é sempre pôr do sol. Ela não pode visitar ninguém, nem ninguém pode visitá-la, pois há somente dois caminhos para o castelo: o caminho da direita é guardado por um Gigante de Uma Cabeça, e o da esquerda por um Gigante de Duas Cabeças.” Então, o primeiro cavaleiro disse com entusiasmo (ele era o Bromley. Smunk pelo lado da mãe, e você sabe o que eles são), “Em breve tirarei o Gigante do meio do caminho. Mas acho que vou escolher o Gigante de Uma Cabeça. Pois eu sou um homem bondoso e desejo cortar o menor número de cabeças possível.”
Assim o primeiro cavaleiro seguiu pelo caminho que levava ao Gigante de Uma Cabeça. Um pouco depois seguiu o segundo, e então o terceiro e o quarto, todos pelo mesmo caminho. O pequeno garoto parou um pouco atrás e conversou com o mago a respeito da Questão Fiscal. Mal tinham terminado este breve assunto, eles viram uma triste fila de pessoas vindo pelo caminho que dava no Gigante de Uma Cabeça. Havia quatro cavaleiros e sinto dizer, eles estavam realmente
SURRADOS.
Então Perna Vermelha disse de repente, “Gostaria muito de ver um Gigante de Duas Cabeças. Empreste-me uma espada.” Então todos gritaram, gargalharam e disseram-lhe que ele era tolo de pensar que poderia matar o Gigante de Duas cabeças, quando eles não puderam sequer matar o Gigante de Uma Cabeça. Ele partiu mesmo assim, de cabeça erguida e deparou-se com o Gigante de Duas Cabeças nas altas colinas onde o sol está sempre se pondo. E então ele descobriu uma coisa divertida. O Gigante de Duas Cabeças não correu ao seu encontro e o fez em pedacinhos como o esperado. O Gigante gritou, berrou
bramiu e rugiu e isso com suas duas cabeças. Mas as duas cabeças estavam, realmente, gritando, berrando, bramindo e rugindo de uma forma estranha. Estavam gritando, berrando, bramindo e rugindo
UMA PARA OUTRA.
Uma cabeça dizia, “Você é um Pró-Vida”; a outra dizia, com um humor amargo, “Você também”; de fato, a discussão poderia ter continuado para sempre, cada vez mais selvagem e brilhante, mas ela foi interrompida por Perna Verme-lha, que pegou a espada que ele tinha pedido em-prestada a um dos cavaleiros e en-fiou-a profunda-mente no Gigante e o matou.
A imensa criatura torceu-se e esparramou-se como um continente num terremoto; e uma cabeça selvagem levantou-se, por um momento antes da morte, e disse à outra, “Você está abaixo de qualquer consideração”. E então morreu feliz. Perna Vermelha continuou
pelo caminho que estava sendo guardado pelo Gigante de Duas Cabeças, até que deparou-se com o Castelo da Princesa. Depois de algumas palavras de explicação, quase não preciso dizer que eles
SE CASARAM.
E viveram felizes para sempre. O mago, que acompanhou a noiva ao altar disse, depois de concluída a cerimônia, as seguintes palavras cabalísticas e totalmente ininteligíveis, “Meu filho, o Gigante que tinha apenas uma cabeça era mais forte que o Gigante de duas cabeças. Quando crescer, você encontrará outros magos que lhe dirão, [Algo em grego para o qual não tenho a fonte]. Examine sua alma, pobre garoto. Cultive um sentido de diferenciações possíveis numa única psicologia. Tenha dezenove religiões adequadas a diferentes disposições de ânimo.’ Meu filho, estes serão os magos maus; eles desejarão transformar-lhe num Gigante de duas cabeças.” Perna Vermelha não entendeu estas palavras, nem tampouco eu.
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Assumpta est Maria in caelum!
13/08/2009
Um presente para os leitores
12/08/2009
A falácia do sucesso
Tem aparecido em nossos dias uma classe particular de livros e artigos que sincera e solenemente penso que possa ser chamada a mais idiota que os homens já conheceram. São livros mais selvagens que os romances mais selvagens de cavalaria e mais enfadonhos do que o mais enfadonho tratado religioso. Ademais, os romances de cavalaria eram pelo menos sobre cavalaria; os tratados religiosos sobre religião. Mas esses livros são sobre nada; são sobre o que é chamado de Sucesso. Em qualquer livraria, em qualquer revista, você encontrará obras dizendo ao povo como ter sucesso. São livros mostrando aos homens como obter sucesso em tudo; eles são escritos por homens que não conseguem obter sucesso escrevendo livros. Para começar, não há certamente tal coisa chamada sucesso. Ou, se você desejar, não há nada que não seja bem sucedido. Que uma coisa seja bem sucedida apenas significa que ela é; um milionário é bem sucedido em ser milionário e um asno é bem sucedido em ser um asno. Qualquer vivente é bem sucedido em viver; qualquer falecido pode ter sido bem sucedido no suicídio. Mas, ignorando a má lógica e filosofia da frase, podemos considerar o sucesso, como os escritores fazem, no sentido ordinário de obter dinheiro ou uma posição na vida. Esses escritores afirmam que podem ensinar o homem comum a obter sucesso em seu negócio ou especulação – como, se ele é um construtor, ele pode obter sucesso como construtor; como, se ele é um corretor da bolsa, ele pode ser bem sucedido como corretor da bolsa. Eles afirmam que podem ensiná-lo como, se ele é um merceeiro, ele pode ser um dono de iate; como, se ele é um jornalista de décima categoria, ele pode se tornar um nobre; e como, se ele é um judeu alemão, ele pode se tornar um anglo-saxão. Esta é uma proposta do tipo comercial, e penso realmente que as pessoas que compram esses livros (se alguém os comprar realmente) têm um direito moral, se não legal, de exigir seu dinheiro de volta. Ninguém ousaria publicar um livro sobre eletricidade que não dissesse literalmente nada sobre eletricidade; ninguém ousaria publicar um artigo sobre botânica que demonstrasse que o autor não sabe qual extremidade de uma planta cresce debaixo da terra. Todavia, nosso mundo moderno está cheio de livros sobre Sucesso e pessoas bem sucedidas que não contêm literalmente nenhuma idéia e dificilmente algum sentido verbal.
É perfeitamente óbvio que em qualquer ocupação decente (tal como assentar tijolos e escrever livros) há somente dois modos (em qualquer sentido especial) de obter sucesso. Um deles é fazer um trabalho muito bom, o outro é trapacear. Ambos são muito simples e não exigem nenhuma explicação literária. Se você desejar dar um grande salto, ou você pula mais alto que qualquer um ou consegue, de alguma forma, fingir que você o fez. Se você quer ganhar no whist, ou você é um bom jogador de whist ou tem de jogar com cartas marcadas. Você pode desejar um livro sobre saltos; você pode desejar um livro sobre whist; você pode deseja um livro sobre como roubar no whist. Mas você não pode querer um livro sobre Sucesso. Você não pode querer especialmente um livro sobre o Sucesso como estes que você pode agora encontrar espalhados aos magotes nas livrarias. Você pode querer saltar ou jogar cartas; mas você não quer ler afirmações errantes que dizem que saltar é saltar e que os jogos são vencidos pelos vencedores. Se esses escritores, por exemplo, dissessem algo sobre ser bem sucedido no salto, eles diriam algo assim: “O saltador deve ter um claro objetivo à sua frente. Deve desejar ardentemente pular mais alto que outros homens que participam da mesma competição. Não deve deixar que o mais débil sentimento de misericórdia (vindo dos nojentos Little Englanders e Pro-Boers[1]) impeça-o de tentar fazer o melhor. Deve lembrar que uma competição de salto é claramente uma competição, e que, como Darwin gloriosamente demonstrou, O MAIS FRACO VAI PARA O PAREDÃO.” Este é o tipo de coisa que o livro diria, e que seria útil, sem dúvida, se isto fosse lido em voz baixa e tensa a um jovem a ponto de dar um salto. Se, por outro lado, o filósofo do Sucesso, em suas excursões intelectuais, esbarrasse em nosso outro caso, o do jogo de cartas, seu estimulante conselho seria: “No jogo de cartas, é muito necessário evitar o erro (comumente cometido por humanitários sentimentais e defensores do livre comércio) de permitir seu oponente ganhar o jogo. Você deve ranger os dentes, morder, ir e vencer. Os dias de idealismo e superstição acabaram. Vivemos num tempo de ciência e rude senso comum, e foi agora provado definitivamente que em qualquer jogo onde dois participam SE UM NÃO GANHA OU OUTRO SIM.” É tudo certamente muito emocionante; mas confesso que se eu fosse jogar cartas, eu preferiria ter algum pequeno e decente livro que me ensinasse as regras do jogo. Além das regras do jogo toda a questão fica sendo sobre o talento ou a desonestidade; e eu procuraria desenvolver uma das duas coisas – qual delas não sou eu que vou dizer.
Folheando uma revista popular, encontrei um estranho e divertido exemplo. Há um artigo intitulado “O Instinto que Faz Pessoas Ricas”. Ele é decorado na primeira página com um formidável retrato de Lord Rothschild. Há muitos métodos específicos, honestos e desonestos, que fazem as pessoas ricas; o único “instinto” que conheço que faz isso é aquele instinto que a teologia cristã cruamente descreve como “o pecado da avareza”. Isso, contudo, não vem ao caso. Desejo citar os seguintes incríveis parágrafos como uma parte do conselho típico de como ser bem sucedido. Ele é tão prático; ele deixa tão pouca dúvida sobre qual deve ser nosso próximo passo.
“O nome de Vanderbilt é sinônimo de riqueza obtida pela empresa moderna. ‘Cornelius’, o fundador da família, foi o primeiro dos grandes magnatas americanos do comércio. Ele começou como o filho pobre de um fazendeiro; terminou vinte vezes milionário.
“Ele tinha o instinto de ganhar dinheiro. Ele aproveitou suas oportunidades, oportunidades que lhe foram proporcionadas pela aplicação da máquina a vapor ao transporte oceânico, e pelo nascimento da locomoção ferroviária no subdesenvolvido, mas rico, Estados Unidos da América, e conseqüentemente, ele amealhou uma imensa fortuna.
“É certamente óbvio que não podemos seguir exatamente as pegadas desse grande monarca ferroviário. As oportunidades específicas que lhe apareceram não nos ocorrem. As circunstâncias mudaram. Mas, embora isso aconteça, ainda, em nossa própria esfera e em nossas próprias circunstâncias, podemos seguir seus métodos gerais; podemos aproveitar aquelas circunstâncias que nos são apresentadas, e nos proporcionar a justa oportunidade de sermos ricos.”
Em tal estranho discurso, vemos muito claramente o que está realmente no fundo desses artigos e livros. Não é apenas negócio, não é nem somente cinismo. É misticismo; o horrível misticismo do dinheiro. O escritor do trecho não tem a mais remota noção de como Vanderbilt ganhou seu dinheiro, ou como qualquer um pode ganhar o seu. Ele, de fato, conclui suas observações advogando algum esquema; mas este não tem nada a ver com Vanderbilt. Ele meramente desejou prostrar-se ante o mistério do milionário. Pois quando nós realmente adoramos algo, amamos não só sua clareza, mas sua obscuridade. Exultamo-nos com sua própria invisibilidade. Assim, por exemplo, quando um homem está apaixonado por uma mulher, ele sente um especial prazer no fato de que a mulher é insensata. Assim, novamente, o poeta muito devoto, celebrando seu Criador, sente prazer em dizer que "Deus age de forma misteriosa".[2] Ora, o autor do parágrafo que citei não parece ter tido nada a ver com um deus e não posso imaginar (pela sua extrema impraticabilidade) que ele tenha se apaixonado, algum dia, por uma mulher. Mas a coisa que ele adora – Vanderbilt – ele trata exatamente desta forma mística. Ele se regozija realmente do fato de que sua deidade, Vanderbilt, esconde dele um segredo. Com isso sua alma é tomada com um tipo de acesso de astúcia, um êxtase de poder sacerdotal, que o faz imaginar poder dizer à massa aquele terrível segredo que lhe é desconhecido.
Falando sobre o instinto que faz pessoas ricas, o mesmo escritor observa:
“Nos tempos antigos, sua existência era completamente compreendida. Os gregos o consagravam por meio da história de Midas, do “Toque de Ouro”. Aqui estava um homem que transformava tudo que tocava em ouro. Sua vida era um progresso dentre os ricos. Tudo que encontrava em seu caminho, ele transformava no precioso metal. ‘Uma lenda tola’, diziam os sabichões da era Vitoriana. ‘Uma verdade’ dizemos nós modernos. Todos conhecemos tais homens. Estamos sempre encontrando-os ou lendo sobre tais homens que transformam tudo que tocam em ouro. O sucesso segue suas pegadas. O caminho de suas vidas é infalivelmente para o alto. Eles não falham.”
Infelizmente, contudo, Midas pode falhar; ele falhou. Seu caminho não o levou infalivelmente para o alto. Ele morreu de fome porque tudo que ele tocava, um biscoito ou um sanduiche de presunto, virava ouro. Esse é o ponto central da história, embora o escritor tivesse de suprimi-lo deliberadamente, ao escrever tão proximamente a um retrato de Lord Rothschild. As antigas fábulas da humanidade são, de fato, incompreensivelmente sábias; mas não devemos corrigi-la no interesse do Sr. Vanderbilt. Não devemos apresentar o Rei Midas como exemplo de sucesso; ele foi um fracasso de um tipo dolorosamente raro. Ademais, ele tinha orelhas de burro. E também (como muitas outras pessoas ricas e proeminentes) ele empenhou-se em ocultar o fato. Foi seu barbeiro (se me lembro bem) quem teve de guardar segredo dessa peculiaridade; e ele, ao invés de se comportar como uma pessoa empreendedora da escola do sucesso-a-todo-custo e tentar chantagear o Rei Midas, foi sussurrar essa esplêndida pérola de escândalo social para os caniços, que se deliciaram enormemente. Conta-se também que eles sussurraram o fato enquanto os ventos os balançavam para lá e para cá. Olho reverentemente para o retrato de Lord Rothschild; leio reverentemente sobre as proezas de Vanderbilt. Sei que não posso transformar tudo que toco em ouro; mas também sei que nunca tentei, tendo eu a preferência por outras substâncias, como a grama e um bom vinho. Sei que essas pessoas foram certamente bem sucedidas em alguma coisa; que elas certamente ultrapassaram alguém; sei que elas foram reis num sentido que nenhum rei tinha sido antes; que elas criaram mercados e transpuseram continentes. Todavia, sempre me parece que há algum fato doméstico que estão escondendo, e algumas vezes penso ouvir do vento a risada e o sussurro dos caniços.
Pelo menos, esperemos que vivamos todos para ver esses livros absurdos sobre o Sucesso cobertos propriamente de escárnio e abandono. Eles não ensinam as pessoas a obterem o sucesso, mas ensinam-nas a serem esnobes; eles realmente difundem um tipo de má poesia do materialismo. Os puritanos estão sempre denunciando livros que inflamam a luxúria; o que diremos dos livros que inflamam as mais vis paixões da avareza e do orgulho? Cem anos atrás, tínhamos o ideal do Aprendiz Diligente;[3] era ensinado aos garotos que com parcimônia e trabalho eles todos se tornariam Lord Mayors.[4] Isso era falacioso, mas era viril, e continha um mínimo de verdade moral. Em nossa sociedade, temperança não evitará que um pobre enriqueça, mas pode ajudá-lo a se respeitar. Trabalho duro não o fará um homem rico, mas fá-lo-á um bom trabalhador. O Aprendiz Diligente sobe por meio de poucas e limitadas virtudes, mas ainda assim virtudes. Mas o que dizer do evangelho pregado pelo novo Aprendiz Diligente; o aprendiz que sobe não pelas suas virtudes, mas abertamente pelos seus vícios.
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[1] Referência aos grupos que se opunham à expansão armada do Império Britânico e especialmente à Guerra dos Bôeres. A referência é irônica, pois o próprio Chesterton era um grande opositor desta guerra. (N. do T.)
[2] Referência a um poema de William Cowper (1731 – 1800) intitulado God moves in a mysterious way. (N. do T.)
[3] William Hogarth, pintor oitocentista inglês, pintou uma série de quadros com o título “Diligência e Ociosidade”. Esta série é um trabalho altamente moral. Retrata os destinos muito diferentes que tem o aprendiz diligente e o aprendiz ocioso. O ocioso é enforcado em Tyburn e o diligente casa com a filha de seu mestre e depois chega a ser Lord Mayor.
[4] Lord Mayor é o administrador da Cidade de Londres, ou seja, o centro histórico de Londres. (N. do T.)
09/08/2009
Lições das missas dominicais pós-Vaticano II– Parte XXII
Pode-se falar muitas coisas deste milagre. Pode-se falar do pão material e do Pão espiritual. Pode-se notar como Jesus, depois de alimentar o povo com o pão material, diz (Jo 6, 35): “eu sou o pão da vida”. Ele mesmo quer que distingamos o pão da vida do Pão da Vida. Mas ele quer mais do que isso. Ele quer que percebamos que os dois pães são sobrenaturais. Que um e outro nos é dado por ele. Que não merecemos nem um nem outro e que eles são puro ato da graça de Deus.
Santo Agostinho, nos seus Comentários ao Evangelho de João, nos diz: “Deve-se ter em conta o que geralmente se diz, a saber: que Deus é de tal natureza que não nos é possível vê-Lo com nossos olhos, e que seus milagres, com os quais sustenta todo mundo e alimenta todas as criaturas, não chamam atenção, pela freqüência com que se repetem. Mas alguns milagres são escolhidos para serem feitos fora do curso e da ordem regular da natureza, não porque sejam maiores, mas porque acontecem menos freqüentemente, e assim são admirados mais por essa circunstância do que aqueles que acontecem diariamente. O milagre do governo de todo o mundo é realmente maior do que saciar cinco mil homens com cinco pães e, contudo, ninguém se admira desse governo. Mas os homens se admiram com o outro milagre, não porque é maior, mas porque é raro.”
Aí está. Santo Agostinho nos diz que Jesus conhecendo os homens como conhece, Ele usa de milagres menores, mas raros, que causam mais admiração que os milagres maiores, que ocorrem todos os dias, todas as horas, todos os minutos. Deus nos alimenta diariamente tão milagrosamente quanto ele alimentou aquela pequena multidão. Deus nos alimenta por sua graça, por sua infinita compaixão, em uma palavra: por milagre.
Bem, isso e muito mais poderia ser dito dessa passagem do Evangelho. Mas o Pe. Bortolini escolhe nos brindar com uma pregação marxista de segunda categoria, quando ele fala desse Evangelho. Diz ele: “O gesto nobre desse menino muda completamente a visão acerca da fome da humanidade. Ela não é vencida com a compra e venda de alimento, mas num mutirão de partilha. A distribuição toma o lugar da concentração, a solidariedade vence o egoísmo.” Ou seja, Pe. Bortolini nos diz que Jesus está a nos ensinar sobre distribuição de bens de consumo numa sociedade complexa. E Ele está a favor do comunismo! Veja que a coisa não se resolve com a compra e venda de produtos, mas com sua distribuição gratuita. Todo mundo que pregou esse tipo de idéia, no caminho da consecução desse objetivo, matou algumas dezenas de milhões de pessoas, senão centenas de milhões, sem conseguir nada do que prometeram. Lenin, Stalin, Mao, Castro são alguns dos homens práticos que tentaram colocar os ideais do Pe. Bortolini em prática. Juntos mataram centenas de milhões de pessoas.
Certamente, Pe. Bortolini está pregando comunismo do púlpito da Igreja, como muitos outros padres hoje em dia. Não deixemos que esses hereges nos influenciem. A companhia desses padres, que enumerei acima, não os credencia a nos ensinar nada, muito menos a palavra de Deus.
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04/08/2009
Hoje é dia de São João Maria Vianney
02/08/2009
MANIFESTO HUMANISTA – Um comentário à encíclica Caritas in veritate
Por meio de seu Manifesto Comunista de 1848, Marx e Engels lançaram o moderno movimento socialista, que tirou a conclusão lógica dos princípios da Revolução Francesa e declarou que “a posse particular de propriedade produtiva é considerada inválida e imoral, ao passo que a posse de propriedade de consumo é permitida” (E. Cahill, S.J., The Framework of a Christian State [O modelo de um Estado cristão], p. 158). Pareceria ultrajante traçar um paralelo entre esse documento ateu, causa de revolução, guerras, assassinatos e sofrimentos sem conta, e a terceira encíclica do Papa[sic (N.doT.)] Bento XVI, Caritas in veritate, datada de 29 de junho de 2009. Contudo, um exame do texto demonstra que ele é verdadeiramente um manifesto de humanismo, levando à sua conclusão lógica os princípios da Revolução Francesa, rejeitando toda posse exclusiva e particular da verdade, pelos católicos e pelos demais, permitindo meramente que ela seja compartilhada e comunicada, isto é, consumida por todos em igual fraternidade e liberdade.
Como católicos, como podemos não ficar indignados com uma comparação dessas? Afinal de contas, o que pode parecer mais católico que o título “Caridade na verdade”, que é claramente modificado a partir da expressão usada por São Paulo, “para que não mais sejamos meninos flutuantes, e levados, ao sabor de todo vento de doutrina, pela malignidade dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro; mas praticando a verdade na caridade” (Ef. 4:14,15: note-se, porém, a transformação)? O que há de mais reassegurador que a recordação constante de que a caridade e a verdade não podem ser separadas, pois a “verdade há-de ser procurada, encontrada e expressa na « economia » da caridade, mas a caridade por sua vez há-de ser compreendida, confirmada e praticada sob a luz da verdade” (§2)? O que há de mais elevado que uma nova visão da questão social que vai além e mais alto do que a simples questão de “justiça” e “direitos” mencionada pelos Papas preconciliares, pois a “caridade está no coração da doutrina social da Igreja” (§2)? O que há de mais consolador que a afirmação de que “não existem duas tipologias de doutrina social, uma pré-conciliar e outra pós-conciliar, diversas entre si, mas um único ensinamento” (§12)! O que há de mais necessário que a recordação de que o homem precisa de Deus: “porque o desenvolvimento humano integral … requer uma visão transcendente da pessoa, tem necessidade de Deus” (§11).
NOVO CONCEITO DE CARIDADE
Contudo, a semelhança com o ensinamento católico não passa das palavras empregadas, palavras cujo significado é alterado radicalmente. O primeiro indício disto está contido no próprio título. A encíclica não é dirigida somente aos católicos, mas também a “todas as pessoas de boa vontade”. A compreensão e aceitação deste documento não é algo que requer a Fé Católica. Isso também aparece claramente na introdução, que não pretende delinear os princípios de uma ordem social católica, mas, em vez disso, o princípio do “desenvolvimento humano integral” para todos os homens, que é a caridade. Há, desde o início desta encíclica, um novo conceito de caridade, que “é a força propulsora principal que está por trás do autêntico desenvolvimento de cada pessoa e da humanidade inteira” (§1)! Claramente, o Papa não pode estar falando da virtude sobrenatural e infusa da caridade, pois isso seria afirmar que todos os homens estão no estado de graça santificante e que nenhum homem está em pecado mortal!
Não, a “caridade” sobre a qual ele escreve pertence a todos os homens: “Por ser um dom recebido por todos, a caridade-na-verdade é uma força que constroi a comunidade, unifica os homens sem impor barreiras nem limites.” (§34). Ele está se referindo ao novo conceito de caridade que ele elaborou em sua primeira encílica, Deus caritas est [N.doT: cf., do Autor, seu comentário à primeira encíclica de Bento XVI, em: http://www.fsspx-brasil.com.br/page 05-7.htm]. Nesta, Bento XVI explicou o “verdadeiro humanismo” da Igreja (Deus caritas est, §§ 9, 30), que pretende ensinar ao homem sua humanidade por meio da superação da distinção entre um amor próprio natural e um amor divino auto-sacrificante, pois “quanto mais os dois (eros e ágape) encontrarem uma unidade conveniente … na única realidade do amor, tanto mais se realiza a verdadeira natureza do amor em geral” (Ibid., §7). O amor é, conseqüentemente, “uma única realidade” (ibid., §8).
Não devemos mais falar de caridade sobrenatural como tal, mas devemos antes dizer que a caridade não conhece essas distinções mas engloba todo amor humano. Daí a definição de caridade na presente encíclica: “a caridade pode ser reconhecida como expressão autêntica de humanidade e como elemento de importância fundamental nas relações humanas” (§ 3). A caridade pertence, então, à humanidade toda, e é característica de todas as boas relações humanas. Isso é naturalismo puro, que equaciona os motivos natural e sobrenatural da caridade fundindo-os num só. Não há, em decorrência disso, nenhuma distinção a ser feita entre o papel sobrenatural da Igreja com respeito a seus próprios membros e um papel muito mais abrangente, mais universal e mais alto que ela tem para com a humanidade toda, e é este que o Papa proclama como sendo a finalidade última dela.
A FINALIDADE MAIS ALTA DA IGREJA
Baseando-se no Vaticano II (Gaudium et spes) e nas encíclicas do Papa Paulo VI (Populorum progressio) e João Paulo II (Sollicitudo rei socialis) sobre o mesmo assunto, ele declara que doravante a Igreja “está a serviço do mundo”—a gente se pergunta o que aconteceu com a declaração bem não-humanista de São João: “Se alguém ama o mundo, não há nele a caridade do Pai” (I Jo 2:15)—e que, conseqüentemente, no que quer que ela faça (e.g. obras de caridade, culto divino), ela “está engajada na promoção do desenvolvimento integral do homem. Ela tem um papel público que não se esgota nas suas atividades de assistência ou de educação, mas revela todas as suas energias a serviço da promoção do homem e da fraternidade universal…” (§11). O objetivo dela, que não se esgota nas suas atividades particulares, deve ser, portanto, o de levar adiante os princípios da Revolução Francesa, seguindo o ideal do naturalismo maçônico. Daí o papel fundamental dela no processo de globalização, como veremos.
NOVO CONCEITO DE VERDADE
A verdade é igualmente redefinida. Não deve mais ser considerada como a correspondência da mente com a realidade exterior e objetiva, e consequentemente como algo fixo, firme, absoluto e imutável. Pelo contrário, a verdade é por sua própria natureza uma comunicação ou partilha com outros, a tal ponto que a pessoa que se fecha em sua própria “verdade”, não importa quão objetiva ele considere que ela é, na realidade se fechou em suas opiniões subjetivas e é impossível que atinja a verdade, pela simples razão de que ele não é capaz de dialogar ou compartilhar opiniões com os outros. Eis a definição de verdade do Papa, fazendo um jogo com a expressão grega para [designar] o Verbo (de Deus): “Com efeito, a verdade é « lógos » que cria « diá-logos » e, conseqüentemente, comunicação e comunhão”. A verdade exige a comunicação com a verdade dos outros. A sentença imediatamente seguinte explica o que ele quer dizer com comunicação, a saber: se uma pessoa não está disposta a abrir mão de suas opiniões pessoais, ela não pode ter a verdade: “A verdade, fazendo sair os homens de suas opiniões e impressões subjetivas, permite-lhes ultrapassar determinações culturais e históricas para se encontrarem na avaliação do valor e substância das coisas” (§4). Sem tal partilha com os outros, não existe verdade, pois o homem está isolado em suas “opiniões subjetivas”. Note-se que não há distinção entre as convicções firmemente possuídas da Fé Católica e outras opiniões firmemente possuídas. Em ambos os casos, não pode haver verdade sem partilha mútua.
É por essa razão que “a missão a serviço da verdade é, para a Igreja, irrenunciável”, e com isso ele quer dizer que “a Igreja procura a verdade” (§9); sim, a missão da Igreja é procurar a verdade (e anunciá-la e reconhecê-la), não ensinar “a” verdade como algo já adquirido. Aqui está a explicação, dada no mesmo parágrafo, de por que o humanismo (= fidelidade ao homem) é a base da missão da Igreja a serviço da verdade: “A fidelidade ao homem exige a fidelidade à verdade, a única que é garantia de liberdade e da possibilidade de um desenvolvimento humano integral. É por isso que a Igreja procura a verdade”. Donde a declaração simplesmente extraordinária de que “A verdade liberta a caridade dos estrangulamentos … do fideísmo, que a priva de um horizonte humano e universal” (§3). O fideísmo, anteriormente um termo para indicar a heresia dos que negam o papel da razão, é aqui empregado como um termo pejorativo para descrever aqueles cujas convicções pessoais de Fé impedem que eles se entreguem ao diálogo, e que consequentemente não são capazes de alcançar a verdade, pois eles não têm o desenvolvimento humano necessário para compartilhar.
EVOLUÇÃO DA VERDADE
A contradição com o ensinamento pré-Vaticano II da Igreja é manifesta e óbvia, razão pela qual o Papa sente a necessidade de se justificar. Note-se que ele não nega que os Papas preconciliares dizem coisas diferentes, mas afirma, em vez disso, que “existe um único ensinamento, coerente e simultaneamente sempre novo” (§12). Ele prossegue explicando o que ele quer dizer com essa aparente (e, de fato, real) contradição: novo e antigo ao mesmo tempo. É a perfeita justificativa do liberal, que vive em contradição objetiva consigo mesmo, incoerente com suas próprias conclusões, encontrando a coerência noutra parte que não na verdade objetiva. “Coerência não significa um sistema fechado (entenda-se por isto um sistema de ensinamento tradicional, fechado ao diálogo com o que lhe é exterior): pelo contrário, significa fidelidade dinâmica a uma luz recebida”. A assim chamada continuidade com o passado está, consequentemente, não nos próprios ensinamentos, mas na “luz imutável” que situa os ensinamentos pós-conciliares “dentro da grande corrente da Tradição” (ibid.).
Aqui encontramos claramente declarado o ensinamento da evolução da verdade e da doutrina, tão essencial à heresia do modernismo e tão claramente condenado por São Pio X: “Pois entre os pontos principais da sua doutrina, contam também este, que deduzem da imanência vital: as fórmulas religiosas, para que realmente sejam tais e não só meras especulações da inteligência, precisam ser vitais e viver da mesma vida do sentimento religioso… Procede daí que tais fórmulas, para serem vitais, hão de ser e permanecer adaptadas tanto à fé quanto ao crente. Pelo que, se por qualquer motivo cessar essa adaptação, perdem sua primitiva significação e devem ser mudadas” (Pascendi, §13). Eis o julgamento de São Pio X sobre a evolução da verdade, que deve ser aplicado também à presente encíclica: “Deliram a ponto de perverter o eterno conceito de verdade e o verdadeiro significado da religião” (ibid.).
GLOBALIZAÇÃO
A novidade desta encíclica e seu principal foco prático é sem dúvida a globalização, definida como “a explosão da interdependência mundial” (§33). Em si mesmo, esse fenômeno é descrito pelo Papa como “nem bom nem mau” (§42). Todavia, ele nos encoraja a vê-lo como não somente um processo econômico predeterminado, mas antes a vê-lo num sentido positivo: “Não devemos ser vítimas dela, mas protagonistas” (ibid.). A gente pode se perguntar como é que essa dissolução de fronteiras, essa formação de um maçônico sistema governamental e econômico único, como é que essa destruição do que resta da Cristandade, com sua identidade religiosa e cultural, separada e distinta do paganismo e das religiões falsas, poderia de algum modo ser vista num sentido positivo. A resposta é que, se for abraçada num sentido humanista, essa globalização é uma oportunidade real para o diálogo necessário para o desenvolvimento humano integral, para a caridade na verdade. A globalização é, portanto, verdade: “A verdade da globalização enquanto processo e o seu critério ético fundamental provêm da unidade da família humana e do seu desenvolvimento no bem. Por isso é preciso um empenho sustentado para promover uma orientação cultural personalista e comunitária do processo de integração mundial que seja aberta à transcendência” (ibid.).
A globalização da humanidade é, consequentemente, necessária e boa, algo a “direcionar” e não condenar, desde que esteja centrada na pessoa humana e em sua comunidade, e permita alguma abertura a Deus pela liberdade religiosa. Daí a preocupação da encíclica com a ética da ecologia e o meio ambiente, o uso da energia e o crescimento populacional, a pobreza e o consumismo, a ajuda internacional e o turismo, a democracia e a liberdade religiosa.
DIÁLOGO = DESENVOLVIMENTO HUMANO
No entanto, acima de todas essas considerações está a irmandade universal da humanidade, por conta da qual o homem atingirá seu desenvolvimento humano somente na medida em que ele se relacionar com outros homens diversos. A religião é essencial para tornar conhecida ao homem essa realidade de as relações com os outros serem ao mesmo tempo aquilo que é mais humano nele e aquilo que é transcendente. Todas as religiões fazem isso, mas o cristianismo o faz particularmente bem, por conta de seu foco no amor. Aqui está o texto que a princípio pode parecer obscuro, mas, dado o que passou antes, é na realidade muito claro: “A revelação cristã da unidade do gênero humano pressupõe uma interpretação metafísica do ‘humanum’ na qual a relação seja elemento essencial. Também outras culturas e outras religiões ensinam a fraternidade e a paz, revestindo-se, por isso, de enorme importância para um desenvolvimento humano integral” (§ 55).
Claro que a única revelação cristã que diz respeito à unidade da raça humana é a universalidade do pecado original, suas feridas, e a tríplice concupiscência que dele deriva. Assim também, a natureza humana não é definida de jeito nenhum por relações com outros, mas, sim, por ter um corpo e uma alma imortal capaz de conhecer e amar a Deus, tal como Ele revelou a Si próprio pela Encarnação, e de condenação eterna pela recusa dessa revelação.
Note-se que em todo esse contexto naturalista, o “desenvolvimento humano integral”, que consiste no diálogo com os outros, substituiu a salvação eterna como o objetivo da religião. Quase não espanta que o mesmo parágrafo (55) condene “algumas tradições religiosas e culturais … que ossificam a sociedade em agrupamentos sociais rígidos”, e na mesma linha condene “o fundamentalismo religioso”, não porque é doutrinalmente falso, mas porque “impede o encontro entre as pessoas e a sua colaboração para o progresso da humanidade” (§ 56). Claramente, ele manifesta a intenção de incluir nesta condenação o catolicismo tradicional, com sua separação do espírito do mundo e recusa de dialogar com o erro, a heresia e o paganismo. Se prova ulterior disso fosse ainda necessária, ela se encontra imediatamente em seguida. Depois de declarar que a “razão tem sempre necessidade de ser purificada pela fé”—o que é certamente verdade, pois, sem a verdadeira Fé, a razão costumeiramente cai em erro—, ele prossegue traçando o seguinte paralelo horrendo e chocante: “A religião, por sua vez, precisa sempre ser purificada pela razão, para mostrar o seu rosto autenticamente humano. Qualquer ruptura deste diálogo implica um custo muito gravoso para o desenvolvimento da humanidade” (§ 56). Para nós, é inconcebível e blasfemo afirmar que a verdade divina da religião revelada pode ser corrigida pela falível razão humana. Mas se a verdade é diálogo e a religião não é senão um meio para o desenvolvimento humano integral, então a conclusão se segue logicamente. Mas onde isso deixa a verdadeira Fé e a religião católica? Como uma entre muitas opiniões pessoais.
Sigamos a lógica do Papa um passo adiante. O resultado final da redefinição da fé como diálogo e de religião como desenvolvimento humano é o culto do homem, que se torna ele próprio a finalidade última da fé e razão, da “caridade” e religião. Conseqüentemente, todos aqueles que trabalham pelo bem do homem estão a “corresponder ao projeto divino”, sejam eles crentes ou não! “O diálogo fecundo entre fé e razão … constitui o quadro mais apropriado para incentivar a colaboração fraterna entre crentes e não-crentes em seu compartilhado comprometimento para com a justiça e a paz da humanidade. …Daqui nasce o dever que os crentes têm de unir os seus esforços com todos os homens e mulheres de boa vontade (Se eles estivessem de boa vontade, por que recusam crer na revelação divina?), seguidores de outras religiões e não-crentes, para que este nosso mundo possa efetivamente corresponder ao projeto divino” (§ 57).
Destarte, a moralidade da ajuda internacional não se dá só por ser uma obra de misericórdia corporal, mas porque “oferece uma grande oportunidade para o encontro entre as culturas e os povos” (§ 59). Assim também, a do turismo internacional “capaz de promover verdadeiro conhecimento recíproco… Este gênero de turismo precisa aumentar” (§ 61).
GOVERNO MUNDIAL ÚNICO
A conclusão mais chocante e de mais longo alcance dessa promoção positiva da globalização, em nível humano e cultural ao mesmo tempo que econômico, é o pedido de uma autoridade internacional para a impor legalmente, para fazer valer de modo obrigatório o diálogo entre as economias, culturas, religiões e povos tal como promovido por esse humanismo integral. O Papa de fato pede “uma reforma da Organização das Nações Unidas, bem como das instituições econômicas e da finança internacional, para que seja possível uma real concretização do conceito de família de nações…, um ordenamento político, jurídico e econômico que incremente e guie a colaboração internacional para o desenvolvimento solidário de todos os povos… urge a presença de uma verdadeira Autoridade política mundial… [que] deverá gozar de poder efetivo para garantir a todos a segurança…” (§ 67). Isso significa a perda da soberania nacional e de qualquer possibilidade de união entre a Igreja e o Estado. Isso significa o estabelecimento da ordem mundial única que a Maçonaria vem lutando há tanto tempo para alcançar. O Papa Leão XIII descreveu e condenou muito claramente o “propósito último” da Maçonaria, “especificamente, a completa derrubada de toda a ordem religiosa e política do mundo que o ensinamento cristão produziu, e a substituição por um novo estado de coisas de acordo com as suas ideias, das quais as fundações e leis devem ser obtidas do mero naturalismo.” (Humanum genus, §10).
A justificativa religiosa para uma nova ordem mundial, baseada na dignidade humana, fraternidade e igualdade, e levada a cabo pela democracia universal, claro que não é nova. Foi precisamente o sonho humanitário do movimento Sillon, condenado por São Pio X em 1910, por abraçar os princípios da Revolução Francesa.
“Tememos que ainda haja pior: o resultado desta promiscuidade (entenda-se: diálogo) em curso, o beneficiário desta ação social cosmopolita só poderá ser uma democracia que não será nem católica, nem protestante, nem judaica; será uma religião … mais universal do que a Igreja Católica, unindo todos os homens para tornarem-se enfim irmãos e camaradas no ‘Reino de Deus’. – ‘Não trabalhamos pela Igreja, trabalhamos pela humanidade.’ …Perguntamo-Nos, Veneráveis Irmãos, onde foi parar o catolicismo do Sillon? ….já não é mais do que um miserável afluente do grande movimento de apostasia organizada, em todos os países, para o estabelecimento de uma Igreja mundial que não terá nem dogmas, nem hierarquia, nem regra para o espírito, nem freio para as paixões, e que sob o pretexto de liberdade e de dignidade humana, restauraria no mundo … o reino da fraude e da violência legalizadas” (Notre Charge Apostolique, § 40).
Pode nosso julgamento do autoproclamado humanismo do Papa Bento XVI ser diferente? Se ao menos o pudesse. Se ao menos o humanismo dele que não exclui Deus pudesse ter menos de humanismo e mais de uma verdadeira religião centrada em Deus. Porém, não é esse o caso. Se por um lado o Papa condena um “humanismo que exclui Deus [como] … um humanismo desumano” (§ 78), por outro, o seu “humanismo aberto ao Absoluto” é um humanismo humano: isto é, uma filosofia de como o homem pode desenvolver o pleno potencial de sua natureza humana sem a ordem sobrenatural da revelação, graça, obediência e submissão à autoridade. É por essa razão que uma má consciência não é definida como aquela que recusa discernir a vontade de Deus e admitir a culpa por desobedecê-la. Ela é, ao invés disso, “uma consciência já incapaz de reconhecer o humano” (§ 75), consequência bem lógica para quem acredita que a revelação é quando “Deus revela o homem ao homem” (ibid.).
Não podemos deixar de nos perguntar se o Papa Leão XIII teria tido alguma premonição desta época quando escreveu, na versão original de sua prece de exorcismo a São Miguel Arcanjo: “Onde a Sé do Bem-aventurado Pedro e a Cátedra da Verdade foram estabelecidas para ser luz das nações, ali puseram eles o trono da abominação de sua impiedade, para que, uma vez golpeado o Pastor, pudessem também dispersar o rebanho. Portanto, ó vós, imbatível Líder, estai presente com o povo de Deus contra as impiedades espirituais que o atacam; e trazei a ele a vitória.”
Seguramente a oração e a penitência, o amor da Cruz e do sacrifício, o Rosário e os Sacramentos, verdadeiros meios sobrenaturais que são, são a única resposta possível a um tal manifesto público de humanismo, a uma tal aplicação radical dos princípios do igualitarismo e da fraternidade a ponto de fazer a verdade excluir a posse pessoal e particular da verdade, a ponto de fazer a caridade incluir necessariamente a expressão autêntica da humanidade e a irmandade universal do homem.
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PARA CITAR ESTA TRADUÇÃO:
Pe. Peter R. SCOTT, da FSSPX, MANIFESTO HUMANISTA – Um comentário à encíclica Caritas in veritate, trad. br. por F. Coelho, São Paulo, julho de 2009, http://AciesOrdinata.wordpress.com/
FONTE DO ORIGINAL INGLÊS:
“HUMANIST MANIFESTO – A commentary on the encyclical Caritas in veritate”, http://angelqueen.org/forum/viewtopic.php?t=27026